Buttiglione, homossexuais e União Europeia
Estou bem longe as concepções do mundo e da vida do Rocco Buttiglione. Mas fui dos primeiros a defendê-lo publicamente e por escrito. Não deixemos, pois, que os ditos "lobbies" de homossexuais nos desfoquem a tolerância. O(a)s "gays" e a(o)s "lesbians" têm o direito tanto à intimidade da vida privada, como até a um certo grau de protecção pública. Não podem é chamar-lhe o que tem o nome de coisas de outra área. Por exemplo a instituição civil de origem canónica chamada casamento. Não me repugna, pois, o tratamento protectivo e legalizado das uniões entre gentes de hábitos sexuais diferentes dos meus.
Se um ministro ou líder partidário for homossexual deve ser tratado como igual na sua diferença, mesmo que se assuma publicamente como tal, ou mesmo que o não queira revelar. E tenho bons amigos e excelentes exemplos de homossexuais assumidos. Que defenderei até ao extremo. O que os tais praticantes de hábitos sexuais minoritários não podem é invocar as doutrinas sociais dos que veneram Nossa Senhora de Fátima ou a doutrina social e familiar de Rocco Buttiglione e de João Paulo II. Porque, se o fizerem, hipocritamente, têm que admitir a criação de uma Liga de Defesa dos Heterossexuais.
Prefiro adoptar os recentes programas de protecção à família, conforme os exemplos institucionais dos países nórdicos. Logo, discordo totalmente dos que, para o efeito, invocam o chamado direito natural, com a ressonância do conceito emitido pela Universidade de Navarra. Desde os primeiros anos do século XVII, com Francisco Suárez, que o direito natural tem conteúdo variável. Natural não é o que vem da natureza, mas o que vem da razão, o que procura a perfeição, de acordo com o conceito grego de natureza. Direito natural é o mesmo que direito da razão. E o homem e a mulher quando casam, descasam, ou têm filhos e famílias, não o fazem como os restantes animais. Foi algo que, culturalmente, cultivámos sobre o cru do naturalístico. A família tradicional é uma bela criação cultural da humanidade.
Logo, a política de hábitos sexuais, famílias e filhos também tem conteúdo variável, para podermos efectivamente respeitar os valores fundamentais. Não quero a família vitoriana ou salazarista, ou a perspectiva oitocentista e novecentista sobre a sexualidade, onde até o adultério era crime e havia causa de justificação do homicídio praticado por masculinos contra femininos e acompanhantes em flagrante de adúltero. Quero que, acima de tudo, se defendam os homens concretos, o que passa por uma revolução no tratamento daquilo que de melhor tem a humanidade: a criação, os filhos, o amor entre seres humanos, inteiro. Aquele que nos permite libertar da lei da morte e semear o sonho de procurar o transcendente. Que os homossexuais disfarçados em bons costumes não rebentem a procura de um mundo melhor. E que não nos toldem uma visão liberal do processo.
Sou pai, talvez me dêem a glória de ser avô. E não posso permitir que um dos meus descendentes que tenha hábitos sexuais minoritários venha a ser desprotegido. Muito liberalmente, não contribuirei para essa procissão. Mas também não seguirei a respectiva bandeira. Nem oito, nem oitenta.
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