a Sobre o tempo que passa: Uma palavra, uma voz, obrigado a quem ainda pode ter uma comunidade das coisas que se amam e que será para sempre

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.11.08

Uma palavra, uma voz, obrigado a quem ainda pode ter uma comunidade das coisas que se amam e que será para sempre


(meditações, dedicadas ao Pedro, ao Parente e à Teresa, amigos do Maltez filho e do Maltez pai, que vos agradecem...)

Raras foram as vezes que a minha parcela de dimensão individual de pessoa dotada de cidadania recorreu à sua outra dimensão social, para a defesa de um direito natural que, por acaso, também é direito civil. Eu, o indivíduo-cidadão, o tal indiviso, o tal ser que nunca se repete, dotado de direitos naturais e originários, gosto mais de me nortear pela auto-nomia dessa ciência dos actos do homem como indivíduo, a que chamamos moral, ou pelo chamado direito da razão, a que alguns ainda dão o nome grego de direito natural, ou de direito da procura da perfeição. Por outras palavras, poucas vezes recorro à irmã-gémea da ciadadania, aos direitos civis que o contrato social atribui à minha esfera jurídica, à tal personalidade jurídica que é um centro de imputação de direitos e deveres, uma forma de penetração no mundo artificial das relações jurídicas e do consequente processualismo que marca o ritmo dos tribunais. Prefiro manter o bom selvagem do que refugiar-me no Leviathan provocado pela selvajaria do lobo do homem.

Um liberdadeiro empedernido, como gosto de procurar ser, sabe que o direito nada tem a ver com a vida, porque as relações jurídicas são apenas uma parcela ínfima da vida social. E até o sei como jurista e como professor e escrevinhador de coisas científicas sobre a matéria. Por outras palavras, como liberal liberdadeiro odeio tudo o que cheire a litigância da estadualidade.  Mas também sei que acima da lei está o direito e acima do direito está a justiça...

Mas hoje posso confirmar que ontem chegou a um dos seus termos a primeira "acção" da minha vida em que pedi ao senhor Estado, através de um tribunal de Lisboa, que tutelasse parte da minha vida pessoal. Parece que consegui que me carimbassem, como judicialmente protegida,  aquela coisa que para mim, há muitos anos, era do direito natural, do direito da razão e do espaço sagrado dos afectos. Obrigado aos que me ajudaram nesta encruzilhada a provar a verdade. 

Desenganem-se, os tresledores de mensagens, e os seus criado, esses patifes encartados a quem mandaram fazer blogues com o meu nome, para assassinato de carácter, à boa maneira sacrista do neopidismo da gestão motivacional em administração por objectivos e água benta de comício do situacionismo. O  habituais bufos, a quem eles encarregam de relatórios de interpretação sobre palavras do meu blogue, procurando afanosamente as vírgulas, os pontos de exclamação e as heresias que, eventualmente, possam infringir o regulamento quatrocentos e troca o passo das respectivas notabilidades de estadão, não conseguem descodificar o que acima comunico. Há coisas que não caben no tal "quid", dito domínio do ninguém, que costuma caracterizar o comunismo burocrático, com que Joaquim Pedro de Oliveira Martins baptizava o intendente, o sargento e o manga de alpaca.

Por outras palavras, quando aqui digo comunismo não quero ofender nem cunhalistas nem jesuítas, mas tão só o cinzentismo leviatânico, de esquerda ou de direita, que é um bicho que me tem espetado regularmente as mãos felpudas de suas garras nojentas. Não as digo, por enquanto, que isso de vitimização é o que o monstro gosta de usar, para nos pôr o garrote do ridículo, especialmente nestes momentos de encruzilhadas e rodriguinhas,  e de muitos outros que vão gastando o dinheirinho do contribuinte da Bielochina, na sua sanha contra os aborígenes que dão nomes de deuses a muitas curvas dos caminhos de pé descalço. 

Os meus advogados aconselham-me a que não diga mais, para que Kafka se não ria das das tumbas e Torquemada ainda possa vir a avaliar professores. Mas ontem li e reli o discurso do deputado do PND da Madeira e apenas confirmei que ele pouco tem a ver com o que habituais analistas políticos referem sobre as relações de Manuel Monteiro com a a política. Aquilo é mesmo puro e duro madeirismo e tem um ritmo de autenticidade que merece ser meditado. Transformar a cena numa anedota, como é conveniente para o PSD-M, ou ocultar a violação frontal da Constituição, apenas me leva a recordar coisas da I República e do Congresso da Mitra e Gaita. Por isso, apenas vou reler Montesquieu, sobre o inevitável do abuso do poder e da desculpa da ditadura da virtude. E, infelizmente, apenas posso referir que abusos destes, também abundam noutros micro-autoritarismos sub-estatais, com mandarins de esquerda e e de direita, dado que o "défice" democrático costuma rimar com "claustrofobia".

Até aqui em Dili, o domínio de ninguém circula, neste dia de memória do massacre de Santa Cruz, feriado nacional. Porque a República do Sol Nascente, se é um povo, dotado de um território que, pela democracia, constituiu um poder político autodeterminado, é povo porque é nação nascida do mesmo nó de gerações que se transformou em comunidade das coisas que se amam e tem um território que que foi sagrado pelo sangue dos que lutaram pela liberdade, por aquilo a que, por cá, também tem o nome de mártires da pátria. Por outras palavras , esta comunidade de sua terra, tem uma terra sagrada pelos mortos que nela lançaram semente. Já tem direito a pátria.

Estranho, portanto, que a ilustre governação universal que para aqui, para Dili, mandou delegados e profissionais, não tenha reparado na data de hoje e que, em dia de mártires da pátria, em que devia ser respeitado o respeito, obrigasse os seus funcionários ao pica-no-ponto, incluindo os cidadãos timorenses que, assim, não podem ir ao cemitério manter a chama das saudades de futuro. Se isto é "nation building", até um ex-ministro salazarento poderia, para aqui, ser chamado, para fazer relatórios sobre o "state building", elaborados por gaiatas e gaiatos do neocolonialismo de exportação. Por mim, apenas tenho pena de já não saber rezar, para, em cadeia de união, refazer o que foi quebrado e olhar o cosmos.