a Sobre o tempo que passa: Os futuros "dossiers" desta política (in "Jornal de Negócios")

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.9.08

Os futuros "dossiers" desta política (in "Jornal de Negócios")


Na passada sexta-feira, comunicava o seguinte ao “Jornal de Negócios”: julgo que o principal dossier vai ser o do eleitoralismo na disputa do centrão com o PS ameaçado pelo desvio de simpatias de um certo eleitorado de esquerda para PCP e o BE e a saber que pode perder o centro catolaico para um PSD pouco dado a causas fracturantes.

O PSD assumindo um super cavaquismo sem Cavaco e procurando cortar com o anterior populismo, vai procurar captar confiança popular para a nova líder, que vai assumir uma nova versão tecnocrática, mista de europeísmo e de prestígio financeiro. Dai que a chamada gestão do silêncio de MFL tenha sido deliberada, a fim de não cortar com as forças vivas da economia que continuam a apostar num Bloco Central, capaz de aliar o politicamente correcto da esquerda menos, dita moderna, com a chamada direita dos interesses. Porque o situacionismo gosta de por na gaveta tanto o socialismo como o liberalismo...

Cavaco só terá intervenção se forem exigidas medidas excepcionais de soberania perante exageros eleitoralistas que falseiem as regras da leal concorrência partidária. Como alta autoridade do sector pode de um momento para o outro emitir uma aula de análise da conjuntura e punir a governança se esta cometer o pecado de usar a táctica do enquanto o pau vai e vem folgam as costas.


Resta saber se o ambiente internacional não vai introduzir novos factores de instabilidade de curto prazo, dado que, na verdade, a maioria dos factores de poder já não são nacionais e temos uma governança sem governo, em regime de quase pilotagem automática. E aqui só a bruxa e algum lume da profecia pode corrigir este excesso de racionalidade pouco axiológica, sem quase nenhuma ética da convicção.