Foi um fim de semana de palanques, altifalantes e "soundbytes", anunciando o começo de três campanhas eleitorais, para gáudio da velha partidocracia e das empresas de eventos e porta-chaves. E o mais verbalmente moderado de todos foi Portas que, em plenas Caldas, nada disse sobre o encerramento da fábrica de loiça do velho Bordalo, talvez porque o Zé Povinho e as gestuais palavras tenham andado pelas ilhas, onde, nos Açores, Manela qualificou Sócrates como o coveiro da Pátria, e mais a Sul, na Madeira, Jardim clamou contra o novo gonçalvismo. Sem deixar ocupar o espaço comunicacional pelas oposições, Sócrates foi ao fim da tarde de domingo ao CCB apresentar a sua moção ao próximo Congresso do PS, misturando pinceladas de ideologia com anúncio da causa fracturante do casamento dos homossexuais, sem meias tintas. Ao seu lado, não estava o ministro Silva Pereira.
Sócrates, do alto do situacionismo, autoqualificou-se como a força da mudança, quando, afinal, não passa do principal dos conservadores do que está, do tal estadão do Estado a que chegámos que vai lançando dinheiro em cima de cada foco de crise que dê votos. Vamos gastar dinheiro que tínhamos previsto não gastar, queremos ir para a Europa em alta velocidade e quem estiver contra isto quer a exclusão do país. E, numa linguagem bíblica, acrescentou estar contra os fariseus que se armam em arautos da verdade. Porque ele é o Estado que nos vai proteger da crise, onde ser pelo Estado é ser pelas agendas inaugurativas de Mário Lino, contra uma direita institucional que, neste ponto, é tão estadualista como o PS, entre sociais-democratas e democratas-cristãos, dado que nenhuma das alternativas se assume como liberal...
Fiquei farto deste estilo banha da cobra, com a sala cheia de pouco entusiastas militantes, que mais se assemelhavam aos figurantes contratados pelo programa dos prós e contras. Ao menos, Portas, Jardim e Manela tinham entusiastas congressistas ou comensais.
E volto a Portas, dono de um discurso eficaz e trabalhador notável da palavra e da metáfora que, gasto pelo uso, já não consegue marcar a agenda e vê o PSD ultrapassá-lo em soundbytes, correndo o risco de deixar de ser o indisciplinador colectivo vindo da partidocracia. Mesmo quando é o único chefe de facção que a consegue confundir com o alvará de um partido, alavanca que o projectou como ministro de fato azul às riscas e devorando sucessivamente os seus companheiros de protagonismo, atirados, um a um, para o cemitério dos substituíveis, de Manuel Monteiro a Nobre Guedes.
Julgo que partido que não se vislumbre como um potencial partido maioritário está condenado a ser mero mobilizador de causas e federador de "clusters", mas podendo ter decisiva influência na governação, por causa da crise de confiança no sistema, a fragmentação partidária e as inevitáveis coligações pós-eleitorais. O ilustre líder desta força charneira está gerindo a sua coutada eleitoral de personalização do poder. Aliás, sem Portas talvez nenhum dos respectivos seis vice-presidentes pudesse ter vida própria e futuro político.
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