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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.11.07

Sempre contra o estatismo e o soberanismo, filhos do terrorismo absolutista da razão não complexa


Ontem, não me escrevi neste blogue. Entre coisas do ofício diário de professor, onde meditei sobre o principal problema político contemporâneo, o vazio de "polis" global e de mundiólogos, tive a honra de ser convidado pela Associação Sindical dos Magistrados Judiciais para moderar um colóquio na Faculdade de Direito de Lisboa, sobre os cem anos de uma reforma de João Franco, num painel participado por Nogueira de Brito, António Araújo e Luís Bigotte Chorão.
A Faculdade estava de luto contra a a aplicação da bolonhesa, talvez por ter sido pioneira nos métodos de avaliação contínua, agora obrigados a retroacção, em nome do rolo compressor da generalidade, assumido pelo conceito gaguista de "desenvolvimento científico", para gáudio de umas linhas para o discurso do Primeiro-Ministro sobre uma floresta que não consegue que pela diversidade se atinja a unidade, ofendendo tanto o pluralismo como o princípio da subsidiariedade, como se o neopombalismo comteano conseguisse alguma vez conciliar-se com o federalismo. Seria melhor que lessem Proudhon, Pio XI ou Rougemont.




Ofuscados pela retórica napoleónico-chavezista do ministro Santos Silva, contra os berros e os astrólogos, notámos que, também anteontem, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, com toda a coerência, enalteceu os efeitos da Revolução de Outubro de 1917, afirmando a convicção numa vitória do socialismo e do comunismo. Disseram os jornais que Jerónimo de Sousa considerou que o mundo atravessa uma "fase crucial" na História, identificando uma "crise estrutural do capitalismo" que potencia "a intensificação da luta de classes" e do "desenvolvimento da acção revolucionária".




O líder do PCP falava numa sessão pública comemorativa dos 90 anos da Revolução de Outubro, que decorreu ontem na Casa do Alentejo, Lisboa, perante centenas de militantes comunistas. Jerónimo de Sousa assinalou que o capitalismo "já deu mostra de larga sobrevivência e capacidade de regeneração", frisando no entanto que "não pode alterar o seu código genético"."Tal como a lepra não larga o leproso, o capitalismo não consegue resolver contradições inerentes ao seu modo de produção, ao seu carácter parasitário e injusto, à embriaguês do lucro sem limite", afirmou.




Reparo que hoje o Sol nos informa que esta sexta-feira, o código processual penal volta a ser republicado em Diário da República, porque as 52 correcções feitas afinal não esgotavam os erros da nova lei. O deputado socialista Osvaldo Castro esteve até ao final da tarde «online com a Imprensa Nacional» para garantir que à terceira é de vez. Noto também que o reitor da Universidade de Lisboa (Clássica) disse ontem que o Governo "transfere anualmente para universidades norte-americanas verbas superiores às que transfere para algumas universidades portuguesas".




Por tudo isto, preferi dar razão à última crónica cinematográfica do deputado Paulo Portas e confirmar os dotes de Judy Foster, para me poder esquecer dos défices democráticos à jardineira, em que se enredam até socialistas ditos da Madeira, nessa doença do poder que chama formalmente loucos aos oposicionistas. Julgo que formais apoiantes da Revolução de 1917 e da Revolução de 1922, especialistas em caças às bruxas e teorias da conspiração, quase parecem subscrever o internamento dos dissidentes em campos de concentração psiquiátrico. Apenas digo que, mal vão os mecanismos de institucionalização dos conflitos, especialmente em zonas paroquiais e endogâmicas, susceptíveis da tradicional doença do micro-autoritarismo sub-estatal.
Por isso, daqui envio um grande abraço de solidariedade ao Mestre Zé Rodrigo. E lá me fica o tópico da aula de ontem, muito cosmopolita, federalista e liberalão, entre 1795 de Kant e 1995, de Rawls e Habermas, com passagem por Wilson (a paz é superior ao direito) e Kelsen (a paz pelo direito) e por outros sinais da atitude pluralista, entre Hayek e Hannah Arendt, sempre contra o estatismo e o soberanismo, filhos do terrorismo absolutista da razão não complexa.