Antes da temida judicialização da política, vigora a politização da justiça
No intervalo, a decadência continua, como o retrato que ontem aqui deixei sobre a avaliação da função pública, ou a pelingrafia que aqui poderia deixar se divulgasse um video que circula entre telemóveis de alunos de uma determinada unidade orgânica de um establecimento de ensino superior público, com cenas ebriamente chocantes de um ilustre membro do quadro docente e dirigente, assim se demonstrando como vivemos no habitual regime crepuscular daquilo a que pleonasticamente chamamos brandos costumes, que, entre nós, tendem a durar décadas e décadas de cobardia cinzentona, com magnicídios à mistura. A monarquia liberal morreu em 1890, mas durou até 1910. A República acabou logo em 1915 e o Estado Novo perdeu os mínimos de legitimidade, até ditatorial, em 1958, deixou assassinar o líder da oposição em 1965, mas só caiu em 1974, derrubado pela máquina que o tinha levado ao poder.
Não vou ter, hoje, tempo para contar pormenores. Tenho aula de teoria política daqui a um pedaço de minutos. Farei, logo a seguir, uma intervenção formal sobre a globalização económica e, ao mesmo tempo, e de propósito coincidente, promovido pelos convocantes, haverá mais um desses multitudinários conselhos ditos científicos, onde um bando de náufragos, ameaçados pelo decretino dito reformista, se entretêm a distribuir serviço para os próximos anos, com três ou quatro grandes e pequenos chefes, que acumulam cerca de um quarto da "coordenação" das cadeiras e cadeirinhas da instituição, a exibir o freudiano poder pelo poder, numa manifestação de certo saudosismo serôdio que confirma aquelas perspectivas freudianas, segundo as quais alguns professores não reparam que são sempre avôs de si mesmos.
Por mim, irei apresentar para memória futura, de futuras avaliações independentes e cientificamente fundamentadas, todo o conteúdo da preparação de uma distribuição de serviço frustrada, a fim de saudar a chouriçada reinante neste pequeno regresso aos saneamentos do miguelismo, do PREC e do salazarentismo, em nome da luta de invejas e da eterna vaidade, nesta mistura de vindicta com requintes de sadismo. Continuo a querer viver como penso, sem pensar como vivo e julgo não precisar de uma fileira de dependentes e de votantes, em regime neofeudal, para ser professor público. Sempre há anúncios de jornal, onde posso pedir emprego, e a internet pode servir para dar as minhas aulas. Não tenho medo e já não preciso de ser promovido.
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