Mordomos, espiões, pescadores e constitucionalistas

A notável elevação dos títulos e factos que mexem connosco

Depois de uma noitada na FIL, onde fui ao beija-mão republicano, sem deixar de ser monárquico, e orgulhoso com o feito do dragão, abro os jornais da manhã, em dia de Nossa Senhora da Conceição, que já foi dia da mãe, e reparo como somos governados por chefes de gabinete, neste país de mordomos. Porque João Serra, chefe da Casa Civil de Jorge Sampaio, respondeu directamente a Pedro Santana Lopes: «Jamais o Presidente discute com o primeiro-ministro se dissolve ou não a Assembleia da República.» Porque Jorge Sampaio informou o primeiro-ministro, Santana Lopes, dos motivos da dissolução do Parlamento no encontro que ambos mantiveram a 30 de Novembro.

Mais grave é a hipótese de o FC Porto arriscar-se a descer de divisão e a perder o título de campeão nacional conquistado na época passada. Já a chefe de gabinete de Santana Lopes esclareceu que é a opinião pública que não sabe das razões que levaram à dissolução do parlamento. Ana Costa Almeida, a controladora da sesta, reforçou ainda que Santana Lopes saiu do primeiro encontro com Sampaio com a convição de que não ia haver dissolução.


Continuam, com êxito fundacional, as fitas de origem macaense

Divertida é a roupa suja da espionite e tem muita razão o PS quando considera que a substituição do director-geral adjunto do Serviço de Informação e Segurança (SIS) levanta uma suspeita de violação da neutralidade e partidarização dos serviços secretos. O PCP concorda e considera esta medida governamental «ilegítima». Morais Sarmento diz que o nomeado é militar para não haver golpadas de juízos subjectivos. Por isso Jorge Sampaio diz que é necessário ter «nervos fortes». Presidente fará na sexta-feira uma comunicação ao País para explicar decisão.


Nem Bush consegue topar o que se passa no pensamento político lusitano, apesar da espadeirada

Tudo se reduz a uma questão de uvas, vindimas e mosto. Porque o ex-Presidente da República Mário Soares afirmou ontem à noite que o país "vai mal", mas apelou aos portugueses para fazerem frente ao mau tempo com coragem e terem "esperança nas safras" das próximas gerações. O primeiro-ministro ainda não decidiu se quer um acordo pré-eleitoral com o CDS. Disse-o o próprio Santana, anteontem à noite. A indecisão continuava ontem a ser assumida por dirigentes sociais-democratas, enquanto no CDS continuam, com uma série de respostas preparadas, à espera de uma proposta de início de negociações, que Santana já disse que não será formal. E Portas lá vai dizendo: "sei exactamente o que vou fazer, mas também aqui quero marcar a diferença. Primeiro vou ouvir o Presidente da República e, no minuto seguinte, digo-lhe o que o CDS quer, como é que vai"

Mas já quase todos calam a épica postura do nosso Ministro do Mar. Porque a Comissão Europeia reduz em quase um terço os dias de faina das embarcações portuguesas que se dedicam à captura de pescada e lagostim. No âmbito da proposta de quotas de captura para 2005, Bruxelas aprova que o número de dias de faina passe dos actuais 27/28 para apenas 20 dias por mês. O objectivo é reduzir a pressão de captura sobre espécies cujos "stocks" estão ameaçados.


Um dos eutanásicos destinos deste nobe povo de heróis do mar...

Entretanto, uma mulher britânica trava uma batalha legal em Inglaterra para se deslocar à Suíça, onde a lei permite a eutanásia. E este belo exemplo, talvez possa ser seguido por toda uma colectividade, mas não me parece que caibamos todos no quintal helvético. Sugiro a Amazónia e o suicídio com biqueirões, lagostins e camarões armados de cicuta. Também se fica a saber que, segundo o Jornal "Financial Times", os britânicos apenas terão de responder à pergunta: "O Reino Unido deve ou não aprovar o Tratado que cria a Constituição Europeia?". Portugal continua a ser o país da União Europeia com mais constitucionalistas "per capita". E também temos mais dias de sol e, infelizmente, mais dias de pesca. Venham as borrascas!