a Sobre o tempo que passa: junho 2009

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.6.09

Só é novo aquilo que se esqueceu, só é moda aquilo que passa de moda


As guerras retóricas de Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das universidades, com o presidente do conselho da Universidade de Lisboa, onde é vice-presidido por Paulo Teixeira Pinto, fazem-me recordar, por causa da universidade, evidentemente, a caricatura da universidade de Bordalo. Todos discutem pressões sobre jornais e televisões, mas todos calam sobre a abertura da velha senhora à sociedade dita civil, isto é, à PT e ao ex-BCP, com muitos ex-partidocratas à mistura, numa operação de institucionalização dos grupos de pressão, sobretudo os da banca e das grandes empresas do regime, à boa maneira dos partidos "catch all". Esperemos que um dos principais candidatos à chefia do governo que vier a ser derrotado não apareça por aí numa das grandes universidades públicas. Julgo que em Lisboa, na principal das públicas, há uma diferença entre engenheiro e licenciado em engenharia.

Depois de Gago não foi o dilúvio, foi a continuidade da "operation chaos"


A Cristina Montalvão Sarmento veio ontem entregar-me o livro dela. Uma tese de doutoramento que vem de meados da década de noventa e que foi defendida na Universidade Nova de Lisboa. Honra-me com um pequeno prefácio, como homenagem ao meu papel de orientador. Fiquei feliz por ela e pela escola que a acolheu. Continuo infeliz com a escola que a rejeitou, mas não irei hoje dissertar sobre isso, porque teria de lembrar-me de outro meu aluno do mestrado e de quem também fui orientador das dissertações de mestrado e doutoramento, o Luís Sá.


Também foi rejeitado numa votação formal. A maior parte dos doutos seleccionadores do "não" continuam oficiais seleccionadores magnos da mesma entidade, dona desta estratégia de derrota institucional. Até um deles, ministerial e tudo, no gaguismo antigago, terá dito um dia que não há nenhuma ciência política ou do direito. São actividades humanas nobres, que podem ser estudadas com rigor, mas esse estudo, tal como o da história ou o da literatura, não constitui uma ciência. E talvez nunca venha a constituir.

Expresso-o no prefácio deste livro, poderão encontrar o registo do autor neste blogue. É alto hierarca dos meus patrões. Já o vi indiciado para ministro do governo maneleiro, como o confirma a subida ao etéreo de outros emplastros. Não passa de mais um dos suicidários representantes do conceito durkheimiano de cientista, paragáudio de todos os professores pardais deste mundo que pretendem transformar Portugal num cemitério de insubstituíveis candidatos à colonização de alienígenas emissões de reformas pedagógicas do directório das potências que nos transformam em cobaias.

Por mim, apenas quero continuar a resistir e ajudar a sementeira da revolta contra as alternâncias do mais do mesmo. O gaguismo, nos seus frutos, apenas produziu como consequência a desinstitucionalização da universidade e jogos de poder onde o pior dos antigagueiros se manteve, adornado com Granadeiro e Teixeira Pinto, elevados a símbolos da Universidade Clássica de Lisboa, Balsemão, da Nova, e gentes de gerações ainda mais fora do tempo, em sítios que agora não nomeio. Depois de Gago não foi o dilúvio, foi a continuidade da "operation chaos". Parabéns à Colibri pela coragem da edição. Lá estarei no dia 9 de Julho, 21 horas, para o lançamento do livro, na tertúlia do CNC.

29.6.09

Contra os caçadores furtivos deste sinal de esperança


Depois de ter sido vítima anónima destas reformas do estadão a nível do serviço nacional de saúde durante os dois últimos dias da semana que passou, tenho de aturar mais uma conversata do ex-ministro da reforma do dito, bem como nova invocação de outra qualquer fotocópia dita reformista, que um rato de gabinete traduziu em calão do universitarês tecnocrático. Prefiro referir as nebulosas que nos vêm de um país político que vive na balbúrdia do interregno, entre o tudo e o seu nada. Prefiro dizer que não confundo o PS com Sócrates (o partido ainda é melhor), nem Manuela com o PSD (os emplastros do partido são bem piores). Logo, todos os que não estão disponíveis para que lhes torçam a espinha no amolecimento neofeudal que nos enreda e querem assumir a rebeldia de viverem como pensam correm o risco de ostracismo. Porque somos cada vez um pequeno Irão onde até há universidades que se prostram em assembleia diante de um qualquer revisionista da história que se assuma, pelo decretino, como santificado.


Já temos possibilidade de um novo Provedor, já temos eleições legislativas e autárquicas bem marcadinhas, já nos anunciam nova queda do PIB, nova revisão em baixa, novos encerramentos de empresas. As receitas fiscais baixam, muitas despesas públicas são em vão e o falso D. Sebastião volta a querer montar num elefante branco para que se dissipem, com discursos, os nevoeiros negros da recessão. Os discursos oficiosos são tão mórbidos que até se alegram com sinais de já termos batido no fundo e de nos compararem com uma qualquer média da comparação estatística dos outros, em certos segmentos onde não estaremos na cauda do bicho.


Os desvarios das várias licensiosidades governativas que vamos tendo e os crescentes eleitoralismos e populismos da campanha permanente a que estamos condenados continuam a deixar-nos uma pesada factura que todos os vivos e nascituros terão de pagar, porque apenas continuamos a ter os governos que merecemos e os falsos sebastianismos que sufragamos. Quem for essencialmente contra este sistema, em defesa do regime, não pode cair na esparrela de passar um cheque em branco aos que agora mandam no situacionismo, ou aparecem como alternância do mais do mesmo, mas fingindo-se alternativa.


Importa continuar a subverter o sistema em defesa dos princípios fundacionais do regime e da própria nação. Ai da democracia se, nos próximos actos eleitorais, se conservar o que está e não se fizer o necessário golpe de Estado sem qualquer efusão de sangue , ou de outra qualquer violência, incluindo a revolucionária. Caso as eleições não apontem para uma efectiva mudança e porque um 5 de Outubro, um 28 de Maio ou um 25 de Abril já são impossibilidades técnicas, eis que um novo regime, uma nova ditadura nacional ou um novo processo revolucionário podem ter como sucedâneo um mero acto de anexação dos nossos centros de decisão por protectorados supranacionais, seja da geofinança, seja de um qualquer directório da hierarquia das potências, colocando-nos sob estrita vigilância, a fim de pagarmos o que internacionalmente devemos.


Não me comovem, portanto, as viúvas destas partidocracia com os seus discursos de justificação memorialista. Dentro de algumas crises, eles serão a insignificância das notas de rodapé da história. Poucos reparam que os ditos nasceram de cima para baixo, a partir da respectiva colocação na hieraquia do estadualismo que os decretou como pensadores oficiosos e vacas sagradas. Prefiro colocá-los definitivamente na minha zona de desprezo, lado a lado com outros protagonistas da suprema burocracia inquisitorial. Os "betos" estão à espreita destes cadáveres adiados que procriam retórica, os "jotas", sedentos de uma aliança com os mesmos, e os controladores sociais das forças vivas julgando que, afinal, vai virar o disco para que a máquina que nos destruiu continue a tocar o mesmo.
PS: A imagem que reproduzo foi tirada neste meu permanente lugar de exílio. É de uma selvagem e terna criatura, nascida há dias por entre o mato das redondezas. Espero que este sinal de esperança não seja caçado nos começos do Outono.

25.6.09

A governança sem governo. Texto que publiquei no DN, no começo da semana...




Os “jamais” de Mário Lino não são causa, mas mero sintoma deste interregno. Porque o estado a que chegámos, pequeno demais para os grandes problemas do nosso tempo e grande demais para para os pequenos problemas do homem comum, tem muita banha, pouca flexibilidade muscular, ossos descalcificados e nervos esfrangalhados, dado que se multiplicou em muitos monstrozinhos, como os do “outsourcing”, da avença, da parecerística e da consultadoria, de acordo com o ritmo daqueles que gostam de nacionalizar os prejuízos e privatizar os lucros...

Os recentes adiamentos das obras pouco mestras, que serviram de literatura de justificação para um governo que confunde o crescimento do aparelho de administrativo com o bem comum, servem apenas para ocultar que a maior parte dos factores de poder já não são domésticos e que o principado que asfixia a república é, talvez, o menos eficaz de muitos variados intervencionismos que actuam neste território já sem fronteiras. Assim se confirma que há uma espécie de governança sem governo, bem como um piloto automático cujo “software” é fornecido por forças vivas que temem as decisões do povão e já concluíram que entrámos numa era de risco, não comandável pelo tradicional bloco central de interesses, como o demonstrou o silêncio da maioria absoluta do eleitorado, que não quis confundir a democracia com a sondajocracia. Já não manda quem o podia e pode desobedecer quem o merece.
PS: Imagem picada aqui

As energias pouco renovadas, a PT, o BCP, Moniz e as eleições do Benfica. O tempo mudou e ela já voltou


Os dois principais líderes do sistema partidocrático vigente, ontem, quase monopolizaram o espaço mediático. Usaram e abusaram da palavra e conformaram silenciosamente as opções que irão ser depositadas na urna em Setembo/Outubro. E todos os que os viram e ouviram ficaram assim plenos daquela hiperinformação que tanto pode gerar a confiança no situacionismo, como uma alternância dentro da mesma betesga.


Ouvi e vi Sócrates no parlamento e, de tanto o presenciar, fui conseguindo perceber, pelo estilo, os argumentos da respectiva promoção e venda do presente produto governamental. "Oh! Senhor Deputado, como eu o percebo... Pois, não querem ouvir, mas o senhor não pode falar porque foi secretário de Estado do governo anterior ao meu... O Estado não se mete em negócios privados da PT", mesmo que esta tenha uma "golden share" do Estado! Todos perceberam que o primeiro-ministro tem uma particular vingança a fazer com a linha editorial da TVI, não controla fundações-fantasmas e é capaz de decidir por ministros, como o da agricultura, colocando-o em imediata contradição.


Passei, depois, para a entrevista de Manuela Ferreira Leite à SIC. E o único comentário que posso imediatamente esboçar tem a ver com o não desgaste da sua imagem, porque tive que ouvir, palavra a palavra, e fiquei surpreendido com a garra que ainda demonstra. Sem ainda me ter convencido, compreendi que se trata de uma respeitável senhora que foi agravada na sua honra de ministra das finanças do primeiro governo PSD pós-Guterres. Preocupou-me a descrição que fez do Portugal económico, totalmente enredado no endividamento e julgo que foi esmagadora na credibilidade que, ontem, reganhou junto dos operadores económicos que ainda acreditam nas actuais circunstâncias. Porque, com este discurso, um confronto directo com Sócrates levaria a KO técnico do secretário-geral do PS.


As sucessivas notícias sobre casos como o Freeport, o BPP e o BCP, o modo como vai decorrer o inquérito sobre o BCP, as notícias vindas da Procuradoria-Geral da República e os muitos outros casos de polícia poderão tornar esta época estival uma sucessão de parangonas, confirmando um "out of control" que marcam a presente encruzilhada estratégica. Claro que a PT não deve ter contactado formalmente com o Governo, mas ninguém desmentiu os contactos dos decisores da mesma empresa com pessoas, directa ou indirectamente, ligadas ao governo e ao Partido Socialista. Nem o novo porta-voz do PS, com o seu estilo beto, ao repetir o mote do negócio entre privados, nos descansou. Muito menos, a comunicação de Henrique Granadeiro, da PT, repetindo que essa entidade estadualizada em forma de empresa privada "não falou com o Estado".



Por outras palavras, ninguém desmentiu que uma qualquer pessoa privada da PT terá falado com um qualquer actor, ou intermediador, do socratismo, por causa da linha editorial da TVI. Coisa que, aliás, não poderia naturalmente ser revelada, porque, a ocorrer, se desenrolou naturalmente na face invisível da política. Logo, Sócrates, no recente congresso do PS, nunca deveria ter tido como "leit motiv" o ataque ao telejornal de sexta-feira da TVI. E, muito menos, ter invocado o "povo é quem mais ordena", quanto a matéria, como a da Freeport, que continua sob a alçada do Ministério Público e das polícias.


Manuela Ferreira Leite, assentando a sua argumentação na postura analítica do Presidente da República e no demolidor diagnóstico dos 28 economistas, conseguiu insinuar que Sócrates está ao lado de certas grandes empresas, contra as pequenas e médias empresas que representam cerca de noventa por cento da produção portuguesa. Resta colocar-se agora ao lado das instituições de solidariedade social e de todos os sectores sociais que foram perseguidos pelo actual governo, como os funcionários públicos, os professores, os médicos, os magistrados ou os polícias. Com a oposição laranja a tentar federar todos estes "clusters" e com a oposição de esquerda a assumir-se como voz tribunícia de outros marginalizados, não esquecendo o próprio modelo de navegação do CDS, Sócrates corre o risco de semear palavras, gastas pelo uso e prostituídas pelo abuso, em pleno deserto de ideias, com muitas fundações privadas em sítios públicos de muitos milhões de todos que se gerem fora do controlo público.


Infelizmente já nem Vitalino lhe pode valer, com muitas palavras que nunca disseram nada, mas que tinham a sublime arte de embalar. O jovem Tiago ainda pensa que pode dizer alguma coisa e até conseguiu dizer que, contra Moniz e Manuela Moura Guedes, valia mais a aposta do governo nas energias renováveis. Essa síntese dos ministeriais Costa, o António e o Alberto, talvez por exagero de papa Maizena com Linux, não é Paulo Rangel, apesar de também ser secretário de Estado da área da justiça. Resta saber como conseguirá Manuela Ferreira Leite livrar-se do "lixo tóxico" de uma história partidária que vai mostrando as garras discursivas e pode ser destronada por uma eventual campanha negra que os amigos do PS podem lançar em desespero de causa. O tempo mudou, ela já voltou, acabou, por hoje, o sol a mais e o azul intenso de um horizonte liberto pela esperança cósmica.


23.6.09

As desventuras das pequenas confrarias endogâmicas em dia de sol a mais e mar azul


Relativizemos o caso, mas não deixemos de assinalar que o presidente de Portugal aceitou ser colocado, no mesmo tempo, local e nível que honorificou o grão-mestre da ordem do uísque. O que é bom para os escoceses pode não ser o melhor para a promoção de Portugal, quando Ronaldo atinge o esplendor de ser o mais bem pago do mundo na sua arte. Na Heriot-Watt University, não foi apenas a Mary Portas a ser doutora honoris causa, mas também o músico Steve King e o Chairman da Scotch Whisky Association (em letra miúda e no fim do texto, a lista completa).

É evidente que as reportagens nacionais sobre a questão apenas seleccionaram a feira das vaidades das honrarias, a fim de adocicarem o registo mensal da quebra das receitas fiscais e o crescimento avassalador do desemprego, enquanto o discurso oficial deste interregno governamentalista continua todo ele Magalhães-mais-choque- tecnológico, mas já sem barraquinhas de inaugurações que o vento teimava em levar, esquecendo-se todos, como ontem também recordou o chefe Costa, da autarquia lisbonense, que as obras não são de quem as inaugura, mas de quem as paga. Queria insinuar que ele, Costa, é que pagou o túnel de Santana, tal como este disse que pagou o derrube do Casal Ventoso soprado por Soares. Esqueceram-se os dois que quem efectivamente paga é o Zé, porque o Estado não são eles, mas nós todos, incluindo a maioria absoluta dos que não votaram nas anteriores eleições gerais.

Ai das instituições quando caem nas garras da vindicta e da persiganga dos micro-autoritarismos sub-estatais, com a inevitável adulação e do consequente sindicato das citações mútuas. Que venham novos pretensos porta-vozes, com os seus beatos discursos sobre a pretensa ética da responsabilidade, a que chamam segredo de Estado, mas onde o privado do grande chefe parece superior ao público. Julgo que importa conservar a serenidade dos que não subscrevem as teorias do homem de sucesso, considerando que a longo prazo estamos todos mortos, na tal paz do cemitério dos insubstituíveis.

Há quem não se rebaixe elevando os chefezinhos das modas que passam de moda à categoria de inimigos. Quem prefira continuar a procurar a eternidade e a dialogar com o universal talvez tenha outros fins bem mais ambiciosos e não deve perder-se nas miudezas viscerais dos vermes, na contabilidade merceeira e nas arcas endogâmicas dos corredores dos pequenos poderes domésticos. Desses jogos de soma zero, onde o chefezinho, cantarolando para os seus botões, manda entoar aos serviçais que quem não está com ele não está no mundo. Não nos deixemos asfixiar por esta clausura autoreprodutiva dos pequenos quintais capitaleiros, com as suas notas oficiosas decretinas. O mundo tanto é maior quanto pode ser melhor.

Ainda hoje bastou-me ver a mãe rola conduzindo os seus filhotes pelo caminho da fonte, os perdigotos fazendo algazarra por entre as ervas do monte, enquanto a passarada vai trinando. O dia está pleno de sol e de azul. Os micro-autoritários e os ajudantes do papão, podem ir de vitória em vitória até ao esquecimento final, pensando que a essência do poder é procurar manter-se. Apenas perdem as instituições que eles transformaram em bonecas que escarfuncham para procurarem, por entre a palha, uma simples agulha que pensam ser a chave da arca do segredo, quando o segredo é apenas não haver segredo.

Insisto: terramotos destes apenas levam ao vazio da ideia de obra, à destruição das manifestações de comunhão entre os formais detentores da cidadania e à flagrante violação do mínimo das regras que permitem a continuidade das coisas seculares. Porque deixa de haver direito quando as regras apenas são o que o príncipe diz e quando este não está sujeito às próprias regras que pode fazer, favorecendo os amigalhaços e punindo os dissidentes. E iguais em indignidade são os Pilatos que pensam poder lavar as mãos, libertando Barrabás e pensando que serão ministros na próxima legislatura. Voltemos ao mar, esse "hiper-cluster", o dia está azul demais para vermes...

Mary Portas, Creative Director of Yellow Door, will be awarded a Doctorate of Letters in recognition of her distinguished career and her outstanding and creative contribution to the advancement of marketing and brand communications within the retail sector. (Ceremony 11.00am, Friday 19 June, Galashiels)His Excellency Professor Anibal Cavaco Silva, President of the Republic of Portugal, will be awarded a Doctorate of Letters in recognition of his distinction in the discipline of Economics and in public service in the Republic of Portugal. (Ceremony 10.00am Tuesday 23 June, Edinburgh Campus)Mr Steve King, Musician and Musician-in-Residence at Heriot-Watt University, will be awarded a Doctorate of Letters in recognition of his distinction in the field of music and his outstanding contribution, through music, to the cultural and educational life of Heriot-Watt University and the wider Scottish community. (Ceremony 10.00am Tuesday 23 June, Edinburgh Campus)Mr Ian Marchant, Chief Executive of Scottish and Southern Energy, will be awarded a Doctorate of Engineering in recognition of his distinguished career and outstanding contribution to sustainable development of the Scottish energy industry. (Ceremony 1.30pm Tuesday 23 June, Edinburgh Campus)Mr Robert Graham, Chairman of Graham’s Dairy, will be awarded a Doctorate of the University in recognition of his outstanding contribution to Scotland’s dairy industry and for his demonstrated leadership in the context of small and family owned businesses. (Ceremony 10.00am Wednesday 24 June, Edinburgh Campus)Mr Gavin Gemmell, ex-Chair of Heriot-Watt University Court and Chair of Archangel Informal Investments Ltd., will be awarded a Doctorate of the University in recognition of his contribution to the governance and progress of Heriot-Watt University and of his outstanding career and leadership in the financial sector. (Ceremony 1.30pm Wednesday 24 June, Edinburgh Campus)Ms Carol Ann Duffy, Poet Laureate, will be awarded a Doctorate of Letters in recognition of her artistic achievements as poet, playwright and promoter of creative writing. (Ceremony 1.30pm Wednesday 24 June, Edinburgh Campus)Dr Ben Goldacre, writer, broadcaster and medical doctor, will be awarded a Doctorate of Science in recognition of his outstanding contribution to scientific journalism and in the promotion of public engagement with and greater understanding of science. (Ceremony 10.0am Thursday 25 June, Edinburgh Campus)Mr Paul Walsh, CEO of Diageo and Chairman of the Scotch Whisky Association, will be awarded a Doctorate of Letters in recognition of his distinguished career and, through his leadership, an outstanding contribution to sustained development and economic success within the global drinks industry. (Ceremony 1.30pm Thursday 25 June, Edinburgh Campus)Mr Alan Shaw, Chartered Engineer, will be awarded a Doctorate of Engineering in recognition of his services to the energy generation industry and of his many years of support and advocacy of Heriot-Watt University. (Ceremony 10.00am Friday 26 June, Edinburgh Campus)

Não é um partido de raça pura, mas antes uma entidade marcada pela complexidade mestiça...


Ontem foi dia de reunião PSD. Dessa federação de militantes, grupos de interesse e grupos de pressão que talvez constitua o primeiro dos partidos do actual sistema político. Já se quis inscrever na Internacional Socialista, mas o PS não deixou. Já foi do Grupo dos Liberais e Reformistas. É actualmente do Partido Popular Europeu. Não é um partido de raça pura, mas antes uma entidade marcada pela complexidade mestiça, no que tem o melhor e o pior da respectiva natureza. Tanto aparenta ser conservador do que está, nos valores, quando transacciona convicções com o bloco tradicional católico, como assume a vestimenta reformista, para, na essência, ser fundamentalmente predador, quando se trata da conquista e manutenção do poder.


Hoje é Manuela Ferreira Leite e considera que, tal como os sindicatos estavam para o PCP, assim estão as autarquias e um governo regional para o PSD. Aguentou bem a pressão dos barões internos e contornou os caciques. Não cedeu ao eleitoralismo de uma imagem que não se cola com o seu aspecto de respeitável senhora e até não seguiu os conselhos de Marcelo Rebelo de Sousa e as provocações de Luís Filipe Menezes. Contudo, manteve alguns dos emplastros dos "jobs for the boys and girls" nas suas primeiras listas. Exagera na pose ministerialista e até se recorda muitas vezes que foi uma exclente directora-geral da contabilidade pública. Sobretudo, está dependente das transferências de expectativas que os povos depositam em Cavaco, vendo nele o verdadeiro líder da oposição.


Acresce que tem má imprensa e, às vezes, quando desce as escadas e contacta com os homens do microfone e do "zoom", saem-lhe metáforas que os adversários deglutem e glosam em insulto. Não me refiro à pensada crítica ao casamento dos homossexuais, que teve o apoio dos convictos católicos e foi ponderada, mas à colocação fora do contexto da suspensão da democracia por seis meses. Deveria ter dito governo alemão de grande coligação ou suspensão das hostilidades partidocráticas, pelo menos entre os irmãos-inimigos do bloco central. É evidente que os adversários, como os socrateiros, elevaram o texto sem contexto a críticas que foram pior emenda do que o mau soneto, mas, de qualquer maneira, a líder do PSD tem de treinar mais estas aparições palavrosas.


Precisa, sobretudo, de fazer um ataque mais frontal à corrupção, mostrando arrependimento de um partido que tem a imagem real de dar cobertura aos piores negocismos do bloco central de interesses. Como deveria ter um programa ousado de reforma do sistema partidocrático, porque ninguém vai passar um cheque em branco a uma máquina que também internamente é predadora e já tem dezenas e dezenas de ocupantes do oposicionismo, mas que são substancialmente situacionistas de memória futura reclamando contrapartidas. Eu conheço alguns que, até há pouco, fizeram as mais vergonhosas cedências ao PS, até na persiganga, juntando-se a todo um naipe de assaltantes da máquina do Estado, onde, em nome do poder pelo poder, agregaram salazarentos, estalinistas e fascistas cobardes. E desconfio que tenham reclamado o estatuto de mministeriável. Pelo menos, já reparei que algumas das suas viúvas aparecem na televisão como emplastros da vitória de Pirro de Rangel.

22.6.09

Pantouflage, attrape tout, mandarins e caciques



Consta que suas excelências os malhadores não qualificam a passagem do ritmo Vital mais Vitalino para o de Vitorino mais João Tiago como alteração da política de imagem. Talvez porque a música não deixe de ser outra, os inaugurativos discursos de palanque continuam riscados, pelo uso e abuso da mesma placa giratória que faz a ligação entre o mundo dos negócios e as genialidades do centrão partidocrático, para que, entre o Estado e o Mercado, a "pantouflage" continue, entre a nebulosa das forças vivas e a ascensão e queda dos emplastros da avença, da parecerística, da articulação de interesses, da consultadoria, do agenciamento de favores e da gestão de influências, coisas que não rimam com o civismo daquela ética republicana que não se confunde com a comemoração do 5 de Outubro de 1910 nem com a militância num qualquer grupo de extrema-esquerda quando se tinha dezasseis anos.




Porque é esta nebulosa da passagem de certo privado para alguns cargos públicos e, pior do que isso, a passagem de certos ministros e "boys for the jobs", para certas funções privadas, ou para cargos empresariais de nomeação pública, que cria um ambiente onde a palavra corrupção transforma em fantasmas uma série de actos que não cabem na restrita compra do poder, agravando a desconfiança pública face ao bloco central político e o seu irmão gémeo, o bloco central de interesses. Quando os "lobbies" não podem uivar institucionalmente, isto é, registar-se e manifestar-se publicamente como formais grupos de interesse e, consequentemente, como inevitáveis grupos de pressão, gera-se este ambiente de desconfiança pública.




E não há democracia de sociedade aberta que não assente na poliarquia, com forças vivas predadoras navegando no pluralismo e promovendo a defesa dos interesses instalados, cristalizando-se em "establishment", com a consequente tentativa de criação de um "status" dentro do Estado. Também não há democracia sem caciques, sem influentes, com a sua personalização do poder pela prestação de serviços que vão além da mera representação política.




Do mesmo modo, não constitui pecado que os grandes partidos que navegam nestas águas que, de alterosas, podem volver-se em pantanosas, se transformem em grandes federações de grupos de interesse e de pressão, interclassistas, sem o domínio dos militantes e dos notáveis. Surgem assim os partidos "catch all", "attrape tout", dotados de um programa "omnibus", como são o PS, o PSD e o próprio CDS.



Logo, os ministros podem cair por uma qualquer negligência fiscal que a vindicta de um antigo aliado deixou escorregar para o sensacionalismo de um qualquer semanário da má-língua. Os candidatos a presidentes da comissão europeia podem ter sido vítimas da falta de diálogo do albergue espanhol. Mas, a partir de Outubro, podemos ter que recorrer a esse tipo de personalidades para a chefia ou a subchefia do eventual governo de acordo interpartidário, se nenhuma das presentes forças políticas atingir o cheque em branco da maioria absoluta. Só que o excesso de ética da responsabilidade, de segredo de Estado e de sigilo judiciário pode fazer com que tudo volte a morrer à vista de costa e que continue a falhar o modelo anímico da ética da convicção.



O plano B das forças vivas que pretendia continuar a controlar os incautos, ao ritmo do lançamento das crónicas pimbas do "menino de oiro", foi chão que deu demissões do Conselho de Estado. E o presente plano C, pelo recurso aos porta-vozes das homilias da televisão estatal e estatizada, pode também não servir para dar voz àquele azedume que levou a mais sessenta por cento de abstenções. Há ministros, como Mário Lino, que já anunciaram o respectivo abandono, mas desses guardamos saudades, porque souberam defender com o mesmo vigor a Ota e Alcochete, o TGV e o respectivo adiamento, entre o "jamais" e o seu contrário, mas sempre sem a pose do estadão e com essa qualidade rara dos que mantiveram o sentido do humor e não perderam o sentido do homem comum. Devemos, pelo menos, respeitá-los.




E há políticos que são mais importantes do que ministros, como os presidentes das autarquias de Lisboa e do Porto, donde costumam sair candidatos a presidentes da república, como um que tivemos em Belém, que nunca atingiu nenhuma cadeira ministerial. Ou como o actual presidente do município portuense, que já venceu eleições a Pinto da Costa e que, apesar de ser o primeiro vice-presidente do principal partido da oposição, só sairá da estação de Campanhã para o sul, a caminho do cargo de governador do Banco de Portugal ou de presidente do parlamento. Ministro vem de "servus ministerialis", isto é, de "escravo da função", do ministério, do encargo público para que foi investido pelo povo.

18.6.09

O delegado de informação médica... e a violação das massas pela propaganda



Observei ontem, em directo, na SIC, que a intervenção de José Sócrates corresponde a um encenado terceiro heterónimo, como homem de poder. Se, num primeiro ciclo, o do estado de graça, ele foi o animal feroz com pele de gajo porreiro, e, num segundo tempo, até às eleições europeias, exagerou como delegado de propaganda médica, eis que, perante Ana Lourenço, se volveu em mero delegado de informação médica, com um ar de explicador de província das aspirinas do reformismo. Mais acrescentei que, no subconsciente, estava uma espécie de salazarismo democrático, desde a invocação do economista que se impôs nos anos trinta, "kaines", ao quase plano das escolinhas dos centenários, não faltando o paradigma de obra do regime, onde o TGV aparece como a vermelha ponte sobre o Tejo, já que Cavaco tem a Vasco da Gama, da feijoada. Até me recordei da estatização pela CGD salazarista das caixas de crédito agrícola múto do Brito Camacho e do D. Luís de Castro. A esquerda ficou ontem reduzida ao crescimento do intervencionismo dos aparelhos de Estado na economia e na sociedade, à boa maneira do velho mercantilismo de Estado do pombalismo.

O primeiro-ministro estava quase tão perdido como os próprios comentadores, por não terem todos suficientes estudos de opinião que lhe permitam descobrir para onde pendem os sessenta e tal por cento de abstencionistas e votos em branco. É evidente que irritei dolososamente tanto os situacionistas como os oposicionistas. Esses que agora pensam poder dialogar directamente com essa abstracção dita dos portugueses, sobretudo dos eleitores que calaram, que não consentiram, que nada disseram. E ninguém pode com ciência certa, mesmo que com poder absoluto, determinar esse silêncio. Não chega o lume da razão. Há muitos bruxos e adivinhos, mais ainda vendedores de charlatanismo. Poucos sabem manejar aquela intuição da essência que se desenvolve pelo lume da profecia.

Se a tivesse poderia ser um bom político. Nunca o serei. Apenas sou dono da minha opinião e da subjectiva interpretação que faço das circunstâncias, onde, inevitavelmente, derramo as minhas concepções do mundo e da vida, bem como as minhas naturais simpatias e antipatias. Contudo, porque as expresso sem qualquer restrição de fingimento, tento praticar a independência da minha aproximação à verdade, sem qualquer disfarce de autoritarismo catedrático, em nome de uma pretensa ideologia científica. Mais: não estou arregimentado ou iludido pelas actuais canalizações partidocráticas de situacionistas e oposicionistas e nunca estarei satisfeito comigo mesmo...

Sócrates ensaiou o homem novo, procurando a "legitimidade refrescada". Reconheceu "fracasso", "derrota" e "desgaste". Notou o afastamento de sectores sociais como os dos professores, dos juízes e dos funcionários públicos. Mas disse resistir a cem mil na rua, orgulha-se dos resultados e teve alguns lapsos de língua quando exagerou na crítica "àquela comissão parlamentar de inquérito", dita "chocante", e usou a palavra falência para os casos do BPN e do BPP, além de outros termos como os de "mentira", "vigarices" e "indecorosidades". Por outras palavras, foi não apenas liberal quanto ao divórcio e á IGV, como também sobre certa eutanásia bancária da "morte controlada". Nada disse de Dias Loureiro nem do BCP.

Não lhe saltou a tampa como durante a tarde, onde o animal feroz, de supremo opositor da oposição, malhou à esquerda e à direita. Preferiu ser tão hipercentrão quanto o discurso que mandou fazer a Luís Amado, embora continuasse a fingir que estava num comício do Bloco de Esquerda contra o Bush, ao lado de Diogo Freitas do Amaral e de Mário Soares, para se candidatar a chefe do Bloco Social de Esquerda, contra o Bloco Social de Direita, que gostava de ver comandado por Paulo Portas e Santana Lopes.

Isto é, continuaram as disputas retóricas, típicas da endogamia de um sistema quase em autoclausura pouco reprodutiva. Isto é, o avançado de centro do situacionismo, sem a táctica de Mourinho, quis disfarçar a circunstância de as canalizações representativas do actual sistema terem entrado em completa disfunção. Nem se lembrou que quebrou a tradição federativa do velho PS soarista, com os seus "challengers". É que Cavaco tinha Dias Loureiro e Fernando Nogueira, como ministros do mesmo governo. Guterres tinha Sócrates. E Sócrates continua a ter Santos Silva...

17.6.09

Alguns princípios de política, em dia de tédio e de revolta


Dizem que, daqui a minutos, o parlamento vai discutir uma qualquer moção de censura face ao poder estabelecido e que, mais logo, o primeiro-ministro, usando o seu heterónimo de líder do PS vai ser entrevistado em directo. Passei a manhã e o coemço da tarde num hospital público, em apoio directo a um descendente e fiz a adequada hierarquia de valores. Nem sequer tenho acompanhado, ao pormenor, a acção da polícia e dos magistrados à procura de provas, em empresas de sucesso e em autarquias de primeira. Uma democracia não se mede por aquilo que proclama o vértice do hierarquismo nem pelo sistema eleitoral que o eleva ao estadão, mas antes pela qualidade da cidadania e pela principal expressão desta que é o controlo do poder

Pobre jacobinismo, herdeiro dos pombalismos, que continua a querer destruir as autonomias e o pluralismo, perseguindo a sociedade de ordens, sempre em luta contra Távoras, Jesuítas e Povos, como o da Trafaria que Sebastião José tentou extinguir, levando a que o rolo unidimensionalizador das revoluções erigisse as estátuas aos déspotas que cortam o horizonte das nossas Avenidas da Liberdade.

Não há democracia pluralista, nem sequer república, no sentido kantiano, se o pacto de associação não for assumido como superior ao pacto de sujeição e ao pacto de governo, incluindo o da via eleitoral. Não há república se não soubermos praticar o sistema de controlo de poder dos que mandam, se não soubermos olear as relações entre o sistema social e o sistema político. Porque só há democracia no Estado se antes se praticar a democracia da sociedade civil, através de uma exigente poliarquia.

A abstenção pode significar uma atitude de superior desprezo, em protesto contra a usurpação da democracia por um “l’État c’est lui” de uma qualquer oligarquia. Porque quem cala (eleitoralmente) tanto pode consentir como nada dizer. De qualquer maneira, há movimentos e partidos que podem assumir-se como vozes tribunícias, promovendo um esforço de integração no sistema dos marginais ou excluídos.

No entanto, importa reconhecer que esta nossa democracia abrileira conseguiu ser a mais inclusiva das três que tivemos, desde que, em finais de 1979, os potenciais marginais da direita conquistaram o poder evitando o sonho de mexicanização do soarismo. Superou-se o modelo de clausura do partido sistema (o PRP de Afonso Costa, quase contemporâneo do PRI mexicano), ou do rotativismo devorista (equivalente ao bloco central, onde o PSD se assemelha aos regeneradores e o PS, aos progressistas).

A presente democracia representativa tem as canalizações representativas enferrujadas. Mesmo que assente na vontade de todos, não assume a vontade geral, porque cada um decide pensando nos seus próprios interesses (sondajocracia) e não assumindo-se como o soberano pensando no interesse do todo. Porque as democracias representativas políticas costumam ser compensadas pela democracia da sociedade civil, do consociativismo. O que não é possível num país submetido ao rolo unidimensionalizador do verticalismo ministerialista, centralizado, concentracionário e capitaleiro, onde vigora o quase monopólio da política pelo aparelho de poder. Onde o principado ao construir, ou reformar, o Estado e ao querere reconstruir a nação, passou a desprezar o horizontalismo da república ou comunidade, onde o Estado somos nós.

Num modelo centralista e concentracionário, esse estatismo, herdeiro do absolutismo (tanto o do despotismo ministerial como o povo absoluto) gerou a compressão da autonomia da sociedade civil. Logo, os Girondinos foram guilhotinados pelos Jacobinos, só porque este lhes dão o cognome de Vendeianos, promovendo a estúpida clivagem da cidade contra as serras, da capital contra a província. Onde Portugal é Lisboa e o resto é paisagem, neste exagero capitaleiro da sociedade de corte. Quando uma república maior é mera consociação mista, de consociações privadas, comunitárias e públicas. Onde a sociedade perfeita é federação de sociedades imperfeitas. Onde a política é superior à economia.



16.6.09

Um pouco de Montesquieu, se faz favor...


Com mais umas longas horas de Constâncio contra os deputados-inquiridores, a que, pacientemente, assisti em directo, foi-me dado reparar que pode haver e há deputados de qualidade, bem como um governador do banco central que não pertence à esquadria dos unidimensionalizados, confirmando que tudo aconteceu porque o mesmo governador e a respectiva equipa se revelaram ingénuos face a um perfil errado que traçaram sobre um antigo director da supervisão do mesmo banco central, por acaso, antigo secretário de Estado financeiro do primeiro-ministro que é actualmente presidente da república. Julgo que esta confissão de Constâncio, reiterada e sincera, poderá ser repetida por Cavaco e também confesso que, para mim, Constâncio e Cavaco estão acima de qualquer suspeita como homens públicos, dos tais que colocam o valor do bem comum, isto é, a síntese de ordem e de justiça, como diria São Tomás de Aquino, no vértice dos respectivos princípios e crenças. Reparei também como tudo poderia ter sido superável se funcionasse, de forma flexível, um telefone directo entre este governador do Banco de Portugal e idêntico aparelho receptor de informação do anterior Procurador-Geral da República.


Porque nenhum deles deve ser ingénuo quanto à possibilidade do temor reverencial ou do respeitinho perante alguém que vestiu certos hábitos de monge, mas que por mais farpelas que usem, não se fazem por isso mesmo, monges. Oliveira e Costa e a dúzia de colaboradores do BPN, referida por Vítor Constâncio, até podem ter sofrido daquela habitual doença do poder referida pelo francês Montesquieu, o pai da democracia norte-americana quando quis imitar a revolução inglesa: qualquer pessoa virtuosa, quando conquista o poder, tende a abusar do poder que tem e única forma conhecida pela história de o controlar, está na fixação dos limites do contrapoder, pelo que, para cada acelerador, se deve estabelecer um travão, para cada faculdade de estatuir, deve existir outra faculdade de vetar. A qualidade da democracia mede-se, menos pelo saber quem manda, e mais pelo estabelecimento de um adequado sistema de controlo do poder daqueles que mandam.


Ontem não foi Constâncio que ganhou ou perdeu. Do mesmo modo, também não foram os deputados inquiridores que atingiram o exacto inverso do perder ou do ganhar. Perdemos todos, porque todos estamos a pagar, quer os prejuízos, quer, sobretudo, a confiança pública nas instituições dos políticos profissionais, dos banqueiros e dos magistrados, dado que, a certa altura, colocamos ao mesmo nível um polícia e um ladrão, porque julgamos que basta um golpe de retórica para atravessarmos a fronteira da salvação. E os auditores e telespectadores, transformados em massa, perante tais malabarismos, podem entrar em desespero e optar pela clássica rebelião das mesmas massas. E ela já pode medir-se pelo nível da abstenção face ao sufrágio universal e até pela quantidade dos votos brancos e nulos. Isto é, quem não continuar ingénuo, já pode medir a evidência: passámos do indiferentismo ao azedume e há que ser cirúrgico e evitar a explosão.


Ainda ontem, conversando com o meu filho, recentemente regressado de um ano lectivo numa universidade norte-americana, dentro de um programa de intercâmbio com uma universidade pública portuguesa, confirmei meia dúzia de verdades comparativas entre a principal potência do mundo e este quintal à beira-mar plantado, feito reino cadaveroso.


Lá, uma das coisas menores da política e da cidadania são as eleições, porque os eleitos permanecem em contacto directo com os respectivos eleitores e respondem aos "inputs" destes, livres da disciplina partidária e, principalmente, livres da disciplina que lhes é imposta pelos directórios partidários. Lá, há comparativismo de medidas, entres os diversos membros da federação, e não comparações entre os pequeninos que somos e os grandes que nunca seremos, fazendo caricaturas e gerando megalomanias. Lá, é de pequenino que se torce o pepino, desde os bancos das universidades, onde os estudante que efectivamente pagam, escolhem responsavelmente os respectivos currículos e estão sujeitos à efectiva expulsão da universidade, ao fim de três condenações, coisa que entrou na rotina, desde a simples bebedeira ao mero acto de copianço, plágio ou outra desonestidade académica. Porque há liberdade, responsabilidade e, acima de tudo, regras que se cumprem porque são comunitariamente assumidas. Cá, há Bolonha que, em nome do carreirismo da empregomania, logo aumentou as especializações em pormenores de engenharia curricular, impedindo a livre escolha...


Lá, não são os constitucionalistas e os legisladores da fotocópia das abstracções que fazem as regras, porque elas vêm da experimentação, da natureza das coisas e da vontade de gradualismo perfeccionista. Lá, todos são educados para a república pelo civismo e todos sabem distinguir perfeitamente o programa de um republicano ou de um democrata. Aqui, entre um PS, um PSD ou um CDS, venha o diabo e escolha, com tanta água benta de politicamente correcto, pelo que se cai sempre no irrealismo dos fantasmas de direita e dos complexos de esquerda, para que tudo continue como dantes com o quartel general na palha de Abrantes e na tal moral populista do sapateiro de Braga onde não há moralidade nem comem todos. O nosso problema não é político, continua a ser moral e cultural. Contâncio e Cavaco não são causas, são sintomas. E Sócrates e Manuela, as suas vítimas. Porque quem continua a pagar é o Zé. O tal que pensa que o Estado é deles e não nosso.

15.6.09

Ensaio de um manifesto contra os padrinhos a que chegámos...


Por causa de Montaigne e em vésperas de exames nacionais, sob signo de nossa senhora de Lurdes, julgo que vale a pena enumerar os dois principais defeitos do nosso verticalizado sistema de ensino: a falta de tradição encicopledista e o exagero de sectarismo, onde abunda o "index librorum prohibitorum", mas falta a "ratio studiorum". Em primeiro lugar, falha o sistema de pesquisa no acesso ao todo e a tudo, mas abundam as selectas e as antologias que engordam as editoras escolares, dando pouco nervo ao estudante. Em segundo lugar, permanece o sectarismo tanto da censura eclesiástica anti-herética, como das laicas mesas censórias do estadualismo anti-dissidentes. Por outras palavras, padecemos, como dizia Orwell, de dois tradicionais colectivismos morais que nos lançaram em sucessivos ostracismos: o catolicismo inquisitorial, feito direita pura, e o comunismo estalinista, feito esquerdismo.


Ambos tendem a transformar-se em pensamentos controleiros dos aparelhos ideológicos, sobretudo quando os conquistaram nos crepúsculos de regimes medrosos que exageraram nos aparelhos de repressão, sobretudo quando lhes faltava o censentimento e a persuasão da comunidade.


Dessa ausência de capacidade de reflexão sobre o todo da floresta, resultou o dogmatismo do compêndio único, com as vulgatas catequísticas a substituirem o "nosce te ipsum" e o "je pense, donc je suis", gerando-se uma sucessão de modas que passam de moda, onde apenas vai sendo novo aquilo que se esqueceu.


Daí vigorar o tal sectarismo que tratou de ocupar serodiamente os programas escolares, pelo que os professores passaram a ser avôs de si mesmos, não faltando a catedrática e emérita conspiração de avós mortos-vivos que se transformam em padrinhos do carreirismo de muitos netos, bisnetos, sobrinhos, clientes e demais familiares. Mesmo na política educativa, assiste-se a este neofeudalismo de fidalgotes capitaleiros, perpetuando uma sociedade de corte que nos provincializou a todos. Veja-se como ontem, no CM, uma catedrática dava o terno nome de padrinho a um candidato a provedor, enquanto na citação da semana o passado criticava a teimosia que nos vai proibindo o futuro, depois de nos ter direccionado durante décadas...


Lisboa, que é Portugal, onde o resto é paisagem, transformou-se assim numa esponja que absorve todas as vagas colonizadoras da globalização, pelo que é possível detectar um qualquer intelectual desempregado de uma das grandes culturas nacionais da Europa ser para cá despachado como adido alienígena. E assim posto em reforma dourada, com o sossego da Caparica a cinco minutos de bólide, consegue, pela diplomacia do croquete e a consequente adulação dos instalados e do geminado sindicato dos elogios mútuos, controlar o que chamam páginas literárias e livrar-se do necessário manifesto antidantas, mas ajudando a reforçar esta carapaça de neodogmatismo antidogmático que nos afasta das grandes correntes do nosso e de todos os tempos.


É inevitável que um jovem formado por estes aparelhos atinja o começo da maturidade com enormes buracões informativos, com católicos a banirem Kant e laicíssimas criaturas sem acesso a São Tomás de Aquino, não faltando a hemiplegia mental de direitistas que saneiam esquerdistas e de esquerdistas censurando direitistas. Daí que um desses autores de galeria se esqueça dos seus tempos de ruptura juvenil e aspire, um quarto de hora antes de estar com os pés para a cova do caixote de lixo da história, com comenda ao peito, a emprenhar nossos ouvidos com plágios requentados que a planície dos súbditos mentais acha genial, quando bastaria o recurso a uma qualquer edição de bolso de um dicionário de citações.


Esta hiperinformação que nos esmaga, acompanhada por um excesso de universidades, editoras, jornais e telejornais, este abuso do quantitativo não rima com o qualitativo da imaginação e da criatividade. Não porque a massificação seja pior que o elitismo clubista da sociedade fechada, mas antes porque a meritocracia não consegue conformar a democracia. Não há assim seleccionadores nacionais que nos saibam dar espírito de equipa , faltam organizadores do trabalho nacional que nos consigam mobilizar para o bem comum e deixa de considerar-se a justiça como estrela do norte da república. Veja-se a entrevista de Pinto Monteiro ao "Expresso".


Fragmentados por conflituosidades sectárias, passou a ser dominante a ideia de poder pelo poder, onde os jogadores em cena pensam que ganham quando os concorrentes perdem, porque confundem a unidade com a unicidade centralista e concentracionária e transformam a diferença em dissidência que se condena como ostracismo, rifgorosamente vigiada pelos bufos ao serviço do centro. Veja-se o que se passa com a gaguização das universidades, feitas restos de partidocracia e de conselhos gerais de notáveis...


Não havendo as convergências e divergências, torna-se impossível a evolução espontânea da complexidade crescente, o "e pluribus unum", da unidade na variedade e do universal pela diferença. Somos definitivamente rebanho à espera de bordão, sem o substantivo do pluralismo e sem o verbo do controlo do poder. Federação é pecado. Descentralização, um risco. E Sócrates não é o bode expiatório, tal como os simulacros de Cavaco não se podem confundir com o Desejado.


É natural que os caquéticos da persiganga dissertem sobre o futuro, depois de terem condenado, com estrelas amarelas, simples resistentes. E não faltam catedráticos louvando a padrinhagem que sempre foi inimiga da criatividade. Logo, resta o silêncio da revolta e a procura do exílio interno, mesmo que continuemos, todos os dias, a semear as urgentes palavras de subversão face a esta desordem instalada a que chamam progresso.


As vacas sagradas da decadência, que continuam a marcar esta claustrofobia e a provocarem a endogamia, estão pujantes, sem pérolas mas com muitos suínos da respectiva criadagem. O reino da quantidade, habilmente controlado pelo despotismo pretensamente iluminado deste ministerialismo irremodelável, continua a fingir, com palavrosas tecnocracias e muitas traduções em calão, que bastam observatórios, avaliadores e provedores, reverendos, obedientes e obrigados, mas já nem são eles que dominam o manda quem pode, obedece quem deve. Mandam mais os valadões e os moreias que pensam baixinho e nos inundam com as vulgatas oficiosas do português suave que nos unidimensionaliza em colonizados.


Assim, cansam as falsas alternâncias do viciado jogo eleitoral, a que chamam mudança, quando não passam do mais do mesmo. As lebres trazem sempre consigo os emplastros e os implantes de silicone mental, os tais que saltaram para a garupa do cavalo do poder quando este assumiu pose de burrico à procura de cenoura, quando os rabejadores permitiram a pega de cernelha e as chocas asininas o endoideceram. A sucessão de frustrações que nos transformou em deserto de pensamento e de entusiasmo vai continuar. Pedimos desculpa por estas campanhas e actos eleitorais, o programa de divórcio entre a inteligência e a honra usurpou a democracia.

14.6.09

Sabe tão bem reler com o prazer da descoberta


As eleições já foram, novas eleições e novas campanhas nos irão enredar, dentro de três meses, para que os profissionais da política não tenham férias e para que mais me apeteça uma permanecente vontade de exílio. Daí que tenha voltado a Montaigne, um tal Lopes que invoca muitos exemplos portugueses, que foi educado por André de Gouveia, que cita D. Jerónimo Osório. O amigo de La Boétie que navega por Séneca e pelo que lhe foi dado ler de Platão e Aristóteles, retomando o essencial do panteísmo da herança estóica greco-latina, vertebrando o partido de Henrique IV e daquilo que há-se ser a grandeza daquela França que ainda conserva o seu pretérito perfeito.

Sabe tão bem redescobrir este segredo que já existe há cinco séculos, sentir-me próximo destas reflexões que nos dão o essencial da casa comum. Este contemporâneo de Luís de Camões e tal como ele militante do jusnaturalismo renascentista do partido de Erasmo. Sabe tão bem reler com o prazer da descoberta. Sabe tão bem ser arrastado por esta corrente profunda, onde está ancorada a minha identidade. A mesma maneira de sentir o diálogo platónico e a dúvida criativa, ou o cepticismo entusiasta daquele humanismo silencioso da procura da perfeição, com os pés livremente presos nos torrões das pátrias. Porque podemos encontrar o universal nessa viagem que, dentro de nós, nos dá o mais além.

11.6.09

O interregno, para continuarmos a procurar Portugal fora de Portugal e sermos verdadeiramente universais



Ontem, foi doloroso dia de discursos metapolíticos para rasteiras interpretações politiqueiras. Mais uma vez se confirmou que, aos portugueses, falta Portugal, ideia de obra que não pode receber adequadas manifestações de comunhão por parte dos chamados portugueses. Porque os únicos portugueses que restam, mesmo estando cá, já não são de cá, dado que, atingindo o universal pela diferença, não correspondem ao paradigma sociológico dominante. São tão do contra que nem pela oposição conseguem ser mobilizados, achando absolutamente desinteressante qualquer preocupção quanto ao destino dos actuais depositantes dos poderes públicos.



Quem passou os olhos sobre a cerimónia dos penduricalhos, com que se fizeram ontem as viagens na minha terra ao ritmo pimba, compreendeu que os portugueses oficiais estão entalados entre a comenda dada a Roberto Carneiro e a outra posta no professor Pedrosa, isto é, entre os ministros educativos de Cavaco e de Guterres, esses sinais da presente luminosidade reformista, cuja sínteses estava batendo palmas na primeira fila: Maria de Lurdes Rodrigues. Isto é, Rui Belo, Jorge de Sena, Almeida Garrett e Fernando Pessoa, depois de mortos, foram instrumentalizados no mau sentido. E o discurso inconformista de António Barreto soou a falsete, porque, na prática, a teoria foi outra. Se calhar, os melhores portugueses não podem ser mesmo portugueses. Têm que ser reconhecidos no exílio, externo ou interno, quando decidiram mesmo ser Portugal e tiveram que procurar Portugal fora daquele Portugal que elevou a primeiro condecorado um ex-ministro dito o petroleiro, porque o cacilheiro já deve ter recebido a sua carica.




Por esta e por outras, mandei para o DN de hoje o seguinte comentário:


O discurso presidencial confirma que entrámos em interregno, até à eleição de uma nova governação. Viajando pela super-estrutura da metapolítica, com exercícios de retórica sobre o dever-ser, apenas confirmou que há uma espécie de suspensão da confiança pública nos actuais donos do poder.



Porque, se os mecanismos dos aparelhos governamentais e parlamentares continuam em plena legalidade, têm apenas legitimidade de título, mas já não a de exercício. Porque a legitimidade é algo que não se decreta, dado que vem de baixo para cima. Aliás, um governo legítimo é aquele que, além de deixar de inspirar medo aos súbditos, actua predominantemente pela persuasão, não recorrendo aos espaços do autoritarismo ministerialista, do ideologismo, da propaganda e da manha.



O presidente, no dia seguinte ao veto da lei do financiamento partidário, apenas avisou que também é um dos fundamentos do sufrágio universal do regime e que, já sem precisar de usar a bomba da dissolução, será o garante do funcionamento leal da concorrencialidade neste nosso tempo de vésperas. Porque, nas últimas eleições europeias, a maioria do povo calou e, sem consentir com o estado a que chegámos, apenas nada disse. E Cavaco, hábil gestor de silêncios, apenas prometeu que estaria vigilante contra os manipuladores da resignação!



P.S. Na imagem falta a caricatura de outro exemplo de péssimo seleccionador nacional, o que nos mandou para o empate na Estónia, porque todos os surrealistas ficam sempre como o épico verso dos meninos do Huambo, expondo crochet e chinelas no palácio que nos marca o fim da Rua da Junqueira e da Calçada da Ajuda, onde tenho varanda com a bandeira basca içada, diante da terraplanagem do futuro museu de cera da republiqueta. Sobre a legitimidade, leiam-se os clássicos da teoria.


9.6.09

O regresso da política ensombrado pela hiperinformação da crise bancária


Reparei hoje no que comuniquei aos microfones da TSF: «Julgo que estas eleições marcaram o regresso da política, da política como coisa complexa, não da política com os assessores todos previsíveis, a pensar que as campanhas e os resultados são uma espécie de passeio, voltámos ao risco, à aventura, à vontade, à possibilidade da criatividade desempenhar algum papel».

Contudo, a grande lição tem a ver com o silêncio maioritário do eleitorado. O nível da abstenção e do voto em branco confirma que o povo calou. Ora, quem cala nada diz (quis tacet nihil dixit), o que é bem diferente do "quem cala consente", apesar de podermos também acrescentar que os silenciosos, em parte, consentiram no regime e na opção europeia, e, noutra parte, calaram quanto ao modelo de governação. A maioria do povo foi além do indiferentismo, pisou as raias do azedume, mas ainda não entrou em explosão e em revolta.

A maioria puniu a partidocracia e a maioria dos que expressaram o voto reagiu contra este sistema de economia privada sem economia de mercado. Porque não estão apenas desprestigiados os partidocratas, mas também os empresários e os homens de negócios, onde a tradicional Dona Maria da Cunha parece ter-se enredado nas teias da percepção da corrupção, embora o que parece talvez seja inferior àquilo que naverdade é. E aqui a classe política tem culpas no cartório, não por ser maioritariamente desonesta, mas por não conseguir dar uma adequada imagem de regeneração e de arrependimento, livrando-se efectivamente dos mecanismos degenerados típicos do bloco central de interesses e da sua técnica corrosiva e devorista da nacionalização dos prejuízos e da privatização dos lucros, através do clientelismo, do nepotismo e das minúcias dos jobs for the boys, com o prévio estabelecimento de leis orgânicas de reforma do Estado feitas segundo o modelo dos boys for the jobs.

O PSD ganhou muito em confiança quando se distanciou de Dias Loureiro e o PS não se apercebeu dos efeitos Freeport com profundas covas da Beira, pelo que todos passámos a dependener das andanças da Dona Judite e das magistrais fugas de informação com reportagens em directo sobre buscas e comunicados das centrais de investigação criminal, com "talk show" de imitadores dos Garzón e dos Di Pietro, por cá em dó menor. Daí a emergência do BE que, contudo, ainda não se livrou de certa tralha estalinista da ex-UDP, como vai tornar-se patente na campanha para a autarquia lisbonense, onde Fazenda poderá ser o melhor aliado de Santana Lopes. Aliás, o BE, poderia transfiguarar-se num produto semelhante aos verdes franceses, para que o PS pensasse que poderia entrar em aliança com os verdes alemães e para que todos esquecessemos que os bloqueiros ainda estão presos à varinha mágica dos nacionalizados, nossos, do onze de Março de 1975.

Infelizmente, o sinal identititário da esquerda portuguesa, vencedora no passado domingo, tem a ver com a promessa de aumento quantitativo do intervencionismo dos aparelhos de poder na economia e na sociedade, quando o que nos falta face aos restantes colegas da União Europeia é a democracia consociativa do menos e melhor Estado, com bem mais sociedade e aumento qualitativo do aparelho de poder. Mas quando o socratismo, na sua teimosia co-incineradora, pensou que o combate às corporações estava no ministerialismo, aconteceu o pior: esta desinstitucionalização de professores, magistrados, médicos, polícias e empresários. Daí que olhe com mágoa para o fogo lento que vai destruindo a imagem do próprio Banco de Portugal e o prestígio da personalidade de um Vítor Constâncio, pessoa que me habituei a respeitar e com provas dadas de patriotismo científico, onde os eventuais erros são compensados por uma actividade cívica acima de qualquer suspeita.

O Banco Portugal resistiu ao 5 de Outubro e os próprios carbonários mandaram brigadas para o proteger. O 28 de Maio nunca lhe tocou, apesar do caso Alves dos Reis e o governador Inocêncio Camacho, um republicano histórico, foi mantido pelo primitivo salazarismo, tal como o 25 de Abril não deixou que o PREC o contaminasse. Seria trocarmos de rumo darmos mais razão a certos arguidos do que optarmos pela continuidade institucional de uma entidade cada vez mais necessária à república. A eleição de dois ou três deputados europeus e o ódio ao PS não pode levar-nos a confundir o trigo com o joio. Contra ventos e tempestades, continuo institucionalista e tenho pena que, até com erros comunicacionais do próprio, se deixe queimar uma personalidade que bem poderia ser um futuro primeiro-ministro de Portugal no próximo governo de acordo interpartidário, no caso provável de não haver maioria absoluta de nenhum partido e de não nos suicidarmos com um defunto bloqueio do centrão.

Foi com Constâncio que o PS retirou o dogma marxista do respectivo programa e só depois, com Cavaco, e através de uma comissão presidida por Durão Barroso, é que o PSD fez o mesmo. E não foram Constâncio nem Cavaco os criadores do Bloco Central. Aliás, Constâncio poderia ter sido o primeiro-ministro alternativo a Cavaco, antes da queda do Muro, quando o PRD de Eanes poderia ter preferido um governo com PS e CDS, dado que o PSD de Dias Loureiro apenas tinha maioria relativa. Mas o presidente Mário Soares preferiu permitir a criação de maiorias absolutas do actual detentor do palácio de Belém, gerando esta tentativa de cavaquização do PS a que se chama socratismo...

8.6.09

O PS deixou de ser o reciclador da extrema-esquerda e dos ex-comunistas


O Bloco de Esquerda são dez anos de investimento político de antigos revolucionários profissionais. Exerce a função tribunícia dos Verdes europeus, ao ritmo da esquerda revolucionária, vive, sobretudo, da palavra e já é mais do que mero contrapoder. Porque o Partido Socialista deixou de ser soarista, isto é, reciclador de ex-comunistas e ex-extrema-esquerda, pensando que só usando a técnica de Mário Lino poderia ter êxito. Nem o histórico da irreverência, Manuel Alegre, foi mobilizado. Preferiram José Lello e Carlos Candal e encenações de bombos e feiras, com muitos choques tecnológicos, quando tinham os "canhotos" disponíveis... Inverter a marcha em três meses soará a falsete.

Um quarto de hora antes da anunciada morte, Portas é sempre Fénix


A família Portas conseguiu mobilizar três deputados para o BE e dois para o CDS. Excelentes resultados do investimento e do voluntarismo. Paulo pode chorar em sorriso. O PSD não caminhará sozinho em cima do voto útil, tem que contar com ele para uma alternativa, como já acontece nas autarquias de Lisboa e do Porto. E Santana Lopes também sorri com António Costa a não poder contar com Luís Fazenda, mesmo que convença Maria José Nogueira Pinto, Carmona Rodrigues e Sá Fernandes.

O rosto de uma partidocracia sempre-em-pé, quando fala muito e não diz nada


Portugal tem o sistema partidário mais estático e mais hipócrita da União Europeia. Porque conservando o que está, o poder pelo poder, já passou a fronteira do reaccionário, com todos os tiques da esclerose salazarenta. Nem sequer compreendemos que o principal líder da União Europeia passou a ser Obama, apesar da muitas empresas de sondagens darem alento artificial ao situacionismo. Mas bastava a da LSE, mais antiga, e abrangendo todos os 27, para compreendermos como nos falha uma universidade pública como referência de estabilidade, não dependente das contratualizações. Vitalino teve a coragem de dar a cara, mas ninguém do grupo parlamentar do PS nem da presidência do parlamento apareceu em solidariedade. E não transformem Vital Moreira em bode expiatório!

O país da mesa do orçamento


Os principais aliados da CDU e do Bloco de Esquerda são os feitores da direita dos interesses e os capatazes desta economia privada sem economia de mercado, com lenta administração da justiça e um Estado com muita adiposidade de aparelhos, pouco músculo e quase nenhum nervo. A política passa a viver ao ritmo de comissões parlamentares de inquérito e de buscas do MP e da Judiciária. Como é difícil ser liberal em Portugal e assumir o ritmo da restante Europa...

O verdadeiro vencedor de ontem


A democracia foi derrotada pela falta de comparência. Sitiada pela corrupção e pelo indiferentismo, caso não volte a confiança pública, podemos encenar uma democracia sem povo, mas com muita partidocracia, onde vencer poder equivaler ao ser vencido. A abstenção não é uma causa da futura crise. Foi apenas um sintoma, quando a indiferença já é azedume e pode volver-se em explosão, se se confirmarem os sinais do "out of control".

De como o ministerialismo foi derrotado pela democracia


Foram duzentos mil na rua, mas o espírito da teimosia co-incinerador fez arder a confiança pública. Ministerialismo não rima com democracia.

A teoria da bicicleta revolucionária


De vitória em vitória, na sondajocracia, até a esta amarga derrota, com um rápido desfazer da feira. Não consta que o primeiro-ministro de Portugal, à semelhança do seu colega checo, em 2006, tenha esbofeteado em público um dos seus ministros, responsabilizando-o pelos maus resultados nas europeias...

Zapatero não ganhou nada com o comício de Coimbra

Carla Bruni deu alento ao "sim pelo não" e os de "mon ami Mitterrand" foram um desastre

A coisa do Berlusconi deu baile, mesmo depois das observações de Saramago

Como Barroso venceu Soares


Eis a fotografia de uma Europa neoliberal e conservadora que aposta em continuar políticas de direita. Em Portugal não há ninguém dos amarelos nem dos verdes. Muito menos dos anti-europeístas. O cinzentismo do "yes man" domina.

Portugal em contraciclo


É muito complicado traduzir para o politiquês lusitano, sobretudo entre os que proclamaram o Europa é nossa, o modelo político europeu. Não há ninguém que aqui represente a terceira e a quarta das famílias políticas do Parlamento Europeu, isto é, os Liberais e os Verdes. Nem sequer a direita radical anti-europeia existe. Os três prováveis deputados do Bloco de Esquerda e os dois da CDU podem não conseguir ser a Primavera dos setecentos e trinta e seis. Apenas se confirma que mandamos 10 para o PPE (mais três, apesar de termos passado de 24 para 22) e 7 para o PSE. Primeiro, porque o PSD, que quis ser da Internacional Socialista e passou pelo grupo Liberal e Reformista, acabou, através de Francisco Lucas Pires, no PPE. Segundo, porque o CDS, que começou no PPE, com Diogo Freitas do Amaral, foi, depois, expulso, mas acabou por regressar à família.


E quando se dá um reforço dos não socialistas, com subida de conservadores e democratas-cristãos e manutenção dos liberais, eis que Portugal se transforma num dos países mais à esquerda da Europa. Pelo menos, três ex-cunhalistas (Vital, Miguel Portas e Ilda) marcaram o ritmo e a cruzada de Mário Soares contra Barroso acabou em ridículo, um pouco como as fragmentadas empresas das sondagens domésticas. Porque o Bloco Central tem 15 deputados. Porque a direita são 10. Porque a Esquerda em sentido amplo são 12, mas a esquerda mesmo esquerda apenas chegam aos 5. A procissão ainda vai no adro. 0 Por esta e por outras, enviei para o DN uma pequena reflexão que agora transcrevo:


Os resultados eleitorais são meras consequências do paralelograma das forças vivas que nos pressionam, onde o estadão da partidocracia continua a desertificar a velha democracia da sociedade civil. Mas quem sair da endogamia partidocrática desta jangada de pedra e ousar compreender o todo da gestão de dependências e de interdependências, pode concluir que os principais factores de poder que a presente governação sem governo tem de gerir já não são maioritariamente domésticos.


Entrámos definitivamente em contraciclo, não tanto por questões ideológicas, mas antes porque nos resignámos face ao instinto de crescimento do poder deste estado a que chegámos, a que a não-direita chama esquerda, e a que a não-esquerda justifica com o keynesianismo de timbre salazarento, mas que, afinal, não passa de um um mero piloto automático que não nos deixa mudar de rota.


Esta é a pesada herança de um capitalismo clientar e fidalgote que nos veio do mercantilismo, gerando-se esta economia privada que tem medo do risco e do mercado, enquanto prossegue a desinstitucionalização dos grandes corpos da democracia consociativa, que o discurso ministerialista chama de corporações. Falhando a imaginação e coragem da pilotagem do futuro, não é possível uma estratégia de patriotismo científico, capaz de nos fazer flexível estrada boiante, como eram as naus de outrora, as que fizeram de Portugal o porto de uma Europa que quis abraçar o mundo.

6.6.09

Eu, radical do centro excêntrico e, portanto, contra a esquerda e a direita a que chegámos, confirmei que, afinal, estou no extremo-centro da Europa!



A campanha acabou. Hoje é dia de reflexão, para passarmos, amanhã, da sondajocracia à democracia. Também eu aproveitei o retiro espiritual para tentar saber onde depositar o meu voto. Fui ao
EU.Profiler, respondi a meia dúzia de questões, por vezes pouco adequadas ao nosso ritmo, tirei as consequências e dei comigo a menos de um milímetro do extremo-centro das opções partidárias europeias. Não desesperei, fiz a transposição para o resto da Europa. No âmbito do Estado Espanhol, era Ciudadanos-Partido de la Ciudadania, Partido Nacionalista Vasco, Esquerra Republicana de Catalunya, Coalicion Canaria e Bloque Nacionalista Galego. Assim mesmo, o que é verdade.




Em França, andava pelo Mouvement Républicain et Citoyen. Na Alemanha, Freie Wähler e Freie Demokratische Partei. Em Itália, próximo de Bonino, tinha pinta de Italia dei Valori. Na Holanda, claramente Democraten 1966. No Reino Unido, um pedacinho de Conservative Party e quase todo com os Liberal Democrats, para, de forma irlandesa, ser quase Fine Gael.



Fiquei reconfortado. Não tenho que ir contra o monstro, à maneira de Louçã, que assim repete um slogan do seu colega de ISEG, Aníbal, e, muito menos, que cair nos conselhos de Mário Soares e gritar slazarentamente com Vital que ela é nossa, não a Angola, mas essa frustração de império chamada Europa.



Afinal, sinto-me em pleno centro da Europa, tão europeísta que não tenho de me disfarçar com os hábitos da partidocracia dominante, os quais, afinal, não nos fazem monges. Aliás, ainda ontem, ao regressarmos a casa depois do jantar, demos com um comício jantante de um dos partidos concorrentes, com bandeira, cabeça de lista, presidente do partido, cônjuges e demais comitiva. Atingiam a módica quantia de dez pessoas. Sorri.



Recebi um SMS de outro, porque gosto imenso da respectiva cabeça de lista. Quebrei a tentação do voto de protesto no Jerónimo. Solidarizei-me com toda a íntima admiração por um meu antigo professor e revoltei-me, ao lado dele, contra as falsas notícias académicas que bufaram indevidamente e mandei-lhe abstractamente um abraço. Mas, se for às urnas, porque amor com amor se paga, estarei em protesto com a Professora Manuela Magno. E a ela ainda não comuniquei directamente que, em confiança, se tornou na minha vacina contra a abstenção. Encimo o postal com a bandeira do partido que gostava de ver fundado em Portugal.