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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.5.10

A lógica do Desportivo de Chaves, onde, além do Marão, não mandam os que lá estão


Os economistas fazem agora prognósticos depois do apito semifinal dos indicadores estatísticos do INE sobre o termos sido campeões do crescimento. Uns dizem que vem da reabertura da refinaria de Sines. Outros falam no aumento dos gastos do aparelho de Estado. E há até quem tudo explique com os saldos. Eis o drama das ciências exactas, as que consideram que só é científico aquilo que pode medir-se, "a posteriori"...

Os indicadores estatísticos da numerologia, e não as análises de Medina Carreira, consideradas as causas directas da nossa descida no "rating", vão abrilhantar a reunião de Sócrates com Passos, daqui a bocado. E vão começando a escorrer os pormenores. Esperemos para ver, já que não podemos votar. Até os representantes do povo na casa da democracia apenas o podem referendar...

A pátria das finanças públicas não pode ser discutida, a não ser pelos assessores de imprensa em acções de lóbis que uivem tremendismos de plano inclinado. Quem faltar ao respeito aos adjuntos do banqueiro Ricardo e do artista Berardo tem que ser processado por um qualquer inspector de segunda classe.

Hoje vai mesmo ser um dia Dê. De Papa em Fátima, porque não foi a Igreja que impôs Fátima, mas Fátima que se impôs à Igreja (Bento XVI "dixit"). De Sócrates com Passos, de conselho de ministros e do tal dia da semana em que o PM costuma ir a Belém.Vasco Lourenço pode dizer que o grupo que teve como porta-voz Jacinto Nunes é brigada do reumático só porque tem mais um do que o Grupo dos Nove...

Segundo testemunhos ex-ministeriais, Salazar raramente punha os ministros em plenário, apesar de se dizer "presidente do conselho". Como ele dizia, bastava ser ele com um ministro em singular para se acabar com essa maçada. Agora, Sócrates sozinho, com o conselho de Bruxelas, diz que o governo decidiu...

Espero que hoje, com Sócrates e Passos em emergência, não se substitua o próprio parlamento por ensaio de Bloco Central. Por menos do que isso se ridicularizou Manuela Ferreira Leite, com essa da suspensão da democracia. Foi por esta e outras, como o défice jubiloso da Madeira, que Sócrates não perdeu as eleições e que Passos conquistou o voto interno do PSD...

A chamada técnica do duche escocês (jacto de água quente do campeão do crescimento, hoje, soluções de emergência, amanhã), depois do banho turco (massagem a murro, pedra quente, muito fumo e tudo como dantes), têm a desvantagem do provisório definitivo ou do definitivo provisório, o tabaquito mata-ratos de antanho. Vale mais um mergulho nas águas vivas cá da costa, se soubermos flutuar...

Depois dos telefonemas de Barack para os gregos, Merkl e Zapatero, espero que não tenhamos em directo algumas de Suas Iminências com o telemóvel aberto nos telejornais, em curto-circuito com Washington, em parabéns pela vitória do Benfica, abraço a Madail e boa sorte para Carlos Queirós... Vale-nos que, como dizia Pinheiro de Azevedo, depois da fumaça provocatória do Carlos Antunes, "o povo é sereno, o povo é sereno"... Na altura, até o governo entrava em greve!

No centenário da implantação, a rainha de Londres, em nome do povo, voltou a governo conservador e liberal, assim demonstrando como usamos o relógio ao contrário enquanto, no parlamento, discutimos relatórios sobre o sexo dos anjos, com Constantinopla cercada pelos gregos, enquanto o deputado Ricardo ascende a supremo vigilante da nossa estimada segurança. Espero que não sejamos todos Desportivo de Chaves, indo ao final da taça, mas descendo da segunda para a terceira divisão.

As estatísticas são ciência que oculta o conceito geofinanceiro do novo directório da hierarquia das potências e ai de quem se fiou no casino das “slot machines”, do “enquanto o pai vai e vem folgam as costas”. Aqui e agora já nem sequer é o paralelograma das forças vivas, a que dávamos o nome de poder económico, que comanda a vida do poder político. Os jogos da partidocracia dominante são a roleta de uma fortuna que deu em azar.