a Sobre o tempo que passa: Memórias actualistas de terrorismos, bajulanças, solturas e persigangas

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

15.2.06

Memórias actualistas de terrorismos, bajulanças, solturas e persigangas

Faz hoje vinte anos que o terrorismo ainda andava à solta em Portugal, quando as FP25A assassinaram o director-geral dos serviços prisionais. Felizmente, graças à sábia gestão das nossas dependências e à consequente racionalidade importada, essa soltura de bombas e atentados não precisou de ser contida pelo não menos absoluto terrorismo de Estado. Por isso, também assinalo que, em 1927, neste mesmo dia, a Ditadura Nacional emitiu vários diplomas saneando funcionários do reviralho eventualmente implicados no anterior golpe falhado de 3 de Fevereiro.

Isto é, os primeiros agentes do 28 de Maio repetiram o que os miguelistas haviam feito aos pedristas, o que os devoristas fizeram aos apostólicos, os que os republicanos voltaram a fazer aos incursionistas monárquicos e o que os prequianos repetiram face os que decretaram como fascistas, onde até nem faltaram saneadores que, depois, se transformaram em ministros-companheiros dos saneados. Assim se compreende como em 1932 surgiu, nesta precisa data, o jornal “Revolução”, base do chamado movimento nacional-sindicalista de Francisco Rolão Preto que há-de ser sucessivamente fascista, autor de golpes contra Salazar e acabando, já depois do 25 de Abril, a fundar o PPM, quando este era um coerente partido de monárquicos democratas e anti-salazarentos.

Reparo também que, hoje, não há novas notícias quanto a declarações de Freitas sobre a crise euro-árabe ou sobre a gripe das aves. Apenas tivemos conhecimento da declaração de um porta-voz do regime ayatolamente musculado de Teerão em Lisboa, para quem o nosso MNE é sensato, talvez por saber ler os sinais deste tempo espiritualista. Até porque, segundo o mesmo persa, nem houve holocausto, porque seriam necessários quinze anos para que os hitlerianos matassem seis milhões de judeus, segundo os meios tecnológicos então disponíveis. Entretanto, quando os números oficiais já falam em meio milhão de desempregados, os ilustres pensadores-mores da permanecente reforma universitária vão continuando a sua ilustre tarefa de carpideiro-mor da república, matando, com elogios de discurso de justificação, aqueles que nunca couberam nas respectivas lentes de uma angustiada finitude persecutoriamente vérmica, mas condecorativamente bajulante, sempre com medo que se abram os arquivos da verdade.