a Sobre o tempo que passa: agosto 2007

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.8.07

Votar sempre como deve ser na semente de sucesso que vai vencer


Quanto apetece ser como todos os outros, sem a pretensão de ser quem sonho. Ser apenas um, humanamente, entre os demais, na longa fila dos que apenas sobrevivem, sem a dor de pensar na própria vida. Ser igual ao que nunca são demais, e perdido na sonolência da multidão, esquecer-me de quem sou. Ser um cidadão qualquer, marcado pelo ganha-pão, cumprir o horário, ser bom funcionário e votar sempre como deve ser na semente de sucesso que vai vencer.

Ser obediente, sacrificado, competente e aspirar a um louvor cinzento pela vida que dediquei a quem não sei. Cumprir ordens sem pensar que posso pensar (para quê procurar o porquê do que existe para não ter porquês?). Sim, senhor mandante, senhor director-geral, vossa excelência manda, basta apenas despachar e cumprirei sem duvidar vossa omnipotência banal.

Para quê pensar o porquê do que não tem porquês? Para quê sofrer pelos meandros direitos do que torto tem que não parecer. Esta angústia da vida burocrática, dos corredores das demandas sem fim.

Vale a pena esperar, esperar pacientemente a hora de me poder aposentar. Depois, sim, oh que alegria! Poder, finalmente, cultivar as flores do meu quintal e, sentado no sofá, ler descansadamente os livros todos que deixei por ler, sem temer que me venham surpreender em flagrante de cultura marginal.

Apetecia deixar de ser o que pareço ser, fingir para os outros quem na verdade sou, sair desta fortaleza em que resisto.


Mas, de repente, pode romper de novo a alegria de estar vivo. Mesmo aqui, nesta falta de horizonte das vinte e tantas paredes, destas quatro assoalhadas, onde estou domiciliado. Mesmo aqui, neste lar de cimento armado, no labirinto das ruas deste bairro, traçado a compasso e esquadro, mesmo aqui, nesta rotina baça, em que dia a dia vou fenecendo, a correr contra o meu tempo.


Dê-me senhor notário uma escritura, um pedaço de papel azul, devidamente selado, qualquer título que me dê direito ao uso, fruto e abuso daquela terra de semeadura, onde quero implantar meu lar. Não sei quantos metros quadrados que me dêem espaço para vencer esta urbaníssima claustrofobia de só em fila poder passear.

Mesmo nesta cidade medonha, há sítios que apetecem sempre: pedras velhas, vielas tortuosas, casas, praças, cais, ruas que são aldeias (sobretudo o sol nas vidraças em tardes de verão). Não a cidade feita postal ilustrado, pedaço para turista ver, recortar, fotografar, levar... Sim à cidade viva que nos dá vida, a cidade que apetece passear e, peregrino, revisitar.

Não vou dizer mais não à cidade, especialmente a esta Lisboa branca com Tejo ao fundo, onde podemos passar sempre à outra banda e transformar cacilheiros em caravelas.

Em Lisboa também há gaivotas e brisa, barcos de proa sonhada e azulejos nas casas...

30.8.07

De como apagar incêndios com a filosofia deste símbolo chamuscado, mas permanecente


Os incêndios gregos não são lá. São aqui e agora. Apenas revelam como há um vazio de política a nível da globalização e da Europa. Seria bem útil que, por cá, assumíssemos uma espécie de lição prospectiva face a uma ameaça global. Apenas recordo texto emitido há cinco anos sobre a matéria que também ciclicamente nos aflige.

O problema tem a ver com bombeiros e ministros, mas é sério demais para ser resolvido apenas com o mero lançamento de água a partir de meios aéreos. O problema é, como a imagem nos recorda, essencialmente teórico, tendo a ver com o pensamento dominante em matéria de reforma da universidade ou de não proibição dos transgénicos, exigindo o regresso à racionalidade complexa, bem simbolizada pela chamuscada imagem que reproduzimos.
Com efeito, ao contrário do Renascimento, que concebia o mundo como um ser animado, como um homem em ponto grande, quase à maneira do antropomorfismo platónico, a teoria moderna da razão incompleta, a que muitos ainda reduzem a racionalismo, vem compará-lo a uma grande máquina ou mecanismo e, como tal, decomponível. Aliás, se, no Renascimento, a ciência modelar para o estudo das coisas políticas era a medicina, eis que, com o Iluminismo, a matemática se torna o novo paradigma.

Conforme Descartes pede: dai-me a extensão e o movimento e eu construirei o universo. Eis, portanto, o sujeito todo poderoso, o homem solitário e sem freio, solto, absoluto, disposto a dominar todo o mundo através de um razoar calculista e raciocinador, o raisonner dos franceses, uma ilusão de razão que pretendia, sobretudo, fazer adições e subtracções de elementos, decompor o todo pela análise e, somando cada uma das parcelas, reconstitui-lo.

O mesmo Descartes, no Discours de la Méthode, refere que em vez da filosofia especulativa que se ensina nas escolas, pode encontrar se uma outra, prática, pela qual conhecendo o poder e as acções do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos rodeiam, tão distintamente como conhecemos as diversas profissões dos nossos artesãos, poderíamos, da mesma maneira, utilizá-los para todos os usos que lhes são próprios e, assim, tornarmo-nos senhores e possuidores da natureza (maîtres e possesseurs de la nature)...

Inicia-se, assim, o esprit geométrique, oposto ao esprit de finesse que Blaise Pascal, nos seus Pensées, de 1669, entendia como a razão metafísica. Compreende-se, pois, que Hobbes venha, mais tarde, considerar a geometria como a única ciência que Deus houve por bem até hoje conceder à humanidade. Gera-se, portanto, aquela forma mentis que leva o pensamento matemático a tornar-se o ritual do pensamento, conforme a conhecida observação de Theodor Adorno.
A razão passa a ser o tal conhecimento claro e distinto de Descartes, onde apenas se conhece aquilo que pode conceber-se, tanto na sua aparência externa, como nas condições que determinam a sua origem, surgindo o método analítico e sintético. Inicia-se assim aquela modernidade, marcada pela racionalidade do sistema, a metafísica da subjectividade, a dominação planetária da técnica e o totalitarismo sócio-económico-político, para utilizarmos palavras de Martin Heidegger
Na linha de Karl Popper, também eu sou parcialmente culpado, porque não fujo de certa tradição de Kant e Voltaire que submeteram ao crivo da razão tanto a filosofia como as matemáticas ou a física.
Mas não deixo de reconhecer que, a partir desta senda cartesiana, surgiu, como assinala André Glucksmann, a empresa de matematização do universo físico que redistribui os domínios da ciência e da autoridade na viragem dos tempos modernos. E todas as universidades do Ocidente, quaisquer que sejam as suas teologias implícitas, procuram, há dois séculos, pôr em paralelo ciências físicas e ciências morais, ciências da natureza e ciências humanas:gravitam todas no campo desta revolução copernicana induzida pela entrada na órbita científica de 89. Desde esta data, dois projectos de domínio fundem-se um no outro; Descartes convida a descobrir no homem capaz de física matemática o 'dono e senhor da natureza'. O homem capaz de revolução leva, segundo o novo saber, ao dono e senhor da sociedade: que seriam as ardentes e doutrinais querelas em ciências humanas, até mesmo as 'posições de partido' se não fossem as querelas de domínio e de posse?
Acrescento, outra observação, de Louis Pauwels: a tradição racionalista é metafísica e mágica: metafísica por "fazer do determinismo um absoluto"; por "projectar as próprias preferências sobre a natureza é um acto de magia. Este materialismo é um encantamento e o cepticismo indiscriminado uma superstição".
Concluo com Benjamin Disraeli: o Homem só é verdadeiramente grande quando actua movido pelas paixões; nunca é irresistível excepto quando apela para a imaginação.
Como observa Jean Marie Domenach,"a antiga totalidade, partindo da ruptura entre o homem e a natureza, pretendia fazer da natureza uma chasse gardée do homem (é o humanismo dominador de Descartes) ou do homem um prolongamento da natureza (é o estruturalismo de Lévi Strauss) ... o pensamento sistémico quer forçar este impasse mostrando que as estruturas vivas não são radicalmente estranhas às da física, que a autonomia já está incluída na organização e que é um combate ultrapassado o do reducionismo contra a complexidade,do determinismo contra a liberdade".
Diga-se, de passagem, que algo de diferente foi o movimento da ciência portuguesa dos séculos XV e XVI, de Duarte Pacheco Pereira, D. João de Castro e Garcia da Orta. Refere Agostinho da Silva que estes "mantinham os direitos e as irradiações de uma ciência a que poderíamos chamar católica no sentido de que de bom grado se dissolve na comunidade e não procura ir além de uma linha geral de entendimento e de saber". Porque "o português mantém-se fiel à grei, o que tantas vezes simboliza numa fidelidade ao soberano, e vê nas criações um motivo para louvar o Criador, isto é, descobre a grandeza universal na pluralidade do diverso, sem que a singularidade se elimine e, por outra parte, vê Deus como sendo essencialmente o artista supremo que inventou as faunas dos corais, ou a tromba marítima, ou as fantasiosas conhecenças ou o lento balanço das palmas nas tardes tropicais".

Hino à glória de ter medo


Sei do abstracto bem do Estado e do preço que não tem a vida humana; sei máquinas automáticas que registam todos os passos do suspeito. Sei microfilmes, computadores, e sofisticadas torturas que o não são, sempre de acordo com os regulamentos.

Sei das regras todas, das leis, das circulares, das convenções. Sei prisões, direitos e garantias, códigos penais, processuais e as teorias todas do poder. Sei de cor os meandros do medo, notificações, contestações, concentrações. Sei sobretudo prisões sem culpa formada e legalíssimas justificações de tudo. Sei do medo e a repressão, sei tudo isto e não estou calado.

Sei e valia mais não saber, valia mais esquecer-me de quem sou e, renegando os princípios por que me querem prender, entregar-me às doces polícias do pensamento que sem proibir nos querem silenciar.

Valia mais censurar-me, arrepender-me, rasgar meus versos, não acreditar. Isto é, ter o prudente medo desse bom chefe de família que tem de ganhar a vida. Ter, em suma, a cobardia de não ser e parecer sempre do lado que convém.

Para quê defrontar o vento novo e arriscar causas perdidas, quando posso aplaudir o vencedor? Ser definitivamente da casta dos moderados, desses que tendo dito sim ao não, aparentando não dizer nada, podem, depois, muito convenientemente, demonstrar que não disseram o que calaram.
Enfim: sobreviver, deixar a política para os políticos e a pátria para os homens de sucesso.

PS: Agradeço ao meu amigo René Magritte a ajuda que me deu com "Le Chef d'Oeuvre". Sem palavras disse todas as palavras que eram precisas.



29.8.07

Em Barcelos, entre Andrea Mantegna e Terpsichore


Depois de mais uma noite de insolente serenidade junto dos meus ascendentes e descendentes, com os pés assentes na terra dos meus mortos e os olhos postos nos sinais de sonho que estão depois da curva do caminho que devo percorrer, confirmei como não sou apenas a autonomia do "in-divisus" que resiste, mas também corrente de gerações, através da qual acontece o transcendente situado, na comunhão das coisas que se amam. Agradeço a esta rede, chamada blogosfera, a possibilidade de deparar com inesperados lugares que trilham a mesma esperança contra o bacanal dos ódios. Por isso, quando peregrinei a resposta da "odisseia de uma Lusitana Combatente, atravessando o Mar das Tormentas", pessoa que desconheço, apenas me apeteceu transcrever o locus, ou topos. Aqui o deixo, sem comentário. E com a mesma imagem de Andrea Mantegna.



Liberdade:


Porque me tornei rebelde:

A liberdade não é uma concessão do príncipe ou da revolução, é uma conquista do homem revoltado contra a servidão voluntária...

Mas servidão a quem, a quê?

Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: n’ayez pas peur, na servitude volontaire o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhe dá, um poder que vem da volonté de servir das multidões que ficam fascinadas e seduzidas por um só.

Mas essa fascinação e sedução, é a maior benção: O que tem é que tornar-se Fascinação e Sedução, pelo Eterno…

Aliás, todos os que se tornaram servidores do Eterno, foram radicalmente rebeldes. Rebeldes até contra si próprios. Rebeldes, contra a prisão do príncipe deste Mundo, que é acima de tudo o príncipe da Mentira.

Ele nunca funciona pelo mal visível. No entanto gastamos nosso tempo reagindo contra esses sintomas. Ele está sempre escondido. Ele nunca assusta, ele seduz. Ele não é pavoroso. Ele aparenta ser maravilhoso. Ele não é feio. Ele aparenta ser belo. Ele não afasta. Ele atrai a si os que estão perto de realizar algo especialmente Bom, criando situações de forma genial e complexa, para que esse Bem não possa acontecer. Ele sub-repticiamente cerca e enche de obstáculos o caminho que leva à Liberdade.

É por ele que o caminho para o Monte Abiegno é tão penoso, difícil e raro. É por ele que é preciso tanto Amor para que alguns lá possam chegar…

Foi linda a festa...


Foi linda a festa, a da minha mãe, a das memórias da minha avó, a irmã, os filhos, os amigos, a terra pátria, onde estão os restos de meu pai. Voltei a ser quem sempre fui, menino de olhos vivos que subia às árvores para poder ver mais além, as unhas sujas de terra e o sabor das coisas iniciais. As tangerinas comidas no quintal, o verde rumor das ribeiras e as regas em noites de verão. Sou quem sempre fui, porque fui além de mim mesmo e fui mais do que eu.


Foram longos os anos de exílio voluntário, por causa do tal papel social que tenho de representar, do “curriculum”, do “cursus honorum”, da carreira, do posto de vencimento que dá de comer aos meus. Do tal “negotium” que condiciona o “otium” da minha liberdade e onde talvez trabalhe mais que no próprio trabalho que tenho de fazer. Mas agora não apetece recordar os sítios estranhos onde tenho de fingir viver essa falsa identidade que todos dizem ser minha.


Valeu a pena não perder meu ser, nos jogos ocasionais da fortuna e do azar. Valeu a pena esperar. Estou aqui, ainda tenho as mãos livres. Estas mãos de saudar madrugadas, a esperança semeada pela renúncia. Estou aqui, sou livre. Consegui vencer os medos e retomar a sinfonia.


Ousei a liberdade, ergui as mãos em prece e em silêncio agradeci. Ainda sou fiel ao desígnio de viver. Ainda sou quem fui e sonhei ser. Trago as mãos livres, estas mãos de sonho que outrora semearam primavera. Estas mãos de moldar fidelidade que não temem as algemas.

27.8.07

A liberdade não é uma concessão do príncipe ou da revolução, é uma conquista do homem revoltado contra a servidão voluntária



Para os devidos efeitos, junto parcela do discurso que proferi na minha escola em 20 de Novembro de 2006, na inauguração da exposição comemorativa dos 30 anos de Constituição, na presença do Presidente da Assembleia da República e do comissário da mesma mostra, Professor Doutor António Reis. Muitos auditores disseram então que tinha sido muito esotérico. Julgo que só juntei um pouco de lume de profecia ao lume da razão:



Interessa homenagear "aquela ideia de Estado de Direito, onde acima da lei está o direito e acima do direito está a justiça. Porque, como recordava Fernando Pessoa, se o Estado está acima do cidadão, o homem está a cima do Estado.


Interessa também salientar que, muitas vezes, temos conseguido espremer, uma a uma, as gotas de micro-autoritarismos que ainda nos poluem, esses restos de subsistema de medo que marcam os pós-autoritaritarismos e os pós-totalitarismos, esses atavismos absolutistas que dizem que L'Etat c'est moi e que quod princeps dixit, legis habet vigorem, porque princeps a legibus solutus.


Infelizmente, mesmo a nível da universidade, continuam muitos segmentos do regime des décrets que, segundo Hannah Arendt, coincide com o governo da burocracia, essa mera administração que aplica decretos, existente nos Estados imperiais, como o czarismo russo e a monarquia austro-húngara, bem como em certos impérios coloniais.




Os burocratas destes regimes que administram territórios extensos com populações heterogéneas, pretendem suprimir as autonomias locais e centralizar o poder, mas apenas exercem uma opressão externa, deixando intacta a vida interior de cada um, ao contrário dos totalitarismos contemporâneos. É uma espécie de domínio perpétuo do acaso e de governo dos espertos onde o burocrata tem a ilusão da acção permanente e onde, por trás dos decretos, nem sequer há princípios gerais de direito.


Não sei se vou ter tempo para clamar o regresso do patriotismo científico, numa centenária escola universitária pública que já serviu quatro regimes e que certo revisionismo histórico e alguma literatura de justificação confundem com uma escola de certo regime, esquecendo-se dos pais-fundadores da monarquia liberal de da primeira república, do inspirador, Luciano Cordeiro, a um dos primeiros graduados, Álvaro de Castro.




Porque, no começo deste novo século da escola, não podem continuar apagadas as profundas memórias que nos ligaram aos próprios factores democráticos da formação do Portugal contemporâneo, para parafrasear Jaime Cortesão.


Importa recuperarmos fontes históricas adormecidas pelo autoritarismo salazarista, onde está por inventariar o esforço de subversão criadora de um Sarmento Rodrigues, o ministro que, tardiamente, nos tentou fazer regressar ao conceito do universalismo lusíada que havia sido lançado por Paiva Couceiro e Norton de Matos, especialmente na sua ligação a Gilberto Freyre, ou o simbólico papel que aqui teve o nosso docente Agostinho da Silva. Tal como importa assumirmos certos pecados no afastamento de professores como Vitorino Magalhães Godinho ou, mais recentemente, com a recusa de contratação de Luís de Sá.


Comemorarmos os trinta anos de constituição tem de ser assumirmos a bela ideia de luta pela Constituição, com verdade e autenticidade, espremendo gota a gota o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio.




Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: n'ayez pas peur, na servitude volontaire o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhe dá, um poder que vem da volonté de servir das multidões que ficam fascinadas e seduzidas por um só".




PS1: Parece que certo delírio de estadão, entre notas oficiosas, cartas insultuosas e outras técnicas de intimidação, acaba de fazer acompanhar o processo de "delete" de um dissidente com o lançamento de um anónimo blogue, onde basta um mínimo de conhecimento de análise de conteúdo para se confirmarem as coincidências de sapientíssima origem neopidesca. As anunciadas bufarias serão naturalmente recompensadas. Por mim, não alimentarei estas cenas de ódio. A causa pela qual me mobilizei publicamente venceu. Outros que tirem as conclusões sobre a falta de ar livre que ainda amarfanha alguns segmentos dos nossos quintais universitários. A liberdade não é uma concessão do príncipe ou da revolução, é uma conquista do homem revoltado.

26.8.07

Velhos quesitos aqui publicados há anos em forma de memória viva


Ao mui ilustre e abstracto leitor*



Sempre gostei que comigo entrassem em contradita, pelas ideias a que me dou e pelas quais me manifesto e não pelos fantasmas que alguns dizem que tenho, só porque não penso aquilo que convém, quando sinto ter o dever de pensar, mesmo quando o professo em contra-corrente.


Por isso não me amedrontam os adjectivos diabolizantes dos pequenos inquisidores que caçam nas névoas dos bruxedos.


Penso o que tenho o dever de pensar e cumpre-me dar disso testemunho, mesmo que corra o risco de estar em minoria.


Porque ter coragem é não contabilizar a opinião quantitativa e não procurar saber de que lado sopra o vento. Pensar é resistir, é ter a coragem de sermos minoria, assumindo a atitude daquele que, para estar de acordo consigo mesmo, tem, por vezes, que estar em desacordo com todos os outros, não para "épater le bourgeois", mas para servir a comunidade, mesmo que a comunidade o não reconheça no seu próprio tempo de vida.


Pensar é, para esses seres semoventes, entoar uma espécie de música celestial que só influenciaria os habitantes da utopia. Porque, aqui e agora, o dinheiro que compra o poder e a inteligência, o dinheiro que dobra as vontades, começa a tornar-se no valor predominante.


Escrever é assumir o risco de viver, de estar sempre à beira de um abismo onde, muitas vezes, não existem corrimões nem as habituais redes protectoras que nos sustenham a queda, como é habitual neste país de meias tintas, entre a esquerda menos e a direita envergonhada, onde quem é do centro, muitas vezes, não passa de um jogo de soma zero, resultante da mistura da esquerda mais com a direita menos, ou do mais direita com o menos esquerda, como sempre foi a preferência dos vários situacionismos, onde sinais contrários não conseguem disfarçar a existência da mesma substância.


Nós e aquilo que temos a ilusão de criar não passamos da poeira de um caminho que nossos vindouros hão-de calcorrear. Importa ter a humilde consciência deste dever. De sermos parcela da longa corda de transmissão de um sinal de sonho. E é nesta postura de serviço que conquistaremos a eternidade, mesmo que não o registem em nota de pé de página.


No intervalo, apenas seremos compreendidos pelas almas gémeas que servem connosco o mesmo objectivo desta procura colectiva. Mesmo que não surjam anónimos sinais de irmandade. Quem tem a consciência de assim estar vivo e sentir o silêncio dos que, em fidelidade, comungam connosco do mesmo ideal de vida, apesar de se poder sentir só, sabe, intimamente, que não está só e que muitas outras mãos nos querem dar as suas mãos de escrita.


O elemento mais marcante do salazarismo sempre foi a hipocrisia. Pior: o paradoxo de se fazer um discurso contra a hipocrisia a fim de se fazer ainda mais hipocrisia. Isto é, teorizando-se a necessidade da autenticidade, faz-se o exacto contrário do que se vai proclamando.

10º

E agora tudo se disfarça com as mãos papudas do salamaleque de salão, com a cadeirinha de coiro preto, sacanamente posta para o tolo do gabiru julgar que o assassinato pode ser gratificante. E tudo sempre na solenidade ritual de gabinetes grandiosos, onde a luz esguia dos candelabros, o óleo frio dos quadros épicos e o retorcido das escrivaninhas, nos parece transportar para a delícia cultural dos livros de carneira cheios de bicho, cheirando ao mofo dos inquisidores da treta.

11º

O chefe supremo tem sempre as mãos higienicamente desinfectadas, porque ele apenas é mais um desses honestos que, infelizmente, tem que gerir uma plebe de intermediários desonestos, desde a bufaria dos serviçais que esperam ser promovidos, à minoria dos jagunços violentistas, numa rede que só é eficaz se o vértice continuar a parecer o exacto contrário daquilo que o conjunto é, na realidade.

12º

A rede de dependências e medos vai continuar enquanto não assumirmos que em situações pós-totalitárias e pós-autoritárias, mesmo depois de se eliminarem os aparelhos visíveis da repressão e da corrupção, permanecem os subsistemas de medo e de venalidade que os mesmos geraram.

13º

Pior: abundam os micro-autoritarismos sub-estatais e esses modelos de temor reverencial podem aí ser substancialmente agravados e fomentados, principalmente quando as pequenas e os pequenos chefes do bando actuam em legítima defesa, em épocas de transição ou de crepúsculo.


14º

Neste regime de pequenos feudalismos em que se enreda o oportunismo lusitano, o longo prazo do combate por ideias nunca conseguirá ter qualquer espaço de comunicação com o frenesim do mediático. Os candidatos com mais sucesso, silenciando irreverentes, souberam criar uma espécie de sociedade de Corte, tecendo uma rede de fidelidades e simpatias, tal como ilustres gestores do presente aparelho de Estado subiram ao poder gerindo adequadamente o saco azul, vermelho, preto ou amarelo dos pareceres e avenças.

15º

Por outras palavras, o quintal português da feira das vaidades é estreito demais tanto para a autonomia da sociedade civil como até para efectiva expressão da liberdade de pensamento. Os grandes controleiros deste pequeno "big brother" devem ser, aliás, os primeiros que se riem com os habituais invocadores da chamada teoria da conspiração. E isto porque a estreiteza do nosso espírito capitaleiro produziu uma lógica de campanário na nossa principal aldeia, a que damos o nome de Lisboa.

16º

Quando a política de campanário nos vai fragmentando em facciosismos e pequenas zangas de comadres e compadres, onde não faltam os potentados dos pequenos e velhos padrinhozinhos. Quando o futuro se confunde com cinematográficos regressos ao passado e quase todos se diluem na procissão carneiral dos colectivismos morais, importa reparar que à míngua de pátria é o povo comum que começa a perder a vontade de sorrir.

17º

Quando é a esperança colectiva que vai definhando, face à falta de sentido cívico e ao vazio de justiça, começamos a notar que surge uma sociedade de ouriços cacheiros, onde em vez do individualismo da criatividade pessoal e das boas sociedades de egoístas, começa a marcar ritmo de desespero o "vê se te avias" e a moral do sapateiro de Braga, onde tanto não há moralidade como ninguém come nada.

18º

O próprio discurso sobre o bem comum foi esfacelado e usurpado por vendedores de banha da cobra que o encomendaram aos assessores honestos que recrutaram no mercado do proletariado intelectual. Os tais para quem a moral é uma lei que eles impõem aos outros, mas de que se pensam dispensados pela graça do poder, esquecendo-se que não podem invocar tais normas de autonomia os que são exemplos de falta de autenticidade. E não nos parece que os anunciados candidatos à reflexão presidencial tenham suficientes saudades de futuro para provocarem o urgente acordar deste nebuloso letargo em que nos vamos enrodilhando.

19º

Este profundo estado depressivo em que nos deglutimos nada tem a ver com as tensões do tudo e do seu nada de anteriores crises colectivas, quando a alma colectiva ainda não era pequena e nos entusiasmavam os sonhadores activos. Agora, vive-se uma espécie de definhamento com barriga cheia e luxo à farta, com que vamos alimentando a ilusão de ainda sermos uma comunidade nacional.

20º

A mentalidade típica de certos donos do poder está em que entre a teoria e a prática tudo é teoricamente prático e tudo é praticamente teórico, porque, na prática a teoria é outra. Mas, como pela boca morre o peixe e estamos na terra do sapateiro de Braga e de Frei Tomás, se uns logo observam que ou há moralidade ou comem todos, muitos outros logo reconhecem que bem pregas Frei Tomás.

21º

Enquanto estes pálidos e pretensos taumaturgos continuarem nos pedestais do seu ministerial despotismo, não são possíveis gestos com sentido. Eles prostituíram a palavra e profanaram os símbolos. Pujantes em seu efémero julgam-se donos da eternidade. E se alguns dos que vivem como pensam podem volver-se em agnósticos, muitos outros ainda continuam a semear a esperança dos desesperados.

22º

O proibicionismo caceteiro e a persiganga, só porque assentam nos donos do subsidiável e do inspeccionável e que nem sequer têm que registar interesses e acumulações, podem continuar a inspirar muitas transpirações serôdias, inumeráveis cortes de salamaleques, lisonjas e engraxamentos, mas acabam por contribuir para o nosso fenecer sem honra nem humildade.

23º

O decretino e o mediático podem ter, no curto prazo, a razão da eficácia, mas nem por isso se livram de poderem ser um clamoroso erro no médio prazo e até uma estupidez destrutiva no longo prazo. De boas intenções está o inferno do pseudo-reformismo cheio

24º

Não há meio de compreenderem que a história, mais do que o produto da intenção de certos homens que dizem deter o monopólio das boas intenções, é, sobretudo, o produto da acção dos homens livres. A história é sempre uma co-criação de homens livres e raramente é detida pelo caixilho teórico dos que apenas pensam que pensam.

25º

O dominador sempre conseguiu controlar as esperanças e domar as ilusões, através do magistral uso do chicote e da cenoura, usando apenas o primeiro de forma selectiva, de maneira a liquidar as cabeças que se assumem como alternativas oposicionistas.


26º

A cultura imperial-otomana que nas amarfanha, pintando-se de bom pai tirano, sempre soube manipular de forma magistral o pão e o circo, desde a jantarada à custa do dinheiro do contribuinte, às sucessivas farras e guitarradas, para que a rapaziada se embebede e não cuide da chefia da cidade.

27º

E neste ambiente de acrítico louvaminheirismo continua a ser pecado produzirmos simples farpas que ousem sair da mediania estupidocrática dos produtores de hossanas nas alturas aos contadores de histórias que ocupam as chefias.


28º

Porque ninguém ousa dizer em voz alta, mesmo sem berros, o que todos vão comentando pelo sussurro, sobre a total inutilidade de instituições que, sem ideias, apenas servem de corrimão para gentes viciadas em protagonismos balofos de falso mediatismo, apesar de as cortes se emprenharem em ilusionismos activistas

29º

Ainda há instituições que continuam a ser espaços infradomésticos de falso paternalismo, porque ingloriamente dependentes de certos capatazes e dos respectivos fiéis. E nesse universo de cinzentismo pós-totalitário, quem se assume da oposição quase parece que comete um pecado, porque os donos e senhores da coisa logo dizem que monopolizam o conceito de bem institucional, considerando os divergentes como dissidentes a abater. E assim podem sobreviver, para além do prazo de validade, sistemas imperiais de gestão, marcados pela arendtiana categoria do governo dos espertos, onde se manipula a legalidade, conforme o uso que dela podem fazer os espiões da Razão de Estado. Os quais nem sequer alguma vez compreederam o mínimo denominador comum da civilização do Estado de Direito.

30º

A cultura da dependência, gerada pela estreiteza de vistas do paroquialismo balofo e pelo charlatanismo dos piratas com chapéu de coco, que confundem a palavra com a demagogia, apenas afina o delírio de um carreirismo cobarde.


*As trinta citações que faço são retiradas deste blogue. Têm todas cerca de três anos de emissão. Qualquer coincidência deste passado-presente com a falta de saudades de futuro é para quem quiser enfiar a carapuça.

25.8.07

Nos oitenta anos de minha mãe


Cumprindo o prometido, vamos à vida que vale a pena. Neste tempo de homens lúcidos que detestam violinos, vale a pena a lucidez de ser ingénuo. Por mim, depois de ser obrigado a desistir de uma conferência que tinha aprazada em Londres, porque o meu Reitor me vai conceder audiência nessa altura, estou prestes a largar da capital e a rumar para as raízes da pátria, porque a minha mãe vai fazer oitenta anos. E apetece ser de novo menino de minha mãe, e sentado em seu colo quente viajar pela nostalgia dos dias da minha infância. Fingir quem fui sonhando quem hei-de ser. Ouvir de novo versos de embalar e nas ondas do berço adormecer um sono sonho que seja eternidade. Poder, mais uma vez, crescer e com olhos brilhantes de pureza, voltar ao meu gatinhar inicial pelas areias do desconhecido. Ter força para desvendar a curva do meu caminho.

Agora, já poucos sabem dos trilhos que todos os dias nos levavam às terras da Rodas ou do Cimo do Olival, nesses carreiros feitos com pés descalços, onde todos conhecíamos as árvores, quase pelo nome, e sabíamos das curvas da ribeira, dos silvados.

Na minha aldeia, também eu descobri, com a suavidade de menino que foi feliz, que há um espaço de memória, humanamente mitificada e reconstruída, onde também havia caminhos de aborígenes onde as pedras dos trilhos guardavam memórias e espíritos dos antepassados.


Continuo a ser o sonho de minha avó e de minha mãe. Sempre, sempre, dentro de mim, o desejo de partir, de aventura, de poder quebrar as amarras que nos ligam à terra-mãe. Porque mesmo quando cortamos o cordão que nos liga à memória da pátria, mesmo quando dizemos que fugimos, apenas estamos a reconhecer que continuamos presos a essa pátria prometida de quem somos parte.

Minha mãe nasceu no mesmo dia da minha avó e a bela fotografia que aqui deixo foi tirada por alguém a quem eu devia ter prestado a minha sentida homenagem na passada semana: o meu querido primo Fernando Cordeiro, o primo-juiz que pela lei da morte passou a ser memória e eternidade. Conseguiu viver como pensava e, ao seu exemplo de vida, devo muito de quem sou, principalmente a vontade de cursar direito.

Minha mãe, minha avó, meu falecido primo, todos os caminhos de vida que me fazem cruzar com a Sardoeira, onde comecei a nascer no dia da festa de Santa Luzia, nessa genealogia de memórias, exemplos e força que sempre peregrino, em momentos de resistência individual, quando a própria solidão da autonomia me faz companheiro de quem quer servir ideias, obedecer a regras e conviver na rede das manifestações de comunhão pelas coisas que se amam. Começando em mãe, todos os que pensam, de forma racional e justa, chamaram pátria a este indefinível...



De como desatei aos pontapés, a tocar violino e a chamar nomes a todos os não-ninguém ...


Agradeço as manifestações de solidariedade que me têm chegado e, sublinho, da blogosfera, pedindo desculpa pelas que me escapam, as tomadas de posição de Ortogal, de Golfinho, do Blasfémias, do Tugir e do Fumaças. Quero também fazer devido destaque para a posição publicamente assumida por Marcelo Rebelo de Sousa no seu blogue, transcrito hoje no "Sol". O triângulo de solidariedade, entre uma voz da escola-mãe onde me formei, através de Vital Moreira, da escola onde aprendi a ser professor e onde iniciei a minha carreira docente por concurso público, a Faculdade de Direito de Lisboa, através do seu presidente do conselho científico, e a quebra de bloqueio expressa pelo decano da minha actual escola ao DN, Carlos Diogo Moreira, faz-me sentir universitariamente apoiado.


Logo, calarei neste lugar, a partir de agora, o destaque desta infeliz saga que, reposto o objectivo de desapagamento de um bem público, merece o trancamento de balneário, pedindo desculpa pela interrupção do meu ritmo normal de análise que, aliás, continuei em manuscrito, nomeadamente sobre a campanha para a liderança do PSD, o caso Somague e outras deste defeso de politiqueirismo. Apenas transcrevo a pequena observação de José Joaquim Lopes Praça, de 1868, com que inicio o meu "Metodologias da Ciência Política" que, em breve, será lançado, em breve cerimónia pública, num qualquer lugar de memória, mesmo que seja contra a vontade do editor: muitas vezes se tem dito, e é uma verdade, que não há mais país livre sem instrução, nem um país pode ser bem governado, quando as ciências que mais contribuem para ilustrar os governantes se abandonam ao desamparo...

Como a matéria do apagão, conforme aqui descrevi, pode entrar, de um momento para o outro, em silêncio processual, corro o
risco de só poder falar sobre a dita em regime de segredo de justiça, através do advogado que sou obrigado a constituir, dado que a face visível do poder instalado acabou hoje de declarar ao DN que não aprecia o toque de violinos e que a minha actuação sobre a matéria equivale aos sociológicos conceitos de desatar aos pontapés e a chamar nomes a alguém. Aliás, na revista Sábado, que também se referiu ao assunto, páginas volvidas, transcrevem-se afirmações minhas que põem em causa o bom nome da pátria e do regime, quando sobre o jogging de Sócrates, declaro o seguinte: o Cavaco subia coqueiros, o Sócrates faz jogging. São dois exemplos de fenómenos de propaganda de imagem. Apenas isso.

Espero que Marcelo Rebelo de Sousa não seja vítima de uma intenção de inquérito, a promover pelo respectivo conselho directivo, por ter escrito, no semanário "Sol", o que se segue: um abraço solidário para José Adelino Maltez. O sítio do ISCSP acaba de "sanear" o pecúlio de dados histórico-filosófico-políticos por ele laboriosamente recolhidos ao longo de muitos anos. A saber, o arquivo do Centro de Estudos do Pensamento Político.


Qualquer aprendiz de pesquisador de opiniões pode recolher neste blogue e nas minhas intervenções de publicista, em quase todos os principais órgãos de comunicação social, inúmeras actividades delituosas desse teor e bem podem pesquisar as defuntas fichas da PIDE, do KGB e da CIA que nelas não encontrarão mais do que publicamente incluo no meu "curriculum" cívico e académico, disponível há muitos anos na Internet (http://maltez.info/). E também poderão ler o que quotidianamente emito neste blogue sobre as circunstâncias políticas domésticas e a própria vida universitária. É o meu património não apagável por qualquer apreciador de violinos que, do alto das suas altas funções administrativas, pode continuar a mandar afixar nas vitrinas da respectiva administração, todas as entrevistas políticas que vai dando sobre o PRACE na pátria e na região autónoma que o contratou como reformador local.

Por hoje
hoje apenas transcrevo parte do artigo do Diário Notícias, a diponível na net. Desde já informamos que a fotografia de Vasco Neves, incluída no mesmo, não foi obtida nas instalações geridas pelo inspirador da presente reforma do Estadão ... na Madeira, pelo que não tem que ser movido qualquer inquérito aos serviços que têm as chaves de tais instalações. Fui fotografado numa cyberloja, diante do Liceu Camões, mas, quando se pediu autorização ao responsável, este logo disse: já sei, é por causa do CEPP, já estou informado pela NET...






Professor do ISCSP inquirido por delito de opinião





FRANCISCO ALMEIDA LEITEVASCO NEVES (imagem)

O Conselho Directivo (CD) do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) vai instaurar um inquérito com eventuais consequências disciplinares ao professor catedrático José Adelino Maltez. Na base deste procedimento está, segundo um documento a que o DN teve acesso, "alegadas intervenções do mesmo professor gravissimamente lesivas para o bom nome e imagem do ISCSP".






Quem o escreve é João Bilhim, presidente do Conselho Directivo do ISCSP, numa carta que enviou esta quinta-feira a todos os docentes daquela instituição e na sequência de uma notícia do DN desse dia, na qual José Adelino Maltez garantia que poderia recorrer ao Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) por causa da destruição do arquivo online do Centro de Estudos do Pensamento Político. Na carta, Bilhim diz que vai propor na próxima sessão do órgão que dirige "a abertura de um inquérito, destinado a apurar os factos e as correspondentes consequências disciplinares".





Ao DN, Maltez afirma que o inquérito "é uma ameaça", rementendo para estas declarações que colocou no seu blogue pessoal (www.tempoquepassa.blogspot.com): "Como toda a universidade pode calcular, saúdo, com toda a veemência da liberdade de expressão, a instauração de tal inquérito que, aliás, já tinha sido, há meses, por mim solicitado em pleno Conselho Científico e que ficou em veto de gaveta. Sugiro, aliás, que o mesmo possa ser levado a cabo por uma entidade independente, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República, recorrendo a peritos que saibam distinguir um mail de um weblog, ou uma página oficial de um servidor".





João Bilhim, por sua vez, declara ao DN que "uma vez que o prof. Maltez tinha dito que ia apresentar queixa ao DIAP e alguns blogues falam na necessidade de a Inspecção Geral do Ensino Superior se pronunciar, eu sou o primeiro a pedir uma clarificação". Bilhim explica que o inquérito "não é com certeza para tocar violinos, um inquiridor pretende saber se há factos do objecto de delito".





Este especialista em Sociologia das Organizações - que presidiu à comissão técnica do PRACE, programa governamental que apontava para a redução de cerca de 120 organismos da Administração Central - afirma que ele próprio viu o site do Centro de Estudos Administração Pública e Políticas Públicas, que dirige, ir abaixo durante as reformulações no endereço electrónico do ISCSP. "E não desatei aos pontapés e a chamar nomes a ninguém", diz ao DN, acrescentando que considera que as declarações públicas de Maltez "são lesivas do bom nome do ISCSP".





Quem não concorda é Carlos ... Moreira, o decano dos professores catedráticos do ISCSP, depois de Adriano Moreira e de Narana Coissoró se terem jubilado. "A carta do presidente do CD deixa-me perplexo, o que me parecia curial era que o prof. Bilhim tivesse, primeiro, procurado falar com o prof. Maltez para se elucidar das razões que o levam a dizer o que disse", diz Carlos ... Moreira, que considera Maltez "um catedrático prestigiadíssimo que merece consideração".Este sociólogo defende que a carta do presidente do CD, dirigida a todos os professores, "revela precipitação e insensatez". Mais, segundo Carlos ... Moreira, a carta "não corresponde à imparcialidade que o cargo exige".





Este catedrático condena a passagem em que Bilhim diz "vivemos um momento muito difícil na vida da UTL e do Instituto" e questiona: "Que momento difícil? Só se for a propósito dos novos estatutos do ISCSP que foram propostos contra a vontade de muitos".

24.8.07

"Http://www.iscsp.utl.pt/cepp" foi declarado de volta! E outras voltas do canto do cisne e do assobio dos camarões...


Eram 22 horas e 39 minutos de ontem quando começou a reposição no servidor de iscsp.utl.pt os arquivos do CEPP que, assim, voltam a poder ser consultados: http://www.iscsp.utl.pt/cepp. Agradeço à blogosfera o apoio recebido nesta luta. Agradeço também à imprensa que fez eco de alguma coisa que me ultrapassa. Informo que, desde 2003, o arquivo em causa não mais teve a hipótese de ser actualizado pela equipa que o concebeu e realizou, não apenas com zelo profissional, mas também com o afecto das coisas que se amam.
Infelizmente, apesar de já surgir o portal do arquivo, os milhares de ficheiros que o sustentam continuam por encontrar, perdidos nos "missing links". Estão apenas visualizáveis meia dúzia de pastas, tentando tapar-se o sol com a peneira. Espero apenas que não tenham feito "delete" e que estejam amargurados nas andanças do "undelete", porque o vazio continua e de boas intenções está o inferno do apagão bem cheio...
Por enquanto as firmes competências que produziram o apagão não parecem capazes de reposição dos 183 MB, temendo eu que a gestão em causa tenham corrompido toda a base... esperemos que não!


Infelizmente, o processo do apagão vai continuar. No dia em que a Presidência da República promulgava o novo RJIES, um presidente do conselho directivo emitia uma nota onde as minhas actuações sobre a questão eram decretadas como gravissimamente lesivas para o bom nome e imagem do ISCSP e de pessoas que nele ou para ele trabalham, pelo que anunciava: desde já vos anuncio que vou propor ao Conselho Directivo na sua próxima sessão a abertura de um inquérito, destinado a apurar os factos e as correspondentes consequências disciplinares.


Como toda a universidade pode calcular, saúdo, com toda a veemência da liberdade de expressão, a instauração de tal inquérito que, aliás, já tinha sido, há meses, por mim solicitado em pleno Conselho Científico e que ficou em veto de gaveta. Sugiro, aliás, que o mesmo possa ser levado a cabo por uma entidade independente, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República, recorrendo a peritos que saibam distinguir um "mail" de um "weblog", ou uma página oficial de um servidor. A primeira entidade a que comuniquei este apagão foi a toda a comunidade dos docentes da escola, antes de remeter toda a informação que tinha sobre a matéria ao meu reitor.


O normal anormal deste domínio perpétuo do acaso que marca domínio do ninguém de certa burocracia, onde, para parafrasear Jorge Coelho, a culpa costuma morrer solteira, não me espanta. No meu currículo profissional já me deparei com situações paralelas: nos anos da brasa de 1976-1977, quando era membro de uma comissão de trabalhadores do ministério do comércio, obriguei a que o ministro tivesse emitido nota oficiosa proibindo que os funcionários prestassem declarações públicas sobre matérias de cabaz de compras, mas continuei a escrever nos jornais e até qualifiquei como mentiras, declarações do primeiro-ministro. Não consta que o mesmo me tenha processado.


Alguns anos depois, quando era dirigente da administração pública agrícola, um secretário-geral decidiu tirar da tipografia um prefácio meu à reedição do projecto de lei de fomento rural de Joaquim Pedro de Oliveira Martins. Imediatamente o reeditei à minha custa. E logo me candidatei a deputado contra o próprio ministro no mesmo distrito eleitoral. O tal ministro em causa também me renomeou director de serviços, mas, no dia seguinte, pedi a demissão e fui servir outra direcção pública, mas com a compressão das competências tive tempo para frequentar o curso de defesa nacional e concluir a redacção da minha dissertação de doutoramento.


Só uma vez me lembra de ter sido punido, quando em 1975 fui expulso formalmente como estudante da Universidade de Coimbra, por um plenário movido por alguns militantes de uma esquerda tão à esquerda que, sem ser do MRPP, tinha como activistas ilustres futuros membros do governo da direita cavaqueira e banqueiral. Infelizmente, não tinham notado que já me tinha licenciado em 31 de Outubro de 1974 e sem passagens administrativas. E que, meses volvidos, era adjunto de um dos governos provisórios.


Fechando o círculo, a punição política do tempo do cabaz de compras foi por ter sido adjunto político do anterior ministro do governo provisório anterior. A punição do tempo do governo cavaqueiro foi também por ter sido adjunto de anteriores ministros da mesma área dos tempos dos governos eanistas, incluindo o pintasilguista, e do balsemismo.


A ameaça com que se coroa, na minha escola, o fim do modelo de gestão com que a Lei Gago vai encerrar um ciclo que um quarto de hora antes de morrer já estava morto e quase me faz recordar a coincidência de nomes entre o actual "big brother" e os autores morais de um processo de ocupação violenta de instalações na Rua da Junqueira durante o governo Guterres, quando certos membros da minha escola, em nome do pretenso bom nome da dita, transformaram instalações do ministério de Gago, que era ministro da ciência sem universidades, em objecto ocupável.


Eu fui um dos dois professores que tomaram posição pública contra a operação. O mentor do processo nunca me perdoou e é ele que, por acaso, é o directo responsável pelo apagão do CEPP. Venha o inquérito! Num Estado de Direito a lei já não é quod princeps dixit e o mesmo príncipe está sujeito à própria lei que edita. Aliás já nem há o "l'État c'est moi", porque o Estado somos nós todos.
Como escrevo no último livro que publiquei, reproduzindo um texto de 1996: uma das consequências habituais do estabelecimento de novas intelligentzias oficiais consiste na expulsão dos universitários que não jurem fidelidade ao novo estado de coisas e no estabelecimento, directo ou indirecto de livros únicos, conforme o modelo da reforma pombalina da Universidade e dos subsequentes saneamentos de lentes liberais pelos miguelistas, ou de lentes miguelistas pelos liberais, numa sementeira de intolerância que prosseguiu por ocasião da instauração da República, da institucionalização do Estado Novo ou do lançamento do processo revolucionário em curso dos anos de 1974-1975. Já chega! Saúdo o actuais presidente da república, primeiro-ministro e ministro da universidade por nunca me terem acusado de pôr em causa o bom nome de Portugal e da República pelas críticas frontais que lhes movo nas inúmeras peças deste blogue e nos jornais onde me expresso desde 1967, quando o meu primeiro artigo em letra de forma foi completamente decepado pela censura, dado que aí anunciava que o totalitarismo só se conciliaria com a liberdade quando os camarões assobiassem...



23.8.07

Os alunos não precisam de alguém – para todos os efeitos um professor catedrático...!? – que deforme despudoradamente a qualidade da instituição (sic)


Hoje, já depois de a revista "Sábado" (p. 28) voltar a referir-se ao apagão, todos as caixas de "mail" foram inundadas com longos lençóis do "big brother" anunciando que tudo se tratou de um "missing link", anexando-se ordens e contra-ordens para subalterno e sobre-alterno sobre a reposição dos arquivos banidos. De qualquer maneira, continua o apagão. As ordens e contra-ordens ainda não repuseram a coisa, até porque a última mansagem do executante diz segue hoje por correio o site do CEPP.


É evidente que se eu não conhecesse os antiquados manuais dos inquisidores, dos moscas do intendente, das práticas das bufarias pidescas ou dos mais recentes meandros da espionite em autogestão, ou desempregados, preocupar-me-ia com a resposta que ao caso do apagão foi dada por um dos vice-presidentes dos órgãos de gestão da minha escola. Prefiro deixá-la assim sequinha, omitindo o nome do douto dirigente da administração pública, para não cair no logro da publicidade enganosa.



Caros Colegas,

O último episódio do Professor Maltez contra a imagem do ISCSP (notícia de ontem na secção nacional do Diário de Notícias, com destaque e fotografia) não pode ficar sem resposta por parte de quem realmente se preocupa com o nosso futuro institucional e profissional.

O ISCSP é muito diferente daquele que o Professor Maltez pinta repetida e publicamente, quer no seu blogue quer nos jornais. No semanário O Diabo, por exemplo, no mês passado, afirmou numa entrevista que despediria metade dos docentes do ISCSP.

Nós não precisamos disto e, sobretudo, os alunos não precisam de alguém – para todos os efeitos um professor catedrático...!? – que deforme despudoradamente a qualidade da instituição onde se formam, numa altura em que existem dezenas de milhar de licenciados desempregados.

A atitude é inqualificável, para mais quando é sabido que o jornalista do Diário de Notícias que redigiu a notícia – Francisco Almeida Leite – é, nas palavras do próprio Professor Maltez, “meu amigo e antigo companheiro de lides jornalísticas”, conforme revela no seu blogue Sobre o Tempo que Passa.


Temos direito à indignação.

Sem medo, defendamos o ISCSP!


Outro mais alto dirigente da escola, directo pelo apagão, em longo lençol justificativo, qualifica esta mensagem que transcrevi como serena e corajosa, terminando o seu anúncio de reposição do CEPP, ainda não concretizado, com estes carinhos: Pelo que se pode ver, o nosso Missing Link tem sido tratado com todo o desvelo e carinho, pago em espécie com a peça no DN e os acrescentos do blog. As mensagens e respectiva cronologia falam por si. Sem comentários. Trata-se de alinhar factos e não, de alimentar polémicas...


Assim reduzido a ponto de interrogação por um senhor professor do não quadro, apenas quero dar-lhes os parabéns. Com mais alguns "mails" deste teor já conseguiram armar o cenário que lhes permitirá que nos próximos júris de ascensão da carreira se libertem de todos os eventuais homens livres que os julguem, incluindo este autor do postal que, em anteriores actos do género, sobre os ditos cujos, sempre os sufragou positivamente. Mais não digo, por enquanto. Direi aqui, depois de o dizer no lugar próprio.


O Francisco Almeida Leite que se cuide. Foi pago em espécie e é meu amigo e antigo companheiro de lides jornalísticas. Toda a blogosfera que apoia a causa da luta contra o apagão, se calhar, também é paga na mesma espécie e nunca pensei que houvesse tantos amigos e actuais companheiros na luta blogosférica pela liberdade de expressão e pelo direito à memória. Vamos a factos. Os arquivos têm que ser repostos. De promessas está o inferno cheio...

É proibido ter memória... a cegueira voluntária é o pior dos atestados e defeitos da vida mental portuguesa




Há quem diga que os mais sublimes exercícios da liberdade nascem quando esta, em vez de reduzir-se a mera concessão do soberano vencedor, vive a raiva de poder ser uma conquista dos oprimidos, quando ela se assume como um insolente exercício da rebeldia contra a desordem instalada. Acontece que, quando o homem revoltado actua apenas num microcosmos pré-político, ainda por cima rodeado por um ambiente global de Estado de Direito dito democrático, qualquer grito de alforria pode arriscar-se a ser interpretado como picardia diletante de quem quer colocar-se em bicos de pés para armar espectáculo de exibicionismo ou narcisismo.


Por isso me custa, ter que continuar a usar este espaço para uma defesa de uma aparente microcausa, especialmente quando o abstracto censor faz parte daqueles surfistas das ondas do poder burocrático que apenas pensam em cavalitar nas ondas da vaidade e raramente reparam nos efeitos destrutivos do tal belo horrível, bem expresso pelo dedilhar da lira da música celestial da lenda de Nero que continuou imperador, apesar de uma cidade ter ardido.



Mesmo assim, não posso deixar de assinalar mais apoios recebidos: do
João Carvalho Fernandes, do Jumento, de Rádio Macau, do Alcatruz, do Zé Coelho, do Almocreve das Petas, do Almanaque Republicano, bem como de alguns outros cujo rasto nos registos do "sitemeter" perdi, devido ao número de coonsultas. Permitam-me que destaque os meus colegas de luta pelo direito à memória do Almanaque Republicano e do Almocreve:




Um censor alucinado, maliciosamente alojado no ISCSP e a coberto de um presuntivo iletrismo informático, apagou o valioso e estimado acervo do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP) laboriosamente lavrado pelo professor José Adelino Maltez.

O lugar (CEPP) que tão bem soube agasalhar um infindável rol de personagens que são pertença da nossa história; esse abundante inventário, ordenado e minuciosamente classificado de homens, mulheres e eventos da nossa memória colectiva; esse conjunto de verbetes únicos sobre o pensamento político português; os valiosos quadros cronológicos facultados; tudo o que era uma fonte de consulta obrigatória para estudiosos, leitores atentos ou simples curiosos, lastimosamente se esfumou da rede. O "reservado", onde tantas e tantas vezes recorremos para trabalhos biográficos ou simples iniciação, foi extraviado.

Essa biblioteca virtual, que com mérito e generosidade o professor José Adelino Maltez construiu e nos honra, sofreu um rude "apagão" às mãos da ignorância, da irresponsabilidade e da arrogância de "mandarinatos universitários" (citando Vital Moreira), que ontem como hoje têm da cultura, do trabalho e do ensino um insaciável desprezo. Que esses fantasiosos académicos, neste país de "muita vergonha", habitem o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) e a Universidade Técnica de Lisboa, surpreende pela sua gratuidade e impressiona. Não sabem dignificar a instituição, revelando, bem à maneira do que diz o vate Pessoa, que a cegueira voluntária é o pior dos atestados e defeitos da vida mental portuguesa. E que é proibido ter memória.


Também o "Jumento", habitual vítima dos mesmos devaneios dos desenhadores mentais do PRACE, onde a coincidência até tem o mesmo responsável, observou:
O caso do apagão do CEEP, um trabalho do professor Adelino Maltez do ISCP, parece ser um mais um caso de mediocridade, alguém não gostou que houvesse algo de útil feito pelo professor Maltez e com um simples “DEL” escangalhou uma base de dados única e útil para muitos estudantes de ciência política. A Universidade que se imagina centros de disseminação e multiplicação do saber acaba por ser um exemplo de mediocridade onde muitos asseguram a sua sobrevivência destruindo o saber alheio. Mas desta vez tiveram azar, tropeçaram no professor Maltez que, como diz o povo, parece ter sido “enxertado em corno de cabra” e, como se isso não bastasse, ficaram com a blogosfera e muito graças as esta também com a comunicação social à perna....




Sucede que a Universidade Técnica de Lisboa é pago com os dinheiros dos contribuintes e no caso do portal silenciado por um qualquer idiota que ainda não reparou que a Santa Inquisição há muito que se resguardou nas sacristias, houve também um financiamento com dinheiros da FCT. A autonomia universitária não serve nem para transformar as universidades em escolas privatizadas por e para proveito de alguns dinossauros locais nem para esconder o que por lá se possa fazer com o dinheiro cobrado aos contribuintes.


Mas como o Estado funciona ficamos à espera que as instituições actuem, se os responsáveis do ISCSP são incapazes de apurar o que sucedeu é inevitável que seja a Inspecção-Geral do Ensino Superior a intervir. Cabe ao ministro Mariano Gago intervir pois o ruído é mais do que suficiente para que tome a iniciativa a que legalmente está obrigado.




Reparo, agora, que a aparente microcausa tem muitos outros paralelismos, dado que muitos outros "sítios" desaparecem quando novos donos do poder usurpam anos de trabalho, especialmente quando, com algum atraso, estes descobrem que há servidores, páginas e até blogues. Apenas tenho saudades de certos tempos de pioneirismo, quando, mesmo na minha escola, participei nas primeiras aventuras informáticas, com jovens estudantes e monitores, iniciando de forma artesanal a primeira sala de computadores e as primeiras aventuras, ainda no século passado, antes da chegada dos grandes sistemas, das grandes regras e dos engenheiros de vão de escada, formados em universidades também de vão de escada, quando a imaginação do "software", incluindo o piratado, não estava dependente do ónus do "hardware" dos almoxarifados e dos economatos, gestores das verbas com que também se compram os rolos de papel higiénico, as borrachas, os lápis azuis, a lixívia e os suplementos de vencimento para os cabos eleitorais do chefe. .




22.8.07

Afinal a primeira imprensa a ler e a divulgar foi a "on line". No "Notícias Lusófonas" de ontem


Cultura provoca náuseasaos «donos» de Portugal - 21-Aug-2007 - 12:37

183 megabytes do Centro de Estudos do Pensamento Político, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, atirados ao lixo Portugal ocupa os lugares cimeiros da cultura e da investigação universitária quer a nível europeu como, e porque não dizê-lo, a nível mundial. Dúvidas? Então leiam o que se segue. 183 megabytes do Centro de Estudos do Pensamento Político, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas de Portugal mandados para o lixo. Culpado? Provavelmente o primo do cunhado do tio do avô da senhora da limpeza. Quando no centenário de um dos poetas mais populares portugueses, Miguel Torga, o Ministério da Cultura – presumimos que seja assim que se chame e se é que existe – pautou para ausência oficial a nível de chefias; Quando uma Universidade a quem são oferecidas duas obras – dois ensaios – não os aceita previamente sem antes analisarem à lupa (dixit) as referidas obras; … É porque se nada em cultura em Portugal.

No caso da rejeição das duas obras, recorde-se que são consideradas de consulta obrigatória na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e na Universidade Lusíada, na mesma cidade. Na Universidade Técnica de Lisboa (UTL), existe um Instituto, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) onde uma das suas principais vertentes lectivas, e como o nome sugere, está no estudo das Ciências Sociais (Ciências Políticas e Relações Internacionais).

Um dos suportes que os futuros licenciados, Mestres ou Doutores desta duas áreas era o Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP), sendo um dos seus principais dinamizadores e ex-director o professor José Adelino Maltez, agrupado, mais tarde, como portal no ISCSP. O CEPP era, ultimamente, um portal onde se podia aceder a cerca de 12 000 (doze mil) ficheiros da Ciência Política portuguesa e universal com uma área de 183 Megabytes. Um enorme ficheiro que a cultura e o ensino muito agradeciam.

Mas como a cultura é um bem de luxo – daí se compreende que em certos aspectos e em certos produtos se pague IVA dos mais altos – e como em Portugal não abundo o dinheiro, uma “personalidade” (provavelmente o primo do cunhado do tio do avô da senhora da limpeza) decidiu que este enorme tijolo que pesaria sobra as incautas e (in)cultas cabeças portuguesas – e que estrangeiros, inopinadamente e sem quaisquer custos, também tinham a mania de aceder – além de poder prejudicar, seriamente, os futuros utilizadores da UTL/ISCSP obrigando-os a pagar insuportáveis propinas (aquelas que já são das maiores da Europa, a nível de Universidades públicas), decidiu, escrevíamos, acabar com o CEPP e limpar dos acessos do ISCSP. 183 Mb deletados e mandados para o lixo como se de um antigo e inapropriado jornal ou livrinho de cordel se tratasse; 183 Mb daquilo que Pacheco pereira considerou como “...o excelente "site" sobre o pensamento político contemporâneo existente em Portugal”.

Se Portugal soubesse o que é cultura – há quem diga que já o soube até porque tem uma das universidades, a de Coimbra, mais antigas do Mundo – e se houvesse um ministro ou um Ministério que tutelasse a Cultura ou o Ensino Superior capazmente, de certeza que em vez de limparem o portal tê-lo-iam transferido para uma qualquer fundação. Não é isso que um tal Ministério do Ensino Superior propôs às universidades públicas portuguesas? A pagar, gratuito, restrito, pois fosse assim. Mas ninguém ficaria prejudicado. Mas não! À moda do Portugal que entre um génio sem cunha e um néscio com ela, escolhe…

Afinal, a imprensa também lê os blogues...No "Diário de Notícias" de hoje.




FRANCISCO ALMEIDA LEITE

DIREITOS RESERVADOS (imagem)

Os arquivos do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP), que pertence ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) foram literalmente apagados, sem que o seu coordenador e principal mentor saiba porquê.


Ao DN, José Adelino Maltez diz que os conteúdos que figuravam do portal do CEPP (http/www.iscsp.utl.pt/ceppp) desapareceram, depois de no ISCSP lhe terem dito que o site seria reformulado. "Houve um professor que foi encarregue de controlar os sites e o servidor", garante Maltez, acrescentando que o instituto que pertence à Universidade Técnica de Lisboa usa "contratados a recibo verde" no seu serviço de informática.O ataque àquele que é considerado o melhor arquivo de história política portuguesa contemporânea online - com mais de meio milhão de entradas desde a sua fundação no ano 2000, com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) - deverá motivar uma queixa no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP).


"Dou quinze dias para que haja uma responsabização para esta lisura dos serviços públicos que envolve domínios respeitados como "utl" [Universidade Técnica de Lisboa] e "pt", depois disso escrevo ao Procurador-Geral da República e vou ao DIAP. Não podemos estar à mercê de um Big Brother que resolve fazer delete a anos de trabalho", diz o catedrático do ISCSP.José Adelino Maltez sublinha que "a grave iliteracia informática que há ainda na universidade portuguesa, onde se confundem sites com blogues, está a prejudicar muitos no Brasil e em Angola, instituições de ensino que se baseavam nestas fontes para o seu trabalho".


Apesar de tudo isto, Maltez afasta responsabilidades do ISCSP: "Em nome de uma missão de verdade, continuarei, solitário. A cumprir o meu dever: disponibilizar as fichas de um projecto que já existia antes de haver CEPP e financiamento da FCT. Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual de um professor catedrático não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia. E mais não digo, porque o ISCSP é a minha escola. Maltez está agora a tentar refazer parte do arquivo (http/maltez.info/respublica//) à sua custa. O DN tentou ontem ouvir o ISCSP, mas sem sucesso.

21.8.07

O Estado à Procura do Político. Metodologias da Ciência Política


Começa a fazer-se luz sobre certa coincidência entre o apagão do CEPP e outro acaso. Descobri-o há minutos, com alguns anedóticos recortes. Com efeito, às 14 horas e 59 minutos enviei um SMS ao chefe de secretaria da minha escola, onde enunciava o seguinte: Meu caro. Seria possível avisar-me quando o meu último livro estiver impresso, dadas as actuais circunstâncias em que vivemos? Há alguns minutos, muitas horas depois, o funcionário comunica-me: Mas ele já saiu há duas semanas... E eu dei ordens para que o informassem... Claro que ninguém mo comunicou. Sou persona non grata para tais chefias. Com muito orgulho.


Sorri e compreendi. O editor é o ISCSP. E também há duas semanas deve ter acontecido o apagão. O livro é simples. Trata-se de uma parcela do meu relatório de agregação de há cerca de uma década. Por acaso, deve ser o primeiro relatório do género publicado em cem anos de escola. Repeti o que fiz para o relatório de professor associado, também pioneiro na minha escola. Porque os documentos que firmam provas académicas não devem ser endogamicamente clandestinos.


Também devo ser pioneiro nestes esquecimentos. Deve ter sido a primeira vez em que um meu editor se "esqueceu" de avisar este autor de uma publicação. Os leitores destas "Metodologias da Ciência Política" vão perceber a causa destas azáfamas dos mensageiros do editor. E, por isso mesmo, tentarei fazer um pequeno lançamento significativo. Como espero que o mesmo editor me indique se mantém o compromisso de editar o segundo volume, conforme foi solenemente prometido...
Foi no apagado CEPP que surgiu a primeira edição parcelar da obra.
Já agora, parece que há uma petição sobre a matéria que há minutos foi lançada: http://www.petitiononline.com/cepp2007

Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual ... não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia


Se julgo ter cumprido o meu dever de resistência e se, por parte da blogosfera, senti que existe ainda a fibra da solidariedade, não posso deixar de assinalar que um "big brother" endogâmico continua a autoreproduzir-se em concentracionarismo.


Independentemente da minha ligação ao caso, verifiquei que, numa secção de uma universidade pública, prenhe em guerrazinhas de homenzinhos, um qualquer burocrata, invocando a renovação gráfica e de conteúdos propagandísticos do "site" institucional, decidiu eliminar do servidor público onde o dito se aloja, um manancial de dados, subsidiado com os dinheiros públicos da FCT, produzindo um apagão de cerca de 183 MB, isto é, de doze mil ficheiros que tinham até agora mais de uma dezena de milhar de citações nos principais motores de pesquisa, que até constam de programas oficiais do próprio ministério educativo que com tanto salto tecnológico fica assim à mercê lógica de vão de escada, tal como outros e variados portais...

O acervo, começado a construir em 2000 e já depois de ter deixado de poder receber actualizações a partir de 2003, tem sido considerado um dos melhores e mais completos repositórios de dados políticos sobre o século XIX e XX portugueses (aliás, basta comparar com os projectos concorrentes, para verificarmos como a coisa até foi baratinha e deixou algum rasto...). Os testemunhos em inúmeros portais e obras científicas, bem como as qualificações de eminentes especialistas e revistas da especialidade são inequívocos. Verifica-se agora que o apagão, sem qualquer cuidado nem quanto a redireccionamentos, foi objecto de negligente gestão ou, o que seria mais grave, de dolosa violação dos princípios constitucionais de aplicação directa quanto à protecção da liberdade académica e do direito à memória.


Tudo aconteceu pela calada das férias e não parece que a desculpa de eventuais quebras de "links" sejam satisfatórias, depois da vigorosa reacção da blogosfera. Nota-se, objectivamente, que os serviços ditos públicos, principalmente de universidades ditas públicas, não podem apagar de um servidor público essa referência, mesmo que se desculpem com a ileteracia informática ou com os serviços a entidades empresariais de vão de escada ou a agentes pagos a recibos verdes.


O nome "utl" (Universidade Técnica de Lisboa) e o nome "pt" não podem carimbar graves erros técnicos ou dolosas violações da Constituição. Exige-se a imediata reposição da ofensa à liberdade e que os poderes públicos responsáveis pela aplicação das leis constitucionais sobre a liberdade de aprender e ensinar garantam um sistema de protecção de dados e do património cultural, principalmente pela manutenção em rede destes investimentos culturais. O pedido de desculpas ou a promessa de mais um inquérito não passam de argumentos esfarrapadas perante a ofensa praticada ao próprio nome da escola em causa.


Comuniquei a circunstância ao garante simbólico dos princípios académicos. Do alto da sua autonomia, nada disse. Terei de tirar as conclusões e, naturalmente, pedir novos sítios para o exercício da ideia de universidade. Nomeadamente, para um qualquer servidor que não tenha destas negligências ou destes dolosidades, onde os homens do poder brincam aos despachos do regulamentarismo kafkiano, á boa maneira do velho Pôncio, o tal que não mandou parar a guilhotina nem as remessas para os gulagues...


Serve-me de consolo o que, antes disto, foi referenciado por José Pacheco Pereira: Uma parte importante do "conteúdo" da Rede é feita por trabalhadores dedicados e incansáveis. Eles trabalham para nós, por gosto, por entusiasmo, porque têm interesses e curiosidades muito vivas, que querem transmitir, que colocam ao serviço de todos. Duvido, - não, tenho a certeza - , que não tiram daí quase nada, nem vantagens académicas, nem vantagens materiais, e, num país distraído de tudo e demasiado entretido com ninharias, escasso prestígio intelectual, cultural e social. Mas o seu entusiasmo é compulsivo e, de local em local, de plataforma em plataforma, eles fazem o seu trabalho de amador, no verdadeiro sentido da palavra. Um exemplo é o trabalho na Rede de José Adelino Maltez com o Cosmopolis e a Biografia do Pensamento Político.


Reforça-me a crença na ideia de universidade o que testemunhou um meu antigo professor, por acaso meu adversário no combate de ideias, Vital Moreira: Mandarinatos: quando a autonomia universitária medra em ambientes nocivos e é instrumentalizada por medíocres actores, geram-se estes mandarinatos universitários, autoritários, ressentidos, censórios e irresponsáveis.


Não posso deixar de salientar outra postura, a de Antóno Balbino Caldeira, que, aliás, em certas posições, aqui tenho criticado. Obrigado! Mas outros e variados têm sido os actos de solidariedade: Prosas Vadias, O Meu Quinhão de Tela, Pleitos e Apostilas, Cartas para Sakhalin, Nuno Zimas no "Arrastão", o Eugénio de Almeida, o André Azevedo Alves, o António Manuel Venda, A Ilha dos Amores, o Tomar Partido


Até fiquei a saber, por manchete do Notícias Lusófonas, que o CEPP era de leitura obrigatória em Luanda, na Universidade Agostinho Neto e na Universidade Lusíada e fazia parte da bibliografia dos programas oficiais do ministério educativo...brasileiro.
Como o António Balbino disse: este post custa-me mais a escrever. Mas tem de sair. Custa-me mais, que a escrita custa sempre - além do atrito dos dedos sobre as novas canetas, que são os teclados, ou sobre as velhas canetas de aparo, esfera ou feltro, há o atrito psicológico da procura da substância e da melhor forma e a avaliação do impacto pessoal e comunitário do que se comunica - porque respeita à escola, o ISCSP, que ainda considero como minha, porque aí fiz a licenciatura, ainda no palácio Burnay da rua da Junqueira.


Informou no dia 17-8-2007, o Prof. Doutor José Adelino Maltez no seu blogue Sobre o Tempo que Passa, que foi apagado o arquivo do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP) do sítio na Internet do ISCSP, escola da Universidade Técnica de Lisboa (estatal) onde lecciona. Num país com um atraso de instrução ainda maior do que o atraso económico, com grandes carências de publicação cultural e científica, que sentido faz apagar um acervo justamente considerado o melhor sobre a Ciência Política em Portugal, e nomeadamente sobre a cronologia do pensamento político em Portugal, e disponível em linha? É certo que o arquivo continua acessível num sítio - Respublica - criado e mantido pelo próprio Prof. Doutor José Adelino Maltez, mas este apagamento parece mais um exemplo da moda do autoritarismo de Estado que a democracia e o povo sofrem.


Não transcrevo os elogios, tal como não desvendo os círculos de confiança das relações interpessoais. Também não repito os gritos de revolta. Apenas sublinho alguns comentários dos muitos que estão "on line": "Há dois tipos de pessoas no mundo: as que se elevam e as que se inclinam". "Infelizmente a inveja é uma das características negativas do português, especialmente contra quem tem o 'mau' hábito de escrever factos, coisa essa que politicamente traz facilmente inimizades. Não espanta que tivessem apagado o arquivo. Eu, que o consultei tantas vezes, adimiro-me apenas que em vez de o terem apagado não o tivessem mutilidado ou abastardado.

Repito o que disse, sobre a matéria em 2003: Em nome de uma missão de verdade, continuarei, portanto, solitário. Sem desistir. A cumprir aquilo que penso ser o meu dever: disponibilizar as fichas de um projecto que já existia antes de haver CEPP e financiamento da FCT. A tentar prestar um serviço à comunidade. Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual de um professor catedrático não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia. E mais não digo, porque o ISCSP é a minha escola. Até sempre. Com muita revolta...
Apenas concluo com o grito de revolta que remeti à simbólica figura da máquina estatal que, através da imagem de Dali, reproduzi em cima: Venho, por este meio, solicitar .... formal audiência. Não para relatar mais uma das habituais guerrazinhas de homenzinhos dos conselhos científicos e das assembleias de representantes, mas para lhe dar conta de uma simples ocorrência. Desde o começo do milénio (mais propriamente a partir de Abril de 2000) houve um pequeno projecto subsidiado pela FCT que tornava disponível em http://www.iscsp.utl.pt/ceppp um certo manancial de informação científica. Uma coisita com cerca de 183 MB (182.246.466 bytes) que teve meio milhão de consultas para 12 000 ficheiros que colocavam a UTL e o ISCSP em qualquer motor de busca. Terei todo o prazer de lhe fornecer o relatório FCT de execução material do projecto e as inúmeras referências científicas de um esforço de investigação aplicada que coordenei, com a ajuda de dois simples alunos das então licenciaturas. A coisa naturalmente ficou sem actualização desde que não quiseram manter a colaboração de dois simples monitores. Mas a mesma coisa sempre esteve em arquivo pouco morto, dado que atingir um "ranking" de mil consultas diárias neste novo ramo da divulgação ainda é um bem escasso. Eis senão quando, em pleno Agosto, pela calada das férias, os arquivos desapareceram . Não digo do portal que o pode sanear, conforme os critérios editoriais de um qualquer chefe de repartição, coisa que admito. Desapareceram, pura e simplesmente, dos arquivos de consulta pública. Não comento a gravidade desse vazio. Outros a poderão qualificar. Apenas registo e peço que o nome "UTL" e o nome "PT" avaliem os estragos e garantam a liberdade de ensinar e aprender. Solicito, portanto, audiência formal a quem é simbolicamente o garante destes princípios constitucionais de aplicação directa...