Uma luz ao fundo do buraquinho
Na meditação taoísta chega uma hora em que se atinge uma dimensão onde se encontra um buraquinho. Esse ponto é chamado de Orifício do Mistério ou Portal Negro: uma espécie de buraco negro, onde tudo nasce e onde tudo desaparece.
Porém, nós já sabíamos que um dos principais males de Portugal estava nos buracos, nos orçamentais, nas grutas, nas cavernas, nos túneis, em todos esses tipos de baixo nível que cedem ao peso das movimentações das terras. Porque há muitos que metem água e que, para taparem o sol com uma peneira, decidem esburacar o chão.
Cavaco ficou farto dos ministros que andavam atrás dos buracos de golfe. E entrou em tabu. Guterres, para além da queda da Ponte, teve o caso do túnel do Terreiro do Paço. E temendo o pântano, foi-se. Depois, Santana a todos nos fez sonhar com o Túnel do Marquês e lá nos continuámos a esburacar. Mas este ainda está. A furar. A furar-nos. Porque dentro das próprias coisas é que as coisas são. E a luz nos vem.
Todos nós podemos ficar um minuto em silêncio e nesse silêncio, tentarmos encontrar a quietude, a calma. Todos entendemos o que é o silêncio. E se entendemos é por que ele existe dentro de nós.
Agora é o túnel do Rossio, a fissura, a cabala, a detecção das "situações potenciais de risco"e a culpa a morrer solteira. Gonçalo Ribeiro Teles com essa dos rios subterrâneos não passa de um desses ecologistas que não compreende que o betão tudo sustenta, tudo veda, tudo vence. Hortas na Avenida da Liberdade! Moinhos de marés no Beato! Corredores verdes do Marquês para Monsanto! Arre... FIAT LUX!
O silêncio desse nosso mundo, dessa nossa dimensão, é o mesmo silêncio do outro mundo, de outra dimensão. Nosso universo possui infinitas dimensões que se interpenetram umas nas outras. O silêncio de todas as dimensões é o mesmo silêncio. O Vazio de todas as dimensões é o mesmo Vazio. A quietude de todas as dimensões é a mesma Quietude.
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