a Sobre o tempo que passa: Do relatório da Transparency não consta o financiamento de gentes do BPN aos nossos queridos partidos. Só falam no pitról do mar de timor...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.11.08

Do relatório da Transparency não consta o financiamento de gentes do BPN aos nossos queridos partidos. Só falam no pitról do mar de timor...


Bom dia, gentes para quem ainda é meia noite de domingo. Aqui já é segunda-feira, sol em pleno, e já longos quilómetros de bicicleta, entre Motael e Comoro, no passeio que Sérgio Vieira de Melo fazia todos os dias, mas em passo de corrida, quando aqui lançou um modelo de governança que ainda toda gente recorda, com saudade e morabeza. Bom dia, gentes da noite de domingo, lá do Puto, donde fiquei a saber que os dragões acabaram de comer os leões nas grandes penalidades, sem muita tranquilidade. Por aqui, é o diligente corropio de adolescentes fardados e compostos, a caminho de uma escola que ainda respeita os professores, porque, felizmente, ainda não quiseram importar daí os walters e os lemos, avaliólogos. Por aqui, são as "microletes"a caminho do centro, são os vendedores de frutas, legumes, polvos e peixinhos à procura de quem lhe alivie a cana. Por aqui é sol nascente, é sol pujante.

Sobretudo, estas ilhas assim perdidas no meio do mar e que permitem que, delas, se avistem outras ilhas, longe do continente, coisa que, nessa língua de trapos tecnocráticos que é inglês, tem o poético sabor de "mainland", porque a metrópole da Albion também é uma ilha. Porque estas ilhas dos Jaus permitem que os homens fiquem mais em solidão, à procura do acordo com as respectivas autonomias, não sendo redutíveis a simples esferas jurídicas, a abstractos centros de imputação de direitos e deveres. Apetece que os homens, todos e cada um de nós, fujam da multidão solidária, e possam em solidão, comunitária e solidária, viver a perfeição de olhar a abóbada daquilo a que chamamos cosmos, a máxima ordem a que temos direito a imitar.

É por isso que, nas ilhas, de Timor ao Corvo, de Ataúro às  Flores, se exercita melhor a metafísica, até porque, nesta ilha do sol nascente, as águas, a duzentos metros da linha de costa, podem ter azulíssimas estrelas do mar, negros e prateados peixes redondos, corais vermelhos, muitas coisas e algas que apetecem espreitar em mergulhos simples de domingo, mesmo que, no dia seguinte, os ouvidos se ressintam, constipadíssimos, com a água de ontem que não sai.  Volto a Dili, pedalando, pedalando, ruas cada vez mais cheias de gente, ruas tão pacatas que ninguém se lembra que elas foram lei da selva, quando professores de Lisboa para aqui ousavam mandar comentários sobre canibais e cortadores de cabeças, depois de terem feito não sei quantos cursos de formação sobre a reforma da administração municipal do novo Estado, esse "catch all" do "nation building" e do "state building", coisas que já deram direito a não sei quantos doutoramentos e teses de mestrado, na universidade portuguesa que os do costume viradeiro vão avaliando, partidarizando e destruindo.

Prefiro a hermenêutica do semanário cá do sítio. Com entrevistas a D. Basílio, declarações do presidente Horta, excertos de um texto de Xanana e longa retórica de Alkatiri, todos em proporcionalidade. Onde o bispo reclama intervenção social e política à "Gaudium et Spes", onde Alkatiri discursa em bela retórica de lógica cartesiana sobre a construção do Estado, onde Horta clama pela identidade, pela nacionalidade e pelo tétum ser da Igreja, e onde Xanana é mesmo Xanana, todos numa dialéctica de grande fulgor discursivo, todos praticando a democracia lorosae no mesmo espaço público e transformando o natural do conflito em palavras, à boa maneira ateniense, depois de entrevista do embaixador norte-americano, de visita do chefe da oposição cá do sítio ao continente vizinho da Oceania e de, daqui a um pedaço, ter que ir dar mais uma aula sobre direito e justiça e de ter que passar pela DHL, para mandar mais umas centenas de páginas de texto revisto para a Europa-América.

Ainda não fui à Internet espreitar os primeiros jornais de Lisboa depois da meia noite, mas gostava de ter estado na manif. Mas sei que ontem a secção "Domingo" do Jornal de Notícias trazia declarações minhas, tal como a Ana Clara, em "O Diabo", me fez intervir na polémica das ilhas e do Cavaco, com o texto que emiti em Agosto. A política lá para essas bandas, com o deputado do PND da Madeira a fazer bailinho e os nomes de Manuel Dias Loureiro, Fernando Aguiar Branco e Oliveira Costa sem merecerem jornalismo de investigação, obrigam a que prefira ver o capítulo sobre Timor da "Transparency International", porque o referente à minha "mainland", a tal que já foi metrópole e agora nem jangada de pedra pode ser, não tem as notas de pé de página sobre o financiamento directo, ou indirecto, das gentes do BPN aos grandes partidos do estadão e a vales do azevedo.  Enquanto as nacionalizações vão e vêm, nenhum folga os impostos e só alguns é que são financiados pelas prescrições, comentadas, em linguagem de comício MRPP, pela Drª Mizé que não á Avilez, nem Nogueira, nem Pinto, mas dos Canaviais.