a Sobre o tempo que passa: Abaixo Santiago Mata-Mouros!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.2.06

Abaixo Santiago Mata-Mouros!



Continuo extremamente preocupado com os novos desenvolvimentos da política euro-árabe, com tchetchenos à mistura, principalmente com o grave afastamento de Costinha do Dínamo de Moscovo, antes da vista do Hamas aos novos senhores do Kremlin. Com efeito, verifico que ainda dispomos de uma ordem honorífica que invoca o Mata-Mouros, essa Ordem Militar de Santiago que, seguindo a Wikipédia, é uma ordem religiosa-militar castelhano-leonesa instituída por Afonso VIII de Castela e aprovada pelo Papa Alexandre III, tornando-a assim uma ordem supranacional, directamente responsável perante o chefe máximo da Cristandade.

Muito wikipedianamente, reparo, com efeito, que o presidente Sampaio, na sua actividade condecorativa, decidiu semear esse honorífico título de pró-Cavaleiros de Santiago, os chamados de Santiaguistas ou Espatários (por ser o seu símbolo uma espada em forma crucífera - ou uma cruz de forma espatária, dependendo do ponto de vista), aos que não têm que provar que fizeram votos de pobreza e de obediência, mas, onde, seguindo a regra de Santo Agostinho ao invés da de Cister, os seus membros não são obrigados ao voto de castidade, e podendo como tal contrair matrimónio (alguns dos seus fundadores eram casados). No entanto, a bula papal recomendava (não obrigava) e o celibato, e os estatuos da fundação da Ordem afirmavam, seguindo um princípio das cartas paulinas:"Em castidade conjugal, vivendo sem pecado, assemelham-se aos primeiros padres apostólicos, porque é melhor casar do que viver consumindo-se pelas paixões".

Neste tempo de etnonacionalismos desenfreados, sugiro que o senhor ministro dos estrangeiros, na sua saga de luta contra o choque de civilizações, desencadeie uma providência cautelar decretina que deixe de qualificar o nosso ilustre mérito literário, científico e artístico com esse nome agressor e que o actual presidente Sampaio e o futuro presidente Cavaco façam o necessário revisionismo histórico, a que deve acrescer o protesto diplomático junto de Madrid, para que em Ceuta deixe de flutuar a portuguesíssima bandeira que reconquistou a praça no ano negro de 1415, para voltarmos a assumir a era pré-Martim Moniz, lembrando a todo o mundo que Lisboa é a única capital da Europa Ocidental onde já foi poder o Islão Político. Eu, pelo menos, acabei de lançar para o caixote de lixo da história, um convite recebido para uma cerimónia de imposição de tal prebenda em nome de Belém e confesso ao João Gonçalves que, apesar de residir a menos de cinquenta metros do palácio de Belém, não fui contactado para o efeito.