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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.10.04

Feitores, chicotes e cenouras



A mentalidade típica de certos efectivos donos do poder está em que, entre a teoria e a prática, tudo é teoricamente prático e tudo é praticamente teórico. Até porque, na prática a teoria é outra, como poderia ter dito Kant de Alcagaitas. Daí que importe ter o cuidado com certos discursos que falam em "poderosos interesses, ilegítimos e legítimos, que se opõem ao desenvolvimento" e que pedem a nossa "ajuda, porque vou passar por maus bocados... era mais fácil não mexer em certos interesses, mas vou mexer", só porque "a gente nova não é corruptível e quer uma sociedade melhor", até porque "não tenho dúvida que tenho a cabeça a prémio". Qualquer dia ainda convidam o Alves dos Reis para ser comentador permanente de matérias de corrupção em qualquer talcanal...





Mas, como pela boca morre o peixe e estamos na terra do sapateiro de Braga e de Frei Tomás, se uns logo observam que ou há moralidade ou comem todos, muitos outros logo reconhecem que bem pregas Frei Tomás. E olhando para aquilo que os ditos têm feito, os respectivos discursos transformam-se em autênticas bombas de desfragmentação com efeito retardado de "boomerang". Aguarda-se com grande expectativa a próxima conferência na Liga do Movimento dos Feitores dos Pobrezinhos e Plebeus, onde Zézé Castelo Branco se assumirá "Contra Cavaco e Marcelo, a Luta Continua", a transmitir em directo do recinto da quinta das celebridades, sem a presença do habitual burro, para não haver mais confusões do que aquela que já jericaram.




Ricaço tanto não gosta de discursos acintosamente anti-governamentais de Marcelo, como começa a temer propagandismos insultuosamente pró-governamentais de Delgado e seus apaniguados. Porque "in medio, virtus est". Nem tanto ao mar, como a Clara, nem tanto à terra, como o Clarim. Calma, calma, que assim não há negócios para ninguém e corremos o risco que comam todos. Que velho rico, mesmo rico, é discreto, não gosta de novos ricos, espalhafatosos. Muito menos de gestores de fortuna que dizem que são ricos. Chicote não pode ser exibido, mesmo que vigore o princípio, segundo o qual, enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Porque o pitrol está cada vez mais caro, talvez seja o tempo das cenouras e de alteração da foz dos financiamentos ...