Se dizem que ele é mau, tem de ser mesmo mau
Um ilustre jurisconsulto lusitano, cujas sapientes palavras, através das ondas hertzianas, penetraram, pelo som e pela imagem, na escuridão do meu pobre lar, acaba de declarar que, apesar de não conhecer Rocco Butiglione, sabe que a Itália poderá escolher comissários melhores, acrescentando, de forma ainda mais sábia, que sabe que ele que é mau porque dizem que ele é mesmo mau, apesar de não saber se o Rocco é mesmo mau. Mais certeza científica e serenidade analítica não poderia, na verdade, ser manifestada. Porque me recordo da única conferência que ouvi do ilustríssimo jurisconsulto, que foi a de uma gongórica defesa de uma das encíclicas papais, proferida num instituto democrata-cristão, quando o dito cujo era mesmo democrata-cristão e servia o então catedrático e líder, que, na altura, também era democrata-cristão. Se me dissesem que o ilustre jurisconsulto lusitano era mesmo mau, eu não procederia da mesma forma que o dito cujo. Não diria que ele era mesmo mau, porque duvidando, sempre vou existindo. Apenas sugeriria que ele se naturalizasse italiano e que, rapidamente e em força, Berlusconi o fizesse ascender ao posto buttiglioniano, porque este sapientíssimo substituto também tem pergaminhos democratíssimos e cristianíssimos.
Aconselhava, contudo, o em causa a consultar uma das rede católicas que por aí circulam e notaria que: Rocco Buttiglione, un comisario para Europa ( sin razones, en las manos de los políticamente correctos); Caso Buttiglione: El respeto a la diversidad queda en entredicho en Bruselas (entrevista a Giorgio Salina, vicepresidente de la Convención de Cristianos por Europa); Vetan la designación del Comisario italiano Butiglione ( por sus convicciones a favor de la vida y la familia); Rocco Buttiglione será comisario pese a las campañas en contra (el próximo presidente de la Comisión Europea, José Manuel Durao Barroso ha neutralizado los intentos de linchamiento político de Rocco Buttiglione, comisario europeo que se muestra coherente con sus propias convicciones éticas). Juro que não fui buscar as referênncias à casa do Padre Cruz.
Até lhe sugeriria a leitura de um comunicado do movimento Comunhão e Libertação de 13 de Outubro que o cónego João Seabra traduziu em português: "Em medicina fala-se de "sintomas de alerta" para indicar factos que assinalam o perigo iminente de uma epidemia ou de outras desordens patológicas. O chumbo por parte de um comité do parlamento europeu a Rocco Buttiglione, na qualidade de candidato italiano para preencher o cargo de comissário, parece um destes sintomas. Ao apresentar-se para assumir o cargo de comissário para a justiça e para a imigração, o Prof. Buttiglone afirmou ser católico e ser, coerentemente, contrário ao matrimónio gay e a uma ideia de feminilidade que não contemple o papel natural de mãe de família. Disse também que é este o seu pensamento e que os irá manter, com consciência e respeito pela possibilidade de que o parlamento europeu os não acolha. Não obstante esta última declaração, recebeu os votos contra". Não o aconselharia a seguir a táctica barrosal de estar com Deus e com o Diabo.
Para o jurisconsulto, e para outros universitários, deixo também o mais recente comunicado do movimento sobre a crise universitária: "L’università italiana sembra sprofondata in una grande confusione (la continua «riforma della riforma», si pensi all’imminente introduzione della “Y”; il tormentato meccanismo dei +2 che fatica a decollare; il ddl sullo stato giuridico dei docenti e la sospensione della didattica in tanti atenei, con il rischio che vada all’aria un intero semestre…). Per chi è entrato carico di attese come per chi ha vissuto questi ultimissimi anni sperando che le cose si assestassero è uno scenario francamente desolante, oltre che preoccupante. Coloro che a vario titolo avrebbero il compito di promuovere una crescita dell’università e guidarla in una direzione sicura – ministro, rettori, professori, politici – sembrano rinunciare ad assumersi un’effettiva responsabilità. Ognuno va per la sua strada, scaricando sugli altri le colpe. Ma se non ci si decide a fare sul serio, a intervenire e a investire, la confusione avanzerà e l’università entrerà in coma; e con essa, più presto di quanto si immagini, entrerà in coma l’intero paese. Noi, in questa terra che pare non appartenere a nessuno, ci siamo con il desiderio di imparare, con l’esigenza di ricercare il significato e la verità delle cose e di contribuire con quello che siamo a una costruzione comune. Vorremmo che questi anni fossero l’occasione di una risposta a tale tensione, da cui prende origine l’università stessa. Ma il nostro desiderio non basta. C’è bisogno di assumersi con urgenza l’onere di lavorare insieme a una soluzione realistica dei problemi e, soprattutto, di incontrare docenti che non si rifiutino alla responsabilità di comunicare quello che a loro è stato dato, che accettino di coinvolgersi con noi: l’avventura della conoscenza è un rapporto tra chi insegna e chi impara. Non permettiamo che l’università diventi «terra di nessuno». Salviamo l’università. Facendo ognuno la parte che gli spetta. A cominciare da noi".
<< Home