a Sobre o tempo que passa: Depois da casa roubada, trancas na porta...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

17.5.10

Depois da casa roubada, trancas na porta...


Acabou o futebol, acabou fátima e vai-se trilhando o fado do desencanto. Soares elogia o sentido de Estado de Passos Coelho, Gilberto Madaíl volta a ser entrevistado, assim demonstrando como é directamente proporcional a Sócrates, na construção de estádios que elefantes brancos. E todos têm como herói Zeinal Bava, esse resistente.

Porque nem trabalhando ao domingo a comissão parlamentar de inquérito conseguiu demonstrar uma conspiração. Mesmo que esta tenha existido, não deixou rasto captável, a não ser pelo CSI. Como se tal não fosse uma parte visível de um derretido "iceberg" com que nos quiseram "zapaterizar", mas sem saberem tocar rabecão...

Os romances de cordel dos negociadores sem sono, por onde divagaram os agentes tecnocráticos da nossa cooperativa de gestores de um rotativismo de bonzos apenas demonstrou os tiques de vassalagem dos donos do poder e respectivos satélites...

Prefiro recordar as últimas denúncias de Saldanha Sanches, sobre os oposicionistas que se ensalivaram com as perspectivas de imediato acesso ao poder, sobre as redes de vassalagem e o sobre conúbio dos "papa-reformas"... Alguns até vão à televisão discursar sobre a autenticidade, sentados em cargos e cargos, com que acumulam prebendas e donde distribuem honrarias.

Os tratados firmados pelos náufragos deste "rebus sic stantibus", por menos tecnocráticos e por mais competentes que tenham sido os plenipotenciários apenas foram rascunho que outras canetas corrigiram, em nome de um guião iluminado pela cegueira dos controladores dos cordelinhos da hierarquia das potências da Europa...

Os mesmos que permitiram a casa roubada não sabem agora que trancas pôr na porta, apesar de terem posto um socialista francês no FMI e Constâncio a substituir o grego das estatísticas helénicas, como vice-presidente do condecorado Trichet. O problema está nos bastidores de Paris e de Berlim e nos que lhes dizem porreiro, porque não lhes deixam dizer mais nada.

O rolo compressor do politicamente correcto desta europeização criou um falso super-Estado europeu, onde os eurocratas, em defesa dos respectivos privilégios, movem processos inquisitoriais a todos quantos os criticam, impedindo que a Europa seja a necessária democracia de muitas democracias...

Os papa-reformas do Leviathan eurocrático são como os colaboracionistas de Napoleão e de Bismarck: usurparam o sonho e apenas sabem fazer contas de merceeiro. Não compreendem que o belo projecto que pode ir da ilha do Corvo a Vladivostoque não deve continuar com estes gestores do carreirismo e do neofeudalismo patrimonialista.