a Sobre o tempo que passa: agosto 2009

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.8.09

As duas faces da mesma moeda que não é boa nem má, mas o mais do mesmo


Está tudo doido. Alguns activistas do maneleirismo vêm a blogue declarar que terei dito na televisão que vou votar PS. Irra! E insinuam que o faço, porque terei sido maltratado pelo meu reitor, que seria do PS. Irra! Já chega de mentiras e até de trocar o nome aos bois! Abaixo o quem não é por mim, é contra mim! E tudo vem acompanhado por campanhas no Twitter quanto às minhas opções eventualmente místicas, não faltando as próprias ameaças sicilianas, segundo o melhor ritmo bufeiro dos moscas, formigas e outros que tais que fizeram, da nossa dita direita e da nossa dita esquerda, as mais estúpidas do mundo!


Ainda recentemente sofri no lombo a existência de um pseudo-blogue com o meu nome, para uso de lutas internas pelo poder na universidade. Julgo que o respectivo autor conseguiu finalmente ser promovido. Outro, que também anda pelas alturas, até o filho usava como testa de ferro em comentários de blogues que, apesar de adversários nas concepções do mundo e da vida, me respeitavam em diálogo de bela polémica de ideias. Não me consta que qualquer deles seja socrático, bem pelo contrário. E o pretenso socrático que o João Gonçalves, a posteriori, depois do meu comentário, tenta transformar em fantasma deve ser o mesmo que alinhou numa insultuosa campanha contra um paradigmático ministro socrático, servindo de ponta de lança a uma salada de estalinistas, fascistas não disfarçados e laranjadas. Agradeço a socráticos que, correndo risco de persiganga, defenderam comigo a liberdade. Mas nada disto tem relevância. E até gosto mais do João Gonçalves, porque quem bate tem direito naturalmente de levar, e não tem sequer de responder com outra figura do Walt Disney, porque preferiria a versão brasileira do Zé Carioca!


Será que um português não pode, hoje, misturar a mundivisão, que Sócrates diz subscrever, com a denúncia do dirigismo estatal, que Manela diz ser monopólio dela? Será crime gostar do poema satírico de Natália Correia sobre uma "gaffe" de um deputado ...de Lamego, quando ela não era parlamentar do PS? Será que todos os do PS são contra o casamento e a família? Será que Manela não é mulher e divorciada? Será que o PPD/PSD não é de Francisco Sá Carneiro, aquele que, por causa de Snu, teve arcebispo de Braga e secretário-geral do PS, em plena televisão, a invocarem a imoralidade...


Não teve o PPD/PSD líderes como Rodrigues dos Santos e Emídio Guerreiro? Será que o PS não recolheu como secretário-geral um António Guterres? Será que a Constituição não admite a defesa política do catolicismo, do agnosticismo, do ateísmo ou do simples panteísmo? Será que a clivagem direita/esquerda passa por essas concepções do mundo e da vida? Irra! Não podemos ser liberais em Portugal? Mesmo sem partido?


Manuela Ferreira tem todo o direito de assumir as legítimas bandeiras axiológicas da doutrina social da Igreja Católica e até a linguagem de propaganda da fé do papa Bento XVI. Assim se explica a razão pela qual a Igreja nunca se quis comprometer com um partido democrata-cristão que tivesse dentro dele uma ala liberal. Sempre preferiu que os seus dilectos se juntassem a socialistas e sociais-democratas para melhor poder influenciar o poder. Lembro-me da história de um fundacional secretário-geral do CDS, quando foi à Madeira, nos primeiros dias de Abril, tentar implantar o partido. Segundo ele me contou, o senhor bispo aconselhou-o a regressar ao contenente, para não dividir o rebanho. O bispo tinha razão eleitoral em preferir Alberto João, como se pode concluir. Pena que este não se actualize em termos de Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, nome que, em 1965, recebeu a Congregação do Santo Ofício, designação dada à mais velha e permanente "Congregatio Sanctae Inquisitionis".


Aliás, Sócrates ainda ontem se propagandeou, inaugurando a subsidiada Obra do Padre Miguel, para dizer que a IVG e as uniões de facto não são directamente proporcionais às IPSS. Por outras palavras, se considero que Manuela Ferreira Leite pode ser efectivamente democrata-cristã, sem ter que ficar condicionada pelos dogmas laicistas, talvez deva distanciar-se dos congregados de muita comunhão e proclamada libertação que andam por aí diabolizando quem não alinha nessas causas e voltam ao armazém dos martelos contra os heréticos, numa espécie de tentativa de estadualização da luta contra os os ortodoxos e os dissidentes. Apenas recordo que, se o autoritarismo diz que quem não é contra mim é a favor de mim, passa a totalitário quando proclama que quem não é por mim é contra mim.


Considero, contudo, um erro crasso acirrar a falta de compreensão histórica entre homens de boa vontade, sejam do humanismo cristão, sejam do humanismo laico, especialmente quando Roma já não usa a excomunhão para os que fazem dupla filiação. Só considera pecado grave para os que o praticam. E deixa totalmente livres de censuras tipos liberais como eu que não fazem parte do rebanho. Os do humanismo que dizem laico são mais permissivos, dado que deixam isso à consciência de cada um.


Se este estúpido ambiente de decadência agravar a demência, não há capacidade de análise politológica para as esquizofrenias. Bastam as análises de costumes sobre os anjos decaídos. É que, para o homem comum, onde a tolerância é o ar que se respira, não estamos divididos entre o atavismo inquisitorial da velha reacção congreganista e o delírio dos pretensos semeadores dos amanhãs que cantam.


O progresso dos declinadores do pretérito perfeito são os computadores, o ensino do inglês, as escolas profissionais, a paridade, o divórcio não litigioso, a IVG, as uniões de facto e as contas-poupança, enquanto os conjugadores do pretérito imperfeito preferem as PME, a baixa de impostos, a suspensão da avaliação dos professores, porque eu sou mulher e divorciada, vou suspender este TGV, apoio Cavaco, porque vetou as uniões de facto, e quero o regresso aos certificados de aforro, suspender o PEC, remunerar os juízes pela produtividade e baixar a taxa social única. Aliás, já o meu vice-presidente esclareceu que não deixo de querer a alta velocidade, a terceira auto-estrada troço a troço. Uso o futuro no condicional e não faço o catálogo panglóssico do presente governo. Não não vou por aí, não subscrevo os bonzos do rotativismo e, muito menos, os endireitas e canhotos que querem coligações à direita e à esquerda do que está, para que tudo fique na mesma, desde que eles sejam ministros.
P.S. Juro que tudo quanto aqui escrevo não tem mesmo nada a ver com o ex-reformador João Gonçalves. Ontem gargalhámos quanto baste ao telefone. Com todas as naturais divergências sobre o maneleirismo e o presidencialismo. Fui ler a seguir as teorias de Jung e os manuais de análise simbólica sobre os contos de fadas e os desenhos animados...

30.8.09

Para alguns, quem não é por mim, é contra mim! Continuo do contra, também contra este contra!

Interrompo o silêncio blogueiro do meu domingo para transcrever o mais recente postal do meu amigo e companheiro de ideias João Gonçalves: Num comentário a outro post, um leitor terá assistido a mais uma das derradeiras exibições televisivas do José Adelino Maltez. Não vi mas as ditas têm-me revelado apenas um "anti-maneleiro" brincalhão. Isto para não dizer mais nada. Sucede que aquele leitor refere que o José Adelino, na tal prestação televisiva, admitiu poder vir a votar no PS. Não é que isso tenha a menor relevância cósmica. Tal, aliás, como o sentido do meu voto. Por outro lado, não deixa de ser curioso ver o José Adelino a votar eventualmente ao lado do "reitor" da sua universidade na qual não consta que tivesse sido particularmente bem tratado nos últimos anos. E, sobretudo, por esse "reitor" em concreto. Todavia, é sempre encantador assistir a estes "momentos perdoa-me". É o que não vai faltar nos próximos dias. Os leitores deste meu blogue, não precisam que repita os comentários que lhe deixei na caixa de comentários. Mas sempre o deixo: Meu caro João. Calma. Não vá no diz-se que diz-se. Neste caso, há prova, não disse em quem votava, nem o Jamais tem o monopólio do não ao PS. Calma, muita calminha. Não corra atrás de fotografias que não tirei, mas que também foram publicadas no site da Rádio Católica. E não identifique exactamente ao contrário o Reitor da UTL. Convém exactidão, mesmo nas divergências. Que raio, neste país estaremos tão encravados pela bipolarização! Como sempre me manifestei, ninguém duvida do meu combate ao socratismo, mas isso não me obriga a ter que aderir ao conceito de pilares do maneleirismo. Será que ainda vigora o quem não está por mim, está contra mim! É altamente improvável que vote neste PS ou neste PSD. Mas não rejeito poder votar num PS pós-socrático, ou num PSD pós-maneleiro.

29.8.09

O processo de ministerialização em curso, deste Verão cada vez menos Quente


Joaquim Pina Moura vem considerar que o programa de Manuela é “mais duro e mais focado” do que o de Sócrates. É um documento “clarificador” e “divisor de águas” e tem como base a “assunção de que os recursos são escassos”. Sócrates ainda não comentou Pina. Esperemos por quem será o porta-voz da resposta. Vitalino? João Tiago? Augusto Santos Silva? O ministro do desemprego? Ricardo Salgado? Sugerimos Daniel Proença de Carvalho, dado que tem a mesma origem e também passou pela militância no PS. O processo de ministerialização deste Verão, cada vez menos quente, antes de o ser já o era. A fotografia não é um acaso. É um símbolo desta encruzilhada, onde o texto se tem de integrar no contexto. É tudo um problema de semiótica e de simbiótica. Porque qualquer signo tem sempre um elemento material, dito significante, e um significado. O sinal representa sempre alguma coisa, até o que pode estar por trás dele, implicando, antes, adequada sintaxe e remota semântica.

28.8.09

Um programa sem portas esconsas, de acordo com a imagem primeira do respectivo "site"


Não sabemos quantos dos trezentos e setenta e nove políticos com direito a subvenção vitalícia estiveram na sala, nem se o programa teve inspirança naquele antigo conselheiro de Estado que guardava documentos numa parte esconsa da sua casa de banho, mas Rui Machete, Vítor Crespo, António Capucho, Deus Pinheiro, Couto dos Santos, Costa Neves, Pacheco Pereira, Fernando Negrão, Guilherme Silva, Graça Carvalho e Maria José Nogueira Pinto eram inequívocos sinais de renovação da pátria e com aquele ar de ministeriáveis com que nos habituaram há décadas. Ainda bem que o Nacional empatou na ex-Leninegrado, porque, como disse o respectivo treinador, quem não tem cão caça com gato e até tiveram que pôr um miúdo, defesa central, a ponta de lança. O Sporting de Soares Franco perdeu. Tal como o Benfica de Valle e Azevedo. Ainda não contrataram o motorista de Pinto da Costa.

O programa, que não teve o "copy & paste" dos habituais sábios, consta, afinal, de sessentas vezes uma folha de A4, sendo de realçar aqueles gongóricos juridicismos que vão "emprestar" ao Estado a justiça, o bem-estar e a segurança, de acordo com as cláusulas gerais de uma qualquer sebenta de introdução ao constitucional. Porque qualquer homem ou mulher de boa vontade que possa ser chamado para uma eventual grande coligação é capaz de subscrever este menos Estado em termos de mensurabilidade quantitativa do aparelhismo. Porque as doutrinas do socialismo democrático, da social-democracia e da doutrina social da Igreja podem ser iluminadas pelos conceitos indeterminados deste caderno-catecismo, onde uns preferem a suspensão de não sei quê, outros, a continuidade disto ou daquilo, enquanto muitos outros continuam nas paragens, à espera de boleia para um qualquer flanco do poder.

Não me parece que a economia seja a rainha das ciências sociais, a não ser para uma qualquer tradução em teologia da modernização pelo neopositivismo de trazer por casa. Temo que a subespécie do contabilismo possa reduzir Portugal a uma qualquer claustrofobia numerológica que efectivamente asfixie a democracia, nomeadamente se a administração da justiça for reduzida a uma régua unidimensionalizante, mesmo que tenha os padrões economicistas da qualidade. O modelo, que já quase destruiu a deontologia da profissão médica e que quer avaliar os professores, vai agora enredar magistrados, para que todos nos integremos nas pautas da chamada classificação dos funcionários públicos.

Mesmo que se venha a falar em corrupção, as palavras não parecem corresponder ao sentido de verdade proclamado, depois de se confundir o preto com o branco e de se sanearem os hereges e dissidentes da fidelidade política da chefia do partido. Para se combater um PS situacionista, em cumplicidade com o devorismo, este partido maneleiro ameaça continuar a ser complacente com uma decadência que nos vai mirrando, até porque lavar as mãos como Pilatos face às práticas anteriores do cavaquistão é especialmente censurável em quem teve hipóteses de se libertar dessas algemas e de ajudar Portugal a fugir desta espiral crepuscular. O cálice da nossa benévola expectativa já há muito transbordou. Basta reparar na fila de bate palmas ministeriáveis que assistia ao evento, comparando-a com os Santos Silva, os Mário Lino e outros que tais. Este país não devia ser para estes velhos, aposentados, reformados ou vitaliciamente subsidiados, com muitas portas esconsas.

27.8.09

Mais uma lamúria de um liberal à antiga contra o Chão da Lagoa e outros benzidos conselheiros do tacticismo maoísta


Os chamados dois principais partidos não querem debate com os pequeninos e parecem que também têm pouca apetência para os confrontos directos. Preferem usar os vários heterónimos que cada um tem, a partir dos respectivos monólogos de palanque. Um varia entre o "gajo porreiro" e o "animal feroz", a outra entre a directora-geral da contabilidade pública e a ministra da educação que teve como secretário de Estado o actual reitor da universidade de verão do partido. E assim temos uma direita encravada entre os devaneios de Marcelo Rebelo de Sousa e as especulações serôdias de um ou outro fantasma, pelo que só pode continuar a ser a direita mais estúpida do mundo, com a consequente tragicomédia, onde Jardim pede a expulsão de Moita Flores, porque este faz parte de uma listas publicadas de uma ordem onde, no Oriente Eterno, estão pelo menos dois antigos secretários-gerais do mesmo PPD-PSD, para não falarmos em cerca de metade das direcções que não eram influenciadas pelos actuais inquisidores de corredor e de neopidismo de revista para as classes A e B.

Já a esquerda dos socialistas, apesar do vigente presidencialismo de Primeiro Ministro que encavacou o PS, ainda não está suficientemente eucaliptizada. Claro que já não pode invocar que tem como programa uma mistura de Marx, Antero de Quental e António Sérgio, com as bochechas de Soares, os catequistas do Padre Milícias e a praça da canção de Alegre, reciclando, para o pluralismo, os sucessivos blocos de esquerda "radical chic". Se Guterres ainda os tentou nomear directores-gerais do sistema, ao estilo da recente sondagem feita a Joana A. Dias, eis que Sócrates se ficou pelo modelo "jugular" da sua "new left" de estimação. Mantendo os elogios activistas de Ricardo do BES e de Roque do Banif, bem como as alianças com os construtores de obras públicas à Soares Franco e Jorge Coelho, tudo cheira muito a clientelismo, a consultadoria e a "outsourcing".

Com o PSD e o PS, mantém-se aquele tradicional "gentleman's agreement" entre o estadão e as forças vivas, com o aplauso de certa casta bancoburocrática, que sempre gostou da caldeirada feita de socialismo de Estado, a que chamam "cainesianismo", com o liberalismo a retalho, a que chamam "pragmatismo", o de meter a ideologia na gaveta. Daí que seja de estranhar a zanga entre os dois irmãos inimigos, quando o PS acusa o PSD de reaccionário e salazarento e vozes do PSD invocam os fantasmas dos pedreiros livres, à José Agostinho de Macedo. Nem o ensaio de causas fracturantes já leva papalvos, muito menos essa mistura que o PS faz entre um candidato do LGBT e outra dos democratas cristão, porque nem esta se parece com a Engenheira Pintalsigo nem o primeiro parece ter o perfil de Zita Seabra, a mudar de opinião sobre a IVG.

É natural que muita gente de boa vontade, da não-esquerda, comece a salientar a coerência obreirista de Jerónimo e de Carvalho da Silva e a enredar-se pelo chique catedrático de Louçã, temendo ex-ministros que nos tragam sobreiros e submarinos. Aliás, com a direita balizada pelos tacticismos maoístas de benzidos conselheiros presidenciais e o PSD, enredado nos modelos disciplinares da velha doença infantil do comunismo, é natural que resulte, deste paralelograma de forças, um discurso de comício de Chão da Lagoa que, certamente, será assumido pela limpeza de sangue e de costumes de Pedro Santana Lopes.

Também me parece que o velho partido liberdadeiro, o PS, não tem a coragem de dizer que ainda gosta de política, contra este fantasma da governação como mercearia de despensa. Por mim, pobre homem de direita, liberal à antiga, radical do centro e tradicionalista, resta-me não saber como, através do voto, rejeitar este situacionismo. Por isso, queria debates, entre os dois grandes e entre todos os grandes e pequenos.



26.8.09

Mais uma independente comissão de nomeação dependente, com benção divina


Os sinais de degradação do Estado a que chegámos continuam a inundar-nos de estilhaços. Depois de há uns anos ter surgido a escandaleira de uma assessora da Procuradoria Geral da República, chegou agora o tempo de um administrador do Supremo Tribunal de Justiça. Por um lado é bom, porque significa que não temos telhamento nestes processos e tudo vem à luz do dia, com os investigadores policiais e judiciários em antecipação ao jornalismo de investigação. Por outro lado revela como neste regime de adjuntos e assessores, no melhor pano cai a nódoa. Entretanto, as parangonas informam-nos que um dos grandes hospitais portugueses, perante um caso revelado pelos jornais e televisões, revela desconfiança face aos processos institucionais normais do recurso ao Provedor de Justiça e aos esquemas normais da velha e central administração da justiça: decide nomear, de cima para baixo, uma dependente comissão dita independente, onde coloca na presidência um mediático juiz no activo, junatamente com um também mediático sacerdote da Igreja Católica.

Todos concordam, eu discordo totalmente, porque assim se vai o princípio da igualdade. E desconfio que possa ir à vida a chamada exclusividade dos juízes públicos. Logo me lembro daqueles magistrados, incluindo sobrejuízes, e também no activo, que ainda há uns anos davam aulas em privadas, mas recebendo apenas pelos chamados direitos de autor... Estranho que o tal serviço público hospitalar não tenha colocado na comissão um alto dignitário da maçonaria, um locutor de televisão e um director de jornal. Se não confiam no aparelho de administração da justiça para o efeito, como podem os homens comuns fazer de outra maneira?

Não me satisfazem estes modelos que juntam magistrados com o carimbo de origem na extrema-esquerda com representantes de D. José Policarpo, esta mistura de memória de activistas de célula com a sacristia. A Senhora Justiça não é canhota nem benzida pelo além. Não passa desse transcendente situado, cujos princípios gerais foram recebidos na Constituição e que, como tal, podem e devem subverter esta anarquia ordenada do situacionismo, desde que os aparelhos institucionais da mesma funcionem. Até criámos um mecanismo de equilíbrio pela equidade, chamado Provedor de Justiça, o qual funcionou muito bem no caso das vítimas do desastre da Ponte de Entre-os-Rios. Magistrados no activo, desviados das respectivas tarefas, apenas nos dizem que não é em "part time" que cumprimos os deveres constitucionais.

25.8.09

Em nome daquela transcendência que se chama humanismo...


Porque sou liberal, à Fernando Pessoa, odeio que artificalmente se criem clivagens entre a esquerda e a direita, ou, pior do que isso, entre laicistas e católicos, em nome de causas transversais, especialmente quando a demagogia pode levar à confusão entre política e religião e ao regresso às teorias da conspiração e da diabolização. Alguns catolaicos ainda estão na era de José dos Santos Cabral, esse que além da proposta de restauração da pena de morte, nos anos trinta do século XX, continuou até à primeira lei do regime do dito Estado Novo, já pleno de polícias secretos querendo extinguir aquilo que pensavam poder ser extinto, dando o primeiro sinal de ódio face àquele conceito de transcendência que se chama humanismo, mas que não pode ser medido por sacramentos, clérigos e dogmas, visando emancipar as consciências e não salvar as almas.


Grão a grão, nos vamos assim amargurando, com o consequente cortejo de intolerância, de fanatismo e de ignorância, tudo misturado com celestiais discursos de defesa do funcionamento regular das instituições. O primeiro passo foi a instrumentalização do fantasma centralista e capitaleiro, que certo neomilitarismo acarinhou com bandeirolas. Agora é a defesa de certos valores que se dizem falsamente conservadores, só porque querem conservar o que está, em vez de quererem salvar o que deve ser, com adequadas saudades de futuro. E ai de quem chame os bois pelos nomes, porque corre o risco de ser diabolizado, com velhos argumentos inquisitoriais, mosquíferos, formigueiros ou bufentos.


Claro que não há fogueiras nem grades, mas continua o sabor amargo da estrela amarela contra a liberdade de consciência, através do arremesso de adjectivações que tentam comprimir a possibilidade do jogo da dialéctiva, da palavra livre posta em discursos de racionalidades finalísticas e axiológicas. Apenas se tenta atirar sobre o adversário o manto do labéu, fugindo do debate das ideias e procurando passar-se, não para o insulto, mas para o carimbo unidimensionalizador, onde deixa de haver a possibilidade de uma troca de razões entre lugares comuns.


Caros amigos, quem saiba o significado da armilar ou da sagração da constituição, neste dia seguinte ao 24 de Agosto, deve ter reparado como há mais de duas décadas consolidei sementes que que vão além do aparente milenarismo e estão bem distantes do fugaz charlatanismo esotérico. Só quem diaboliza posições como a minha, ligando-as ao jacobinismo e não atendendo à nossa tradição regeneradora pode compreender como é difícil avivar a tradição liberal em Portugal. Porque, infelizmente, persiste certo vício congreganista, sempre disposto à denunciação e à perseguição dos heréticos. Não reparam num subsolo especulativo que vai de Fernando Pessoa a Agostinho da Silva e que talvez tenha direito de dizer o que pensa e de viver como pensa, nesta cidade pluralista, onde muitos não estão dispostos a depender de um relatório elaborado pelo Professor Abel de Andrade, ou pela Dedução Cronológica e analítica do velho despotismo ministerial.


A guerra civil de causas fracturantes poderá reavivar o caduco conflito entre política e religião, desenterrando um machado que parecia recoberto com as cinzas do referendo sobre a IVG. São directamente proporcionais aos argumentos extremistas de certos paradigma da defesa dos direitos LGBT, politizando-se um processo que tem mais a ver com a consciência individual do que com a benção decretina de uma qualquer ordem estadual. Porque o ideal conjuntural de uma sociedade, o chamado politicamente correcto, não pode confundir-se com a ordem profunda, apesar de não ser a história que faz o homem, mas o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo. As uniões de facto não são os casamentos de pessoas do mesmo sexo, não são bandeira da esquerda contra as bandeiras de direita e não têm nada a ver com as clivagens entre católicos e não católicos. Ponto final! Prefiro a coligação liberal, a que aderiu o bisavô de Manuela Ferreira Leite! E a ruptura desencadeada pelo avô da mesma senhora...Pessoa começou aí...

24.8.09

E à Lusa disse... Segundo DN, Público e Expresso

Cavaco Silva está a dizer que não é notário nem a Rainha de Inglaterra e que o Presidente da República também pode ter a sua concepção da vida e do Mundo.

O veto de hoje, por exemplo, traduz uma visão mais próxima das causas católicas e confessionais, diferente de uma outra perspectiva, que não tem essa hierarquia de causas.

Lembrei que Cavaco Silva teve o cuidado de dizer que não faria declarações político-partidárias dada a proximidade das eleições legislativas, mas fez este veto, e imediatamente houve um alinhamento dos partidos.

Sobre a quantidade de vetos, ironizei: Doze era considerado um número perfeito, um sinal de plenitude. O problema é se passa para o 13, que é o número do azar.


Continuei, bricalhão. E a polir, amigo João! Mas com poucas papas na língua...

Maneleiro para os socráticos e antimaneleiro para os anti-socráticos


Não vou responder às ácidas insinuações de um amigo blogueiro, porque já o fiz no sítio próprio, com amizade e sentido respeito. Nem sequer vou distinguir pedra bruta, pedra polida e pedra cúbica, ou o malhar do malhete e o martelo da foice, que isto de simbolismo sem esotérico é gozarmos com a liturgia, o misticismo e o mito. E devemos desmistificar, mas sem demitificar. Tudo depende do bruto e da picareta...


Vem isto a propósito de me ver acusado de "brincalhão" pelos sinceros e devotos adeptos da alternância PSD, porque confesso que "brinco", mesmo com coisas tão ridículas que apenas merecem o remédio do riso... Tudo aconteceu num dia em que disse, de manhã, quando fazia Sol, à Antena Um que "a entrevista que deu ontem à RTP, a líder do PSD teve uma prestação positiva" (parangona da Eduarda Maio...). Mas, ao fim da noite, quando era Lua, numa intervenção na SIC N, passei a antimaneleiro de serviço. Isto é, maneleiro para os socráticos e antimaneleiro para os anti-socráticos. Ainda bem!


Confirmo agora, pela parangona do Correio da Manhã, que Portugal talvez seja o país da Europa com mais espiões "per capita" e que os mesmos podem ser repartidos por vários serviços públicos com nomes codificados, a fim de criarem uma estrutura federativa de "matrioskas" e a consequente rede das redes. Terão direito a sinais que os levem a todas as cantinas, refeitórios e parques de estacionamento de todos os serviços públicos, para não terem que estacionar em cima dos passeios. Por outras palavras, tenho de concordar com Mário Sottomayor Cardia quando votou contra a instituição de tal estrutura, especialmente se verificar, como o tenho notado no quotidiano, que os mesmos espiões, especialmente os desempregados, têm tendência doentia para entrarem em autogestão, como o meu falecido amigo general Pedro Cardoso qualificava o pior vício da mentalidade da profissão. Temo pelo Estado de Direito. Especialmente num país marcado pelos "familiares", pelos "moscas" do intendente, pelos "formigas" e pelos "bufos".


As sucessivas teorias da conspiração, os protocolos dos sábios ditos sião e as mesas pé de galo gerarão uma "matrioska" de teorias da conspiração, onde o pior das sociedades ocultistas se aliará ao pior do hierarquismo verticalista e ministerialista, agora dito comités de vigilância do sentido de Estado, dos rigores da democracia, ou do puro patriotismo, em nome de um simulacro de ciência, à velha maneira do Estado de Segurança Nacional do Golbery do Couto e Silva, aqui mal traduzido em calão pelos generais políticos, em boa hora derrubados em 25 de Abril de 1974. E a velha conspiração de avós e netos pode agravar a degenerescência gerontocrática do sistema, onde os partidos dominantes, em autoclausura reprodutiva, promoverão mais bonzos, com os consequentes endireitas e canhotos. A ditadura da incompetência pode tornar-se regra e a decadência perdurar.


Vale-nos que, por enquanto, temos o amortecedor da integração europeia, pelo que a maior parte dos factores de poder já não são controláveis pelos mecanismos internos de um sistema que entrou definitivamente em "out of control". Não, não sou maneleiro nem antimaneleiro, apenas considero que os problemas económicos se resolvem apenas com medidas económicas, mas não apenas com medidas económicas. Implicam, não um miniprograma que reveja o código do imposto sobre o património, mas um discurso político onde possa entrar a palavra Europa, a palavra corrupção, a palavra África, a palavra Brasil e reformas das autarquias, do ambiente, da defesa nacional, das polícias, dos espiões, da educação e da universidade. Palavras que estiveram totalmente ausentes da última entrevista de Manuela Ferreira Leite.


Ai de nós, se, perdidos na tecnocracia dos antigos contabilistas mores do reino, deixarmos para os serviços de espionagem a alta política de Estado, esperando os adequados discursos do senhor presidente da república sobre a matéria, com o hermetismo habitual da esfinge e da postura de pedra e erosão do tempo. Ai de nós, se deixarmos a política apenas para os discursos de Portas, os ataques aos fariseus feitos por Sócrates e o mais do mesmo de Santos Silva e Silva Pereira. Porque haverá muita gente de não esquerda que vai, por essas, votar em Jerónimo ou em Louçã.


Ai de nós, se continuar esta cultura do respeitinho, do mero manda quem pode, obedece quem deve, emergindo imúmeras personalidades autoritárias, do PS, do PSD e do CDS, espreitando o rotativismos, ou os ensaios de grande coligação do Bloco Centraleiro, com regeneradores e progressistas a quererem a instalação de um grande partido-sistema, como foi o afonsismo na Primeira República. Espero que tudo não passe da habitual suspensão da política, por causa das férias, incluindo as férias ditas judiciais. Infelizmente, parece que não abundam, nas listas e nos principais actores dos partidos dominantes, personalidades talhadas pela fibra do liberalismo político, desses liberdadeiros de que falava Alexandre Herculano.


Nesta época de cobardia, onde bailam muitos dos calculistas que se querem ministerializar, incluindo a hipótese de um PS sem Sócrates e de um PSD sem Manela, espero que as tais personalidades autoritárias, que produziram inúmeros casos de micro-autoritarismo sub-estatal, sejam devidamente condicionadas por uma federação de revoltados populares, que usem a arma do voto, não para a criação de césares de multidões, mas para o necessário golpe de Estado sem efusão de sangue, como Karl Popper definia a democracia. Um novo Camilo Castelo Branco tem de voltar a escrever a urgente "queda dos anjos".

21.8.09

A propaganda antipropaganda do neocavaquismo sem Cavaco


Ontem foi dia de lançamento de Manuela Ferreira Leite. Ou melhor: de consolidação de um estilo de comunicação íntima, sem a rapidez imaginativa dos "picaretas falantes" e sem a aspereza numerológica de Medina Carreira, mas como um senhora "qualquer" que tenta cativar directamente, não a massa dos telespectadores, mas cada um dos telespectadores em particular ao estilo de conversa em família, invocando o dramatismo da respectiva decisão, depois do tempo dos homens de génio. Nada de novo debaixo do sol, nesta aparente política antipolítica do cavaquismo sem Cavaco e que, para gáudio dos respectivos consultores de imagem, não esteve mal no estilo.


Infelizmente, esteve mal nos argumentos. Menos mal nos já repetidos, como no caso da "asfixia democrática", onde voltou a repetir o caso Charrua, não acrescentando uma lista de persigangas, onde, nalgumas delas, até encontramos ministeriáveis do PSD aliados, em claustrofobia democrática, a ministeriáveis do PS. Menos mal, no caso das eventuais vigilâncias sobre Belém, mas apenas conseguiu insinuar escutas do caso do microfone instalado no gabinete do Procurador-Geral da República, cujos mistérios já foram detectados nas suas minúcias e se passaram há séculos, por razões privadas.


De qualque maneira, interessava-lhe insistir na circunstância de querer levar os princípios da vida privada e profissional para a actividade política, sem calculismos e sem eventuais benefícios eleitorais, misturando o "faço o que prometo" de Eanes com a secura de Cavaco e o silêncio acompanhante de Dona Maria da Católica. Mas não revelou que Cavaco até recrutou Glória de Matos, para o exercício gutural, e Luíza Manuel de Vilhena, a sogra de m genro assessor, para lhe escrever, em pagelas, a história do gasolineiro de Boliqueime.


Quanto ao programa eleitoral do PSD, disse que as pessoas nunca o iriam ler na praia e que ele não trará nada de espantar, podendo caber numa folha A4, porque apenas não quer o TGV e a 3ª auto-estrada, mas antes investimentos públicos de proximidade, pagamento das dívidas do Estado, revisão do código do imposto sobre o património, não aumento dos impostos e apoio às PME, sem fazer promessas de crescimento. Porque não sabe efectivamente os números de uma crise interna que já existia antes da crise global, acusando o governo de favorecer certas empresas e que nisso é discricionário. Pouco mais.


Sobre o BPN, o Freeport e outras loisas, misturadas com Preto e Isaltino, sem uma única vez usar a palavra corrupção, disse nunca pronunciar-se sobre casos de justiça, porque, sobre eles, "é a justiça que vai dizer", elaborando uma curiosa distinção entre "arguidos pelo exercício de cargos públicos" e os outros. Mas sempre acrescentou que é "facílimo em política pôr de lado quem nos incomoda e deixar andar quem nos não incomoda", coisa que, depois aplicou ao afastamento de Passos e passistas das listas do PSD: só integrou nas listas quem assumiu o "compromisso de apoiar uma política e uma orientação de governo", evitando os que "discordem da política", dela, abrangendo apenas os ex-opositores que se passaram para a "aprtilha" (sic). Até porque "não sou deputada porque não concordava com a política do partido". Por outras palavras, definiu o seu futuro grupo parlamentar como uma unicidade de rebanho.


O pior foi misturar Maria José Nogueira Pinto e Moita Flores com isso. Respondeu, para a primeira, que uma coisa é a política autárquica com a política nacional. Que Maria José estava errada no seu apoio a Costa, em Lisboa, e que, em Santarém, ela, Manela, votaria Moita Flores: "acho bem que ele não vote em mim". Por outras palavras, não foi suficientemente treinada pelos assessores de comunicação para estas manobras nominativas, onde não chega a pretensa ciência exacta aprendida como directora-geral da contabilidade pública.


De qualquer maneira, os fiéis telespectadores mostraram-se contentes com a força que ela emitiu, confirmando o voto no PSD. Os hesitantes entre PSD e PS continuaram hesitantes, pondo, num lado da balança, o ódio a Sócrates e, no lado dela, o voto útil, para o mais do mesmo. Alguns até foram espreitar os blogues de campanha do "Simplex" e do "Jamais". Uns lamentaram a saída de João Gonçalves, outros a manutenção de João Galamba. E passaram-se para a "Rua Direita", porque o CDS, aproveitando a indirecta oferta de coligação de Manela, poderá dizer que votar PSD é também votar nos "endireitas do Caldas", como se houvesse uma diferença entre bonzos e apoiantes endireitas dos bonzos.


Não sei se é boa decisão termos de escolhar o, do mal, o menos, o tal menos que, depois de analisado, pode ser pior emenda do que o soneto do presente situacionismo ministerialista que tem Pedro Mexia como director-geral, o mesmo que poderá ser ministro maneleiro. Entre o mal e o seu menos, sempre os mesmos bailados do Bloco Central, mesmo que tenha Portas como ministro. Estes irmãos-inimigos que mandam muitos bobos da Corte para o jogo verbal sujo, para que os chefes, depois, possam gerir os silêncios, aproveitando a onda e lavando as mãos como Pilatos.


PS: O ambiente está de tal maneira degradado que, mais uma vez, recebi directas ameaças de cariz siciliano. Ainda as mantenho no meu "Facebook". Desta ainda não voltaram a emitir um blogue com o meu nome, para ataques a uma biografia, mas usando todos os pormenores que tenho publicados na minha página profissional. Não me digo vítima de persiganga. Os factos e os processos falam por si. Continuo a calá-los. Tirarei as conclusões depois da constituição do próximo governo e dos ensaios de coligação dos que há anos se vão ministerializando.

20.8.09

Contra os neo-salazarentos do Bloco Central que tiraram Caines do Purgatório...


Ontem, diante do sol e das férias, não teclei. Já estavam escritas todas as frases sobre os palácios da vigilância, conforme o artigo que publicitei no DN, e as novas sobre a gripe A apelavam para a ditadura dos factos. Apenas confirmei que os engenheiros do "agenda setting" se esgotaram com o BPN, o Freeport e a questão das listas de candidatos, com Moita Flores pelo meio, acabando em cartas de amor tão ridículas quanto a bandeira do trinta e um e a queixa da cml sobre o ataque ao património de pano. Nem Medina Carreira, que revi em video enlatado da SIC, já nos consegue trazer surpresas, porque essa de resolver a crise mandando fazer um relatório a Silva Lopes, quase me poderia sugerir o regresso de Mário Soares a primeiro-ministro, com Adriano Moreira na administração interna. Soares até hoje nos comunica que Karl Marx saiu do Purgatório por causa do neoliberalismo, confirmando a coerência de quem o meteu na gaveta, ao Karl, apesar de o ter incluído no programa anti-social-democrata do PS, obrigando o PPD a fazer o mesmo no respectivo programa, coisas que foram retiradas por Vítor Constâncio e Cavaco Silva, respectivamente, apesar de os laranjas o terem feito depois dos ditos socialistas e com o empenho do ex-ml Barroso.


A consultadoria de pretensos tecnocratas, ditos craques, só porque estão no altar da gerontocracia e se animam com a habitual conspiração de avós e netos, não é o mesma coisa que governar. Governar é a crise e o risco de haver essa suprema decisão sobre fins, que não se pode confundir com a decisão sobre os meios. Governar não é apenas executar, é pilotar o futuro. Aliás, também não se combate a corrupção, solicitando a magistrados mediáticos e aos seus sindicatos outro relatório sobre a falta de meios legais e materiais, para se engordarem os operadores judiciários de aparelhismo.


Medina, em sua Carreira, o ex-ministro das finanças de um PS Marxista, o de Soares, antes de Constâncio, que é justamente implacável na detecção das doenças que o afectaram, continua a perder-se em floreados analíticos, demonstrando como não basta que excelentes e corajosos comentadores se continuem a pensar como simples ajudantes de primeiros-ministros, dispostos a colocarem na ordem os directores-gerais que já não há, e a encomendarem estudos a quem está fora da rede do "outsourcing". Podem acabar enredados nos próprios discursos e por por tropeçarem nas teias do próprio ego.


Mas as sátiras numerológicas de Medina continuam rigorosamente implacáveis e até surgem justas observações, como essa do "cainesianismo" ser inaplicável a uma economia que é mero elemento fungível das integrações ibérica e europeia, bem como despensa dos fluxos da globalização, principalmente da geofinança. Com efeito, Keynes tanto deu o "New Deal" de Roosevelt quanto o Estado Novo de Salazar, gerando em muitas economias aquilo que a "Societé du Mont Pélérin", de Hayek, Popper e Ropke, qualificaram como socialismo de Estado.


Por outras palavras, Keynes merece elevar-se à categoria de inimigo da sociedade aberta, porque a ideologia que dele se desprendeu, a tal criatura que se libertou do criador, fez regressar o mercantilismo de um capitalismo de Estado, tornando-nos subsidiodependentes. Agravou a flacidez das banhas do aparelho, descalcificou os ossos e não revigorou a cabecinha, nem os nervos. Até músculos flexíveis desapareceram. E quando meteu o socialismo na gaveta, ao exagerar nas privatizações negocistas do chamado liberalismo a retalho, gerou o neofeudalismo presente, o "gentleman's agrreement" entre o chefe do governo e certas famílias ou companhias privilegiadas pelo favor do estadão. Basta recordar como certos banqueiros aparecem a defender Sócrates e como se fazem jantaradas de homenagem a Manel Pinho.


Por outras palavras, o cainesianismo de PSD e PS agravou aquele ambiente devorista da privatização dos lucros e da socialização dos prejuízos, como dizia o militante do Partido Socialista Ramada Curto (na imagem). Do partido de 1875, o de Antero e Fontana, que Soares não restaurou, diga-se de passagem. E lá continuámos, com o Bloco Central que resiste e persiste, sem treinarmos a concorrência, sem premiarmos a produtividade, condicionando fortemente a liberdade, porque desincentivamos a imaginação e a criatividade. Prefiro Hayek a Keynes, e Ramada Curto a Sócrates, contra os neo-salazarentos democráticos do Bloco Central...

18.8.09

Na esquina de Belém com a Junqueira, espiões à solta e Medina à Carreira


Leio o Público: "o clima psicológico que se vive no Palácio de Belém é de consternação e a dúvida que se instalou foi a de saber se os serviços da Presidência da República estão sob escuta e se os assessores de Cavaco Silva estão a ser vigiados,... confessou um membro da Casa Civil do Presidente." Para mim, quando estou em Lisboa, para os vigiar, basta vir tomar café aqui, no fim da Rua da Junqueira...


Ao contrário de Sampaio que, por vezes se passeava na rua, Cavaco, nunca o vi, a não ser blindado. Já os assessores deste, andam muito pelas tascas das redondezas, salvo o Espada. Conversam em serena algazarra e metem conversa. Um é meu ex-aluno, outro, colega, e um terceiro, companheiro de conferências. São discretos. Ao contrário das bocas que ouvia no tempo de Sampaio, de fazer tremer o regime, e em plena comedoria de almoço...


Por outras palavras, de Cavaco, gosto mais dos assessores sem gume que do assessorado. De Sampaio, mais do dito do que dos desbocados de tasca. E na esquina da Junqueira com a calçada da Ajuda, estamos bem habituados às manobras visitadoras de jornalistas e politiqueiros. Se eu os fotografasse, dava capas e capas sensacionalistas, especialmente com "opinion makers" insuspeitos, apanhados em passeios com os ditos...


O homem do presidente que levantou a hipótese de um Watergate à moda dos pastéis teme estarem os belenenses sob vigilância. Como os tais presidenciais sabem melhor do que eu o que é isso de vigilância e como parece que não exista polícia política, as suspeitas encaixam que nem luva branca nos nossos espiões do interior...


As especulações recaem imediatamente no pé de galo mais secreto da mesa governativa e aguarda-se, com expectativa, o próximo discurso de Alberto João sobre a matéria, não sendo de excluir mais uma conferência de imprensa de Carlos César, em resposta à nota...


Interrogada sobre o assunto, Manela Ferreira Leite, aos costumes, disse nada, gerindo silêncios com a angústia da contabilista, enquanto Sócrates, enlagostado, remeteu a sua consciência para os futuros comentários do blogue Jugular...


O BE também se escusou. Não revela fichas de segredo profissional constantes do futuro "Dicionário do Bloco Central" que está a ser coordenado pelo Professor Doutor Fernando Rosas, em parceria com o Professor Doutor Boaventura Sousa Santos...


Paulo Portas também não viu, não leu e não ouviu. Estava numa feira, reunido com os activistas do "31 da Armada". Estes foram protestar contra a coligação santanista de Lisboa, por esta incluir um tal fotografado com o siciliano Poidamini, ou lá o que é...


Só Jerónimo de Sousa partiu os dentes à reacção, como o costume, protestando contra a linguagem anticomunista da insinuação sobre os saneamentos do "Diário de Notícias", levados a cabo pela fundação da Casa dos Bicos, mais acrescentando que... concorda com as porpostas de Medina Carreira, na última entrevista à SIC Notícias:


"Portugal de hoje é um grande BPN... Os ministros ou são papetas ou desonestos... A sujidade incomoda-me...São sete mil milhões de euros só para juros e desemprego por ano, tanto quanto gastamos em educação.


O programa do PS é à moda antiga, só conversa fiada. Não tem lá nada que preste. Há só 50 mil ricos para dois milhões de pobres. Importa saber quem é rico e onde ele põe o dinheiro. Só atamancam a crise. Importa atrair investimentos para podermos exportar. Em 2007 foi quando mais nos endividámos.


São todos papagaios. Punha o Silva Lopes a fazer um inquérito em três meses. Os grandes negócios do Estado estão todos sob suspeita e continuarão sob suspeita. Os deputados não fazem ideia das leis que fazem. A coisa que entusisasma mais os partidos é o dinheiro.


De 2000 a 2015 poderemos endividarmo-nos dez vezes mais. Nós não podemos confiar nestes políticos. No PSD há não sei quantos que andam a ministerializar-se. A Assembleia da República e as listas não interessam para nada. Há cinco ou seis candidatos relevantes, o retso é claque...".


Medina gasta-se pelo mau uso e pelo abuso. Nem para tempo de antena será usado. Paulo Mota Pinto escreve de outra maneira. A estória dos homens do presidente tem o nível de Vitalino Canas. Parece muito, mas não diz nada.


17.8.09

Em nome de Burke e Pessoa, contra os adeptos da Besta Esfolada, mas com vontade de suspensórios


Hoje comecei por ir à estante buscar Edmund Burke (1729-1797), o fundador de uma coisa que nunca houve no Portugal contemporâneo, o conservadorismo liberal, em nome do costume e da constituição não escrita das leis fundamentais, assente num equilíbrio moral e de pensamento, contra revolucionários jacobinos e reaccionários da viradeira e de uma revolução ao contrário. Notei que os defensores de tais princípios, como muitos dos nossos vintistas, poderiam ser considerados em oposição à legalidade de acordo com aquela osmose franquista que mandou destruir os cemitérios desses conservadores, declarou-os inimigos do Estado e chegou a pensar em aplicar a pena de morte para os ditos. Pelo menos, constituiu 80 000 "dossiers" pessoais que fariam as delícias de algum jornalismo português dito de investigação e de certo presidente de um governo regional.


Por isso, reparo que 1910 foi há quase cem anos e ainda há monárquicos de direita e de esquerda, socialistas e liberais, miguelistas e manuelinos, brigantinos e brigões, maçons e catolaicos. Mas sobre as comemorações oficiais, se eu fosse inscrito numa qualquer associação monárquica, apresentaria adequado projecto de participação no comemorativismo e depois, se fosse afastado, não fazia pândega, metia a comissão oficial em tribunal. Já agora protesto como certa rapaziada monárquica reagiu às profaníssimas declarações de António Reis, com quem coincido na necessidade de restauração da república e na respectiva coroação como democracia. Apenas vou mais além, até ao fundo da pátria, e elegeria um rei, sem qualquer restauração, dado que a tradição exige consenso instaurador e autêntica regeneração. Aliás, noutra faceta mais ritual, António Reis é o representante de uma institução com mais cem anos do que a república e com uma maioria de antecessores monárquicos. E sabe que a república, vestida de ditadura e constitucionalizada por plebiscito, que extinguiu a maçonaria, em 1935.

Também observo que os neomonárquicos lusitanos deveriam aceitar o princípio constitucional da "forma republicana de governo". Já o escrevi e comuniquei em colóquio diante do duque de Bragança e os seus primos brasileiros há mais de uma década. Porque a nossa tradição exige "uma república governada por um rei "(título de obra do nosso renascentista Diogo Lopes Rebelo). Os chamados republicanos é que têm a mania de monopolizar a "res publica" e grande parte dos monárquicos escorrega nessa casca de banana...

O maior inimigo do institucionalismo monárquico é a personalização presidencialista do poder. Nós inventámos a república e o rei para deixarmos de ter um dono, "dependente de uma constipação mal tratada", como dizia Luís de Almeida Braga, o da "Espada ao Sol" e da campanha de Delgado... Abaixo as ilusões sidonistas, salazarentas, soaristas ou cavaquistas!

Os presidencialistas, incluindo os presidencialistas de primeiro-ministro, caem sempre na tentação de um jardinismo qualquer, para limpeza do reino e suspensão da democracia!

Aliás, pouco monárquicas parecem ser certas fidalguias da dita república, pouco coroada pela democracia, que bem precisava de um D. João II e dos princípios de Alfarrobeira contra os desmandos oligárquicos e fidalgotes. Não! Não chegámos à Coreia, do Norte, mas antes à correia de transmissão do pote sem pol, confirmando as decadências, onde depois dos ditos nobres, vêm sempre os filhos de algo. Do PSD, ao PS, venha o mafarrico e marre!

Talvez se trate de um seguro de limpeza... de sangue, à boa maneira de Vichy, quando Paris até copiava leis lusitanas, conforme o elogio de Jardim, ontem, quando observa que Manuel Ferreira Leite, com as propostas de listas, quis "pôr em contenção indivíduos que têm afinidades com o funcionamento de certas sociedades secretas, as quais têm sido até agora o bloco central do regime e têm-no sustentado, quer com governos PS, quer com governos PSD"...

Aliás, por falar em bisnetodalguia, o antecessor da senhora ex-ministra das finanças e da educação não incorria no grave crime denunciado pelo seu elogiador do Chão da Lagoa e tão publicamente estabelecido pela lei nº 1 da Assembleia Nacional? Como as coisas são tão secretas que até vêm em qualquer manual de história, é melhor que continuem a ler o mundo pelos sucessores de Tomé Vieira e Paul Siebertz... Eu prefiro Fernando Pessoa.

A fila de viúvas do coiso, de filhos e filhas do pai, ou de sobrinhos do tio, faz parte de idêntico quantitativo nos dois partidos. Não os vou nominar, mas já fiz as contas... A essa degenerescência chama-se nepotismo e é tão cancerígena quanto o clientelismo. Resulta da falta de confiança na competição, na sociedade aberta e igualdade de oportunidades. Sucede sempre nos períodos crepusculares, como aquele que vivemos e que, apesar de tudo, pode demorar umas décadas...
PS: Imagem picada num sítio brasileiro

16.8.09

De regresso, recordando António José Rodrigues de Almeida e a sua Catrineta


Regresso. Não há nota necrológica que possa captar as muitas memórias de um amigo desaparecido. As três frases com que os jornais o descreveram não chegam. Apenas digo que morreu como viveu, na aventura, no risco, na doce procura da insolência. Era um desses portugueses à antiga que nunca venceu e que, por isso mesmo, nunca foi vencido. Sempre se assumiu como o sonho em figura humana, tão gigante de espírito quanto o próprio corpo. Uma lenda que, já em vida, era viva, pelas estórias que os fantasmagóricos inimigos alimentavam, mas que nunca corresponderam a quem, pela bondade natural e educativa, pouca tendência tinha para a vindicta. Apenas se entregava às causas que o mobilizavam com o entusiasmo dos crentes, mas, num tempo de homens lúcidos, sempre teve a lucidez de se assumir como ingénuo. Dele, a lei da morte já há muito que se tinha libertado...


P. S. Tinhas um blogue cujo último postal data de Janeiro de 2006. Deixo nesta recordação a Catrineta de Almada que lá inseriste. Também por estes dias, repetias Pessoa:


O mostrengo que está no fim do mar

Veio das trevas a procurar

A madrugada do novo dia,

Do novo dia sem acabar;

E disse, «Quem é que dorme a lembrar

Que desvendou o Segundo Mundo,

Nem o Terceiro quere desvendar?»


E o som na treva de elle rodar

Faz mau o somno, triste o sonhar,

Rodou e foi-se o mostrengo servo

Que seu senhor veio aqui buscar.

Que veio aqui seu senhor chamar

–Chamar Aquelle que está dormindo

E foi outrora Senhor do Mar.

14.8.09

Nota bem metafísica em dia de morte e regeneração


O desaparecimento de um dos poucos amigos a quem confiaria a vida numa linha de combate, mesmo que estivesse do outro lado da barricada, fez-me reavivar que, no princípio, esta o fim. Metafisicamente, mais liberal do que conservador, porque assumo a clássica perspectiva da regeneração e o nascer de novo, também considero a morte como uma iniciação para a eternidade.

E todas as ordens humanas apenas são simples procuras da perfeição, através do esforço dos homens humildemente livres. Porque neste dealbar do novo milénio, temos de ir além dos ideais conjunturais de sociedade de outras eras. Desde o mais recente socialismo esquerdista, ou direitista, ao mais avoengo positivismo naturalista.

Porque Deus e os deuses se assumem das mais variadas formas, das tábuas de Moisés as epístolas de São Paulo, das palhinhas de Belém à azinheira da Cova de Iria. Porque Deus e os deuses se mostram através de muitas aparências e ate aparições, desde o milagre de Ourique aos três pastorinhos. Porque o transcendente, o mais além, só pelas nossas palavras e os nossos símbolos pode ser dito e aproximado.

Ja existia antes de Maomé, antes de Cristo, antes de Buda, antes de Confúcio. Ja existia no tempo ocidental da pluralidade dos divinos e dos mistérios clássicos, quando a poesia era mais verdadeira do que a história, nomeadamente dos catecismos, das sociedades de propaganda da fé e das cartilhas que nos querem mostrar o caminho, com listas de pecados, encíclicas, decretos de cardeais, confessionários, inquisidores, homilias, sermões ou simples artigos com "nihil obstat et imprimatur".

Não, não vou por aí, não vou imitar fantasmagóricos inimigos da teoria da conspiração, nao vou converter-me a congreganismos; mesmo de sinal contrário. Continuo a seguir o mistério de meu povo espiritual, o tal que não pode continuar algemado pelos que, atraves de multisseculares aparelhos de controlo social, continuam a usufruir do monopólio do moral, do transcendente e do divino. Sim! Ontem foi dia de metafísica e fui religar-me aos mistérios da criação e do eterno. Homenageei o Tó Zé. Para que o mar sem fim continue português.

13.8.09

Um povo unanime numa opiniao ou num habito nao seria povo, seria rebanho

Pedem-me breve comentario politico para um jornal de amanha. Aqui o deixo:

Os eleitores nao escolhem governos, mas deputados, onde os governos nascem da interpretacao que o presidente e obrigado q fazer dos resultados eleitorais. Muito menos escolhemos primeiros ministros. Esta foi uma doenca provinda das mqiorias absolutas e das consequentes personalizacoes do poder...

O PS e o PSD sao as faces da mesma moeda do situacionismo bonzo e da respectiva coligacao com as forcas vivas dominantes na economia e na moral. PS e PSD tem programa ideologico para eleitor ver, mas depois metem o programa na gaveta e actuam em pragmatismo, de acordo com as pressoes da casta banco-burocratica que domina as comissoes de honra das respectivas candidaturas presidenciais e a quem eles vao distribuindo comendas e encomendas, dentro do rotativismo, com alternancias, mas sem alternativas, por mais endireitas e canhotos que recrutem a retalho.

Este governo socratico foi aquilo que Maritain qualificou como um fraco governo de esquerda com mentalidade de direita. Agora faz teatro de viragem a esquerda porque 20 % da opiniao se diz comunista ou dos herdeiros da extrema esquerda

O eleitorqdo tende a nao dar a maioria absoluta a nenhum deles. Socrates vai metendo golos na propria baliza e Manuela a dar tiros nos pes. O presidente ja o percebeu e foi a Austria estagiar a grande coligacao. Mas o povo e que vai ditar o processo. Ate pode haver uma maioria de esquerda para entrarmos em contraciclo definitivamente. O mais provavel e encerrarmos este ciclo politico e passarmos a uma era de incerteza... que e aventura, risco e pode levar a que a democracia mostre as suas potencialidades e alguma criatividade

Essa da governabilidade de longo prazo era o sonho da via mexicana de Soares... Mas governabilidada sem participacao e ditadura e o mais estavel dos governos foi o de Salazar. Democratizarmos este modelo, mesmo que seja copiando a Primeira Republica, com o seu partido-sistema e podermos por o povo contra a democracia e este sistema partidocratico contra o regime.

A diversidade nao exclui a unidade em coisas vivas e complexas como e um povo. Como diria Pessoa, um pais unanime numa opiniao ou num habito nao seria povo, seria rebanho

12.8.09

Saudades de carbonarios e traulitanios, contra os bonzos

Que saudades eu tenho dos sucessivos carbonarios e dos reais traulitanios, num tempo em que estao no poder as varias comissoes de honra das candidaturas presidenciais e os muitos comendadores, socraticos, maneleiros ou portiferos, assim todos postos em fila, para que nao sequem as torneiras do subsidio, da cunha e do "outsourcing". Nem os publicanos sao os herdeiros de Machado Santos, que certos formigas bonzas mandaram assassinar em 1921, nem os monarquicos assumem o paladino Paiva Couceiro, das incursoes e das restauracoes, alias, logo desterrado pela salazarquia. Estava aliado em patriotismo e liberdade a Norton de Matos, que lhe vai prefaciar um livro africanista. Ate um dos chefes da Traulitania era Luis Magalhaes, o filho de Jose Estevao. Ate levou a tribunal, como testemunha de defesa a malta do 31 de Janeiro, com destaque para Basilio Teles. Facam queixinhas a Policia Municipal... e desculpem o teclado sem acentos...

A falta de autenticidade do bloco centraleiro

Longe da santa terrinha, nem por isso deixo a cidadania das ideias. No Jornal de Noticias de hoje:

É por esta contradição que José Adelino Maltez pega para comentar as palavras de Sócrates, de quem disse usar dois heterónimos, "um, que fala ao eleitorado de Esquerda e ataca o liberalismo, e outro, que confessa aos empresários que os tempos não estão para ideologias mas sim para pragmatismo". "Sócrates usa o discurso de Esquerda para conquistar votos e depois de conquistar o poder mete o socialismo na gaveta, como já fez antes, Mário Soares".

Ao contrário do que possa indiciar a afirmação deste politólogo do ISCP, a crítica não se destina exclusivamente aos socialistas. Cavaco Silva, enquanto dirigente do PSD e primeiro-ministro, também não ficou imune a esta "falta de autenticidade".

A visão de José Adelino Maltez é a de que "o centrão sempre disse o mesmo, ou seja, sempre fez apelo ao eleitorado de Esquerda, com promessas de medidas sociais. É o habitual bailinho do centrão".

E é esta duplicidade dos políticos do chamado arco do poder é, segundo Maltez, um dos factores de desmotivação e descrença dos eleitores que se abstêm.

10.8.09

O riso de Deus. Alçada e Solnado, um testemunho Maria Teresa Bracinha


Pode ter-se dito muita coisa acerca do Solnado, mas não ouvi dizer que era um dos maiores amigos do Alçada e a importância chegou a uma fotografia para a posteridade que tiraram ambos de mão dada para que o futuro os confundisse nas opções...como me dizia o António a rir quando me mostrou a fotografia lá no Cartaxo.

Pelo António cheguei ao breve contacto com essa figura impar de generosidade que era o Raul. Só vento e a branca neve estenderam uma corda ao seu firme passo. Divirtam-se que não é pecado e semeiem pevides junto aos girassóis, diria.

Dantes, pensava que os livros eram feitos assim: semeados por uma agitação de vendedeira de castanhas à porta de uma guerra. Mas um dia a rua sentou-se e os soluços dos poetas começaram, mas salvos, salvos da servidão pelo podióchaaaaaaaaaaammmmmmmmmá-lo?

Obrigada, sempre obrigada ao Solnado.

M. Teresa Bracinha

Bem gostava que fosse todos os dias...


Lido no "I", com um especial agradecimento pela provocação. Bem gostava que fosse todos os dias. Mas desde que a coroa fosse aberta, apenas encimada pela armilar...

Solnado, um pouco de nós morreu contigo


Solnado. Já foram escritas todas as frases do reconhecimento. É um pouco de todos nós que morre com ele. Melhor: que com ele entra no eterno. Ele apenas era o elo de uma linhagem que vem de Rafael Bordalo Pinheiro e que continua em todos que continuam sua procura.


Como disse a tua neta, deixaste um rasto de luz onde passaste. Como tu disseste, a tua vida foi saborissíma e o fiozinho que te prendia à vida, fez-nos todos teus filhos e teus netos. Tu foste o último Zé Povinho que eu conheci, depois do António Silva e do Vasco Santana. Outros virão e continuarão a ter o nome de Portugal!


Entrevista de Solnado, há cinco anos: "Eu tenho uma paixão imensa pela liberdade. Aliás, acho que o amor à liberdade já nasce com as pessoas e eu nasci com esse amor. Pelo que conheço dos portugueses, penso que, apesar de tudo, ainda existe uma imensa maioria que tem a paixão da liberdade e da democracia".


"E depois temos por aí uns senhores que adoram dinheiro, gostam de coleccionar aquela porcaria. Se não estivéssemos na União Europeia a democracia já há muito estaria em perigo."


"A mim, a crise económica não me afecta, porque nunca tive um projecto de fortuna, o meu projecto é de felicidade. E a tal paixão pela liberdade que sempre me acompanhou."

7.8.09

Vou agora à tipografia, saiu do prelo o 1º volume...


Biografia do Pensamento Político, I. Só até 1820, o primeiro volume. A capa dizia Lisboa 2008. Quando foi concluída a primeira revisão, em Timor. Deve ler-se, agora, "Lisboa, ISCSP, 2009". Graças a muitos males, o volume único previsto e contratado por palavras de honra, com acrescentos e revisões do autor, reproduziu-se em dois: um até 1820, outro de 1820 aos dias que passam. O editor é a minha escola, sobre a qual ainda não digo nada. Nem aqui nem lá. Embora desde o dia 4 de Agosto p. p. já tenha o direito de dizer o que penso, para poder continuar a viver como penso, sem pensar muito como depois irei viver. Na escola e por palavras de honra que é coisa raramente casada com a inteligência. A concepção da capa é da Ana, que ousou captar a razão inteira, numa analogia biológica. Também vivemos como pensamos, quando somos, que é o que normalmente somos. E como sempre lembro a Maria Luiza, a Joana, a Filipa e o Francisco, bem como a Nanda e o Vítor. Os sete nomes da minha tribo de resistência. E agradeço à malta da Europa-América, a cooperação estratégica. É o primeiro livro que fui revendo pela Internet, do outro lado do mundo.

Entre Pacheco a fotografar, em plenas listas maneleiras, e Karl Marx fotografado, aqui em casa







Ontem não vi o Jerónimo e também ainda não espreitei o "antimaneleirismo" de Marcelo e Mendes. Bastaram-me as equívocas expressões de Morais Sarmento e o artigo de Paula Teixeira da Cruz no "CM" de hoje. Bem como as sucessivas declarações de Carreiras, o presidente da distrital de Lisboa, que passou a ter o meu respeito, por revelar uma firme concepção do mundo e da vida, apesar de, aqui, o ter fortemente criticado na primeira queda de informações sobre a lista que propôs, onde nem constava o Zé Correia, apesar de ter preferido Pedro Lynce a Martins da Cruz. Só que Manela é um Cavaco de saias, mas em caricatura temperamental. Não vai ler, não vai ver, não vai ouvir e até agradece esta redução da institucionalização de conflitos dentro da sua malinha de mão. Continuará de silêncio em silêncio, até fazer companhia a Sócrates, mas não na Universidade Atlântica. Já tem o estatuto formal de aposentada.





Perante a agressividade viral do ambiente, Manela tira o lenço, assoa-se, qualifica os interpelantes como pessoas que a estão ofender e volta a detestar tudo quanto é política, especialmente os políticos que não percebem nada de finanças, mesmo que gostem de crianças, como Pessoa dizia de Jesus Cristo. As epístolas das Novas Escrituras estão nos argumentários, meio autorizados, do "Jamais"...





Já Manuel Monteiro, com quem, outrora, me cruzei em coincidências e divergências partidárias, e a quem continuo a prezar, voltou à agenda da ribalta comunicacional, como candidato a deputado pelo Minho. Em nome da moralização da política retomou a senda da denúncia do que, há anos, qualificou como sanguessugas... Por isso é que nunca fui do Partido Popular, que ele fundou com outras criaturas e criadores.





Monteiro veio exigir que candidatos a deputado, que receberam do povo subsídios de reintegração, os devolvam. Se isso corresponder aos factos e mesmo que os pormenores da lei o não prevejam, importa activar o mínimo ético da coisa pública, para que alguns dos senhores deputados não voltem a merecer a metáfora célebre...





Há também excelsos ex-deputados e ex-ministros, habituais nos discursos moralizadores, que, de forma oportunista, saltaram de seus empregos públicos bem antes do tempo da idade limite, para beneficiarem de manás que, felizmente, já foram revogados por São Bento, se calhar com o voto dos próprios.





Há acumuladores eméritos e distintos conselheiros que, no público, continuam activismos reais, recebendo em conformidade e fazendo carreira depois de se terem desencarreirado, só porque passaram a ganhar bem mais do que teriam, se continuassem no sítio, até aos 70 anos. Assim puderam manter o sítio e mais lugares, pelo que seria curioso pedir-lhes o sentenciador sobre seu próprio caso. Que Monteiro aí não se inspire!



Para homenagear Pacheco Pereira, na foto que encima este postal, também eu fui à parede do meu escritório. Sim! Tenho o Karl, o D. Sebastião, António José de Almeida, alguns outros e muitas naus. Um dia mostro. Não tenho o São Tomás, porque nenhuma imagem é original. Por isso, prefiro Aristóteles. Mas tenho o São Francisco de Assis. Mas muitos em barro, que é o da minha devoção panteísta. Tenho o Karl, mas gosto mais do Espinosa e do Jean-Jacques...

É a resposta que a certas provocações ortodoxas, face ao heterodoxo e ao paradoxo. Não! Não é como um dia disse alguém dos bustos que eventualmente teria em casa. O tipo até foi a director-geral socrático e não chegou a ser convidado pela Manela para a lista. Foi substituído pela Zezinha...

6.8.09

Não pronuncie nomes como ManelaFL e JSocrasPS. Vá de férias e leia Zweig


Quem gostar mesmo de política, deve evitar pronunciar nomes como os de MFL e de JSPS, especialmente nesta ressaca das listas, cujas trapalhadas mostram como PS e PSD são mesmo o espelho desta partidocracia que nos enreda em quezílias de mau gosto. Aliás, a última vez que votei PSD foi com Sá Carneiro. Entre cainesianos da esquerda menos e cainesianos da esquerda mais, prefiro resistir liberal, não dando para esse peditório de governos de esquerda com temperamento de direita, plenos de fantasmas e preconceitos.


Daí que tenha entrado noutras interacções. Leio, de Stefan Zweig, "A Morte de Cícero": "para um intelectual não existe felicidade maior do que ser excluído da vida pública, da vida política". Porque "todas as formas de exílio, para o homem de pensamento se tornam espora para profunda reflexão" (Zweig, sobre Cícero).


Porque um político pode assumir a "res publica" como vive a "res privata". Pondo esta acima daquela, isto é, acabando com razão de Estado... Melhor: subordinando a razão de Estado a um Estado-razão, o principado à república... Cícero, sempre! O Cícero de Stefan Zweig: que "combateu em Catilina a anarquia, em Verres a corrupção, nos generais vitoriosos a ameaça da ditadura".


Há os que querem conservar o que está. E os que querem conservar o que deve-ser. Os reais conservadores, isto é, pós-Burke, vieram depois dos progressistas e dos revolucionários... Porque a revolução mentiu!


A revolução é nostalgia de voltar atrás, à pretensa pureza primitiva, imaginada pela falsa ciência. O conservador, coisa diferente do reaccionário, quer apenas uma revolução evitada (Arendt). Mas também há utopistas do passado, alguns conservadores da secção tradicionalista, como girondinos ou ecologistas à velho PPM. Apenas existem para provocação ao presente, malhando nas degenerescências...


Nunca houve conservadores à Burke em Portugal, à excepção de alguns vintistas e mindeleiros. Ou melhor: foram todos instrumentalizados pelos reaccionários e pelos vanguardistas. Por mim, não quero perder mais uma vez em Alfarrobeira! Porque tão conservador é Alegre, à procura do Manuelinho de Évora, contra os ministros do reino por vontade estranha, como um outro que diga que D. Sebastião não morreu. Como eu. Porque ainda falta o Quinto Império do poder dos sem poder...


Ser conservador é continuar a escrever o livro do desassossego. Que os autênticos, persistam na procura! Mas contra todos os absolutismos. Os do Estado Moderno e os do povo absoluto, entre Luís XIV e Robespierre, contra pombalistas e jacobinos. Porque até a virtude precisa de limites (Montesquieu)


Eu cá ainda digo que sou conservador, mas do que deve ser, mesmo quando o não estou, por me assumir contra o conservadorismo do que está. E sendo e não estando é como normalmente sou.

5.8.09

A grande tacada do cavaquismo sem Cavaco, uma reportagem íntima quase em directo


Ontem, ainda a tarde ia alta, quando começaram a chegar as novas do PSD. Constava que o primeiro passo para a renovação maneleira tinha a ver com Maria José Nogueira Pinto, por Lisboa. A direita é ela. Tem razão quem ganha. Vivam os homens e as mulheres de sucesso!

Pediram-me, então, um comentário para o DN. Arrisquei: “Manuela Ferreira Leite não repetiu Rangel e preferiu o estilo Vital. Julgando poder vencer com tantos autogolos socráticos, e parecendo esquecer-se que o árbitro não pode jogar nem ser treinador, deixou que voltasse o velho PSD das fugas de informação a conta-gotas, para gáudio das análises domingueiras de Marcelo".

"Por outras palavras: a renovação confunde-se com as verdades de Deus Pinheiro e Couto dos Santos e a grande aposta é Maria José Nogueira Pinto, num regresso daquela filha pródiga, ex- subsecretária de Estado do actual candidato aos Paços do Concelho, depois de começar, em democracia, como conselheira do CDS de Adriano Moreira, para voltar a ser do CDS como deputada, e embaixadora de Jaime Gama, em sucessivas e curtíssimas travessias do deserto".
"É evidente que a quota de Pedro Passos Coelho desapareceu, uma excelente nova para quem aposta naquele médio prazo que pode ser a confirmação das mais recentes sondagens, com Manuela a acompanhar Sócrates na impossibilidade de um acordo interpartidário, mas com os santanistas a conseguirem algumas lanças em Portugal e nos Algarves".
"Sem as trapalhadas do caso Joana Amaral Dias, o PSD parece animar-se com uma versão soft de uma grande coligação do pintasilguismo de direita com o ritmo dos nossos brandos costumes pós-berluconianos. Pelo menos, tem genealogia correcta, paridade excelsa e não corre riscos. Conserva o que está, mesmo que não deva ser”.
Logo a seguir fui à SIC N, assumir esta posição. E voltei a esse ambiente de verdadeira revolução dos homens e mulheres sem sono, como a noite de 11 de Março de 1975, ao contrário... Reparei que tudo era como a pescada: antes de o ser já o era.

Porque, depois da tuítica demitir Pinho, o maneleirismo era, quase miniuto a minuto, tuitado. Quais bloconfs, quais carapuças? Era o fim da picada! Ainda tentei encontrar o “ tweet” do Pacheco Pereira. Mas tudo parecia mais um golpe do José Magalhães, o próprio. Porque tudo ia muito além do "Magalhães", o instrumento. Era um verdadeiro golchok tecnológico.

Eis a madrugada anarcotuítica do PSD! Nem o Paulinho Portas no tempo do "Tempo" de Nuno Rocha, que era ao retardador. Muito se prometia!

Entrei em provocações. Junto de um ex-CDS, que estava irritado, lancei: "Zezinha é a direita, e a direita é a zezinha... Logo, se a zezinha é a direita, eu sou de extrema-esquerda...Ela é uma sucessão de situacionismos: adrianista, cavaquista, popularista, monteirista, antimonteirista, portista, antiportista, costista, maneleira. Pode até vir a ser apoiada pela Rua Direita"...

E junto de um alegreiro, militante do Simplex, previ que talvez nenhum dos irmãos-inimigos (Sócrates e Manela) chegasse a primeiro-ministro quando começasse o cair da folha...Porque surgiria um chefe do governo do PS ou um PSD, conforme os resultados eleitorais, retomando a tradição da dança de concentração partidária do estertor do rotativismo no século XIX. Logo, Manela não poderia repetir o bisavô, José Dias Ferreira, o tal que lixou o Joaquim Pedro de Oliveira Martins, ao aceitá-lo como ministro da fazenda, por pressão do Paço, mas levando-o à frustração em poucos meses.

Aliás, a grande coligação que Cavaco foi estagiar à Áustria pode meter ministros do PC e do CDS. E acrescentei duas hipóteses de primeiro-ministro desse novo governo provisório: Alegre e Passos Coelho.Porque, como dizia Fernando Pessoa, vencer é ser vencido...

Também reparei que Costa e Seguro já correm para a sucessão de Sócrates...E que, no PSD, como o ausente-presente ainda está no activo, têm de pedir-lhe autorização antecipadamente...

Claro que estava apenas a exercitar a "provocatio ad tuiticum"... Porque imaginar pode levar a rir, que é o melhor remédio. E não sabia se o ausente-presente já tinha mandado. Sabia apenas o resultado das listas...que parecia comissão de honra da respectiva candidatura!

Havia, contudo, quem defendesse Manela, dizendo que as pessoas das listas pouco interessavam. Comentei: mas há quem não queira passar um cheque em branco. E muitos outros que desconfiam, não da falta de cobertura, mas da evidente cobertura nominativa. É mais do que gato escondido com o rabo de fora. É gatarrão preto bem visível.

Concluí: "Passos" Coelho é o grande vencedor da noite laranja. "Passou" a ter futuro, se falhar este cavaquismo sem Cavaco...

Mas o povo é quem mais ordena. Até reparei que Otelo apoia expressamente Isaltino de Morais...