a Sobre o tempo que passa: julho 2009

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.7.09

Algumas vacas sagradas que merecem ser removidas


Tribunal Constitucional chumba artigos do Estatuto dos Açores e casamento de homossexuais. Aqui foi à tangente, por 3 a 2. Como os juizes dependem dos partidos, bata mudar o parlamento. Seria melhor mudar a constituição. E, se calhar, integrar o Constitucional no Supremo Tribunal de Justiça, com menos politização e mais judicialização...


PSD vence no Tribunal Constitucional, na questão dos Açores. Não foi Cavaco que usou essa arma jurídica. Preferiu a divergência política... Por mim, concordo com as propostas do PS Açores, como sempre o proclamei. Resta mudar o texto constitucional...


Se o centralismo continuar a restringir a autonomia, em nome do unitário, tem que se passar para o federativo! A federação não pode continuar a ser nome proibido e só elogiado quanto à integração europeia. Antero e Teófilo não são para desprezar...


Pronto, já irritei as vacas sagradas do pombalismo, de Afonso Costa e de Oliveira Salazar! Ainda há por aí uns girondinos antijacobinos que tanto são federalistas como nacionalistas! Estou farto dos capitaleiros, sobretudo dos provincianos!


Claro que gosto dos modelos do Reino Unido, da Confederação Helvética, dos Estados Unidos da América e do próprio Brasil... Julgo que estes federalismos uniram mais do que a atracção pelo unitário da sociedade de corte! Compreendo alguma revolta sentida por Carlos César e Alberto João Jardim! E não esqueço como o cavaquismo liquidou a regionalização ...


Será pecado dizer não à vacas sagradas do que deveria ser uma política do direito? Por exemplo, reforço da magistratura judicial e transformação do ministro da jusitiça em procurador-geral da república. Ao menos, o ministério dito público passava a ser politicamente responsável e indirectamente eleito?


Mais outra provocação: como nem todas as leis existentes no armazém do direito aplicável podem ser cumpridas e para que não sejam clandestinamente revogadas pelo costume, que tal elevar este a fonte de direito com mais dignidade e introduzir o sistema do pretor romano que todos os anos estabelecia um programa público de tolerâncias zero diante do povo?


Só por hipocrisia podemos dizer que todas as leis são aplicáveis. Das vigentes, muitas são inválidas e outras tantas ineficazes. Os tribunais têm de livrar-nos das segundas. A administração da justiça em nome do povo deve estabelecer hierarquia de aplicabilidade. Porque custam as mobilizações de meios. Juiz da Beira, precisa-se. Abaixo o Quijote com moinhos de vento e lança de cortiça!

30.7.09

Programa dos socialistas. Hoje no DN

Era uma vez uma bela donzela, a da governança que, querendo ascender ao amor da modernização, viu a consumação do acto ser interrompida por uma crise que, coitada, ela não provocou.

Foi uma dessas turbulências das uniões de facto, que só no tempo do bisavô Keynes, contemporâneo do Salazar, tinha acontecido. Vai daí, volta a velha infanta, nos jardins das novas fronteiras assentada, a escrever uma longa carta de amor à improvável maioria absoluta, através de um estilo esotericamente tecnocrático, parecido com os “papers” do extinto departamento central de planeamento.

Ficou uma antologia daquelas frases que hão-de salvar Portugal e que têm vindo a ser emitidas a conta-gotas nos telejornais. Mas, porque, na prática, a teoria tem sido outra, em nome daquele pragmatismo que mandou pôr a ideologia socialista na gaveta, o tal futuro continua por salvar, e o inferno a ser plenificado pelas boas intenções.

Das que querem dar, aos mal-aventurados, a música celestial de um peixe descongelado, mas sem que lhes estimulem a arte e a vontade de pescar. Porque interessa mais zurzir nos fantasmas com que se diaboliza a oposição, acusando-a, ciumentamente, de querer rasgar.

Por mais pactos que se especulem, não se diz com quem, da mesma espécie, se quer pernoitar em coligação. Esta literatura de justificação não nos prepara para incerteza e nem o novo conceito de abono de família consegue colmatar o deserto de ideias.

Ventos de Espanha, Manela e mais trapalhadas socráticas


Segundo um estudo de uma universidade castelhana, 40% dos portugueses quer a Ibéria. Ricardo Salgado, tal como antes Mário Lino, também o expressaram. Se for uma federação entre Lisboa e Madrid, digo como Febo Moniz: tomem! Mas era capaz de alinhar com Antero, com uma união ibérica entre Lisboa, Santiago de Compostela, Barcelona, Bilbau, Madrid, Sevilha e Valência, depois de extinto o imperialismo do Estado Espanhol.

Portugal não foi fundado por D. Afonso Henriques. Foi sempre refundado pelos Portugueses que o quiseram ser. E refundação, precisa-se! Não há pensamento sem pátria, a "escola da super-nação futura" (Pessoa). Não se acede ao universal sem ser pela diferença... A identidade não exclui as várias repúblicas maiores da nossa pluralidade de pertenças... Obrigado, José Gil, eu também sou contra... o gilismo, essa criatura que se libertou do gilismo e inunda certas elites de praia em falta de vontade na procura de Portugal.

Sonhar não é fácil. O abraço armilar, de que somos sinal, implica que se semeie a república maior da comunidade dos afectos, a comunidade das coisas que se amam. O século XXI pode ser o das múltiplas pertenças das repúblicas hispânicas, ibero-americanas e ibero-africanas, em regime de geometria variável, com mais povos do que cimeiras. Talvez este seja o necessário Quinto Império do poder dos sem poder.
Hoje, só posso português e europeísta, se for iberista. Mas antes, o armilar, o Reino Unido de Portugal e do Brasil, em coligação com a CPLP. A pátria da língua portuguesa, não pode deixar de ter como irmãs as do castelhano, do catalão e do basco. Juntos, somos uma grande potência cultural, capaz de equilibrar a posição dominante do anglo-americano e a frustração do francês. A invencível armada é a do espírito!

Passemos a Manela: diz que gostava de Henrique ser... Concordo: não acabemos com os ricos, acabemos com os pobres! Ela faz bem não gritar: os ricos que paguem a crise. Isso não é luta de classes , mas de invejas! O Estado não devia dar peixe descongelado a quem tem fome. Devia fazer outra coisa: Ensinar a pescar...

Manela continua lente de Cavaco nesta sua aula de política de contabilidade pública e este cavaquismo sem Cavaco até já apela à não resignação, como o inspirador... Sim, os problemas económicos só podem ser resolvidos com medidas económicas, mas não apenas com medidas económicas (Mounier). Sugestão para o programa minimalista de Manela: extinção de todos os impostos. Tal como no começo da democracia contemporânea, passamos a dar aos ditos o belo nome de contribuições...
E ela lá foi vendendo a sua imagem de intimidade dramática. Faz bem em dizer que o Estado deve apoiar, mas não fazer. Mas Manela rural é fraquinha. A questão não é PAC, mas a estúpida adesão à dita que os ministros PSD subscreveram: C. Cunha e A. Barreto. Depois vieram as vacas loucas e os narizes de Pinóquio. Temos que refundar o "partido dos agrocratas "!A expressão é de Rodrigo Morais Soares, um liberal, o primeiro director geral de agricultura, do século XIX.

A agricultura não é apenas economia. É uma concepção do mundo e da vida que nos permite pátria, terra e chão moral da história...Não é partido, é opção ecológica. Mas isto só lá vai com o regresso ao rei povoador, na luta contra a desertificação do país real.

Portas não visitou nenhuma feira. Foi a uma fábrica de enchidos...

Por fim, mais uma trapalhada num dia épico, de lançamento do program sócras. É no que dá a triade "imagem, sondagem, sacanagem"... Quando o JN informa que o convite a Joana A Dias veio de P Campos, secretário de Estado de Mário Lino, apenas autorizadamente podemos comentar, com toda a repulsa: JAMAIS (em som, jaMÉ)... Sócrates nunca mentiu. Houve é excesso de zelo. Campos merece ser premiado... com férias antecipadas, à Pinho!

Campos a convidar JADias?.. Jamé! Jamais! E se o fez foi por excesso de zelo. Merece ser premiado com férias antecipadas...Claro que P. Campos não convidou Joana. Só se ela aceitasse é que o privado passava a público...
Mas quem sabe de economia não é o João Tiago Silveira, esse leitor das teorias do monstro?O novo Ramiro Valadão não nos comunicou ontem que o PS é mais liberal do que o PSD, porque venceu por 0,25 % contra 0,35%... Isto de desencadearem ódios contra a senhora apenas gera uma espiral de campanhas negras (João Tiago, a justiça tem que ter juizinho).

Monstro por monstro, prefiro vencer o Adamastor e até já tenho saudades do Vitalino que falando muito não dizia nada Por mim, nunca disse que vou votar na senhora. Mas gostava que fossem cavalheiros e pusessem o Sócrates a enfrentá-la directamente num debate. Ele nem é mau de todo.

PS: Imagem picada aqui. Com Manela Panza contra Socras Quijote.

29.7.09

Que saudades do Costa do Castelo e do Leão da Estrela


Costa e Santana são do melhor da geração pós-abrileira. Vêm da mesma fábrica onde eu também fui ajudante de engenheiro da linha de monatgem: a Faculdade de Direito de Lisboa. Que se libertem da infra-estrutura aparelhística da partidocracia e das teias de patos-bravos da geração tia matilde...


Santana tem o lastro dos e das santanetes e dos habituais carregadores de piano. Mas Costa também exibe costonetes, vindos da Amadora e Matosinhos e da coelheira da concelhia, apesar de ter exportado perestrello para Oeiras. E conserva a memória daqueles directores-gerais que semeou e dos quais, de alguns, se guardam mau sabor para o Estado de Direito.


A caldeirada que apoia Costa é fina. Vai de Saramago a Gonçalo Ribeiro teles, foi conformada por Alegre e pode levar Costa a correr a uma eventual sucessão de Sócrates, depois de 27 de Setembro. Abandonará, então, a corrida à CML? E ainda há PCP e Bloco de Esquerda com candidaturas próprias.


Também Santana tem a sua salada russa, fingindo ser AD. Onde está o PP"M" que é de cameralismo pereirático e terra em movimento, mas com um apoio de peso: o de Joãqo César das Neves, trazendo uma unção especial da patriarcal voz católico-apostólica-romana. Mas dos dois lados há católicos, maçons, monárquicos e republicanos. Todo a molho e batatada, com muito fia-te na Virgem e toca a correr.


Nenhum diz que o programa de reforma de Lisboa é inviável com estas regras do jogo impostas pelos governos e parlamentos, onde a super-estrutura das candidaturas está neofeudalmente espartilhadas pelos micropoderes da partidocracia e das forças vivas patobravistas. Nnehum quer ruptura e vão cabar por falir Lisboa, quando esta cabeça do reino é bem mais do que os Açores ou do que a Madeira que, felizmente, já se libertaram do jugo colonial dos capitaleiros...

Mas gostei que Costa tivesse batido o pé a Rui Pereira e a Mário Lino. Foi mau que tivesse confessado ter sido ministro do interior: "eu é que alterei a lei das finanças locais..."

O principal adversário de Lisboa, esta cidade feita por subscrição nacional (Augusto de Castro), é o estadão governamentalista. Nem repara que a cidade é, hoje, uma das zonas mais socialmente degradadas do país. Os autarcas deveriam ser vozes tribunícias desta revolta, copiando as reivindicações dos líderes das regiões autónomas...

Mas foi tudo imagem, com medo da sondagem e sacanagem à mistura.

Qualquer analista de estratégia e desenvolvimento manda que nos adaptemos a modelos já praticados em Madrid, Paris e todas as cidades capitais da dimensão de Lisboa. Até poderíamos reparar que Alexandre Herculano chegou a ser presidente de Belém-Ajuda para a criação de um pólo de desenvolvimento industrial da cidade no século XIX...

O município de Lisboa é grande demais para podermos ser vizinhos em cidadania de participação (deveria desdobrar-se em pequenas autarquias, bem maiores do que o Castelo e bem menores do que os Olivais). Mas é ao mesmo tempo pequeno demais para os grandes problemas que são da área metropolitana. Deveríamos estar a eleger um paralamento regional e não autarquinhas.

A democracia, por causa das secções locais da partidocracia dominante, não quer desfazer o mapa da pesada herança do autoritarismo do Código de Costa Cabral e Marcello Caetano. Nem sequer volta ao velho Senado, intermunicipal, que resistiu às cunhas do Marquês de Pombal
Lisboa deste camaralismo precisava de uma lei especial que a voltasse a configuarar como cabeça do reino. O que temos ainda é um pronto-a-vestir quase igual a Freixo-de-Espada-à-Cinta, configurado pelos administrativistas do velho ministério do interior...

O debate Costa/Santana não foi terra a terra, foi subterrâneo demais: eram só buracos financeiros e túneis para carrinhos... O Costa do castelo fpoi o campeão dos floreados numéricos. O Leão da Estrela no roteiro das ruas e travessas de Lisboa...

Costa e Santana tentaram convencer-me a entregar a minha carteira a um deles. Mas ainda foi um jogo de defeso, um treino de pré-época. Tiveram medo de política.

Um já foi Primeiro-Ministro e líder do PSD, sem nunca ter sido ministro. O outro á foi ministro e ministro e talvez queira ser líder do PS e Primeiro-Ministro. Ambos são bem melhores do que aquilo que mostraram no debate de ontem...
PS: Imagem picada aqui. Com muitas frases tiradas do meu bloco, reproduzindo o que ontem comentei na SIC-Notícias, sob a moderação de Ana Lourenço.

28.7.09

Postal bem "light", antes da abertura da caça aos abstencionistas


Felizmente afastados dos incêndios que devastam a Europa Mediterrânica, ainda estamos em politiqueirice "light", entre a gripe de D. Manela, os convites à Joana e os jantares de homenagem a Pinho, a quem já foram oferecidos vários empregos, talvez alguns deles absolutamente ilegais, porque quem não lê jornais nem vê televisões, está sujeito às nossas restritas leis de “pantouflage”, as que comprimem aquela verdade segundo a qual, em Portugal, o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido. Contudo, em breve será a antecipada caça aos abstencionistas, onde funcionará a tríade "imagem, sondagem, sacanagem". Assim, entre trapalhadas e casos de polícia, até Cavaco considerar que "rir é o melhor remédio"...


Entretanto, as elites da classe político-jornalística já decidiram o seu sentido de voto e as entradas dos partidos na internáutica não podem ignorar que o tempo dos blogues, dos tuítas e do FB ainda não chegou aos pais da geração Magalhães. Eles ainda preferem revistas cor-de-rosa, parangonas de jornais sensacionalistas e o activismo declaratório de Cavaco, Paulo Bento, Pinto da Costa e Jorge Jesus...

Sócrates também acredita que todos os bloguistas, tuíticos e facebookers cabem na rede das redes que os reduziu a uma elite da elite, metida numa sala capitaleira. O dois ponto zero tem muito mais número. E a internet não é apenas o teclado que passa na minha aldeia...


- A D. Blogosfera é aquela senhora meia escanzelada que é prima do Magalhães? Interpelação que me foi feita por um vizinho cá da paróquia...


O mesmo vizinho: - Mas como é que, de um milhão de computadores distribuídos pelo Sócras, só estes é que foram à festa?


Resposta de um terceiro: - O Magalhães, que era um prometido da D. Blogosfera, fez-se com o Nintendo e já não tuíta nada disto... Quer ver se o convidam para deputado


-Porque o sucesso do fracasso da transmissão deveu-se a um problema de tráfico, por causa das influências. Joana não desmente...


- Para mim, foi mas é o Zepelim... Parece que o PND já reparou os buracos de caçadeira e emprestou-o por uma época a Louçã ...
No mesmo tom, sou obrigado a acrescentar: Rua Direita é antigo nome da via que, sendo geralmente torta, vai directa da periferia para o centro da cidade. Agora é montra de um belo naipe de blogueiros portistas. Quem é de Coimbra sorri. É que nela não fica "A Democrática". E a rua vai do Terreiro da Erva ao antigo Largo Sansão... São ínvios e clandestinos passos que muitos dão para chegarem aos Paços do poder. A Calçada, por lá, é mais afamada... Entre bonzos endireitas e bonzos canhotos, com os canhotos em cacos de louçã e os endireitas nas tortas ruas direitas, prefiro ler o tempo das cerejas e o arrastão, desconvidado... Já nem posso dizer que venha o diabo e escolha. A Vera Lagoa já lá não está.


Até acrescento e concluo: há políticos esporádicos de quem, no "facebook", não podemos tornar-nos "amigos", porque eles automaticamente tranformam esses incautos em "apoiantes" de uma qualquer sua candidatura. Ainda agora recebi uma notificação dessas que vai contra todas as regras... Oeiras que se cuide, vão aumentar os amigos de Marcos e de Isaltino, porque muitos não gostam desta manobra da Isabel. Felizmente, vou votar em Lisboa, porque ainda não me transferi para as paragens onde passo mais tempo, onde pago os meus impostos, e onde o autarca é um Ministro que nunca foi ministro e até tem um “slogan” bem à moda saloia: “Saber...”. Estou à espera, há dias, que ele me venha desentupir a fossa!
PS: Recordação da maior cimeira da história que, neste século, teve lugar neste concelho. Porque a minha fossa continua a transbordar, não ponho a do Ministro ao lado de Sócrates, numa inauguração da Rede Tecnológica Nacional...

27.7.09

Os activismos declaratórios de uma política sem férias


O Jugular é fixe. Vitalino merece esta gratidão. O ministro de Estado prefere tripas a ovos moles e a grande coligação entre Sócrates e os Gamadeiros é um bom sucedâneo à falta de alegria. Eis os pilares da ponte do tédio, entre Silva Pereira e Francisco Louçã, sem necessidade de Joana Amaral Dias... Contudo, para ser justo, noto a galhardia com que se reconhece o esforço de Seguro, Maria de Belém ou João Soares, os sobreviventes de um conceito pluralista de partido, mas não me parecem suficientes andorinhas para fazerem a Primavera...


O activismo declaratório de Cavaco, em ritmo austríaco, vai fazendo estágio sobre a grande coligação. Dá uma risada e diz para não tirarmos ilacções e pensarmos apenas no futuro. Bem eu gostava de ler as sondagens que acedem à ironia do presidente, o tal que se deliciou com ópera e recordou a ousadia de Mozart que também nunca foi reconhecido como profeta em ... Boliqueime


Mas Cavaco elevou a governantes sujeitos que mandaram o telegrama de demissão do partido adverso, um quarto de hora antes de tomarem posse. Os camaleões que mudam de cor no curto prazo são o normal anormal para todos os que consideram que os fins justificam os meios e reduzem a política à arte do possível.


Louçã acusa Sócrates de tráfico de influências, por causa dos convites a Joana. O Simplex não comenta. Autarca minhota do PSD afasta das votações um outro autarca de quem a mesma não gosta. O Jamais também não diz nada. Espero que os dois digam alguma coisa. Porque tenho confiança na autenticidade de alguns dos colaboradores dos mesmos blogues. Até já provaram essa coragem recentemente.

Sócrates desmente Louçã. Diz que não convida militantes de outros partidos. Só independentes, mas sem dizer desde quando. Até porque há conversões como as de Saulo na estrada de Damasco. Tipo pudim instantâneo. Todos os predadores gostam de elevar traidores à categoria de homens de sucesso. Onde tem razão quem vence.


É evidente que Sócrates veio da JSD. Tal como Portas. A gestação da mudança foi lenta e segura. Não foi como a de Saulo na estrada de Damasco, coisa que, agora, se assemelha ao pudim instantâneo. Em bom rigor maquiavélico, o bailado dos convites raramente tem uma recusa. Há sempre um corta-fogo nos meandros que costuma apenas ser invocado em memórias futuras, quando o outro já não pode desmentir a música celestial dessa literatura de justificação. Por mim, gostava mais que o respeito pela palavra dada pudesse ser valor supremo. Porque, assim, grão a grão, se vai minguando a confiança pública.


De qualquer maneira, o Bloco de Esquerda, hábil navegador na política de imagem já conseguiu lançar o PS numa trapalhada, equivalente aos corninhos de Pinho. Todos já esqueceram o recrutamento de um ilustre antropólogo para sétimo das listas de Lisboa, o tal que, de forma politicamente correcta, se deve dizer que é um conhecido militante de causas LGBT. Nem sequer se notou que Rosário Carneiro se mantém, muito justamente, como a sexta da lista do Porto, para compensar em sacristia o Jugular.


Será que o PS continua sujeito a uma constante campanha negra? Será que deve ser chamado o senhor Procurador-Geral da República para mais um inquérito?


PS: Imagem picada aqui

Amores de Verão... Hoje no DN

Os internautas de todos os dias sabem que o hábito não faz o monge. Daí não estranharem que partidos institucionais sejam esporádicos vizinhos desta nossa aldeia do teclado. Foi assim quando o “pulo do lobo” enfrentou o “supermário”. Continua a sê-lo, agora, com o “simplex”, do PS, contra o “jamais”, dos maneleiros. Basta recordar-nos o falhanço dos “blogues da Assembleia”, ou visitar o actual espaço do “Twitica”, onde, dos 230 deputados, apenas 49 usam o meio. Por exemplo, ainda nenhum deles manifestou solidariedade com um jovem doutorando do Minho que, fazendo extensão da liberdade académica nesse espaço, ficou dependente do habitual Pilatos situacionista.

Os recentes blogues de campanha, que se assumem inequivocamente como simples peças de uma máquina eleitoral dos principais partidos, não passam de efémeros amores de Verão e desaparecerão com o cair da folha. Mas são, pelo menos, mais conseguidos do que as patranhas blogueiras dos que até faziam plágio da “Wikipedia”, quando alguns políticos pensavam que o trabalho de todos os dias podia ser mera encomenda “marketeira”. Pelo menos, vão envergonhar algumas presenças internáuticas de políticos desempregados, incluindo alguns que fingiram voltar ao activo. Também neste espaço, a mensagem é mais importante do que o “medium” e os navegadores solitários resistirão, sobretudo se compreenderem que, nesta resistência da cidadania, não basta emitir, é mais importante dar e receber, interactivamente.

24.7.09

A tempestade perfeita em regime de pátio das cantigas...


"Estás convencido que por dar luz a uma simples rua, és igual ao sol que dá luz ao mundo!"
Vasco Santana in O Pátio das Cantigas (1942)

Quando o rotativismo, no último quartel do século XIX, começou a patinar, chegou a haver um governo de superação do impasse presidido por José Dias Ferreira, que teve que gramar o seu rival Joaqum Pedro Oliveira Martins como ministro da fazenda, mas que, depressa, deitou borda fora. Hoje, os descendentes dos regeneradores e dos progressistas são PSD e PS...

A Manela é bisneta do Zé Dias e um outro nosso ministro das finanças recente, sobrinho-bisneto do Joaquim Pedro. Os descalabro de então foi por causa do sonhar é fácil de certos investimentos em vias de ferro, com velhos e clássicos corruptos nas concessionárias, como o Foz e o Burnay. Mas o povo gosta, até deu nome aos palácios que eles compraram nos Restauradores e na Junqueira. O primeiro acabou em cabaret. O segundo está hoje quase abandonado e a cair aos pedaços.

Mas a pior consequência do desvario desse liberalismo a retalho com obras de fachada foi quando os credores internacionais nos caíram em cima. Quem se lixou foi o rei, assassinado, e a 1ª República que acabou pelas manobras de um contabilista. O último pedaço dessa dívida do rotativismo, por ironia da história, foi solvido pelo ministro Guilherme d' Oliveira Martins...

Quando a Primeira República entrou em estertor, nas vésperas de um revolucionário do 5 de Outubro, Mendes Cabeçadas, que há-de ser cabeça do golpe anti-salazarista de 1947, onde se estreou Palma Inácio, o partido-sistema de Afonso Costa passou a ser conhecido pelos "bonzos" que ganhava sempre aos "canhotos" e aos "endireitas"...

Hoje, parece que conseguimos adicionar o estilo da crise do rotativismo ao estertor dos bonzos, porque todos sabem da impossibilidade de um 28 de Maio de 1926, onde, como foi demonstrado por Luís Bigotte Chorão, na sua tese de doutoramento, emerge como um dos principais líderes intelectuais dos anti-sistémicos um tal José Eugénio Dias Ferreira, filho do antigo chefe de governo da monarquia e avô da actual líder do PSD, bem conhecido por ter sido o estudante em revolta que foi pretexto para que se desencadeasse a greve académica de 1907.

Pediram-me, pos, que comparasse este ciclo do regime a um filme clássico. Respondi: "O Pátio das Cantigas". Pelo nome, evidentemente. Estamos a transmitir tragédia em ritmo revisteiro que pouco tem a ver com a "tempestade perfeita". Malhas que outros impérios tecem...

23.7.09

A jangada de propaganda dos náufragos do rotativismo e os destroços arguidos de consciência tranquila


Entre as chamadas novas fronteiras e a dita política de verdade, o centrão continua na caça às personalidades e às forças vivas, para efeitos de sedução eleitoral e de continuação do rotativismo, para que regeneradores e progressistas caiam na esparrela do João Franco, essa esquizofrenia geradora tanto do regicídio como do 5 de Outubro, coisas que não vão acontecer e que levarão a decadência a alongar-se até à queda final, numa cadeira ou numa banheira. Contudo, os holofotes mediáticos parecem preferir as portas do megatribunal, não por causa da inauguração do dito "campus", mas pelos novos arguidos dos velhos casos....


Os sorrisinhos irónicos e o alívio triunfalista marcam mais uma entrevista de arguido à saída de nova voltinha do processual dilatório que nos destrói a separação de poderes, porque os José Alberto dos Reis disponíveis estão todos em presidentes das assembleias gerais e dos conselhos da sinecura. Aliás, todos os implicados, suspeitos e arguidos, todos têm a consciência tranquila, porque, dizem, não praticaram ilegalidades. Por mim, preocupa-me mais a "pantouflage" que deveríamos banir no plano deontológico. Porque, como diz Cícero, nem tudo o que é lícito é honesto...


Entretanto, Sócras diz não às cartilhas ideológicas. Prefere a ideologia do pragmatismo. Isto é, confirma que a dele, a de esquerda e socialista, volta para a gaveta donde nunca saiu a não ser para deleites da utopia e do colectivismo de seita. Assim se confirma como continuamos em deserto de pensamento, apenas tendo o fantasma de uma direita de saias. E Manela que diz não ter cara de cheque em branco, como aqui antes denunciávamos, declara que para ser verdadeira não pode dizer nada, assim confirmando como o leme está quebrado e vamos navegar à bolina, sem o GPS de uma ideia de Portugal e sem marinheiros que saibam ler as estrelas e ajustar a táctica a uma estratégia e, muito menos, a uma concepção do mundo e da vida.


Vale-nos o minucioso estudo de uma consultadoria, discriminando os milhões que temos de desembolsar por causa da gripe porcina é delicioso em planeamentismo tecnocrático. Gostaria de aplicar esta tecnologia a erros políticos do passado. Desde a boca do gato por lebre de Cavaco às denúncias de Sócrates quanto à campanha negra por causa do fripote...
Já nem nos naufrágios somos dignos da nossa história trágico-marítima!


22.7.09

Do défice, das descontas, das prisas, no mais do mesmo que nos enreda


I

Receitas do Estado caíram não sei quanto em três meses... Como dizia Armindo Monteiro, a história de Portugal é a história do défice. Só que a história da democracia é a história do imposto, como proclamava Maurice Duverger. Resta saber quando é que os impostos voltam a ser as democráticas contribuições, esse nome liberal da herança absolutista. Quando o Estado deixar de ser um ele e passar a ser um nós.


Quem se fia na virgem de uma qualquer UE e não correr, pode acabar em trapalhadas das finanças da ditadura, à Sinel de Cordes. Prefiro o exemplo Álvaro de Castro e Armando Marques Guedes e, por isso, quero que Teixeira dos Santos não seja ajudante de qualquer coveiro do regime, até para que não chegue a ilusão de um qualquer dom sebastião contabilista, que nos peça um cheque em branco...


Os parlamentos medievais surgiram quando os reis precisaram do consentimento dos povos para o lançamento de impostos. Assim foi o nosso que, nos domínios do poder tributário, até precedeu o inglês. Por cá, os povos ainda não restauraram os seus foros e costumes neste campo. O terreiro do paço ainda é herdeiro da ditadura das finanças.


II

Mário Lino diz que o Tribunal de Contas não encontrou qualquer ilegalidade num determinado ponto analítico de certo contrato que ele assinou em meu nome. A televisão pública traduz em propaganda: o TC não encontrou qualquer irregularidade... Todos ficámos encontradamente encantados...


III

Depois de oito meses de Hotel Judite, Costa vai para a rica casinha, enquanto se espalham os pouco líricos meandros da Pousa Flores. Vale-nos que Santos Silva clama pelo programa de governo da drª Manela, enumerando-lhe as eventuais malfeitorias de maquilhagem orçamental. Chateiam estes discursos com rugas e verrugas, bem como as respostas vitalinas de Aguiar Branco...


IV

Passeei pelo neo-simplex, esperando que a nova frente do antipapa mayzena desse sinais. Parece que já não é precisa. Há um césar das ideias que desponta e que, sem ser abominável, vai dando neves ao que se previa ser um verão quente...


V

PSD, comendas e encomendas dos sargentos verbeteiros, ou as formiguinhas propostas para Lisboa, pelo aparelhismo do mais do mesmo: Manuela Ferreira Leite, Nuno Morais Sarmento, Luís Marques Guedes, Sofia Galvão, Pedro Lynce Faria, Pedro Afonso, Susana Toscano, Sérgio Lipari, Fernando Ferreira, Ana Sofia Bettencourt, António Rodrigues, Ricardo Leite, Zita Seabra, Adolfo Reis, Paulo Torres, Isabel Leal Faria, Duarte Pacheco, Helena Lopes da Costa, Joaquim Bianchi Cruz, Álvaro Carneiro.

21.7.09

Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu


Dizem que o PS está atrapalhado com a escolha de cabeças de lista. Não vejo porquê. Jaime Gama, especialista em águas profundas, poderia ir para o resto do mundo. Lisboa, contar com Diogo Freitas do Amaral. Em Coimbra, José Miguel Júdice. Nos Açores, Daniel Proença de Carvalho. No Porto, Pinto da Costa. Em Setúbal, Eduarda Maio. Em Braga, Lopes da Mota. Em Aveiro, Fernanda Câncio. Na Madeira, Emídio Rangel...

Mas nem tudo vai mal. Daí, as minhas sinceras saudações para os militantes do simplex. Vão do Jumento a Novaes Tito, com corporações e literatura. Os maneleiros que não estejam de férias vão naturalmente reagir. Com gente desta qualidade a querer sujar as mãos, a democracia e a blogosfera fogem à força da inércia. Alguns destes simplexes já demonstraram que há socialistas que nunca se ficaram pelo situacionismo.

Quanto ao PSD, consta que Morais Sarmento poderá substituir Augusto Santos Silva. O ex-ministro Arnaut tem hipóteses de suceder a Luís Amado. Alguns dos redactores do velho "Grito do Povo" podem ir para a Educação e para a Ciência, embora sejam vários os que sugerem alguns directores-gerais nomeados pelo socratismo. Não sabemos se Luís Filipe ...Vieira terá sido sondado para a pasta da juventude e dos desportos...

O lobo não é lobo do homem, como insinuava Hobbes. Os lobos não atacam animais da mesma espécie. Por isso, actualizemos o dito, conforme Konrad Lorenz: há certos homens que gostam de ser ratos dos homens.

Ainda hoje, em o "Público", faço um apelo à intervenção de Cavaco Silva para as percepções externas de corrrupção. Esta sucessão de casos condiciona "a política de verdade do PSD, mas favorece, sobretudo, "a agonia lenta de um sistema partidocrático que está a envenenar o regime". "PSD e PS têm os mesmos telhados de vidro e entretêm-se a atirar pedras um ao outro, só que vivem numa vivenda geminada". Daí ser urgente que "os grandes partidos, juntamente com o Presidente da República, assumam um pacto de que não atiram pedras um ao outro, peçam desculpa ao povo" para "entrarmos numa nova era". Recolha da jornalista Filomena Fontes.

Quando esta carapuça deixar de fingir que é futuro condicional, isto é, quando for remetida para o lugar que merece, o pretérito imperfeito, todos reconhecerão que, afinal, não há mal que sempre dure. É o que me apetece observar sobre ostracismos coxos e cobardes declarações de sacristia ou alfurja, emitidas do púlpito ou do palanque, por déspotas que já nem sequer são iluminados. Chapéus há muitos, caro palerma!

Qualquer correspondência da anterior declaração com um, ou vários, macro ou micro-autoritarismos não passa de mera coincidência degenerativa, face à manutenção dos sub-sistemas de medo. Não pensem já no governo PS, ou nos micro-governos do PSD que por aí pululam. E os bufos que fizerem "copy & paste" desta coisa, para a levarem aos ditos, que lhes paguem o serviço. Quem reprime, apenas mostra medo do reprimido.

O problema é que o hobbesianismo se transformou numa ideologia que se libertou do criador, com base numa metáfora que não era assente nas teses da recente etologia. Mas o essencial está no que diz. Aliás, Thomas nasceu antes do tempo, quando a mãe, sobressaltada, temia o assalto da dita Invencível Armada. E como ele próprio reconheceu: "eu e o medo somos irmãos gémeos".

Confesso meu temperamento de radical que se apaixona por causas e não entende a racionalidade como um afrouxar das paixões. Como se os cinzentos seres que sempre foram os números dois dos pelotões de fuzilamento pudessem, alguma vez, ter o prazer da criação. Porque não há direita, esquerda, extremos ou meio-termo. Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu.



20.7.09

Deram-nos a lua para epopeia, com transmissão directa pela televisão


Deram-nos a lua para epopeia, com transmissão directa pela televisão e assim nos ilusionámos todos, homens do século vinte. Até a Mariner Ten tirou fotografias ao planeta Mercúrio. Mas Mercúrio continuou mais longe do que Paris e ninguém lá conseguiu chegar no comboio das sete...

Contudo, por cá, Arlindo de Carvalho, Manuel Dias Loureiro, Oliveira Costa. Sempre inocentes até ao trânsito em julgado, mesmo que o trânsito esteja engarrafado, antes das portagens eleitorais. O porta-voz do PS não comenta telhados de vidro. Tem várias rachadelas do género na vivenda geminada do mesmo bloco, onde as portas já foram porteiros. Desejava que a política não se confundisse com casos de polícias e...guardiões. Mas até no Freepote, um arguido deixou de ser arguido, embora possa voltar a ser arguido, quando o lapso deixar de ser erro.

Gosto de navegar no real que me dá o virtual. Depois de algumas horas de investigação da pesada, isto é, de crochetar restos de fichas da era pé-disco duro, vejo que passou a ventania e que o sol vai invadindo a tulha da minha biblioteca. E aqui venho navegar um pouco. Gosto de navegar no real que me dá o virtual. Espero que cheguem os nano-arquivos e as nano-bibliotecas!

Contudo, de um lado, há irreverentes vanguardistas e reaccionários que, ao cristalizarem-se em seitas, geraram os tradicionais rebanhos miméticos dos citadores, glosadores e aduladores. É o permanecente colectivismo moral dos irmãos-inimigos

E todos os dias me chega mais uma nova sobre a arrogância do micro-autoritarismo subestatal que, de cima para baixo, usa a maçaneta do estadão para disfarçar o medo que sente pela revolta do poder dos sem poder. O desprezo é a melhor arma dos que resistem ao assédio e nem sequer transformam o pretenso dono da coisa em inimigo.

Que nome dar a um regime onde aquilo que o chefe diz tem valor de "lei” e onde o chefe não está sujeito à "lei" que dita aos outros? E quando, ao poder absoluto, se acrescenta a invocação da ciência certa? Chama-se fim da política e regresso ao espaço do doméstico, onde há um dono, ou um déspota, bem como a inevitável sociedade da corte, com acento no "ó" e sem direito a chapelinho "ô". Têm a mesma origem etimológica.

Quem me dera também poder usar o pretérito! Estamos encharcados em micro-autoritarismos, onde muitos são mais papistas do que o papão. Só que as garras dos primeiros rasgam as boas vontades e o papão perdeu a asa e não passa de mero tigre de papel!

Leio as últimas da confusão brasileira de dinheiros públicos quanto à Fundação Sarney, com Lula de permeio, mais Petrobrás. Veio tudo no "Estadão" e os lulistas invocam manobras dos tucanos, dizendo coisas semelhantes da Fundação Fernando Henrique Cardoso. Para bom entendedor, meias palavras bastam. E não é a de Mário Soares. São as dos nossos sarnas...

Também já não comprava o espesso há meses. Está mais fino. Gostei do perfil de Palma Inácio (J. P. Castanheira) e da homenagem sentida de João Soares. Como este reconhece, o guerrilheiro era "um verdadeiro liberal". Mas como socialista que é, logo acrescenta: "no sentido que os americanos dão ao termo". Ora, como este é o meu sentido, especialmente o sul-americano, também comento: viva a Santa Liberdade azul e branca! O João Soares que não entre em azedume.

Admito que um socialista possa ser assim liberal. Apenas reconhece a hierarquia dos valores, onde o azul e branco ou o verde e amarelo são bem superiores a outras colorações. As duas primeiras vêm de 1820 que eu prefiro a 1910, a 1917 (Dezembro) e às imitações que lhe sucederam. Continuo a preferir Passos Manuel.

Também li a entrevista do camionista Humberto Pedrosa ao mesmo Expressso. Um orgulhoso saloio, patrão da Barraqueiro desde 1967. Escapou à nacionalização porque era pequenino e depois foi comprando os desastres da nacionalizada, deles, a dita Rodoviária. Uma tecnologia que remonta às carreiras entre o Lumiar e a Ericeira, surgidas em 1915...Ou de como ser liberal é mais uma forma de vida do que uma ideologia.

O liberalismo não é de esquerda nem de direita, porque a esquerda e a direita não são, estão! E o liberalismo pretende ser, pensando. Cada esquerda tem a direita que merece e vice-versa. Vale mais pôr os pés no chão deste portugalório e confirmar a esquizofrenia. Até dos que dizem que pensam, ditando...

Só há esquerda se houver direita e direita se houver esquerda. Aqui voltámos à decadência. Há uma maioria de bonzos e uns acompanhantes da procissão, ora endireitas, ora canhotos, para que vire o disco e toque o mesmo... Já Maritain dizia que os governos mais fracos são os governos ditos de esquerda com temperamento de direita, tal como os mais fanfarrões são o vice-versa. Por isso é que também caminhámos ao contrário, de Barroso/Santana/Portas para Sócrates/Freitas do Amaral...

Estou farto de complexos de esquerda e fantasmas de direita! Continuo de direita, liberal e tudo, nomeadamente azul e branco. Até parto dessa parcialidade para aceder ao universal, como a coroa aberta do manuelino assumiu o abraço armilar. Nunca quis ser da direita que convém à esquerda...sobretudo ao centrão mole e difuso do situacionismo. Mas porque sou de direita, assumo a atitude clássica do radical do centro excêntrico...

Porque vontade geral nunca foi vontade de todos (Rousseau). Esta é sondajocracia… Vontade geral é quando cada um decide, desprezando os próprios interesses. Porque, se todos, quando escolhem, pensam apenas nos seus interesses, não há democracia. Vontade geral é quando cada um actua de modo tão exemplar que, dessa conduta, se pode extrair lei universal

Só juntando Rousseau a Kant se pode fugir da guilhotina de Robespierre e do despotismo de todos. Ensinam a coisa, que agora repito, um António Sérgio ou um Karl Deutsch. Sondajocracia não é democracia e corrida ao "share" partidocrático também. Teatrocracia também não é comunicação, podemos comer gato por lebre!

E gosto de ler antes de comentar. Já li http://www.cidadaosdebatempolitica.net. E subscrevi. Muito humildemente. Os pretensos intelectuais como eu padecem quase sempre da inveja do tribalismo e da endogamia.

Acresce que até a maioria esmagadora dos docentes do chamado superior depende do acto de renovação contratual. Muito antes deste governo PS. Logo, a maioria do nosso ensino superior transformou-se numa sucessão de quintais endogâmicos, dependentes do carreirismo obedencial, a que chamam gestão democrática das escolas. Quem quiser safar-se não pode fazer blogues nem petições. Tem que saber colocar-se correctamente nos jogos de poder deste vasto neofeudalismo que imita a decadência partidocrática e repete os bailados da sociedade de corte e da própria sacristia, onde os altares são os manitus supremos e os viúvos da dona maria da cunha, a tal que praticava a poligamia. Quem disser que não há corrupção, isto é, compra de poder, entre os pretensos intelectuais, mente...

17.7.09

Alberto João faz tourada à corda, põe tudo a gritar olé e dispensa as chocas...


Alberto João voltou a ser provocador e, como bom ex-técnico da psico militar, decidiu ocupar a agenda mediática, brincando a coisas tão sérias quanto a liberdade de associação e a liberdade de expressão, só porque sabe que o comum das pessoas não se apercebe das subtilezas do texto constitucional, de tal maneira que até pode julgar que vivemos num regime onde está proibida a defesa individual do fascismo em sentido estrito, ou até do nosso salazarismo, quando até é possível a edição do próprio livro de Hitler, "Mein Kampf".


O que a Constituição proíbe n0 nº 4 do art. 46 são "organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista". A mesma constituição que, no seu preâmbulo, diz que o 25 de Abril de 1974 derrubou o "regime fascista". Um articulado aprovado em 3 de Setembro de 1975, em pleno PREC, quando Jorge Miranda, então deputado do PSD, que o aprovou, declarava que deveriam abranger-se "também "associações que, embora dizendo-se revolucionárias, objectivamente servem os fins da ideologia fascista".


Três meses depois, dava-se uma inversão do PREC, quando os golpes e contragolpes de 25 de Novembro, levaram ao poder os que pretendiam superar o vanguardismo revolucionário, para poder cumprir-se o maioritário desejo do povo expresso nas eleições de 25 de Abril de 1975. Aliás, no golpe anti-eleições, em nome da revolucção, estiveram implicado, primeiro, o PCP, que desistiu na véspera, depois, a UDP, muita extrema-esquerda e alguns dos advenientes inscritos no PS que então circulavam por coisas da esquerda revolucionária. Por isso, a marca pluralista e pós-revolucionária desta democracia acbou por ser emitida por Melo Antunes, um dos vencedores, que, logo no "day after", veio dizer que o PCP era necessário à democracia, mantendo-o no governo provisório até ao começo do Verão do ano seguinte.


Se a proposta de Alberto João sempre tivesse existido, conforme as glosas de certos jornais e os comentários de resposta de certos partidcratas que aproveitaram a boleia desse dolo eventual, correríamos o rico de ver a própria JSD proibida. Talvez não erre se disser que a mesma organização perfilhou "A Internacional" como seu hino oficial, com os retratos de Marx e Engels a alindarem os primeiros congressos...


O próprio PSD só retirou a inspiração marxista do respectivo programa no tempo de Cavaco Silva, já bem depois de o PS de Constâncio ter feito o mesmo. Por outras palavras, Alberto João aderiu a um partido assim originariamente "contaminado" e continua a ser o único político no activo que, ainda há meses, usava o vocábulo "fascista" para denegrir adversários incomodativos...


Aliás, Marx militava num partido dito social-democrata da Alemanha (SPD), tal como Lenine pertencia à ala dita bolchevique do partido social-democrata da Rússia... Se, na Itália, se proíbissem organizações fascistas e neofascistas, nunca poderia ter existido MSI. Logo, os antigos neofascistas, agora ditos pós-fascistas, nunca poderiam ter acedido ao actual governo de Roma. E isto na pátria do fascismo originário. Tal como o PSD deve ser o único grande partido lusitano que teve na sua liderança um antigo ortodoxo marxista-leninista-maoísta. Se interditassem organizações comunistas, um sujeito como ele, por resistência, nunca poderia mudar de concepção do mundo e da vida...


O Professor Miranda já mudou de opinião nas suas meditadas lições: "se o art. 46.°, n.o 4, pode ter sido emblemático na conjuntura histórica em que foi aprovado, de jure condendo nem por isso ele se justifica, por pôr em causa tanto a total democraticidade do sistema como o princípio da igualdade, através da discriminação contra uma ideologia, entre as várias eventualmente não identificadas com a democracia pluralista consagrada na Constituição"


Até acrescenta: "Por ideologia fascista deve entender-se, para efeito do art. 46.°, n.º 4, não qualquer ideologia antidemocrática, de qualquer quadrante, mas a ideologia correspondente (ou análoga) à do regime anterior a 25 de Abril de 1974 - assim definido no preâmbulo da Constituição (sejam quais forem as dúvidas sobre o rigor da designação) - tomando em devida conta o contexto histórico em que o preceito surgiu"


Mais: "A Constituição não proíbe que qualquer cidadão perfilhe a ideologia fascista nem tão pouco a liberdade de expressão de tais ideias ou permite que as mesmas possam ser objecto de qualquer tipo ou forma de censura; apenas proíbe a existência de «organizações» que perfilhem aquela ideologia, o que implica, obviamente, a proibição de que tal ideologia seja manifestada por forma organizada».


O perigo de mantermos ou alargarmos a tipicidade proibitiva através de um tópico polissémico, como fascismo ou totalitarismo, interpretáveis pelas mais nefastas diabolizações, implicaria sucessivas actualizações, conforme os ideias de defesa social de conjuntura. Teríamos de alargar a proibição a coisas como o terrorismo e o fundamentalismo e até, cedendo a alguns fantasmas e preconceitos de demagogos do palanque, do microfone, da barra ou do púlpito, estender a indeterminação a sociedade ditas secretas ou discretas, num crescendo paranóico onde costumam ser hábeis os herdeiros dos inquisidores, dos moscas, das formigas e dos pides, incluindo os marcados por alienígenas inspirações, entre SS e KGB. Não tardaria que seguíssemos alguns títulos, como o de Talmon, repetido por Paulo Otero, considerando como totalitária a própria democracia.

PS: Excerto do artigo 3º de uma lei celerada ainda vigente, mas inválida e ineficaz: "considera-se que perfilham a ideologia fascista... os que mostrem adoptar, defender, pretender difundir ou difundir efectivamente os valores, os princípios, os expoente, as instituições e os métodos dos regimes fascistas que a história regista, nomeadamente o belicismo, a violência como forma de luta política, o colonialismo, o racismo, o corporativismo ou a exaltação daqueles regimes". É a lei nº 64/78 de 6 de Outubro, que o PSD, até pela voz "pasionaria" de Helena Roseta, qualificou como "lei celerada". O bom senso nunca a aplicou, até porque ministros e governantes fascistas, tecnicamente falando, conforme o preâmbulo da Constituição, foram recrutados para governos socialistas e sociais-democratas. Aliás, a televisão pública, ao admitir a figura de Salazar a um concurso sobre grandes portugueses, deveria ter sido processada...




16.7.09

De Santana a Cavaco


Como alguns já devem ter notado, passei a aprendiz de algumas das novas redes sociais, como o "facebook" e o "twitter", quando me convenci que os mesmos não eram apenas daquelas modas que não passam de moda. Evidentemente, o hábito não faz o monge, isto é, o meio não muda o essencial da mensagem e terei inevitavelmente o defeito dos blogueiros, ou melhor, terei os mesmos vícios que transporto para este blogue, isto é, continuarei a trilhar a travessa do fala-só, mesmo quando posso dar aulas através destes novos meios de comunicação social. Contudo, ainda utilizo os velhos sistemas e sou chamado a prestar meu depoimento a jornais, rádios e televisões.



Ainda hoje, a agência Lusa traz declarações minhas, tal como ontem. Aqui as reproduzo, com o lapso e tudo. Esta semana era do ICS, na passada, do ISCSTE, quando, efectivamente, sou da velha Escola Colonial que, por enquanto, começa também por I, mas como nesta até já um tal de Mendes Corrêa dá nome a prémio de politologia, não pode haver confusão que resista.


«O Santana percebeu que o poder tem que se conquistar pela via própria e aceitou ou teve que aceitar a chefia do governo sem ser pelo seu próprio esforço e acabou por ser vítima ou propiciar a utilização da bomba atómica da dissolução pelo Presidente Sampaio e agora voltou ao que sempre fez: a conquista do terreno, devagarinho, pelo seu próprio pulso», considerou o professor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa Adelino Maltez. Para o académico, Santana Lopes é «um ´homo partidarius´», um «político profissional» que «precisa da política para conquistar o seu lugar ao sol», mas de quem a própria política também precisa, sendo nesse sentido um caso comparável aos do líder do CDS-PP, Paulo Portas, e do primeiro-ministro e secretário-geral do PS, José Sócrates.


«O Portas, o Santana e o Sócrates são três galos para o mesmo poleiro, homens de grande engenho, que aguentam vitórias e derrotas, fortunas e infortúnios e, portanto, têm os três o mesmo tipo de postura. O Portas e o Santana têm a vantagem que já perderam. O Sócrates vai de vitória em vitória e não o experimentámos ainda em derrota», considerou.De resto, o politólogo compara Santana Lopes a «um tsunami» que «permitiu que o PS tivesse uma maioria absoluta com Sócrates» e fez agora «antecipar a corrida à sucessão» do próprio líder socialista.


«Estes ensaios políticos de António Costa são uma colocação no terreno como sucessor de Sócrates se este não tiver a maioria absoluta. E o Santana mais uma vez está nesta base», defendeu.Ultrapassado o «grande erro» de ter aceite chefiar o executivo do país «por outorga de outrem», Santana Lopes está agora a «refazer o seu percurso» tendo como ponto de partida as conquistas políticas que chamar a si, nomeadamente «a vitória na Figueira da Foz e a vitória em Lisboa contra tudo e contra todos».


O politólogo do ICS prevê, por isso, que a disputa pela presidência do município de Lisboa vai ser «uma boa luta política» entre dois «militantes pós-abrileiros, já nascidos com maturidade para a política depois do 25 de Abril», dois políticos «muito bons» que «se estimulam mutuamente»


Já onte, no mesmo sítio, sobre Cavaco:


Apesar de advogar que "cada um é juiz é causa própria", o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa Adelino Maltez considerou também não existirem sinais de que os 70 anos de Cavaco Silva estejam a condicionar o seu mandato.

"A pátria tem 800 anos, já houve candidatos de 80, por isso, de acordo com os actuais parâmetros, um Presidente com 70 anos está com plena vitalidade e maturidade, até mesmo com 75 anos", declarou.

Além disso, acrescentou, "a própria função de Presidente da República implica maturidade, experimentação", principalmente num país como Portugal, onde "sabiamente" há uma repartição entre quem tem o poder e quem tem "a chamada autoridade".

E, lembrou, no tempo dos romanos "quem tinha a autoridade eram precisamente os mais velhos", os senadores.

"A função do Presidente da República é a de ser o garante do normal funcionamento das instituições, alguém que tem algum poder moderador e autoridade", continuou, sublinhando que são precisamente essas características que têm dado confiança aos portugueses.

Quanto ao futuro, Adelino Maltez salientou o "papel fundamental" que Cavaco Silva irá desempenhar se o Governo que sair das eleições de 27 de Setembro não tiver maioria absoluta.


"Vão ser dois anos muito intensos", disse.


PS: Imagem picada aqui

15.7.09

Cavaco, setenta anos. Como o tempo passa!


Setenta anos de Cavaco. Ainda tem mais dois para se recandidatar. E serão intensos. Especialmente depois das outonais eleições, quando começar a cair a folha, seja qual for o resultado. Do mais do mesmo, da alternância deste disco riscado, à eventual alternativa, entre Manela a coordenar, ou Jerónimo e o Bloco no poder.

Esperemos que Cavaco não queira ficar na história como o coveiro do regime e que ajude o povo a mandar o bloco central de interesses para o caixote de lixo da história.

Só que o povão é quem mais ordena e tem sempre o governo que merece. De qualquer maneira, do alto da sua maturidade, Cavaco tornou-se um desses árbitros que também joga. Como defesa central, ou avençado de centro, mas sem poder ser treinador. Jesus já foi recrutado e Mourinho não quer voltar.

Resta saber se a maioria do eleitorado prefere o situacionismo, mantendo o que está, ou optando pela alternância do vira o disco e toca o mesmo riscado, do tira PS mete PSD, tira PSD mete PS

Pode também surgir reviravolta. Há um PS que quer abrir as portas ao PCP e ao BE. Chame-se António Costa e tem o apoio de Alegre. Por enquanto só tem Saramago e pode conquistar Roseta. Reconheço a mudança, mas não vou por aí. Mas se o povão quiser, reconheço humildemente a alternativa. Em verso épico, voltaríamos ao contraciclo relativamente aos principais parceiros europeus, embora fosse possível a viagem para uma Índia que não vem nos mapas.

Setenta anos de Cavaco. O regime está velho. Basta recordar que Marcello Caetano tinha sessenta e oito anos quando Salgueiro Maia o meteu dentro de uma Chaimite. E Salazar, quando caiu da cadeira, tinha menos idade da que agora têm Soares e outros “senadores da democracia”. Alegre nasceu em 1936. Cavaco, três anos depois.

14.7.09

Neste manicómio em autogestão, onde as acções são anónimas, vindas da obra do Senhor...


Quando o Verão começa a crescer, as Universidades declaram as vagas e muitas entram em anúncios do sonhar é fácil. Falta um estudo da DECO, falta até intervenção da alta-autoridade para a concorrência, para que reguladores discriminem publicidade enganosa e abusos de posição dominante. Mesmo que um porta-voz de uma Ordem fale em concorrência desleal no acesso ao curso de medicina... Mesmo que o bastonete dos abacates mande que fujam dos cursos que lhe deram a licenciatura. Mas Gago diz que há novas saídas profissionais para direito, insinuando que, só antigamente, o curso não prestava...

Quando o partido situacionista utiliza o aumento das vagas na universidade pública como tema eleitoralista, quase apetece dizer que deveríamos revogar o presente sistema de "numerus clausus", para que possamos voltar a respirar ar livre! No primeiro ciclo de Bolonha, deveríamos extinguir tal condicionamento industrial, para total liberdade de ensinar e aprender. No segundo, a efectiva igualdade de oportunidades da meritocracia! E se todos fossem para medicina, incluindo licenciados de outras áreas, apenas se concluiria que Portugal é um hospital de quarentena, uma espécie de manicómio em autogestão...

Parafraseando Garrett, poderemos dizer que a universidade já não é o que foi nem pode voltar a ser o que era. O que vai ser, nem Gago, nem o Conselho dos Reitores o sabem. Muito menos eu, os sindicatos e as ordens profissionais. Apenas sei que, com tanta reforma, tudo como dantes, em termos de palha de Abrantes e música celestial. Quando a ideia de revolução acaba em situacionismo, apenas damos razão ao velho Platão que, ao colocar a nostalgia como o antibacteriano específico contra a degenerescência, confirma que os ex-revolucionários, feitos reformadores, apenas entoam a cançoneta de António Mourão sobre o "Oh! Tempo Volta P'a Trás".

Vejam-se tantos deputados que são professores universitários em privadas e concordatárias. Confirmem-se os casos de faladíssimos políticos que são universitários por serem políticos, enquanto encarregadíssimos universitários só o são, por serem, ou terem sido, políticos. Do lado universitário, para servirem como influentes de grupos de interesse e grupos de pressão e, do lado político, para usarem o cartão de visita de uma autonomia que não devia ser contaminada pelos hierarquismo do aparelho de poder do principado. Nem sequer faltam reitores que se candidatam a ministros, e ministros que esperam a nomeação como reitores pelos conselhos gerais que fabricaram, em nome da autonomia da sociedade civil, por acções que vêm não sei donde, benzidas ou laicizadas

E, fecundando-se uns aos outros, quase entram na lógica neofeudal da clausura autoreprodutiva do bloco central de interesses, a tal que destruiu a partidocracia e que vai concluir a desinstitucionalização da universidade, transformando-a em mais uma "longa manus" da partidarite. Não tardará o "outsourcing" do negocismo, da consultadoria e da avença, com projectos enlatados e traduzidos em calão por qualquer multinacional.

Berado dirá: se o capital não tem pátria, também as acções vêm não se sabe donde, porque até podem vir da obra de senhores que invocam o nome de Deus em vão. Já na universidade, dependente do decretino que lhe aprova um curso, ou lhe concede o favor de um despacho orçamental, capaz de pagar os vencimentos e as aposentações, apenas podemos concluir que ela é tão verticalmente pública quanto o ministerialismo que vai, de forma neopombalista, rebentando com os restos da autonomia.

Não faltam também os aposentados, jubilados e eméritos que, postos pelo favor do decretino na ilusão de activismo, saem da prateleira das memórias e recebem secretária de pau preto, secretária de carne e osso, mercedes preto, motorista fardado e muitas coordenações de projectos, enquanto legiões de dependentes pelo carreirismo, a eles se encomendam, até para as tradicionais viagens de turismo científico. O Zé é que paga, mas, para o mais do mesmo, nunca faz falta.

Os braços pombalistas e salazarentos, no entanto, continuam firmes e hirtos, na perspectiva de o Estado servir para que se punam todos os que tentem "verberar a maneira como o Ministério tem conduzido a questão", e para que se conclua pela "indisciplina, irreverente e grave conduta", com a consequente "impossibilidade de adaptação às exigências das funções que exerce" (texto dito universitário de 30 de Julho de 1962). O ministro-director que subscreveu a pulhítica é hoje reverendíssimo senador da democracia e ainda não pediu perdão pela falta de respeito ao prestígio da instituição universitária. O perseguido foi ministro educativo da democracia, mas logo saiu em revolta contra o novo totalitarismo do novo píncipe. Esqueceram-no. Um dos magistrados que confirmou a trama acabou provedor de justiça da também democracia. O processo está todinho de pp. 43 a 291 num livro publicado pelo advogado e irmão, compilado em Dezembro de 1973, impresso em Maio de 1974, em "Causas que foram Casos", Lisboa, Seara Nova. O subsistema de medo do pós-autoritarismo continua. O novíssimo príncipe é o príncipe de sempre. Agora. Onde não há vésperas e é tudo crepuscular com sinais de borrasca. Já não há loucos que, com o juízo do bom senso, queiram grandeza.

13.7.09

Meditações pouco politiqueiras, aqui no Valbom dos Gaviões




Enquanto Sócrates continua em teatro, num palco redondo, com Magalhães em fundo, António Costa vai-se alargando. Depois de Carlos do Carmo e Saramago, chegou a vez do Zé Sá Fernandes e do Gonçalo Ribeiro Teles, enquanto os jornais diários trazem publicidade paga sobre a carta estratégica de Lisboa. Manela e os maneleiros voltam à gestão dos silêncios. Preferimos entrar para o Guiness com o maior bacalhau dourado do mundo, sem qualquer pataco...

Ainda no sábado, num colóquio do IDP, eu homenageava o Gonçalo, salientando que já em 1969, quando se concretizou a primeira lista dos monárquicos oposicionistas, a CEM, ele apareceu integrado na CEUD de Mário Soares, coisa que revelava a coerência dos activistas do Centro Nacional de Cultura, fundado poucos minutos depois de finda a Segunda Guerra Mundial, e dos participantes da revolta da Sé, entre os quais se contava outro monárquico como o Francisco Sousa Tavares. O apoio de Gonçalo a Costa apenas revela coerência de um percurso de cidadania e fidelidade a um programa, sobretudo quanto a Lisboa. Nunca o Costa poderá instrumentalizá-lo como o inverso do Nuno da Câmara Pereira, nem certamente o quererá fazer, sobretudo ao primeiro secretário de Estado do Ambiente da democracia. Gonçalo está bem acima destas quezílias eleitoralistas e, quem o considera mestre, como eu, até reforça o respeito que por ele tem, mesmo que nele não venha a votar.

Prefiro relativizar os excessos politiqueiros, pensando a política. Porque quando volto à casa onde tenho os papéis e os livros antigos, refaço meu corpo e meu espírito, sentindo a livre sinfonia da passarada neste vale, os coelhos que saltitam livres e o barulho do mar ao fundo. Esta nostalgia rural de um emigrante capitaleiro, obriga-me a sentir os pés no chão da terra da pátria e os olhos no transcendente das estrelas que me dão cosmos. E assim volto a poder crescer por dentro, longe de tantos outros, pouco sustentados no território e na gente, para os quais crescer apenas é crescer para cima, do betão, do "hardware" e das chaminés das fabriquetas.

Volto a reler. Mas há livros e autores consagradíssimos que, só depois de passarem de moda, devem ser lidos ou relidos. Sobretudo, os pretensos trabalhos académicos de jornaleiros de coisas que se chamavam da luta popular ou do grito do povo e que, depois, encarreiraram pela partidocracia do situacionismo. Só alguns, raros, se libertaram do princípio de Peter, apesar de abusarem, como adjuntos e assessores de outros primeiros...


Volto a reparar que há algumas diabolizações verbais, marcadas pelo dogmatismo maniqueísta, que não deixam enxergar o boi da realidade a muito boa gente que se senta nos palácios situacionistas. Misturando a teoria da conspiração, vinda da espionite, com o malhar das células de combate não passam afinal de lixo da história. Basta reler as análises e previsões que fizeram, poucos anos depois...


11.7.09

Manel Carrascalão, sempre!


Morreu Manel Carrascalão, que era Timor em figura humana. Estava em Loro Sae quando ele adoeceu e começou a entrar na eternidade. E em 18 de Novembro de 2008 escrevi o que agora repito em sua homenagem:


"Muitos antes da chegada dos missionários ou dos governadores, vindos do reino, por estas ilhas se espalhou uma estranha mistura de gente, meio portuguesa, meio local, com nomes esquisitos, ditos Larantuqueiros, por causa do nome do porto da Larantuca, ou portugueses ditos pretos, ou Topasses, nome este que já terá sido usado em 1545 e que tem a ver com uma palavra malaia referente ao que fala duas línguas.

É este o sincretismo genético donde brota este eixo foi dito de Flores, Solor, Timor. É este o sentimento do homem da rua, ainda hoje, aqui por estas bandas que fooram sandalosas e agora são petrolifereiras. Os Topasses chegaram antes dos soldados, dos comerciantes, dos burocratas do governador. E em 1975, quando, sem ainda sabermos bem porquê, os portugueses se ataurizaram, tudo voltou a ser tão topasse quanto no próprio no princípio, quando era apenas o verbo. Eles ficaram aqui em procura do seu lugar onde. E trouxeram do reino outros Topasses, em outras procuras de abraço armilar.

Por mim, prefiro continuar a investigar sobre os Topasses que já aqui estavam antes de chegarem os reinóis e as suas bandeiras, incluindo ideologias e partidos. Pelo menos, esses não mandaram os dominicanos assassinar os jesuítas, como aconteceu nos primeiros tempos da missionação. Nem se passaram para os holandeses. Nem enviaram para cá como governadores da I República um Filomeno da Câmara ou um Teófilo Duarte.


Deixaram que, pelo acaso, das greves da Marinha Grande, chegassem os Carrascalão e que, por outro acaso procurado, nos anos setenta, aqui assentasse o padre Felgueiras. E esses, aprendendo com os Topasses, ficaram Topasses, mudando ou não de cor, e assim ascendendo ao altar da metapolítica, naquilo a que se chama confiança. O português que se diluiu no outro, e que cumpriu seu destino armilar é que também se assume como o santo da minha confiança. Força, Manel, nessa luta contra a doença. Timor precisa do teu exemplo! Sempre!"

Constituição 2.0 II

1
Todas as frases que eu podia ter escrito sobre a Constituição que nos rege já as escrevi quase todas. Sempre considerei que a melhor forma de cumprirmos a ideia de constituição passa por não termos a mania das grandezas de pormos em código rígido o próprio dever-ser comunitário, muito à maneira britânica

2
Hayekianamente falando, sou um frontal adversário dos construtivismos, especialmente daqueles falsos progressistas que se consideram como o promontório dos séculos e amarram o futuro ao respectivo pensar baixinho

3
Claro que deve haver leis fundamentais do pacto de constituição. Mas este deve ser inferior ao pacto de união, a matriz de qualquer contrato social. E este não ter a ver com o poder, mas antes com a autoridade e só tem autoridade quem é autor…

4
Ai do povo se se deixar prender pelos constitucionalistas, por mais geniais que estes sejam. Aliás, mesmos as leis fundamentais nem deviam ser escritas por engenheiros de conceitos, como normalmente são os juristas formados por estes seminários do regime que vamos tendo. Deveriam ser os poetas a escrever as sucessivas actas das cortes de Lamego que deveríamos reassumir…

5
Insisto, muito à maneira dos clássicos defensores do contrato social: o pacto de governo ou de sujeição deve estar sujeito a um pacto de constituição, mas este é inferior ao pacto de união, ao “original compact” de Locke, e este último só os poetas da pátria o conseguem decifrar…

6
Porque a primeira palavra da nossa Constituição é “Portugal” e esta coisa essencial é normalmente indecifrável pelos hermeneutas que se assumem como os primeiros sacerdotes da república. Por mim, sempre disse que mesmo a lei fundamental de 1976 deveria ter sido passada a palavras por Sophia de Melo Breyner, Natália Correia e Manuel Alegre, com a ajuda de António Manuel Couto Viana e música de Adriano C. de Oliveira..

7
Estas partilhas de sábado matinal têm a ver com as palavras que daqui a minutos vou pronunciar no debate da Constituição 2.0 do Instituto da Democracia Portuguesa. Peço perdão aos que ainda estão na onda do telejornal da TVI, mas há coisas na pátria mais importantes do que a corrupção dos CTT…

(texto emitido no meu Facebook)