Ontem, de manhã, foi Cavaco com um enigmático ataque às politiquices dos partidos. À tarde, foi Sócrates a tentar colar-se ao dito, contra os tipos da direita e da esquerda, como ele quase definiu a oposição, mas sem dizer que queria ser do centro, porque prefere manter-se único. Fiquei descansado, não foi ele, nem nenhum membro do actual governo, quem mandou pôr textos da autoria do secretário-geral do PS, num exame de concurso da função pública. Politiquice talvez tenha sido o veto político presidencial sobre o regime das estradas do Almerindo Marques.
E mais politiquice vem de quem ousar criticar o "lapsus linguae" de D. Policarpo, esperando-se, a todo o momento, uma intervenção crítica do Movimento Esperança Portugal sobre a matéria, para que se confirme a sua não vinculação hierárquica à sacristia. Com efeito, quando o bispo de Coimbra, que assistiu ao discurso do Casino figueirense, tentou doirar a pílula, saiu-lhe uma emenda pior do que o soneto, ao dizer que, de um lado, havia muçulmanos e, do outro, europeias, como se a maioria dos muçulmanos cá da terra não fosse de portugueses de gema e europeus em consequência.
A única saída que resta ao cardeal é não ter que estar sujeito a um inquérito da PGR, até pela flagrante ofensa a princípios constitucionais que não devem ser revistos. Se fosse católico, diria bem mais, mas julgo que D. Policarpo, se ainda pode continuar candidato a Papa, já não conseguirá suceder a Sampaio na onusiana Aliança para as Civilizações. Apenas confirmo que, no pano das melhores religiões, podem alguns líderes atingir o princípio de Peter da efectiva intolerância.
A relação dos muçulmanos com as outras culturas europeias não beneficiou nada com este discurso. A comunidade dos muçulmanos portugueses, que não são tipos do Magrebe em Paris, ou fulas e mandingas em Madrid, não merecia este lapso, porque tais palavras desleixadas, de quase incitamento à xenofobia, nem sequer correspondem à conduta dos católicos, e das organizações católicas, face a outras minorias étnicas, culturais e religiosas, bem como ao anterior discurso do cardeal. Mas isto não significa que nos tenhamos de conter perante um erro de quem também tem sido lesto e de palavra fácil a criticar os outros. Porque quem atira pedradas às vidraças dos vizinhos de boa vontade, pode chegar a casa e achar as suas quebradas....
PS: Imagem do ministro de confiança de Sócrates e de D. Policarpo, depois de ler o próximo artigo de Fernanda Câncio sobre o discurso do cardeal...
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