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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.5.10

Da montanha que deu à luz mais um ratinho, depois de gémitos tremendos ajoelhados


O estado a que chegámos volta a parecer uma espécie de cão de guarda dos interesses, continuando a ser alimentado por impostos. Enquanto o povo não voltar a ser a principal das forças vivas, as castas que controlam e pressionam os donos do poder até mantêm a ilusão de domar a própria democracia.

Segundo nossa eminência, em portinhol falando, não há bloco central, mas apenas um "parceiro patriota e responsável" com quem quer "danzar el tango". Parafraseando Barroso, apenas peço que não nos deixem de "tanga". A bailados destes, não há cooperativa que resista, nem a da mula do Max, que este, ao menos, sempre nos dava o bailinho da Madeira...

Cavaco Silva acaba de ser colocado ao nível de Jorge Lacão. E ministro diz que lei não vetada, mas denunciada, é tão pioneira quanto o foi o diploma de 1867, que aboliu a pena de morte. Ambos glosam equívocos sons de Max Weber, que ficam sempre bem em discurso da Razão de Estado e que misturam ética com convicção e responsabilidade...

A subtil distinção weberiana, nas suas categorias originais, equipara a ética da responsabilidade a Maquiavel e a da convicção, ao que viria a ser Ghandi. Por outras palavras, presidente preferiu a salvação da cidade, ao que especulou sobre a salvação de sua alma, ainda a semana passada benzida e genuflectida. Por coisa idêntica a tal angústia, rei Balduíno da Bélgica abdicou temporariamente...

Invocando a circunstância da presente situação de emergência, redita como potencialmente explosiva, apenas emitiu grito de alma com geasto de pólvora seca, deixando que o respectivo eu submergisse e com muitos exemplos de direito comparado. Seria mais convicto tê-la emitido, não da montanha cheia de ratinhos suburbanos, mas antes, ou durante, a peregrinação de Bento XVI e sem subentendidos de aula de macro-economia.

Sobre a coisa promulgada, a minha alma diz que a matéria do casamento de homossexuais dever ser mesmo casamento de homossexuais com outro nome e não este exercício de abstracção e generalidade, bem construtivistas, ao meter num contrato o que, de acordo com o direito romano, bem antes do direito canónico, deveria ser uma instituição. Continuo a preferir soluções à inglesa, à sueca e à francesa!

Já quanto à convicção dos católicos, sugiro que assumam a autonomia do direito canónico, incluindo a dos tribunais eclesiásticos, repensando a concordata. Porque foi a confusão entre política e religião e certa religião com a sociedade que adiou aquilo que era há muito urgência de não-discriminação. O atraso talvez tenha gerado uma pouco pioneira pior emenda do que o soneto, ao contrário do que aconteceu em 1867.