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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

10.11.08

Essa bastarda da luta de classes a que muitos chamam luta de invejas


Hoje é onze do onze, memória do armistício da Grande Guerra, de pátrias e democracias que foram conquista da liberdade e não ofertas dos fundos mundiais missionários que espalham processos de unidimensionalização globalizadora. Hoje é onze do onze, véspera do massacre do cemitério de Santa Cruz. Hoje é dia de não esquecer. 

Por isso, relativizo os sinais que vêm de Lisboa de cento e vinte mil professores do ensino pré-universitário na rua, porque os do universitário apenas continuam a ouvira Mariano Gago quebrar o silêncio, sobre os maus gestores que temos na autonomia universitária, tal como temos maus reitores e bons ministros, directores-gerais e outros burocratas que nos avaliam e inspeccionam.  Mas não posso falar dessas coisas que me enervam. Prefiro sentir algumas reacções de alguns velhos e eternos socialistas sobre Maria de Lurdes Rodrigues. Prefiro sentir que muitos ainda reassumem a dignidade daquele permanecente socialismo praticado pelos liberdadeiros empedernidos.

Apenas recordo que, como histórico anticavaquista, que não mudou nem vai mudar, o que me faz distanciar do socratismo não é o lastro liberdadeiro do PS, mas antes os atavismos do cavaquistão que o enredam, incluindo o nacional-negocismo. Porque, entre os micro-autoritarismos que tentam imitar a determinação reformista, tecnocrática e propagandística de Sócrates e a impossibilidade de o PS dar lições de moral ao PSD sobre os meandros e ambiente do ciclo dos Tavares Moreira, dos Oliveira Costa e dos Dias Loureiro, há aquele fio de linho que levou este último a ser apresentador da biografia do "Menino de Ouro". Entre o absolutismo maioritário da Madeira, onde o BaltazarAguiar continua a ser o revelador e os pequenos nadas da persiganga burocrática, tecnocrática e reformocrática de alguns mais papistas que o papa, venha o diabo e escolha.

Sentidas a 18 000 km estas tricas da Corte reinol não são apenas literatura ridícula da má-consciência, mas sintomas de uma decadência que, por vezes, até para esta ilha tenta exportar alguns dos que continuam à procura da revolução perdida numa qualquer lugar exótico que pensam ilha sem lugar e sem tempo. Uma ideia tão abstracta quanto outras suas irmãs-inimigas, como as do construtivismo estatocêntrico que quer meter, à força do martelo, povos e territórios no caixilho dos preconceitos e dos fantasmas.

Hoje é dia onze, do armistício, e não quero recordar outros dias de outros anos de 1975.  Porque não alinho em processos de limpeza das memórias, ou de lavagem de recordações, com a lixívia de um pretenso racionalismo de pacotilha propagandística, aqui e além pintalgado com pingos encerados de velas de um qualquer "ex voto". Por mim, tenho outra missão: a de aprender e de, eventualmente, ajudar a não destruir interessantes energias libertadoras e criadoras de povos que se sentem nações e que não podem ser derrubadas por essa bastarda da luta de classes, a que muitos chamam luta de invejas.