a Sobre o tempo que passa: janeiro 2010

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.1.10

Portugal, entre as Arcadas e a Rua do Ouro. No Jornal de Negócios de hoje

O principal produto de um sistema político, a decisão orçamental, deveria ter sido sustentado por uma adequada troca de informação entre governantes e governados, bem como pela própria troca de informação horizontal entre os governados. Mas, como sempre, preferimos reduzir o sistema político às enferrujadas canalizações representativas da partidocracia, assumindo-o como uma coisa que pode conquistar-se sem interacção. Isto é, quisemos esquecer que grande parte da nossa soberania não passa de simples capacidade para gerirmos dependências e interdependências, que ela não é uma coisa mensurável pela física do poder, mas bem mais pela estratégia, onde as grandes potencialidades podem transformar-se nas grandes vulnerabilidades, e vice-versa.

Continua a não haver nerves of government e adequada retroacção da informação capaz converter os apoios e as exigências em decisões políticas. Porque é pela informação, pelos sensores dos centros de recepção de dados, que o sistema político contacta com o respectivo ambiente, com os outros subsistemas sociais e com os outros sistemas políticos. É pela operação de processamento de dados, confrontando mensagens do presente com informações arquivadas no centro da memória e dos valores, que o sistema político pode, ou não, adquirir autonomia e identidade. É depois, no estado-maior da consciência, onde se selecciona a informação presente e passada e se confronta este conjunto com as metas programáticas, que o sistema político prepara a pilotagem do futuro em que se traduz a governação.

Por outras palavras, o nosso principal défice democrático está na falta de uma adequada democracia fiscal. A maioria dos votantes ainda não percebeu que o Estadão não dá nada, apenas distribui o que recebe, cobrando a grossa fatia das comissões que alimentam os empregados do aparelho e os desmandos do clientelismo e da compra e venda do poder...

Deste modo, os bastidores da negociação orçamental demonstraram como a política continua a depender do paternalismo dos vigilantes banco-burocráticos, essa discreta entidade que, de vez em quando, tem ministros das finanças que se assumem como agentes duplos da partidocracia e da secção lusitana da geofinança, entre a Rua do Ouro e as Arcadas do Terreiro do Paço.

Valia mais confirmarmos que Sócrates, democraticamente falando, não existe. Tal como Manela. Tal como Paulo. Tal como Aníbal. Eles, e elas, apenas são os nossos representantes, isto é, aqueles que estão presentes em vez do Outro, esse transcendente situado chamado povo. Eles são um Estado que devia ser o Nós, mas, por deficiências educativas pombalinas, afonsistas e salazarentas, ainda julgamos que o Estado são Eles, a soma dos Eus que votam contra ou a favor do Orçamento que Nós, cada um de Nós, pagamos.

Chamam-nos Contribuintes, mas apenas somos Impostados. E a culpa da escravatura está nos próprios Escravos que não se alevantam em adequada revolta dos Escravos, como diria um tal de Beaumarchais. Por mim, não tenho gostar de uma qualquer dessas figurações da laicíssima trindade, ou da quadratura sem círculo, do situacionismo de sempre. O que é verdadeiramente comum não devia ser de nenhum...

25.1.10

Entre o ser e o estar, com Portugal visto de dentro e de fora


Entre o ser e o estar, vai a diferença que separa o radical (não o extremista) da falta de autenticidade deste centrão mole e difuso, que persegue desobedientes e odeia dissidentes. Por isso é que maior parte dos que estão não são. A Letra costuma matar o Espírito.

Há o que estando à esquerda é de direita e, vice-versa. Como o que está cristão, mas não é do Evangelho, ou o que está na maçonaria, mas não é dos mistérios antigos que são mistérios de sempre. Entre o ser e o estar, apenas deveríamos viver como pensamos, sem pensarmos no verbo ter.

Os últimos governos de direita eram de oposição àquela oposição que acabou por ser desta situação que lhes deu continuidade, gerando-se o tal governo de esquerda com temperamento de direita. Apenas porque a maior parte dos que verdadeiramente são não querem estar, neste modelo de enjoados que preferem o torcer à coragem de quebrar.

Os verdadeiros donos do poder são os habituais manipuladores da decadência, os gestores de servilismos e carreirismos, os que se colocam atrás dos desdentados barões que, de falsa ciência, mas com muita música celestial, apenas assentam no poder absoluto de alcatifa e sofá, onde semeiam vingança, que disfarçam em sedução.

Os donos do poder são os habituais ausentes-presentes que não querem reconhecer a impotência que manifestaram quando foram chamados à sucessão de príncipes pretensamente perfeitos, a quem chamaram homens providenciais. Daí este regime de assessores e adjuntos que nem sequer tem a coragem de ler a verdade do Portugal visto de fora...

24.1.10

Eis-nos! De Teresa Vieira


Pois nenhum de nós é a soma dos Eus e muito menos dos Eus que os outros julgam comandar.

Temos de arranjar meio e modo de convencer os "novos filósofos" deste suposto reino, que eles têm o seu lugar marcado na representação dos próprios e aderentes e nada mais; acrescendo que se o futuro não é futuro, deve-se em muito ao insucesso dos Eus que comandam e dos Eus que obedecem.

Todos são uma mão apertada de impossibilidades e o que dizem não constitui, por si, um corpo explicativo coerente ou transformador da réstea de mundo, quer no sentido idealista quer no sentido materialista.

Não esqueçamos que o que caracteriza estes "novos filósofos"é o pensamento facilmente discernível com principio teleológico assente no vácuo transversal do discurso.

O que os move é, a consciência do logro e da fraude e não do equívoco, sendo que a fraude acima de tudo existe, porque o sujeito está sujeito a ser o agente impossível.

Eis-nos num dia de luz de Domingo: que Platão e Schopenhauer não desistam de nós!

Teresa Ribeiro Bracinha

Porque hoje é o dia do senhor e não haverá a urgente revolta dos escravos



Sócrates, democraticamente falando, não existe. Tal como Manela. Tal como Paulo. Tal como Aníbal. Eles, e elas, apenas são os nossos representantes, isto é, aqueles que estão presentes em vez do Outro, esse transcendente situado chamado povo. Eles são um Estado que devia ser o Nós, mas, por deficiências educativas pombalinas, afonsistas e salazarentas, ainda julgam que o Estado são Eles, a soma dos Eus que votam contra ou a favor do Orçamento que Nós, cada um de Nós, pagamos. Chamam-nos Contribuintes, mas apenas somos Impostados. E a culpa da escravatura está nos próprios Escravos que não se alevantam em adequada revolta dos Escravos, como diria um tal de Beaumarchais. Por mim, não tenho gostar de uma qualquer dessas figurações da laicíssima trindade, ou da quadratura sem círculo, do situacionismo de sempre. Apenas gostaria de poder ser cidadão-homem-livre, procurando um melhor regime para esta república, com direito à indignação alérgica face a coveiros. Aliás, noutras eras, Portugal foi movido pelos homens sem sono. Hoje, são as mulheres e os homens sem fim-de-semana. Porque, hoje, dia do senhor, mais uma ronda, e mais uma declaração histórica de Portas. Porque Teixeira dos Santos faz as contas todas até amanhã, para o governo aprovar e entregar, logo na terça, a bendita "pen" ao Gama. As televisões mostrarão o momento histórico! E tudo como dantes, quartel-general na casta que gosta de palha de Abrantes...

23.1.10

Lapis philosophorum, ou a lapa do sistema

Primeiro, combinamos. Depois, decompomos. Em seguida, dissolvemos o composto. Logo, depuramos o dividido. No fim, tudo se junta e solidifica. Dá Fernando Lima e Rui Paulo Figueiredo, isto é, reunião de Manela com Sócras e manifesto de Portas. Prefiro o milagre das rosas a este jardim das delícias, onde até poderá haver conferência conjunta de Cavaco e Alegre.

19.1.10

Patriotismo. De Teresa Vieira


O patriotismo não é de esquerda nem de direita como bem já escutei dizer. Mas o que está em causa é que em Portugal não se tem "visto" ultimamente que o patriotismo seja uma questão d'alma, realidade que entendo dela fazer parte. Mais, se no espaço da partidite existe apenas direita e esquerda e centro, então na vida de cada um onde está o espaço da opção em liberdade por uma via de um outro sentido? o sentido vivo de que os mecanismos livres se entendem por essa razão em grupalidade solta, sã e lucida?

Diga-se e (re)diga-se que a surpresa das votações só reside nas atmosferas de oxigénio impenetráveis às sondagens, a estas e não só...

A questão da candidatura de Alegre, não se localiza neste momento nele mesmo, antes na oportunidade temporal de quem se quer agarrar à Lua, fotografar Marte e pregar na Terra.

Manuel Alegre é em si um princípio e uma cor de energia edificadora em muitos campos, mas tem de ter presente que a procura reside no não deixar de procurar; no não se deixar envolver na era atómica e não tomista da acção da mola das influências.

A liberdade é como Alegre sabe, um princípio cósmico e é dessa fábrica que sai aquele que é Homem. Apela-se assim que Alegre não permita que os blocos tapem a luz que vai respondendo ao chamamento de quem tem c.v. que de longe fareja as minas anti-liberdade.

Creio que o chamamento da consciência é um estádio anterior ao da responsabilidade e todos temos um serviço por cumprir na intuição poética e única que disciplina uma vida limpa.

Há combates e existem planos. Por mim prefiro abrir estradas.

Teresa Vieira

18.01.10

17.1.10

Poetas de esgrima e esgrima sem poetas

Resposta privada ao penúltimo postal, que mantenho anónima, mas que veio de uma grande figura da nossa escrita, sempre próxima da corrente em que se insere Alegre: Eu quero é poder optar e não enfileirar em poetas de esgrima e em esgrima sem poetas. Agora não. Basta!

Contra os imperadores do silêncio


Ouço:

-Pior do que a cobardia, é o marasmo a que as pessoas se entregam. Toda a gente se queixa, mas ninguém faz nada por si próprio. É toda a gente entregue ao tempo, sem empreendedorismo individual. Depois queixam-se quando há gente empreendedora pelos motivos errados, ou pelos maus motivos...

Abro o jornal e leio o meu vizinho de cidade, passeando-se na Calçada, quando eu saía da escola primária do Arco de Almedina. Antes de ir para o seu consultório no Largo da Portagem, parava na Brasileira, e aí pensava:

-Pessoa sabia: a língua é uma pátria. A pátria dum escritor, pelo menos. Pátria que não herda passivamente de qualquer providencial Afonso Henriques, mas activa e penosamente constrói dia a dia, unindo no tempo o seu corpo disperso. Que são os Lusíadas senão um território idiomático, heroicamente conquistado às trevas da nudez, um espaço vital de expressão que o próprio verbo agenceia, baliza e preserva? Depois que os escreveu nunca mais Camões pôde ser desterrado. Fosse para onde fosse, levaria na bagagem de proscrito a voz portuguesa - voz que encarnou Portugal durante os 60 anos filipinos, e continua a encarná-lo três séculos passados. Sim, a língua é uma pátria, e como consola lembrá-lo em certas horas! Enche o coração de paz a certeza de que nenhuma marginalidade margina os cultores da palavra, centros geográficos da nação, queiram ou não os imperadores do silêncio.

Obrigado, Jornal de Notícias, pela recordação. Copiei a imagem de Prosas Vadias.

16.1.10

Entre a bigorna de Cavaco e o martelo de Alegre


Por ironia do actualismo, foi António Barreto, enquanto activista do soarismo, que inventou esta de, nas presidenciais, ter de haver um povo de esquerda contra um povo de direita, como se um deles fosse uma espécie de rebanho de um senhor que nos pode levar para a terra prometida, atravessando o deserto...


Seria bem estúpida qualquer causa fracturante que dividisse o que resta da república dos portugueses entre os que desejam a integração da causa LGBT nos alfacinhas casamentos de santo antoninho e os que querem transformar a teologia da libertação na teologia defensora do Código Civil de Antunes Varela...


Essa do bloco conservador, faz-me lembrar o divisionismo eleitoral de Agosto de 1910: um bloco apoiante do governo, com teixeira-sousistas, dissidentes progressistas, franquistas de Malheiro Reimão, católicos franciscanos da democracia-cristã, contra um bloco conservador de oposição (lucianistas, henriquistas, franquistas, nacionalistas, católicos jesuíticos e miguelistas). Só havia 14 deputados republicanos.


O povo da república é bem mais do que a soma do povo de direita com o povo de esquerda. Porque há um povo livre, mas que ainda não se libertou dos controleiros do revisionismo histórico tribalista de certos neo-estalinistas que pretendem um regresso ao livro único da literatura de justificação dos situacionismos...


O povo depende dos indivíduos, de cada um que pensa pela própria cabeça. Não está nas gavetas manipuladoras do PSD, CDS, PS, PCP e BE, sendo bem mais complexo do que o eventual confronto de Alegre com Cavaco, porque eles não podem federar, nem em confronto, as concepções do mundo e da vida da maioria sociológica. Eu, por exemplo, preferia alguém que nos mobilizasse para risco de baralhar e dar de novo...


Aliás, Jesus Cristo não percebia nada de finanças e Manuel Teixeira Gomes tanto não foi eleito pelo povo, como, depois de se assumir como "pássaro fora da gaiola" de Belém, é que passou para o exílio de Bougie, lá para os lados da Argélia. Entre os dois paradigmas, prefiro a terceira via que nos dê aventura e pragmatismo

15.1.10

Haiti. De Teresa Vieira

HAITI-13.01.10

Parece que ninguém os tinha amado, afinal.

Toda a realidade nos olha agora para cada gesto numa solidariedade que se quer vígil: mais nada.

M. Teresa Ribeiro Bracinha Vieira

14.1.10

No "Diário Económico" de ontem


Uma maioria, um governo, um presidente

O principal partido da nossa oposição, se voltar a assumir-se como centro excêntrico que nos leve a nascer de novo, não pode cair na tentação de parecer mera antítese da mesma tese situacionista, para gáudio desta governação sem governo, quase em pilotagem automática de consultadorias apátridas.

O PPD já foi nortada, enquanto sinal daquele sentido do risco que misturava aventura e pragmatismo, contra as falsas tenazes ideologistas que nos encarquilham entre os extremos dos “provincianos, populistas e papistas”, contra os “tacanhos, trapaceiros e talassas”.

Nesse tempo de pais-fundadores da democracia, quando a nobreza dos criadores não era enredada pela empregomania dos filhos de algo, muitos compreendiam que o Tejo podia continuar a ser o Douro, esses rios que passam naquela aldeia do telurismo oceânico e têm como foz uma mobilização nacional que nos volte a dar a armilar.

Até porque, de tal foz, nos veio o nome de Portugal, esse signo que demos a nós próprios, quando sonhadores activos seguíamos a rota do tripeiro Infante D. Henrique, contra as Tormentas.

Foi assim que, daí, também nos vieram o Sinédrio de 1820, ou a revolta anti-devorista de Setembro de 1836. Logo, são frustrantes os gritos esquizofrénicos de um revivalismo matamouro, que é o exacto contrário de uma regeneração feita por subscrição nacional.

Porque o Porto nunca será cidade sinal dos homens livres, à Francisco Sá Carneiro, se a perspectiva portucalense não voltar a ser porta de partida para um Portugal universal.

Resta saber se, daí, pode vir revolta que, contra a decadência, exija uma nova maioria, um novo governo e até um novo presidente, que regenerem o regime contra a partidocracia capitaleira.

13.1.10

Pedras, parcerias, pedradas e geringonças endividadas



Ontem foi dia de uma primeira pedra, que afinal era a segunda, bem como de algumas pedradas, glosando o relatório de inverno do Banco fundado pelos vintistas. Na primeira, ao recato da tendinha, longe da lama, o estadão em figura humana proclamou: “Há muitos momentos da vida das nações em que ninguém mais pode fazer nada a não ser o Estado, que tem o dever de responder à situação fazendo mais investimentos”.

Até também perorou, mas noutro recato, esse grande inaugurador das obras e parcerias públicas, chamado Alberto João, ao comentar a crise do PSD, onde invocou o regresso a uma AD que ele nunca aplicou, à semelhança da regionalização contra a qual votou. Nem faltou o rigor social-democrata de Luís Filipe de Gaia, todos temendo o que chamam liberalismo, em nome da social-democracia. Por outras palavras, toda a subsiodiologia pública estatal e infra-estatal deu as mãos a uma economia privada que teme a concorrência da economia de mercado.

Pedradas diversas foram as de Cavaco Silva e do seu rival no Congresso do PSD da Figueira da Foz, João Salgueiro. Também nos anunciaram um saber tratar da saúde do endividamento e um deles até referiu invocar os bons investimentos em pêra rocha e uva de mesa, dessa investigação agrária aplicada dos tempos da EFTA.

Mas ninguém parece querer retirar a primeira pedra com direito a placa inaugurativa. Todos preferem pôr-lhe a segunda, a funerária, em cima. Que a conta seguirá dentro de momentos, e ninguém pedirá desculpa por estas interrupções discursivas.

Porque Sócrates II mostra o feroz reformismo, agora anunciando a revogação das políticas públicas de saúde, educação e justiça de Sócrates I, pondo Maria de Lurdes Rodrigues na FLAD, Correia de Campos no Parlamento Europeu e Alberto Costa nas filas de trás do parlamento, enquanto sobem os Walter Lemos e os João Tiago Silveira. Porque, com as pedras em cima, alguns, pelo menos, ganharão ... com nacionalização dos prejuízos, para posterior privatização dos lucros.

Porque, segundo as cimeiras palavra do nosso primeiro, estamos a viver um momento de crise em que ninguém pode fazer mais nada. Nem os capitalistas, nem os partidos. Nem o povo nem as organizações não governamentais. Ninguém, a não ser o aparelho de Estado que se mede pelo Orçamento. E há, sobretudo, um perigo enorme, essa coisa informe produtora de altos riscos, como as crises financeiras e a concorrência, o chamado mercado. E as parcerias nunca gostaram de mercado, preferem o "gentleman's agreement" do estado a que chegámos, dos estados dentro Estado, com muitas pedras resguardadas, no quente das tendinhas inaugurativas.

Também editado, há momentos, no Albergue Espanhol.

12.1.10

Transmitir a significação. De Teresa Vieira



Transmitir a significação: a futuralidade da semente

Tradicionalmente mais próximo do universo considerado «feminino», mas sempre marcado pelo peso institucional masculino, a educação e se a queremos permanente, é impensável ser avaliada através de percentagens de graus adquiridos nos diferentes níveis de ensino.

Desde logo se a aprendizagem se concebe como permanente, implica não só novas modalidades de fazer face ao ritmo de estudo como, sobretudo, atentar num novo mundo de concepção do processo educativo em si mesmo.

Tenho para mim que o ensino destituído da relação com o vivido, desaba numa ausência de relação com a história da experiência de cada um que leva, quase forçosamente, a um desentendimento fracturante de mundos em vez da sua natural conciliação e relação interpretativa.

Cada vez mais se vai notando a brecha na fortaleza suposta das realidades que se ensinam. Face a esta força, noto também como docente e com frequência, que as mulheres têm condições particularmente favoráveis para colocarem na transmissão dos conhecimentos a sua realidade, o seu curricula que conduz a uma educação e transmissão de saber mais próxima da existência que vive e, talvez até mais aberta à mudança na forma de comunicar, de estar, de aprender, de ensinar, enfim, de criar laços de ver crescer tal como faria com os seus próprios filhos.

Neste sentido acima referido, substitui-se o que constitui apenas uma educação baseada nas necessidades do mercado de trabalho, por uma educação/ensino/conhecer assente na realização das pessoas, o que implica em si, uma felicidade extensível a toda a sociedade e consequentemente com capacidade de assimilar as necessidades do mercado de trabalho a que deve fazer face.

Afinal, quero referir a importância primordial que a felicidade domina no estar com o saber, na força em si mesma crítica e criadora face aos desafios dos tempos que vão chegando e nos quais cada um é chamado a viver.

A pequenez do horizonte quotidiano, torna insuportável para muitos não se sentirem num campo de guerras tribais sem qualquer laço de comunidade ou senso ou futuralidade.

Então será legítima a pergunta: de quem aguardar a ousadia de um basta que liberta? Dos homens que governam ou das mulheres que, no seu dia-a-dia sofrem há muito, a opressão das modalidades do poder exercido?

Há que entender e praticar o exercício da compreensão pelas infra-estruturas necessárias a um real ensino, e que até já são descuidadas ou desnutridas ou inexistentes nas próprias mulheres que aceitaram, para entrar no jogo, o aderir à convivialidade de valores que as próprias mães delas recusaram de um modo ou de outro.

Creio ser necessário a todos os que estão no projecto da educação e do ensino e da cultura nos dias de hoje, um regressar a um espaço de realidade geo-político que acima de tudo tenha a dimensão humana e a convivência de amparo das aldeias da nossa infância.

O amparo que a espantosa realidade das coisas tem quando nos mostra a pedra e a flor: quando nos transmite a significação, quer pelo ângulo feminino quer masculino, mas sempre em prol da futuralidade da semente.

M. Teresa R. Bracinha Vieira

Mais uma intelectualice consociativa, entre Lijphart e Althusius, para PSD ler


Um tal de Arend Lijphart salientou a existência de modelos de estabilidade política com multipartidarismo, como nos países escandinavos, contrariando o pressuposto, segundo o qual o modelo bipartidário seria o único existente em sociedades politicamente estáveis, como aconteceria nos países anglo-saxónicos. Assim, distinguiu um multipartidarismo integral de um multipartidarismo moderado, ou temperado, pela existência de alianças estáveis e coerentes, porque grandes coligações, que apresentassem aos eleitores uma plataforma comum e que actuassem concertadamente no parlamento, modificariam profundamente o multipartidarismo. E quando se desse o dualismo das alianças até poderia cair-se num modelo quase bipolarista, a chamada bipolarização.


Segundo o mesmo Lijphart, a democracia consociativa é a característica das sociedades pluralistas, onde há profundas divisões religiosas, étnicas, linguísticas e ideológicas, em torno das quais se estruturam as diversas organizações políticas e sociais, como os partidos, os grupos de interesse e os meios de comunicação. Porque as clivagens podem gerar uma espécie de compromisso democrático entre os vários pilares sociais e políticos do sistema, como sucede no caso holandês e suíço. Uns séculos antes, um tal de Althusius considerou que a consociação civil apenas surge, quando se sai da família, quando se sai fora dos edifícios onde existe o poder doméstico e se entra na cidade para tratarmos dos assuntos públicos em vez dos domésticos, tarefa que não cabe ao paterfamilias ou ao senhor, mas antes ao sócio e ao cidadão. o poder doméstico, uma forma de poder pré-político, forças cuja fonte ou origem se situa antes ou fora do dominium politicum, pertencendo ao dominium servile ou à potestas dominativa ou oeconomica. Era assim com o poder do dono. De facto, não era política a relação que o paterfamilias, o chefe da casa, o despotes dos gregos ou o dominus dos romanos, mantinha com os respectivos dependentes, desde os parentes aos escravos.

A política só aparece quando se ultrapassa doméstico, pelo que o príncipe, o chefe político, não é apenas mais um dono e nem sequer pode ser considerado como um substituto do pai. Sim! A vontade geral da democracia foi substituída pela soma das vontades interesseiras de cada um, sempre habilmente manipuladas pelos permanecentes corporativismos de uma oligarquia sedenta de vingança, em cujas teias continuam a manobrar várias redes de gente sedenta de cheques.

Ora, quando a política é usurpada pelo doméstico e o espaço público se rebaixa aos níveis da casota, é inevitável que o aparelho Estado seja dominado pelo mercado da compra e venda do poder, com os profissionais da política a tornarem-se cada vez mais profissionais da pulhítica e cada vez menos políticos. Desta forma, regressam os fantasmas do absolutismo, bem presentes quando aquele que faz a lei, decide não cumprir o que a mesma determina, e trata de emitir ainda mais leis para que nenhuma se cumpra, por causa da elefantíase, de maneira que os bons e sábio juízes, para poderem administrar a justiça, são obrigados, muitas vezes, à necessária fraude à lei. Porque a lei é inferior ao direito e este depende sempre da justiça.

(por mim, publicado, de fresquinho no Albergue Espanhol)

8.1.10

Pelo regresso à república dos professores!


Educação em Portugal é aquele belo átrio do edifício veiga-simoniano da 5 de Outubro, pejado de retratos "à la minute" das sumidades ministeriais que nele se assentaram, incluindo a actual líder do PSD, e entre as quais raras são as que viveram como professores de alma grande. Mas, ontem à noite, retomando-se o hábito dos homens e das mulheres sem sono, lá se fez, depois de muitos preâmbulos de barganha, um dito armistício, em nome do "bom e velho Estado" que nos protege contra os banqueiros, para parafrasearmos Sócrates em Paris, quando procurava "traduzir em calão" o conceito de Nação de presidente gaullista.

Por outras palavras, entre Maria de Lurdes e Isabel, entre Rodrigues e Alçada, apesar de haver o mesmo chanceler, em presidencialismo de Primeiro-Ministro, as políticas são exactamente outras, assim se manifestando como a pressão do activismo sindical, nomeadamente com cem mil na rua, tornou o movimento corporativo relativamente frutuoso e compreensível para uma professora em função ministerial. Por outras palavras, o fim voltou a ser o princípio e talvez o regresso à lenta recuperação do prestígio de uma classe, depois da luta. Sobretudo quando continua o confronto com a pesada burocracia, tecnocrática e construtivista, dominada por uma gerontocracia de avaliólogos e educacionólogos em circuito fechado, onde interessa mais um relatório à Roberto Carneiro, para gestionário ler as tabelas, do que o amor da aula, ou o diálogo directo com os alunos, as famílias e as comunidades onde eles se inserem.

Resta saber se há coragem para se retomarem as ideias das velhas, mas não antiquadas, repúblicas de professores de base, como o foram um Hernâni Cidade, um José Régio, um Sebastião da Gama, um Rómulo de Carvalho, ou um Virgílio Ferreira, quando os professores se assumiam como missionários de uma religião cívica, a da instrução popular ou a da educação nacional. Por outras palavras, só voltará a haver prestígio dos professores quando eles puderem retomar uma função política, comunitariamente consensualizada, não a de vendedores de ideologias de um qualquer livro único politicamente correcto, de acordo com o pensamento dominante, mas algo bem mais estrutural: a religião secular da pátria e da humanidade e a transmissão daquela invisível corrente de humanismo que nos permite a rebeldia e até a insolência, as dos homens e das mulheres livres, virtude básica de uma ética de democracia.

(Na imagem, o filósofo Alain, que pensava radicalmente, na sua aula de liceu...)

(Postal por mim publicado hoje Albergue Espanhol)


7.1.10

Os adversários e concorrentes não têm que ser inimigos


Odeio a política assente nas teias da sacristia. Tenho repulsa pela confusão entre o iniciático e a política, entre o profano dos interesses e o sagrado da metafísica. Rejeito a confusão patrimonialista, negocista ou feudal, pela ligação entre o espaço do doméstico, ou emprasarial, e a praça pública. Isto é, não admito que a lógica do público, do comunitário ou da república, seja subvertida pelos mais baixos fins das sociedades imperfeitas e dos corpos intermediários.

A nossa história contemporânea está cheia de maus exemplos oriundos deste confusionismo. E tardam as mostras de sincero arrependimento por anteriores faltas de autenticidade. Logo, temo que voltem a triunfar certas instâncias que bem gostariam de recriar um conflito entre política e religião, mesmo que seja o habitual sucedâneo que põe, de um lado da barricada, o humanismo católico e do outro, o humanismo laico.

A questão do centenário do 5 de Outubro, a que chamam indevidamente república, ou a recente questiúncula do casamento de pessoas do mesmo sexo, até pôs excelsos activistas dizendo que eram por isto ou por aquilo porque eram ateus ou crentes. Prefiro dizer que maçons e católicos, comunistas e monárquicos, republicanos e sindicalistas, isto é, alguns dos grupos mais enraizados e mais coerentes da recente história portuguesa, todos eles podem invocar perseguições de uns por outros, e até alguma espiral de violência simbólica.

Seria preferível dizer que entre eles pode haver lugares comuns que permitem o diálogo, sem o qual não pode haver pátria, humanidade ou justiça, esses valores mais perfeitos que devem mobilizar e dar inclusão às parcialidades, às facções e às paixões. Os adversários e concorrentes não têm que ser inimigos

A Teresa Vieira enviou-me este desejo de Miguel Torga


Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga

6.1.10

O que não é a política


Há um maquiavelismo, dito da razão de Estado, como o seu segredo, também de estado, tal como há uma razão revolucionária, com a sua clandestinidade. Ambas as ditas razões assentam e formas de monopólio da violência, para a sublimarem em ordem que espera o carimbo da legitimação.


Há também outras zonas de segredo, próprias do indivíduo e da ciência que trata dos actos do homem como indiviso. Uma, a mais sagrada, tem a ver com o castelo muralhado da intimidade pessoal e familiar. Outra, com o esotérico dos actos litúrgicos ou iniciáticos. Daí o perigo de confusão entre o político, o litúrgico, o familiar e o pessoal.


A política é apenas aquela zona da praça pública onde acedemos com a máscara da personalidade, sem nos desnudarmos ou nos confessarmos, depois de largarmos o espaços do privado, incluindo o doméstico, e do sagrado. Logo, em tudo o que é político não pode haver zonas não transparentes de litúrgico, iniciático, familiar ou privado.

3.1.10

Sete pedacinhos de mais além em domingo de chuva

1

Acordo. A chuva inunda as ruas. O primeiro domingo deste último ano da década é um acontecimento que nunca mais se repetirá. Porque pode ser vivido por milhões de seres que também nunca se repetirão.


2

Os homens ditos comuns são coisas que intelectuais, políticos e produtores do videopoder desleixam, como simples massa ou multidão, violável pela solidão. Porque tais manipuladores do "agenda setting" olham os seus semelhantes como pasta a cilindrar pelo rolo compressor da mensagem com que nos procuram profanar...


3

Esses pretensos homens-mais-do-que-homens parecem esquecer que há uma reserva inalcançável dentro de cada um, a da dignidade da pessoa humana, a tal que só pode desabrochar em ser quando se descobre além, ao compreender que, por dentro de si mesma, é que tais coisas realmente são...


4

O sopro do eterno não vem do hábito nem do monge, mas daquele acaso procurado que o sagrado deixou no mais íntimo e mais divino de quem somos. Se somos deste lugar e deste agora, há, no mais secreto do tempo que passa, o que, estando aqui, é aristocraticamente de todos, essa procura incessante de um sinal que nos dá o mais além.


5

Diante de um desses normais anormais da natureza, de pouco valem discursos de presidente ou sermões de cónego. Os profissionais do sagrado, e os seus comentaristas e glosadores, são tão profanos quanto os praticantes acríticos de qualquer fé, incluindo a da religião secular.


6

Todos nos dividimos e separamos apenas por não sabermos quem na verdade somos. São ondas em fúria, a Norte, terras deslizando, a Sul, um vulcão nas Filipinas, ou uma depressão tropical nas Linhas de Torres. É o normal anormal da cultura contra o que estava aqui antes de o homem se acrescentar, inventando obras sobre a paisagem, incluindo a casa, a praça pública, o livro ou o um milhão e duzentos mil portugueses que comunicam pelo "Facebook", inventando como brincadeira de rapaziada para os dormitórios de Harvard.


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Não existe apenas aquilo que pode medir-se e experimentar-se, em laboratório ou tabelas de registo de obra feita. Há também um todo a que só pode aceder-se pela intuição da essência. A que exige conversão, litúrgica ou poética, ao risco da mudança, nessa mistura de aventura e pragmatismo, a que se chamam viver em comum.

A lancinante doença. De Teresa Vieira


E a festa traz consigo o individual e o colectivo: a terapia da lancinante doença.

Sabe-se que entrámos no Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social neste 2010. Sabe-se, e não se sabe bem o que isto significa, qual o nosso grau de responsabilidade, qual a medida deste sofrimento.

Sabe-se que a União Europeia é uma das regiões mais ricas do mundo e, contudo 17% da sua população não tem modo de satisfazer as suas necessidades básicas.

Diga-se que a Europa é muito sofrida na pobreza e na exclusão social o que ainda é mais gritante, face a um mundo que se entende superior e nem compreende o quanto a pobreza e a exclusão social são um empobrecimento de cada um de nós, de cada cidadão, que nem em si mesmo trava esta batalha pela justiça mínima, face aos outros que pouco ou nada têm, e referimo-nos à mesma justiça que se entende por direito próprio nos seja reconhecida e atribuída em qualquer circunstância.

Então e os outros? Aqueles que vivem cada dia como uma morte diluída em cada gota-a-gota de agonia?

Refiro-me à União Europeia já que é fundamental não descuidarmos que a palavra união, constitui a união de realidades sentidas pelos seres que a intuem, como o único caminho que agarra a solidariedade pelo caule e com ela enfrenta o que iremos todos unidos fazer na luta.

Infelizmente a pobreza e a exclusão social, que vivem de mãos dadas, são vistas hoje como um tema normalizado ao qual se recorre para sabermos quanto muito, qual o número de pessoas que se assemelham numa idêntica desgraça expondo-se as condolências de ocasião.

Na verdade, raramente o modelo trágico de vida que todos impomos a outros seres iguais a nós e que morrem aos nossos pés, fazem despertar a certeza de que assim permitir esta não-vida, não é humano e em consequência, ou nos mobilizamos todos e cada um, ou o simulacro da bondade traz consigo a conversa da sintonia que faz de conta.

Às vezes, e são muitas estas vezes, acorda-se o corpo e sacode-nos numa doença ímpar em cada um de nós. É então chegado o momento de nos queixarmos do sofrimento que nos toca viver e enfrentar. Consultamos especialistas a respeito da nossa necessidade de cura urgente, queremos utilizar os mais avançados métodos terapêuticos e munidos do dinheiro necessário e usado como unidade contável, também no acesso à saúde, sentimo-nos corajosos por accionarmos todos estes dispositivos, alheios de todos quantos não os possuem, exactamente porque o escambo é feito sempre entre os mesmos: leia-se os poderosos.

Sim, os poderosos somos afinal todos os que atingimos um objectivo a que nos propomos. Os outros poderosos que bem conhecem a cor do dinheiro pelo faro, há muito que nos convidaram a mendigar o circuito e dele fazer uma potencialidade para emergência futura. E muitos foram os que aceitaram. Muitos foram os que revogaram o passado e o presente e aniquilaram os vindouros numa trama sem código.

Deste modo, também deste modo se carrega no botão das posses de cada um e fecham-se os sentidos à pobreza e à exclusão social, antes que as mesmas se colem a nós e não desgrudem, nem mesmo pela força do nosso alheamento.

Assim encontramo-nos face a face a uma Europa da temporalidade da própria espécie de cidadãos que se institucionaliza, assentando vida em peças suplementares e para quem a ausência de terapia para fazer frente à tragédia, é algo que os não tolhe: mais, é algo que se arremessa à cara dos outros como porta de entrada à própria absolvição neste acto de rechaçar culpa própria.

Ora, isto de se falar nas nossas capacidades, tem o seu postulado. Trata-se de um conjunto de forças disponíveis em cada um de nós e que nos perguntam constantemente, o que é que essas forças fazem se nada acontece que melhore a doença crónica da pobreza e da consequente exclusão ou a inversa?

Podemos alertar que as contas se fazem antes, isto é, desde a tomada da droga ao deitar não vá termos insónia, ou o antibiótico que previne a infecção pós-operatória, até ao sumo de laranja que contribui ao evitar da gripe, pergunto: quem não faz desta medicina uso corrente? Então quem não sabe que o remédio anula a doença? E mesmo que a mesma persista, sempre aumentamos a nossa forma de combate até aos limites.

Assim sendo, como justificamos que o imenso poder que afinal detemos não o reunamos em nós, nele englobando toda a humanidade carente?

E como não dar a voz, a palavra escrita, o gesto, às necessidades de todos quantos vivem na pobreza e na exclusão social? Como não sermos nós mesmos a própria organização da sociedade civil a não estigmatizarmos a pobreza? Como não garantir a solidariedade entre as gerações, assegurando aos nossos próprios filhos um mundo de humanidade?

Lembremo-nos todos que o poder, quando estacionário, tem inevitavelmente tendência a cair por efeito da própria inércia. Acelaremos todos as capacidades que temos e criemos em bloco o medicamento para este holocausto que se tem mostrado imparável e impune. Utilizemos a capacidade do fim e do meio de eliminação das causas sociais de tão horrenda doença.

A justiça elimina o risco de nova doença se mantiver a margem de eficácia que se deseja. O mesmo é dizer que dentro de cada um de nós deve funcionar uma delegação própria de um tribunal penal internacional, dentro do qual se entenda, o quanto nos é dado o poder de intervenção no corrigir das assimetrias da qualidade de vida.

Muito haveria a dizer sobre este tema pungente, mas talvez já baste por agora lembrar que a felicidade é um estado «civil» decretado pelas coordenadas de base de um Estado no que se refere às suas condições mínimas.

Talvez que a preocupação não deva ser tanto a de sermos felizes, mas a de cada um e todos fazer a própria felicidade num mundo onde a abundância só se justifica se dividida.

Façamos de 2010 um bom exemplo contra a pobreza e a exclusão social, não esquecendo que a condição mínima é ser-se São, e este poderoso Ser será clonado e clonado já que como alguém disse, a felicidade é uma coisa que podemos dar mesmo quando não a possuímos.

Ensinemos esta Europa a ser menos autista ou menos nevrótica. Todos somos o seu conteúdo, os seus afluentes, a sua festa.

Saibamos pegar em muitas das suas belas tradições e identifiquemos o direito que todos temos a viver, não de coma irreversível, mas de possibilidades que perseguirão sempre o desígnio da dignidade humana.

Teresa Ribeiro Bracinha

3.1.10