O povo votou na democracia e nos jardineiros de Portugal. De M. Teresa Bracinha Vieira
O que afinal eles não sabiam, nem sonhavam é que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança, mesmo no século XXI, mesmo em 2005, mesmo no Tempoquepassa, e sobretudo, porque a intuição do poeta é intemporal e com ele se não mede a força.
E porque hoje foi um Domingo que gritou o extenuado cansaço de um povo, há, contudo, dentro deste dia, um renovar-se de esperanças quando se inicia um novo tempo de incertezas.
Mas o povo saiu à rua e votou na democracia.
E há uma fome intensa de verdade e de justiça, e há uma urgência que a vida não volte a tardar, por se encontrar presa na panóplia das mãos que não medem consequências na utilização desbragada, de um arame farpado que já se julgava derrubado na memória dos tempos.
Que ninguém ouse trair a confiança que hoje se depositou nos homens e mulheres de bem deste país; pertençam a que ideologia pertençam. Este o verdadeiro alarme que no dia de hoje o povo quis transmitir, inequivocamente, num silêncio de raiz, numa mão cheia de pátria e de protesto.
A todos competirá um esforço que nem a todos é legítimo exigir. Muitos foram os que já sofreram demasiado e ainda assim, encontraram a réstia de oxigénio que os levou a dar força aos passos que os levaram até às urnas do voto. Até ao espaço em que ainda alguém é alguém, se acreditar na democracia como o grão que não esgota alternativas.
Que “aquilo” que ainda vamos chamando direita e esquerda política, se desdobre em verdadeiros percursos de preocupação social e humanitária.
Que possa a política demonstrar que dará voz a quem a não tem ainda suficiente para se fazer ouvir.
Que se aprenda que maioria absoluta, em política, deverá ser, tão só, mais uma vizinha serena no escutar da alma de cada Ser.
No Tempoquepassa, tentou-se por consciência e dever cívico que as palavras furassem solidões, e denunciassem que a lealdade ao dia que a todos foi prometido, se cumprisse numa batalha de diálogo que honrasse o olhar de cada um. E esse dia, sempre se aguardou que se iniciasse a qualquer minuto a partir do cerne do Ser.
Surge um tempo novo ou a hipótese desse tempo. Que a hora esperada não repita a dor que rói tudo quanto é igual.
Que haja vida que a outros possa ser legada, vinda dos jardineiros, inventores dos jardins de Portugal.
M. Teresa Bracinha Vieira
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