Sobre o tempo que passa
Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...
31.7.09
30.7.09
Programa dos socialistas. Hoje no DN
Foi uma dessas turbulências das uniões de facto, que só no tempo do bisavô Keynes, contemporâneo do Salazar, tinha acontecido. Vai daí, volta a velha infanta, nos jardins das novas fronteiras assentada, a escrever uma longa carta de amor à improvável maioria absoluta, através de um estilo esotericamente tecnocrático, parecido com os “papers” do extinto departamento central de planeamento.
Ficou uma antologia daquelas frases que hão-de salvar Portugal e que têm vindo a ser emitidas a conta-gotas nos telejornais. Mas, porque, na prática, a teoria tem sido outra, em nome daquele pragmatismo que mandou pôr a ideologia socialista na gaveta, o tal futuro continua por salvar, e o inferno a ser plenificado pelas boas intenções.
Das que querem dar, aos mal-aventurados, a música celestial de um peixe descongelado, mas sem que lhes estimulem a arte e a vontade de pescar. Porque interessa mais zurzir nos fantasmas com que se diaboliza a oposição, acusando-a, ciumentamente, de querer rasgar.
Por mais pactos que se especulem, não se diz com quem, da mesma espécie, se quer pernoitar em coligação. Esta literatura de justificação não nos prepara para incerteza e nem o novo conceito de abono de família consegue colmatar o deserto de ideias.
Ventos de Espanha, Manela e mais trapalhadas socráticas
Portugal não foi fundado por D. Afonso Henriques. Foi sempre refundado pelos Portugueses que o quiseram ser. E refundação, precisa-se! Não há pensamento sem pátria, a "escola da super-nação futura" (Pessoa). Não se acede ao universal sem ser pela diferença... A identidade não exclui as várias repúblicas maiores da nossa pluralidade de pertenças... Obrigado, José Gil, eu também sou contra... o gilismo, essa criatura que se libertou do gilismo e inunda certas elites de praia em falta de vontade na procura de Portugal.
Sonhar não é fácil. O abraço armilar, de que somos sinal, implica que se semeie a república maior da comunidade dos afectos, a comunidade das coisas que se amam. O século XXI pode ser o das múltiplas pertenças das repúblicas hispânicas, ibero-americanas e ibero-africanas, em regime de geometria variável, com mais povos do que cimeiras. Talvez este seja o necessário Quinto Império do poder dos sem poder.
Portas não visitou nenhuma feira. Foi a uma fábrica de enchidos...
29.7.09
Que saudades do Costa do Castelo e do Leão da Estrela
Santana tem o lastro dos e das santanetes e dos habituais carregadores de piano. Mas Costa também exibe costonetes, vindos da Amadora e Matosinhos e da coelheira da concelhia, apesar de ter exportado perestrello para Oeiras. E conserva a memória daqueles directores-gerais que semeou e dos quais, de alguns, se guardam mau sabor para o Estado de Direito.
A caldeirada que apoia Costa é fina. Vai de Saramago a Gonçalo Ribeiro teles, foi conformada por Alegre e pode levar Costa a correr a uma eventual sucessão de Sócrates, depois de 27 de Setembro. Abandonará, então, a corrida à CML? E ainda há PCP e Bloco de Esquerda com candidaturas próprias.
Lisboa deste camaralismo precisava de uma lei especial que a voltasse a configuarar como cabeça do reino. O que temos ainda é um pronto-a-vestir quase igual a Freixo-de-Espada-à-Cinta, configurado pelos administrativistas do velho ministério do interior...
28.7.09
Postal bem "light", antes da abertura da caça aos abstencionistas
Entretanto, as elites da classe político-jornalística já decidiram o seu sentido de voto e as entradas dos partidos na internáutica não podem ignorar que o tempo dos blogues, dos tuítas e do FB ainda não chegou aos pais da geração Magalhães. Eles ainda preferem revistas cor-de-rosa, parangonas de jornais sensacionalistas e o activismo declaratório de Cavaco, Paulo Bento, Pinto da Costa e Jorge Jesus...
- A D. Blogosfera é aquela senhora meia escanzelada que é prima do Magalhães? Interpelação que me foi feita por um vizinho cá da paróquia...
O mesmo vizinho: - Mas como é que, de um milhão de computadores distribuídos pelo Sócras, só estes é que foram à festa?
Resposta de um terceiro: - O Magalhães, que era um prometido da D. Blogosfera, fez-se com o Nintendo e já não tuíta nada disto... Quer ver se o convidam para deputado
-Porque o sucesso do fracasso da transmissão deveu-se a um problema de tráfico, por causa das influências. Joana não desmente...
- Para mim, foi mas é o Zepelim... Parece que o PND já reparou os buracos de caçadeira e emprestou-o por uma época a Louçã ...
Até acrescento e concluo: há políticos esporádicos de quem, no "facebook", não podemos tornar-nos "amigos", porque eles automaticamente tranformam esses incautos em "apoiantes" de uma qualquer sua candidatura. Ainda agora recebi uma notificação dessas que vai contra todas as regras... Oeiras que se cuide, vão aumentar os amigos de Marcos e de Isaltino, porque muitos não gostam desta manobra da Isabel. Felizmente, vou votar em Lisboa, porque ainda não me transferi para as paragens onde passo mais tempo, onde pago os meus impostos, e onde o autarca é um Ministro que nunca foi ministro e até tem um “slogan” bem à moda saloia: “Saber...”. Estou à espera, há dias, que ele me venha desentupir a fossa!
27.7.09
Os activismos declaratórios de uma política sem férias
Amores de Verão... Hoje no DN
Os recentes blogues de campanha, que se assumem inequivocamente como simples peças de uma máquina eleitoral dos principais partidos, não passam de efémeros amores de Verão e desaparecerão com o cair da folha. Mas são, pelo menos, mais conseguidos do que as patranhas blogueiras dos que até faziam plágio da “Wikipedia”, quando alguns políticos pensavam que o trabalho de todos os dias podia ser mera encomenda “marketeira”. Pelo menos, vão envergonhar algumas presenças internáuticas de políticos desempregados, incluindo alguns que fingiram voltar ao activo. Também neste espaço, a mensagem é mais importante do que o “medium” e os navegadores solitários resistirão, sobretudo se compreenderem que, nesta resistência da cidadania, não basta emitir, é mais importante dar e receber, interactivamente.
24.7.09
A tempestade perfeita em regime de pátio das cantigas...
A Manela é bisneta do Zé Dias e um outro nosso ministro das finanças recente, sobrinho-bisneto do Joaquim Pedro. Os descalabro de então foi por causa do sonhar é fácil de certos investimentos em vias de ferro, com velhos e clássicos corruptos nas concessionárias, como o Foz e o Burnay. Mas o povo gosta, até deu nome aos palácios que eles compraram nos Restauradores e na Junqueira. O primeiro acabou em cabaret. O segundo está hoje quase abandonado e a cair aos pedaços.
Pediram-me, pos, que comparasse este ciclo do regime a um filme clássico. Respondi: "O Pátio das Cantigas". Pelo nome, evidentemente. Estamos a transmitir tragédia em ritmo revisteiro que pouco tem a ver com a "tempestade perfeita". Malhas que outros impérios tecem...
23.7.09
A jangada de propaganda dos náufragos do rotativismo e os destroços arguidos de consciência tranquila
22.7.09
Do défice, das descontas, das prisas, no mais do mesmo que nos enreda
21.7.09
Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu
20.7.09
Deram-nos a lua para epopeia, com transmissão directa pela televisão
17.7.09
Alberto João faz tourada à corda, põe tudo a gritar olé e dispensa as chocas...
O perigo de mantermos ou alargarmos a tipicidade proibitiva através de um tópico polissémico, como fascismo ou totalitarismo, interpretáveis pelas mais nefastas diabolizações, implicaria sucessivas actualizações, conforme os ideias de defesa social de conjuntura. Teríamos de alargar a proibição a coisas como o terrorismo e o fundamentalismo e até, cedendo a alguns fantasmas e preconceitos de demagogos do palanque, do microfone, da barra ou do púlpito, estender a indeterminação a sociedade ditas secretas ou discretas, num crescendo paranóico onde costumam ser hábeis os herdeiros dos inquisidores, dos moscas, das formigas e dos pides, incluindo os marcados por alienígenas inspirações, entre SS e KGB. Não tardaria que seguíssemos alguns títulos, como o de Talmon, repetido por Paulo Otero, considerando como totalitária a própria democracia.
PS: Excerto do artigo 3º de uma lei celerada ainda vigente, mas inválida e ineficaz: "considera-se que perfilham a ideologia fascista... os que mostrem adoptar, defender, pretender difundir ou difundir efectivamente os valores, os princípios, os expoente, as instituições e os métodos dos regimes fascistas que a história regista, nomeadamente o belicismo, a violência como forma de luta política, o colonialismo, o racismo, o corporativismo ou a exaltação daqueles regimes". É a lei nº 64/78 de 6 de Outubro, que o PSD, até pela voz "pasionaria" de Helena Roseta, qualificou como "lei celerada". O bom senso nunca a aplicou, até porque ministros e governantes fascistas, tecnicamente falando, conforme o preâmbulo da Constituição, foram recrutados para governos socialistas e sociais-democratas. Aliás, a televisão pública, ao admitir a figura de Salazar a um concurso sobre grandes portugueses, deveria ter sido processada...
16.7.09
De Santana a Cavaco
"Vão ser dois anos muito intensos", disse.
15.7.09
Cavaco, setenta anos. Como o tempo passa!
Setenta anos de Cavaco. Ainda tem mais dois para se recandidatar. E serão intensos. Especialmente depois das outonais eleições, quando começar a cair a folha, seja qual for o resultado. Do mais do mesmo, da alternância deste disco riscado, à eventual alternativa, entre Manela a coordenar, ou Jerónimo e o Bloco no poder.
Esperemos que Cavaco não queira ficar na história como o coveiro do regime e que ajude o povo a mandar o bloco central de interesses para o caixote de lixo da história.
Só que o povão é quem mais ordena e tem sempre o governo que merece. De qualquer maneira, do alto da sua maturidade, Cavaco tornou-se um desses árbitros que também joga. Como defesa central, ou avençado de centro, mas sem poder ser treinador. Jesus já foi recrutado e Mourinho não quer voltar.
Resta saber se a maioria do eleitorado prefere o situacionismo, mantendo o que está, ou optando pela alternância do vira o disco e toca o mesmo riscado, do tira PS mete PSD, tira PSD mete PS
Pode também surgir reviravolta. Há um PS que quer abrir as portas ao PCP e ao BE. Chame-se António Costa e tem o apoio de Alegre. Por enquanto só tem Saramago e pode conquistar Roseta. Reconheço a mudança, mas não vou por aí. Mas se o povão quiser, reconheço humildemente a alternativa. Em verso épico, voltaríamos ao contraciclo relativamente aos principais parceiros europeus, embora fosse possível a viagem para uma Índia que não vem nos mapas.
Setenta anos de Cavaco. O regime está velho. Basta recordar que Marcello Caetano tinha sessenta e oito anos quando Salgueiro Maia o meteu dentro de uma Chaimite. E Salazar, quando caiu da cadeira, tinha menos idade da que agora têm Soares e outros “senadores da democracia”. Alegre nasceu em 1936. Cavaco, três anos depois.
14.7.09
Neste manicómio em autogestão, onde as acções são anónimas, vindas da obra do Senhor...
13.7.09
Meditações pouco politiqueiras, aqui no Valbom dos Gaviões
11.7.09
Manel Carrascalão, sempre!
Constituição 2.0 II
1
Todas as frases que eu podia ter escrito sobre a Constituição que nos rege já as escrevi quase todas. Sempre considerei que a melhor forma de cumprirmos a ideia de constituição passa por não termos a mania das grandezas de pormos em código rígido o próprio dever-ser comunitário, muito à maneira britânica
2
Hayekianamente falando, sou um frontal adversário dos construtivismos, especialmente daqueles falsos progressistas que se consideram como o promontório dos séculos e amarram o futuro ao respectivo pensar baixinho
3
Claro que deve haver leis fundamentais do pacto de constituição. Mas este deve ser inferior ao pacto de união, a matriz de qualquer contrato social. E este não ter a ver com o poder, mas antes com a autoridade e só tem autoridade quem é autor…
4
Ai do povo se se deixar prender pelos constitucionalistas, por mais geniais que estes sejam. Aliás, mesmos as leis fundamentais nem deviam ser escritas por engenheiros de conceitos, como normalmente são os juristas formados por estes seminários do regime que vamos tendo. Deveriam ser os poetas a escrever as sucessivas actas das cortes de Lamego que deveríamos reassumir…
5
Insisto, muito à maneira dos clássicos defensores do contrato social: o pacto de governo ou de sujeição deve estar sujeito a um pacto de constituição, mas este é inferior ao pacto de união, ao “original compact” de Locke, e este último só os poetas da pátria o conseguem decifrar…
6
Porque a primeira palavra da nossa Constituição é “Portugal” e esta coisa essencial é normalmente indecifrável pelos hermeneutas que se assumem como os primeiros sacerdotes da república. Por mim, sempre disse que mesmo a lei fundamental de 1976 deveria ter sido passada a palavras por Sophia de Melo Breyner, Natália Correia e Manuel Alegre, com a ajuda de António Manuel Couto Viana e música de Adriano C. de Oliveira..
7
Estas partilhas de sábado matinal têm a ver com as palavras que daqui a minutos vou pronunciar no debate da Constituição 2.0 do Instituto da Democracia Portuguesa. Peço perdão aos que ainda estão na onda do telejornal da TVI, mas há coisas na pátria mais importantes do que a corrupção dos CTT…
(texto emitido no meu Facebook)