1. Quando dizemos que Portugal tem oito séculos e meio, estamos a fazer uma interpretação retroactiva da história, estamos a contar uma história que tem mais a ver com a literatura de justificação do presente e com certa saudade de futuro do que a dizer verdade.
2. Portugal foi não apenas uma fundação, mas uma sucessão de refundações, porque a continuidade nos segredou que valia a pena assumirmos aquilo que Alexandre Herculano qualificou como a vontade de sermos independentes.
3. Eu que, neste meio século, assisti ao Portugal que alguns diziam dos anos do fim, foi-me dado concluir que, apesar de tudo, nos reinventámos, tal como em 1822, depois do traumatismo do fim do Reino Unido, conseguimos navegar na balança da Europa, gerindo dependências e aproveitando marés das interdependências, mas contando, no final do século XIX com a geração do heróis do mar e da reconstrução de mais um ciclo imperial, depois do marroquino, depois do indiano e depois do brasiliense.
4. Dizer o que vai ser Portugal daqui a vinte e cinco anos, com algum lume da razão, é muito menos do que vislumbramos do que, sobre Portugal, pode ser dito com algum lume da profecia.
5. Por mim, apenas digo que vai continuar a ser reinventado e reidentificado, desde que a geração dos inactivos e enjoados do situacionismo possa dar lugar aos indisciplinadores da nossa tradicional criatividade do abraço armilar.
6. Neste sentido, faço parte do partido dos velhos crentes e continuo a defender o quinto-império, o do poder dos sem poder, em que voltarão a reinar as crianças, podendo cumprir-se o máximo do sonho de Portugal que é o diluir-nos em todos os outros, sendo brasileiros, angolanos, moçambicanos ou timorenses.
7. Por mim, que, por estes meses estou na república do sol nascente (Timor Lorosae), digo, como um navegador de outrora, que vale a pena procurar a "terra australia do espírito santo".
8.O dito, chamado Pedro Fernandes Queirós, era natural de Évora, estava ao serviço de Filipe, saiu do Perú e pensou que o Vanuatu era a Austrália, mas mesmo assim fundou uma cidade chamada Nova Jerusalém e uma ordem de cavalaria dita do Espírito Santo.
9.Enganou-se, falharam todas as respectivas obras, mas ficou o sonho, aquilo que é o mais português de Portugal que é procurar Portugal fora de Portugal no que o Professor Sérgio Buarque de Holanda qualificou como "a visão do Paraíso", o exacto contrário da Ilha Sem Lugar (U-Topos) e que se aproxima da ilha dos Amores, do aqui e agora.
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