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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.11.08

Para que a geração dos inactivos e enjoados do situacionismo possa dar lugar aos indisciplinadores da nossa tradicional criatividade do abraço armilar




(aos meus amigos A, B e C, pouco dados ao lume da profecia e que me acusam de milenarismo, panteísmo e de pontapés nos registos das descobertas e navegações, não compreendendo que, para quem anda em busca de si mesmo, navegar é preciso, viver não é preciso, até porque a poesia dura bem mais do que a história...)



Pediram-me de um jornal de Lisboa que tentasse dizer alguma coisa como seria Portugal daqui a um quarto de século. Fiquei com a certeza de que, então,  já cá não estarei e olhando a parede finita da inevitável morte, tentei exercitar o infinito. Nas ruas, aqui de Dili, é mesmo dia nacional da juventude, tudo circula em silêncio, naquilo que eles chamam procissão e que, por aí, se diz "manif" ou "passeata" em brasiliense. Tentei ligar para notícias de Lisboa, mas sai-me sempre Constâncio, Louçã e Portas, com conversas parlamentares até às três da manhã, porque ninguém consegue entrevistar o Oliveira e Costa e o Dias Loureiro. Desliguei. Mas quando reabri os aparelho, era a ministra rodriguinha a palpitar do alto do seu despotismo esclarecido, mas sem grande iluminação, a não ser nos óculos que, sem ser por acaso, são do mesmo estilo da Sahra Palin, assim escrita com  nome de deserto, apesar de ianque, alaskada e muit adepta da ética republicana que, refrigerada deixa de ser laica. Voltei a desligar. Porque quando anunciaram Madeira, percebi que, dentro de vinte e cinco anos nehum destes fenómenos será detectável pela simples recordação. Porque a rodriguinha não será candidata a presidenta dos States (não é alexandra lencastre, manuel oliveira já não vai realizar filme sobre a matéria e continua a dizer que é de esquerda e democrata, como se isso fosse certificado de impunidade). E Constâncio poderá estar a tomar uma limonada com Cadilhe, Serrão e Tavres Moreira , num centro dos reformados bancários, organizado em qualquer sítio com sinais palmeiras, mesmo que a relva seja artificial. Preferi fugir destes meandros e entrar nas esperanças de Portugal, futuro do mundo, respondendo ao inquérito...


1. Quando dizemos que Portugal tem oito séculos e meio, estamos a fazer uma interpretação retroactiva da história, estamos a contar uma história que tem mais a ver com a literatura de justificação do presente e com certa saudade de futuro do que a dizer verdade. 

2. Portugal foi não apenas uma fundação, mas uma sucessão de refundações, porque a continuidade nos segredou que valia a pena assumirmos aquilo que Alexandre Herculano qualificou como a vontade de sermos independentes. 

3. Eu que, neste meio século, assisti ao Portugal que alguns diziam dos anos do fim, foi-me dado concluir que, apesar de tudo, nos reinventámos, tal como em 1822, depois do traumatismo do fim do Reino Unido, conseguimos navegar na balança da Europa, gerindo dependências e aproveitando marés das interdependências, mas contando, no final do século XIX com a geração do heróis do mar e da reconstrução de mais um ciclo imperial, depois do marroquino, depois do indiano e depois do brasiliense. 

4. Dizer o que vai ser Portugal daqui a vinte e cinco anos, com algum lume da razão, é muito menos do que vislumbramos do que, sobre Portugal, pode ser dito com algum lume da profecia. 

5. Por mim, apenas digo que vai continuar a ser reinventado e reidentificado, desde que a geração dos inactivos e enjoados do situacionismo possa dar lugar aos indisciplinadores da nossa tradicional criatividade do abraço armilar. 

6. Neste sentido, faço parte do partido dos velhos crentes e continuo a defender o quinto-império, o do poder dos sem poder, em que voltarão a reinar as crianças, podendo cumprir-se o máximo do sonho de Portugal que é o diluir-nos em todos os outros, sendo brasileiros, angolanos, moçambicanos ou timorenses. 

7. Por mim, que, por estes meses estou na república do sol nascente (Timor Lorosae), digo, como um navegador de outrora, que vale a pena procurar a "terra australia do espírito santo". 

8.O dito, chamado Pedro Fernandes Queirós, era natural de Évora, estava ao serviço de Filipe, saiu do Perú e pensou que o Vanuatu era a Austrália, mas mesmo assim fundou uma cidade chamada Nova Jerusalém e uma ordem de cavalaria dita do Espírito Santo. 

9.Enganou-se, falharam todas as respectivas obras, mas ficou o sonho, aquilo que é o mais português de Portugal que é procurar Portugal fora de Portugal no que o Professor Sérgio Buarque de Holanda qualificou como "a visão do Paraíso", o exacto contrário da Ilha Sem Lugar (U-Topos) e que se aproxima da ilha dos Amores, do aqui e agora.