Quanto mais ao Atlântico a alma falta, com tantos colaboracionistas, mais minha alma atlântica se exalta
Eram todos desta índole lusitana, do tudo e do seu nada, que punha a amizade acime da politiquice, onde o próprio Vieira tinha começado como anarquista tolstoiano, acabando por escrever a letra do 13 de Maio. Julgo que, nessa altura, altos funcionários do Estado não podiam fazer conferências em funções oficiais elogiando publicamente potências estrangeiras e denunciando quem critica as mesmas e exprime opiniões de política interna. Continuavam o exemplo da monarquia liberal que ia buscar ajuda patriótica ao miguelista Visconde de Santarém, tal como a República fará com o monárquico Penha Garcia, sempre em nome de objectivos nacionais permanentes e não com a engenharia do sindicato das citações mútuas. A Inquisição já acabou, Salazar já está debaixo de um calhau e este tipo de cavaquismo que nos ameaça, mesmo que seja de importação freitista ou portista, nunca entenderá um Paiva Couceiro, um dos primeiros exilados pelo salazarismo, um Basílio Teles, um Guerra Junqueiro, um Luís Magalhães, ou um Lopes Vieira, um Raul Proença, um Sarmento Pimentel ou até um Raul Rego que me contou muitas destas histórias.
Assim, quanto mais ao Atlântico a alma falta, com tantos colaboracionistas que se branqueiam, mais minha alma atlântica se exalta. Caso não tivesse alternativas democráticas e patrióticas dos meus companheiros de luta antitotalitária de 1974-1975, juro que preferiria votar em Jerónimo. Tal como o Pessoa, ortónimo, dizia: se houvesse referendo sobre a forma como vestir a cúpula do Estado, ele que era monárquico, para defender a monarquia, teria que votar pela república. Coisa que também farei no próximo domingo. Porque, à maneira de Passos Manuel, também eu quero cercar o trono de instituições republicanas e considero que antes da esquerda e da direita, antes da monarquia e da república, está a pátria.
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