Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...
• Bicadas recentes
Estes "breves aforismos conspiradores, sofridos neste exílio interno, lá para os lados de São Julião da Ericeira, de costas para a Corte e com os sonhos postos no Atlântico..." começaram a ser editados em Setembro de 2004, retomando o blogue "Pela Santa Liberdade", nascido em Maio de 2003, por quem sempre se assumiu como "um tradicionalista que detesta os reaccionários", e que "para ser de direita, tem de assumir-se como um radical do centro. Um liberal liberdadeiro deve ser libertacionista para servir a justiça. Tal como um nacionalista que assuma a armilar tem de ser mais universalista do que soberanista". Passam, depois, a assumir-se como "Postais conspiradores, emitidos da praia da Junqueira, no antigo município de Belém, de que foi presidente da câmara Alexandre Herculano, ainda de costas para a Corte e com os sonhos postos no Atlântico, nesta varanda voltada para o Tejo". Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
Este portal é pago pela minha bolsa privada e visa apenas ajudar os meus aluno. Não tive, nem pedi, qualquer ajuda à subsidiocracia europeia ou estatal
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A política pós-moderna e nova visão de Portugal vista do pantanal
Leio no "Correio da Manhã" que "entre os cartazes da campanha de Manuel Maria Carrilho à Câmara de Lisboa, que o PS fez afixar por toda a cidade, alguns, como este em Sete Rios, mostram o Parque Eduardo VII, o rio em fundo e as célebres colinas de Lisboa... trocadas de lugar (Castelo à direita e Bairro Alto à esquerda, o mesmo sucedendo com os edifícios do Hotel Fénix e Diário de Notícias, quando a realidade é oposta)". Logo, não posso deixar de louvar essa forma audaz de desconstruir a realidade, mudando o estrutural, para que a conjuntura finja mudar e as esperanças passem a ser conjugadas de acordo com os ritmos pós-modernos. E reparo noutro tópico noticioso que comanda o dia de hoje: "Isaltino espera ajuda do PS na corrida a Oeiras". Sorrio e espero o próximo comentário da Pasionaria de Mendes, a Paulinha de negro vestida, como ontem apareceu na SIC-Notícias, contra o azul celeste da Maria de Belém...
Em seguida, visito o chamado "Portal do Governo", tentando saber em que país efectivamente vivo e deparo com estes mimos ainda não pós-modernos: Nome oficial - República Portuguesa (Mentira! A primeira palavra da Constituição é Portugal). Fundação da Nacionalidade - 1143 (Mentira! A nossa autodeterminação data de 1140! Castela e o Papa ainda não mandam cá dentro!) Instauração da República - 1910 (Deviam meter coisas bem mais profundas, optando entre 1820 e 1974...) Sistema Político - democracia (Deviam dar um pedacinho mais de especificidade...mais de 95% dos países do mundo podem meter tal coisa, incluindo o Vaticano, por causa do conclave) Símbolos Nacionais - Bandeira Nacional e Hino Nacional (Querem coisa mais de chefe de repartição? Que tal falar na armilar e nas quinas?) Língua - português (existem também duas pequenas áreas onde se falam mirandês (derivado do asturo-leonês) e barranquenho. O português é ainda língua oficial noutros sete países e é falado por mais de 200 milhões de pessoas (Camões e Pessoa, apesar de não serem pós-modernos, dariam mais sal à coisa...)
Reclamo um pedacinho mais de imaginação criadora. Sugiram que Carrilho dê um retoque pós-moderno ao mapa, à imagem do que publicámos supra, e que encarreguem Manuel Alegre de traduzir a coisa em português imaginativo. Não façam apenas uma "tradução em calão" do livrinho de bolso que o meu amigo Guilherme d'Oliveira Martins publicou em checo, para propagandear a nossa Constituição...
Leio na habitual crónica de Henrique Neto, no Diário de Leiria de hoje, este interessante naco de prosa: "José Sócrates maneja como ninguém as medidas de diversão, sendo essa qualidade uma das razões para o seu sucesso na política, de que resulta não ser fácil conhecer as suas verdadeiras intenções. Acontece que há dias alguém me explicou que essa sabedoria tem no Brasil um nome, chamam-lhe o “paradigma do boi piranha”, porque, quando os vaqueiros pretendem atravessar com a manada um rio infestado de piranhas, lançam ao local um boi velho, ou doente, para ser devorado e, ao mesmo tempo, a manada pode passar ao lado sem ser incomodada."
Divirto-me também a ler que Luís Marques Mendes, presidente da assembleia municipal de Oeiras, pela lista de Isaltino Morais, e antigo dono da Universidade Atlântica, pela mão de Isaltino Morais, considera que o ex-presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, que está a ser investigado por alegada fuga ao fisco, não tem condições políticas para concorrer de novo à Câmara de Oeiras. O autarca Marques Mendes aconselhou ontem o seu outrora amigo e empregador a "reconsiderar" a sua candidatura. Tão companheiros, co-partidários, co-intelectuais, co-universitários e co-vizinhos que eles eram, em nova fábula do boi piranha. Consta que o PS, procurando finalmente atravessar o rio da vitória eleitoral em Oeiras, vai candidatar o oeirense Jorge Coelho que assim deverá abandonar a projectada candidatura à assembleia municipal de Sintra. Vale-me que passei a ter a residência eleitoral em Lisboa. Sugiro que Marques Mendes, num golpe de mestre, vá à Aveiro buscar um candidato para Oeiras. Até pode ser aquele nomeado secretário de Estado do PSD que afinal era militante do PS e que também não conseguiu nomear, de forma institucional, como reitor da Universidade Atlântica. Seria o clímax do Bloco Central e até poderia também ser o candidato do PS. Assim, se atravessaria melhor o rio, a caminho do Bugio, por um canudo... de Fafe, posto numa varanda de Caxias.
Já depois do lançamento deste postal, verifiquei que pode ler-se o seguinte da primeira página do "Expresso": "O PS está a testar nomes quase desconhecidos para a Câmara de Oeiras. E Isaltino Morais disse a dirigentes do PSD que contava com a garantia de Jorge Coelho de que os socialistas não apresentariam um candidato forte se ele se candidatasse. Elsa Pais, Helena Torres Marques e Emanuel Martins são os nomes propostos pelo PS numa sondagem encomendada por Coelho que está a ser realizada - e que contempla todos os cenários: Isaltino concorrendo pelo PSD ou como independente, e Teresa Zambujo pelo PSD". Ao que consta não foram sondados pelo PS os últimos polícias sinaleiros que residem em Lisboa. Por outras palavras, repete-se, de forma categórica, a barganha rotativa que marcava as relações entre progressistas e regeneradores nos tempos crepusculares da monarquia liberal.
Na minha escola, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, a lista da oposição, onde orgulhosamente me integrava, acaba de vencer as eleições, iniciando-se certamente um novo ciclo, de ruptura tranquila face a uma continuidade situacionista que durava desde o começo dos anos sessenta do século passado. Afinal, mesmo num ambiente dominado por uma ampla zona de professores convidados pela direcção cessante, a coligação oposicionista, que obteve cerca de 60%, conseguiu vencer as tradicionais adversidades de um poder cansado e alterar pela via eleitoral uma rotina quase endogâmica.
Vai voltar a valer a pena reinventar a escola, com liberdade e justiça, abrindo janelas, limpando teias e tirando trancas das portas. A lista vencedora indicará para a presidência do Conselho Directivo, o Professor Doutor João Faria Bilhim. A lista derrotada, apoiada pelo modelo rotineiro da escola, apresentava, como elementos de destaque, um antigo assessor de Cavaco Silva, vários activistas do Partido Social-Democrata e do Partido Popular, um antigo administrador da Universidade Internacional, bem como um conhecido nome do PCP.
Há um bom par de anos, num certo congresso do CDS, partido que, aliás, eu já tinha abandonado, realizava-se um congresso que tinha como missão eleger um sucessor de Diogo Freitas do Amaral, na sua segunda vida de presidente de tal partido. Concorriam, de um lado, Basílio Horta, apoiado por Telmo Correia e por muitos que há dias elegeram Ribeiro e Castro, incluindo Manuel Machado e eu próprio, enquanto, do outro, estava o jovem Manuel Monteiro. Na organização do congresso estava João Baptista Pereira Neto, ao serviço desse cúmulo da isenção e da imparcialidade chamado Adriano Moreira. A maioria dos congressistas tinha a orelha marcada pela dupla Neto-Moreira, mas as coisas tinham sido invertidas no decorrer dos trabalhos. Eis senão quando, no fim das discussões, todos são convocado pelo Isento Mor para dele ouvirem um discurso ainda mais isento, de apoio a quem se opunha a Horta, quebrando o ritmo do que deviam ser eleições livres, justas e leais. Assim, um duvidoso histórico, preparava o nascimento daquilo que viria a ser, infelizmente, o chamado Partido Popular, a que nunca pertenci.
No ISCSP, por acaso, o presidente da comissão organizadora destas eleições era, mais uma vez, João Baptista Pereira Neto. E, ao fim da tarde, por todo o edifício, as pessoas eram convocadas para assistir a uma conferência de Adriano Moreira. Isento e imparcial. Em plenas eleições pouco livres, pouco justas e pouco leais. Desta, o acaso fez com que o mesmo grupo, noutro sítio, com outro espírito, tivesse perdido. Até porque o nome comunista mobilizado constituía uma marca perseguidora do nome Luís Viana de Sá no interior do PCP. O mesmo Luís Viana de Sá que os promotores da lista em causa tinham afastado do lugar universitário a que tinha direito, por ser comunista. E nem sequer chegou o todos terem recebido em casa, com um sobrescrito oficial, emitido pelos serviços oficiais, da República Portuguesa, uma carta particular, promovendo uma homenagem particular ao principal promotor da lista derrotada que, por acaso, era o principal mandador da lista situacionista.
Nesse mesmo dia, já depois de se saberem os resultados, recebi um curioso "mail" de um dos citados, mas por outras razões, onde, por acaso, podia ler-se "Caro José Adelino. Acuso a recepção de dois emails seus. Responder-lhes-ei, por ordem de entrada.Um abraço". Logo respondi: "Caro X. Acuso a recepção do seu mail. Nem sequer precisa de me responder. Um abraço". João Baptista Pereira Neto não foi eleito, desta, presidente do Congresso. Também já não podia concorrer. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Todo o tempo é feito de mudança, como se a oposição tivesso vencido as eleições de 1973, candidatando Quintão Meireles ou Humberto Delgado que, por acaso, não tinha sido assassinado por esbirros do situacionismo em 1965. E também podem ser consultados os magníficos textos de algumas figuras morais, comuns aos dois regimes, sobre o evento, sempre em defesa dos direitos do homem.
"Homo partidarius", "homo sectarius" e "homo institutionalis"
Às vezes o "homo institutionalis", isto é, o que deve cumprir uma ideia de obra, o que tem o prazer da relações de comunhão e o que obedece a regras processuais, entra em conflito com o "homo sectarius", quando os agitadores dos fantasmas do "homo partidarius" consideram que os excêntricos devem passar à categoria de "inimicus", só porque não alinham no unidimensionalismo louvaminheiro que se reproduz em silogismos propagandísticos e exorcismos inquisitoriais. Malhas que a nossa educação continua a tecer.
Sempre preferi estar de acordo comigo mesmo, ainda que, momentaneamente, pudesse parecer discordar com todos os outros e remetendo-me para a minoria, às vezes, constituída pela minha própria pessoa. Sempre rejeitei ceder à técnica do velho maquiavelismo que tenta instrumentalizar os excêntricos, pondo-os uns contra os outros, para que resulte o "divide et impera", coisa que aprendi pela experimentação sofrida com a politiqueirice lusitana, plena de tacticismos sem estratégia, gerida por alguns que, num dia, mandam morrer soldadinhos, fiéis ou jagunços, para, no "day after" à derrota, se passarem para o vencedor, ultrapassando assim a própria desvergonha do pilatismo.
Sempre assumi o risco de, não sendo vice-rei, ficar de mal com el-rei por amor dos homens e de mal com os homens com amor de el-rei, até porque, muitas vezes, me engano, errando, e, outras tantas, tenho dúvidas, típicas de bicho intelectual. Contudo, tento não me enfileirar no conceito de "prima dona", entre aquela que anda sempre em bicos de pé e a sua irmã-inimiga, a que anda sempre de pé atrás, pensando que, ao não sujar as mãos nos compromissos, se podem escoucear os outros, eternamente. Não sou "homo partidarius", mas sou militante, especialmente de causas, e quase sempre das perdidas.
Tudo isto para comunicar aos meus queridos leitores que, no mesmo dia em que aqui elogiei um líder político de uma organização a que estava ligado, imediatamente formalizei a minha desvinculação da mesma, concretizando processualmente o que, já antes, tinha substancialmente assumido e manifestado. Para bons entendedores, aqui fica a coisa sem meias palavras.
Basta comparar os princípios dos actos fundadores com os princípios dos actos refundadores de tal instituição, para se concluir que a identidade talvez não se consolide apenas pela via da personalização do poder, mudando o texto, mesmo quando a mesma pessoa que o assume é uma excelente pessoa com os seus princípios, doutrinas e valores, bem como as suas interpretações desses princípios, doutrinas e valores, de acordo com o contexto. E até quando essa pessoa chegou a indicar a minha pessoa como alternativa liderante que ele apoiaria. Sobretudo, a partir de então. Já chega de mediacracia de parangona, com o contexto a comandar o texto.
A minha interpretação dos subsolos filosóficos, das raízes axiológicas e das barricadas de combate apenas me diz que não fui nem irei por aí, mesmo que não vá, por enquanto, para nenhum lado. Assumo o risco de, quotidiamente, combater por ideias políticas e julgo que, apesar de tudo, não ando ao sabor de ventos alheios à minha autonomia. Mas sem acusar os outros de não terem uma concepção própria de autonomia, arquitectura moral ou dignidade política.
Com isto não quero exercitar aquela literatura de justificação dos que, quando a relação institucional se extingue, dizem, aos que ficaram, ou aos que, depois, vêm a aderir, que aquele que sai é que era o padrão do bem e da verdade, nomeadamente quando qualificam os ex-companheiros como mais à direita ou mais à esquerda, mais ao extremo ou mais ao centro, conforme a diabolização em voga, nos dicionários comunicativos do politicamente correcto, incluindo o que se titula como politicamente incorrecto. Sobre tais sacristanices, nada direi.
Até, porque, ao contrário do que muitos disseram, nunca, de mim, emergiu qualquer acto de criador do nome ou da declaração de princípios do acto genético da organização, ou dos respectivos programas eleitorais, com que, naturalmente, concordei e os quais servi como simples soldado que nunca nada pediu, dado que foi o colectivo que, institucionalmente, me colocou nas marcas da fronteira, longe dos calculismos da Corte, com os seus filhos e enteados, e das eventuais imaginações delirantes dos que esperavam migalhitas de poder. Mesmo quando pareceu que estava nessas posições, apenas as ocupei por desistência de outros escolhidos e com a declaração solene de passar o eventual lugar para quem me seguia na fila, como todos os que viveram tais acontecimentos podem comprovar. Mas, dos derrotados, não costuma rezar a história escrita pelas vencedores. Pelo menos, até ao dia da libertação.
PIDE/DGS colaborou com os capitães de Abril e outros segredos da Razão do Golpe
Depois de José Mateus nos revelar que os norte-americanos deram a sua ajuda ao golpe de Estado do 25 de Abril de 1974, um dos implicados no movimento confessa o que há muito já se sabia, nomeadamente quanto ao perfil do próprio Costa Gomes, que, antes e depois de Abril, nunca renunciou à colaboração tecnocrática dos técnicos da "intelligence", fosse qual fosse a origem, de São José Lopes ao KGB, passando pela própria CIA, utilizando a técnica clássica de ler a informação ultraconfidencial numa folha de A4, para, depois, queimá-la, dado que preferia o arquivo da sua cabecinha. Basta ler o magnífico jornal "on line" de Alcobaça, "Tinta Fresca", dirigido por Mário Lopes:
"O coronel Sebastião Goulão, um dos capitães envolvidos no movimento do 25 de Abril, afirmou, durante um colóquio realizado na Escola Secundária D. Inês de Castro de Alcobaça, que o movimento dos capitães contou com apoios dentro da PIDE/DGS, os quais impediram que as informações sobre a preparação da revolução chegassem às chefias da polícia política e ao Governo. A confissão foi feita no dia 20 de Abril, numa sessão dedicada a estudantes do 12º ano que contou com a presença de Iva Delgado, filha do general Humberto Delgado."
"Sebastião defende que o movimento do 25 de Novembro, liderado por Ramalho Eanes, teve o condão de repor a pureza do 25 de Abril. Outra das vantagens deste golpe militar foi recolocar os militares nos quartéis, evitando assim que pequenos grupos de populares pudessem provocar desacatos políticos, com o apoio das armas dos militares."
"Relativamente à recente descoberta de alegadas listas de agentes da Polícia Internacional para a Defesa do Estado/Direcção Geral de Segurança (PIDE/DGS), Sebastião Goulão manifesta-se contra a sua revelação pública, passados que foram 31 anos após a Revolução dos Cravos, por ir reabrir feridas há muito saradas. "
Quem contactou o modelo de Razão de Estado seguido pela geração dos Costa Gomes, no que era acompanhado por outros generais especialistas em "informações" e por vários professores catedráticos treinados em tais formas de trituração mental, pode confirmar que, desses ínvios processos do realismo político, raramente ficaram registos em papel ou noutros suportes domésticos. O essencial é apenas consumível pelos neurónios e morre com eles, pelo só os que receberam testemunhos orais o conseguem retratar.
Apenas esperamos que tenham ficado rastos da coisa nos grandes sistemas de Washington, Paris e Moscovo, onde estão reservadas grandes surpresas para certas fabricações de imagem levadas a cabo por pretensos patriotas lusitanos, nomeadamente os que mandaram soldadinhos morrer nas areias dos sucessivos feitiços de império. Alguns deles já devem estar bem arrependidos por me terem confiado certos segredos, pensando que eu seria recrutável para super-espião desse maquiavelismo pintado de grandes tiradas conceituais. Só que eu fui guardando e testando experimentalmente todas essas memórias. E revelá-las-ei em tempo, quando os sistemas de perseguição que continuam a manter em plena democracia permitirem que a verdade possa ser tratada cientificamente e universitariamente, para serviço do bem comum, longe das teias realmente feudais e falsamente carismáticas que continuam a enevoar a necessária legitimidade racional-normativa.
Para os devidos efeitos, comunico aos meus estimados leitores que formalizei hoje a minha saída definitiva da condição de eleitor do concelho de Oeiras, dado que transferi o meu domicílio capitaleiro para o velho concelho de Belém, lá para os lados da Rua da Junqueira. Não o faço devido à eventual candidatura de Isaltino de Morais como independente, nem porque me tenha entusiasmado com a emergência de Manuel Maria Carrilho, mas tão só porque encontrei, finalmente, uma varanda diante desse rio que passa na nossa aldeia, a que dão o nome de Tejo, nessa praia que sempre foi partida. Assim mobilizado por estes belos assuntos do quotidiano, atenuarei o meu ímpeto blogueiro durante alguns dias, com algumas visitas à Loja do Cidadão e a consulta de empresas de mudanças, em sentido literal. Mais acrescento que, graças à generosa lei das rendas em vigor, que conserva o ritmo da emitida em 1916, o inquilino a que sucedi mantinha o contrato de 1910...
Não interpretem, pois, alguns dos meus silêncios como qualquer tipo de metáfora política. Pelo contrário, desencadearei imediatamente um movimento para a restauração do concelho que teve como presidente o meu querido Alexandre Herculano, quando, em pleno século XIX, Lisboa tinha uma estrutura administrativa mais próxima daquela que hoje tem Paris, mas que o esquema viciado da micropartidocracia impede que seja sequer visualizado pelos ilustres administrativistas e reformadores do sistema político. Sugiro que os meus amigos António Costa e Eduardo Cabrita reparem na necessidade urgente de tanto sermos regionalistas e federalistas para cima como para baixo, reinventando os espaços vicinais das novas formas de convívio urbano.
Proponho portanto, deste meu canto da Junqueira, junto ao Palácio de Belém, que se liquide a junta metropolitana, restaurando o governo regional do Senado de Lisboa, entendido como federação de pequenos municípios, de maneira a acabarmos até com as artificiais fronteiras que nos separam de Oeiras, da Amadora, Sintra ou de Loures, criando uma nova dinâmica adequada à efectiva circulação das pessoas. Desta maneira, não teríamos que observar a disputa de Seara e Soares em Sintra, libertaríamos Marques Mendes do incómodo de ter que escolher a Zambujo contra Isaltino e entraríamos num modelo próximo às grandes urbes europeias de hoje que, por acaso, se aproximam muito do que vem na história da velha Lisboa, antes de traduzirmos em calão o direito administrativo do jacobinismo francês que nem a Gália já segue.
Alguns dos meus postais sobre o recente congresso do CDS e aquilo que, livremente, sugeri sobre a postura do PND causaram inevitável polémica em várias zonas da blogosfera. À mais brejeiras, decidi responder por "mail", sem rancor, à política, com resposta política, mas faltou-me acrescentar uma postura de honra, face a certos equívocos. Posso discordar politicamente do meu companheiro de luta e amigo Manuel Monteiro e seria cobarde fazê-lo só porque ele foi derrotado pelas circunstâncias. E se lhe faltei ao respeito, peço-lhe públicas desculpas. O Manel, para quem o conhece é um animal de honra, antes de ser um animal político. E até tem a humildade de reconhecer erros cometidos.
Nunca o acompanhei na aventura do Partido Popular, mas vivi com ele o lançamento do projecto político do Partido da Nova Democracia, depois de um pacto de cavalheiros, onde sempre dissemos um ao outro o que pensámos, naquilo que, na primeira conversa sobre a matéria estabelecemos. Sempre defendi a regionalização, contra o que ele pensa; sempre defendi a descriminalização da IVG, contra o que ele combate; sempre lhe disse que era nacionalista e federalista, em matéria europeia, contra o nacionalismo soberanista que ele assume. De resto, quase sempre acordo, mas com divergências que, mesmo antes das legislativas, se agravaram.
Sou co-autor de uma longa e inequívoca análise das divergências que, por enquanto, não posso divulgar, pelo acordo de cavalheiros estabelecido. Nesse documento se contêm as razões que me levaram a não participar na Convenção da Nova Democracia e ele foi o seu primeiro leitor. Não julgo que tenha sido curial a atitude de alguns mais maneleiros que o Manuel Monteiro e reagi vivamente, ao mesmo tempo que apontei uma possível via de humildade estratégica, a que chamei "paz dos bravos", dizendo que nela não participaria. Mais nada.
Com isto não lhe quis faltar ao respeito que merece e se o fiz peço públicas desculpas. E declaro que se o Manuel Monteiro abandonou dolorosamente o CDS, onde é histórico, e o PP, que fundou, fê-lo em nome de claros e inequívocos princípios, isto é, de valores e crenças, de doutrinas e ponderadas análises. Nunca por causa do poder pelo poder. Ser-lhe-ia, aliás, bastante fácil aguentar e ter paciência, esperando que o fruto caísse de pôdre, numa atitude maquiavélica. Ou, então, aceitar um asilo dourado ou um alto tacho de Estado, como lhe foi oferecido, tanto pelo Partido Socialista como pela própria direcção de Paulo Portas para o silenciar. E Monteiro teve a coragem de querer viver como pensava, de ir à luta e de contar os votos. Foi traído muitas vezes e nunca o vi trair. Foi alvo de tentativas de compra e nunca o vi ceder. É, sem dúvida, dos melhores e provados valores da política portuguesa.
Com isto, não quero dizer que não o possa criticar. Fi-lo, por dentro, institucionalmente, e tenho-o feito aqui, não contra ele, mas a favor de princípios e sentindo, talvez erradamente, confesso-o, que chegou a hora das grandes decisões. Não só as dele mas também as de quem também queira sentir que estamos numa encruzilhada, onde há caminhos de convergência e de divergência. E eu sinto, particularmente, que nem todos os liberais são neoliberais e que nem todos os democratas-cristãos são tolerantes, tal como nem todos os conservadores são imobilistas. Julgo ser inequívoca a minha postura e já o proclamei sem mesuras. Mas não disfarçarei as divergências, desrespeitando quem o não merece. Mas chegou para mim o momento de dizer que não vou por aí. Propus um caminho que não foi aceite, submeti-me para sobrevivermos institucionalmente, lutarei para continuar a viver. Nunca me arrependerei de continuar amigo de Manuel Monteiro. Não tenho que regressar ao Partido Popular e a minha relação com o CDS sofreu de prescrição extintiva, ainda antes da queda do Muro. E ninguém como eu se banha duas vezes nas águas do mesmo rio.
A loucura dos "talibans" europeístas e a sabedoria de alguns dos nossos professores de democracia
Faria bem a qualquer desses "talibans" do pretenso europeísmo, aos que confundem a coisa com o seguidismo face à dita Constituição Europeia, para defenderem o emprego eurocrático ou para se situarem na fila rebanhal do partidarismo supranacional, que fosse meditada a voz sensata de António Barbosa de Melo de de António Almeida Santos, dois antigos presidentes do nosso parlamento, na TSF de hoje, comemorando Abril. O primeiro foi veemente ao considerar que o dito texto estava "abaixo da racionalidade europeia" e que se o mesmo documento não passar "arranja-se outra coisa melhor", denunciando a virulência chiraquiana da ameaça do tudo ou do seu nada. Já o segundo também se manifestou contra a hipótese de referendarmos um texto com centenas de artigos.
O meu querido amigo e mestre Barbosa de Melo, a quem devo muito de quem sou, porque soube apoiar-me quando a virulência da mentira e da infâmia pintavam de negro quem era branco, sempre foi tão modesto e austero na sua sabedoria que, respeitando as exigências do "cursus honorum" da vida universitária, renunciou a cumprir aquilo que merecia. Mas não é por isso que deixa de ser o professor dos professores. E se eu mandasse proporia uma lei não geral e não abstracta que lhe desse essa categoria de máximo, no activismo universitário.
Já Almeida Santos é mestre insigne nessa raiz da democracia a que se chama palavra em conversa, de acordo com a velha definição de Aristóteles, segundo o qual o "zoon politikon" sempre foi um animal de "logos", isto é, animal de discurso, numa etimologia que muitos confundem com o animal racional, do estreito racionalismo geométrico. É pela palavra que aprendemos a viver-com e a prender-com, a conviver e a compreender, e sem discurso, sem palramento não há parlamento. Ele é, sem dúvida, o mestre dos conversadores pedagógicos da nossa democracia.
Com que gosto, eu ouvi estes meus queridos professores de democracia, feitos de convicção e qualidade, de honra e inteligência. Já outros, que usam e abusam da categoria do "ausente-presente", seria bom que não usurpassem, pelo abuso mediático, a função do senador, contribuindo para o desprestígio da sabedoria, dado que, como gerontes intervencionistas, viciados em protagonismo sem recato, continuam a misturar a ideia decadente de "brigada do reumático" com o activismo histérico do MRPP.