Cesteiro que faz um cesto...
Acabei de assistir em directo a um dos raros momentos de democracia que temos recentemente vivido em Portugal: a audição de Marcelo Rebelo de Sousa na Alta Autoridade para a Comunicação Social. Paes do Amaral vê assim o feitiço voltar-se contra o feiticeiro. Que outros falsos bombeiros caiam e sejam remetidos para uma adequada quinta das celebridades. E que não digam, como o patrão que foi do Independente e que o é da TVI, que não teve pressões do Governo, porque não fala com ele há mais de seis meses. Mas que as teve no tempo Cavaco Silva, que também com ele não falou, porque o antigo primeiro-ministro até disse há dias: "não conheço esse senhor". Zangam-se os compadres e os cunhados, e logo se descobrem as verdades!
Eis o primeiro passo de um caminho que se torna urgente, para se voltar à confiança pública. Esperemos que Marcelo tenha a coragem de homem livre e que chegue à própria auto-crítica. Este pode ser o começo de uma necessária operação mãos livres. Tal como a que nos libertou do gonçalvismo. E onde também já estava o Artur Portela. Porque o marxismo branco pode ser tão grave como era o vermelho. Este, ao menos, não era hipócrita nem dizia que Cristo não percebe nada de finanças, depois de um ministro pedir ajuda à Senhora de Fátima num caso de poluição na Galiza. Todas as pressões que não sejam enviadas com registo e aviso de recepção são coisas da maléfica política. Isto é, da que elevou os colaboradores da SOCI, Paulo Portas e Luís Nobre Guedes ao presente Olimpo ministerial.
A pressão manifestada, confessada e publicitada é mais um dos elementos de um longo e sinuoso processo de usurpação do poder que, tendo começado com o Partido do Semanário, teve como células degenerativas o Partido do Independente, o assalto ao CDS, o controlo da coligação que está no poder e, finalmente, como consequência, Pedro Santana Lopes como Primeiro Ministro e Paulo Portas como Ministro da Defesa. Cesteiro que faz um cesto pode encestar-nos a todos. Homens livres de Portugal, vamos a eles! Voltemos ao prazer da política sem os "inputs" da tecnocratice empresarial ou judicial. Vamos às acareações e, cumprindo a lei, talvez seja a altura de recordar que certas licenças quanto ao uso de um bem público, podem ser retiradas.
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