a Sobre o tempo que passa: Ajudando a uma hermenêutica mais íntima, profunda e mesmo mítica de Timor Lorosae

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.1.09

Ajudando a uma hermenêutica mais íntima, profunda e mesmo mítica de Timor Lorosae


Ontem, voltei a Timor, conferenciando, ao ritmo das viagens platónicas de Cinatti sobre a ilha do Sol Nascente. Isto é, não tive cautela com os amores, rejeitei o conselho de D. José Policarpo e meti-me em sarilhos, confessando que apesar de ter andado com os pés na lama, lá para as bandas da terra austrália do Espírito Santo, conhecendo os meandros da corrupção, da porcaria pedófila, dos silêncios de sacristia e das sacanices partidocráticas, apesar disso, não deixei de olhar as estrelas, o sentido de libertação, a autenticidade da religião, a força da comunhão das coisas que se amam. Repeti muito do que aqui já escrevi ao sabor do sentimento, mas acrescentei alguns testemunhos inéditos que poderei um dia publicitar, mas que, por enquanto, resguardo, para voltar a sentir a temperatura de solidariedade, quando voltar o tempo do regresso.

Porque só esotericamente poderemos ir mais além nas relações entre Portugal e a República do Sol Nascente. Quando Portugal for assumido por portugueses que se reduzam à  humildade de agentes daquele abraço armilar que nos pode dar esperança, a comunidade lusíada. Porque temos o dever, através do smart power, de que falava ontem Hilary Clinton, de mobilizar o Brasil  e outros, como Angola, para um desígnio global, na viagem à Ribeira do Pacífico. O segredo talvez esteja numa das palavras fundamentais de Lorosae, a expressão Lel Mau-Tar, isto é, Sol, ou ente radiante, a suma-recta, o juiz último, o que uma hermenêutica mais íntima, profunda e mesmo mítica. A poesia sempre foi mais verdadeira do que a história.

Roguemos às origens (Am tota la ha ga)
Para que elas penetrem na terra,
Aos botões para que ascendam aos céus,
Nossos filhos, nossos queridos...
Àqueles que nos esconderijos e nos ermos
Estarão sempre acompanhados.
A vossa busca (Akar galae)
Do que visa o progresso (Nam bae pe lao ahe ta)
Tem que continuar (Tenki galae).

Não segui conselhos fundamentalistas e tentei vislumbrar a esperança dos desesperados. Passei a amar Lorosae. E não deixei de ser politólogo, e de procurar a verdade. Ai da política se ela não ousar meter-se nos sarilhos do diálogo de culturas e de compreensão pelas diferenças. Nem que seja a tal laicidade positiva, o conceito que unificou Sarkosy e Bento XVI na recente visita a Paris. Por isso agradeço ao meu querido Padre Felgueiras, jesuíta e tudo, que venha até cá, dar umas lições de Francisco Suárez a estes ultra-reaccionários neocatólicos que estão a afectar a imagem de uma Igreja universal, que não pode cair nas teias dos irmãos-inimigos dos fabricantes do Terror jacobino, ou do fundamentalismo islâmico. É o que este velho liberal, bem mais whig do que tory, que até defende a integração da República Turca na União Europeia, continua a clamar.

PS: Ontem, pela primeira vez, prestei declarações a um jornal dito sensacionalista, o 24 Horas. Hoje ao passar os olhos pela recolha jornalística, confesso que fiquei surpreendido pela qualidade do tratamento que deveria fazer inveja a outros órgãos de comunicação social ditos anti-sensacionalistas. Porque muitos destes quase sempre cortam a verdade nas referências que fazemos aos líderes oposicionistas, como se fosse proibido, neste momento, realçar, por exemplo, algumas posições de elogiar em Manuela Ferreira Leite, relativamente à qual, parece que já provei, sou insuspeito.