a Sobre o tempo que passa: outubro 2009

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.10.09

Amizade. Recebido de Teresa Bracinha


AMIZADE
Tenho para mim que a desilusão profunda em relação a uma amizade, só depende das expectativas elevadas - e mesmo carinhosas e protectoras -, que nela possamos ter empenhado, com o desejo e a aspiração de, com elas, ajudarmos alguém a abrir caminhos fechados, mas que na altura certa abrimos ao nosso amparo, à nossa partilha do que brilha na nossa vida e oferecemos como luz.

A amizade também pode ter este ângulo por entre outros. Assim, não se concebe sequer que o receptador mais beneficiado de uma amizade deste suco e cujos anos solidificaram, venha um dia a perder a visão da experiência extraordinária que lhe foi proporcionada e nivele, ao nível do chão de vulgares gentes, tudo o que afinal tinha aceitado como fazendo parte de um inconfundível e irrepetível estar.

Tenho para mim, por outro lado, que o amigo não nos engana, fala-nos com verdade e nós acompanhamo-lo com imparcialidade compreensível e lúcida.

A amizade é uma filigrana de encontros, ainda que possam esses encontros deparar-se com um “benefício” maior para uma das partes. Enfim, faz parte da vida que assim seja, sem que se avalie ou pese a eventual desproporção quando exista. Enriquecer e crescer, tanto afectivamente como intelectualmente deve, no meu entender, ser também um propósito da amizade.

Contudo, às vezes, o milagre dos encontros da amizade turva-se. Seja para nos esclarecer ou não, este acontecimento magoa inexplicavelmente.

A amizade e a solidariedade pressupõem-se estáveis como portos seguros e se algum esclarecimento carece a amizade, nunca o mesmo chega pela via da maledicência temperada pelo exagero das inverdades.

Superar uma ou outra crise dentro de uma amizade verdadeira, faz parte do melhoramento que constitui a travessia difícil da vida. Mas nunca, nunca se suja o bom nome e o bom sentir nas costas do amigo, muito menos se esse é aquele a quem recorremos quando nada tínhamos que constituísse um respeito sólido face aos dias dos outros que contra nós se viravam.

A amizade não é algo de circunstância, não é um «como estás, há muito que não te via». Ao contrário, o amigo, quando nos encontra, ilumina-se, talvez porque olha o nosso passado e o dele, o nosso futuro e o dele com a comum óptica de se identificar com o cerne das coisas partilhadas.

Todavia, existe também uma amizade granulada. Esta, quando se expõe desregrada e nas costas do amigo, julga o outro com o fel que lhe acode como único meio de denegrir, sujar, perturbar o branco, na expectativa de que haja quem o ouça nivelado pela mesma mola ferrugenta e deturpe a essência de quem, efectivamente lhe é superior.

Nunca se careceu de minimizar a não ser a realidade que é superior e genuinamente exposta à avaliação do mundo com nota inequivocamente graduada.

Só essa realidade é atacada pela má consciência de quem por essa actuação se esquece que se está a revogar a si mesmo. Ora, esquece esta tipologia de amizade que deveria estar prevista e punida pelo código da moral de cada um que, na amizade não há lugar para o poder miserável da mais mísera maldade. Na amizade, os amigos são magnânimes um para o outro e instintivamente expulsam tudo o que possa perturbar esta grandeza.

Diria mesmo que o encontro com a amizade, interrompe a trama aviltante da vida quotidiana, logo, constitui um momento de serenidade acima das intrigas e dos complôs.

De muitos modos, os seres inventaram a máscara antes do rosto, o exterior antes do interior, mesmo as coisas que pertencem ao oco, são instrumentos de afirmação social.

A maledicência, diga-se, agride de jeito colectivo o ausente como se deste modo se evidenciasse a virtude que afinal se não tem.

Um amigo nunca dirá mal de nós. Se alguém o fizer, ou nos defende ou ir-se-á imediatamente embora. Não se calará, nem mesmo para ouvir e vir-nos depois dizer, porquanto não lhe acode nenhum prazer em nos perturbar, mas para nos proteger do que é mesquinho e insalubre, carece, às vezes, de nos transmitir cuidados que não estamos a ter e cuja falta nos pode magoar como vidros cortantes da mesquinhez sempre repelente, sempre traidora, sempre infértil.

Quem tenta destruir uma obra como a da amizade, sabe aviltar o linho em estopa reles, e afinal sempre foi ambivalente, oportunista, feliz do cadáver vencido, dependente da sua agressividade para esconder mediocridades e inseguranças agressivas, e o pior é que não lhe acode como remorso uma força que construa um mundo melhor, que impeça as arbitrariedades, as injustiças de não sermos eleitos pelo mérito já que a maquinaria do repugnante tem o poder da cólera de quem só por si não sabe ser.

Afinal, já bem bastava que o nada valesse muito neste mundo; que o dúbio encarnasse a pele de uma suposta amizade; que a inveja surja exponencialmente quando é outro o portador do que enfim até nem entendemos; que o rancor justifique a utilização de palavras ou de sujas insinuações que só demonstram afinal o que se será capaz de fazer já que se julga o outro por nós.

A amizade não exerce represálias, nem contém o sentimento da vingança. Mas, infelizmente há quem confunda a amizade com qualquer outra coisa. Desconheço qual é essa outra coisa, sei apenas que a amizade é um ideal que nasceu para ser respeitado, para que o mundo se encha de amigos e estes, ao verem-se, sorriam.

Pedir a um amigo, não constitui qualquer problema, é tão natural como oferecer, como dar um presente pudico e virtuoso.

Também se mencione que, partilhar na amizade uma parte da nossa vida privada, é tão só a expressão de uma viagem, ao menos, parcialmente a dois. Mas uma viagem cujo estado permanece dentro da palma da mão secreta que constitui a privacidade do amigo que abraçámos.

Com o passar dos tempos, nós mudamos, os nossos problemas mudam, mas se encontramos o Ser que encarna a amizade de sempre, temos a impressão de que o encontro último foi ontem, que não houve intervalo, nem falta de mão, nem de abraço e o olhar estende-se e não há nada de semelhante na nossa experiência quotidiana.

Assim a amizade verdadeira é desconcertante, singular e motivo da lágrima encantada se expor.
Teresa Bracinha

Corrupção: acordem, acordem! E recordem...


O resultados conhecidos da operação face oculta são inequívocos e a abstenção comentarista dos políticos, como ainda ontem foi demonstrado pelo formal oposicionista José Luís Arnaut, permitem que esse vazio seja ocupado pelos grandes jornalistas de investigação que ainda temos. Seria uma boa oportunidade para o novo ministro da justiça mostrar que voltou a haver ministro no sector.


O tipo de corrupção que marca Portugal e grande parte dos países da nossa área não consegue ser detectado pelas melhores polícias. A parte visível do "iceberg", isto é, passível de provas, é bem mais ínfima do que as profundezas tentaculares de uma cultura laxista que nos entorpece. O combate é árduo, mas vale a pena e todas as forças políticas, morais e económicas não podem continuar a afastar-se do povo.


A corrupção significa compra do poder. Onde há quem esteja disponível para a venda e quem o queira comprar. A única forma de a vencermos está em deixarmos de reduzir o poder político a uma coisa que se conquista. O poder tem que ser visto como relação. Desde logo com um sistema de valores, comunitariamente assumido.


Se a partidocracia se desleixar, ela pode tornar-se na pior adversária da democracia. Se as areias movediças deglutirem o sistema, pouca diferença faz. O pior será se ameaçarem o regime. Governo e oposição, parlamento e presidente, todos, têm o dever de cumprir a respectiva missão. Doa a quem doer. Ainda estão a tempo! Acordem! E recordem Alves dos Reis...


Rede, "connection" e, consequentemente, desconfiança pública face ao aparelhismo directo e indirecto do estadão não podem continuar a disfarçar-se. PS, PSD, CDS, PCP e BE, com a colaboração de Belém e de São Bento, deveriam dar sinais inequívocos de justiça sem justicialismo e de moral pública sem choradinhos moralistas. Basta o sincero arrependimento.
Certa rapaziada da política e do negocismo ainda não compreendeu uma coisa óbvia: os valores que hão-de imperar são precisamente aqueles que o homem comum tem nas suas simples relações interpessoais e familiares. A moral é só uma. A que os vai vencer em autenticidade. Aquela que os maquiavélicos dizem ser da política, do ter razão quem vence, é amoral ou imoral....


29.10.09

Que venha Jano, para um novo começo


A janela representa a entrada do ar e do sol, sendo o símbolo da receptividade. No caso de ser redonda, confunde-se com o olho. Se for clarabóia, com a consciência. E se for quadrada, com a terra, enquanto quadrado aberto ao que será enviado do céu. Por isso, há Jano, em latim, Janus, o deus dos começos, que sempre teve duas faces, incluindo a face oculta que, no dia em que comemoramos o 50º aniversário de Astérix, apitou parangonas não douradas, porque antes de o aparecer já tinha arguidos.


Também sem ser por acaso, anunciavam a lista, não a das páginas amarelas, mas a dos secretários de Estado. Alguns antigos alunos meus, certos amigos, muita gente competente e esforçada e sempre um Valter Lemos a estragar a partitura, para que se saliente que a fidelidade é mais importante do que a competência, mesmo a política. A análise parece óbvia: não é apenas um governo PS, é também um governo socrático. Poucos minutos depois, era Pedro Passos Coelho que se mostrava na SIC em grande entrevista, mais incisivo e menos laboratorial, mas ainda aquecendo os motores.


Apetece uma metáfora desportiva. Que o novo governo não seja o actual Sporting fingindo ser treinado pelo Jesus, mas que, na realidade, é o Queiroz do Madaíl. E que o PSD deixe de ser o Benfica do Quique Flores. Porque os sinais de ontem da Polícia Judiciária indiciam Jano. O mais antigo dos deuses romanos. O deus das transições e das passagens, um bonacheirão que representa a passagem para o futuro. Até é o deus das portas, o que preside ao começo. O guardião que abre e fecha as portas, vigiando as entradas e as saídas, porque olha para o exterior e para o interior, para a esquerda e para a direita, para cima e para baixo, dado que tanto está a favor como está contra.


Aliás, Maurice Duverger, em Janus, les Deux Faces de l’Occident, de 1972, diz que a política tem as duas faces do mesmo deus. Dessa mesma origem é a designação que damos ao primeiro mês do ano, Janeiro, Januarius, o tal mês que significa a passagem de um ano para o outro. Porque, depois de 1945, à democracia liberal sucedeu uma tecnodemocracia, fundada em vastas organizações, complexas e hierarquizadas, com uma nova oligarquia que depende mais do Estado e dos estadões que na anterior ordem assente na concorrência de pequenas unidades autónomas. A polícia também sabe. Tal como o deve saber a boa equipa que Alberto Martins levou para a chamada administração da administração da justiça. Já chega de treinadores de bancada, joguem e esfolem-se, até ao tempo suplementar. Acabemos com a era dos empates e com os árbitros que jogam.

28.10.09

A gamela do "to the victor belongs the spoils"


O Governo de José Sócrates tem 45 dias para decidir quem vai ocupar mais de três centenas de lugares de topo na administração pública (cerca de 320 dirigentes superiores da administração pública). Segundo dados oficiais há 569 dirigentes superiores na administração central. Seguem-se 3947 lugares de intermédios. Há também 19 lugares importantes para preencher com nomes de total confiança política, entre eles o de governador do Banco de Portugal, presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários ou presidente da RAVE - Rede Ferroviária de Alta Velocidade. E se um só primeiro-ministro socratizou tantos ministros e subministros e se cada subministro pode escolher tantos sub-sub-ministros, que dizer dos sub-sub-sub e sucessivamente, face a este crescente concentracionarismo da mesa do orçamento e em regime de moral do sapateiro de Braga, segundo a qual, como não há moralidade, apenas podem comer os que não são todos.


É evidente que num país onde até os concursos públicos são com fotografia, isto é, antes de o serem já o eram, vai agora ser indisfarçável a confirmação da vigência do spoil system, segundo o qual to the victor belongs the spoils. Porque todos entendem o poder como uma coisa, passível de conquista, ou como uma posição onde, segundo Oliveira, o Salazar, o essencial do poder é procurar manter-se. Aqui, o poder continua a não ser estratégia e relação, mas uma coisa que se joga e, logo, que se ganha e que se perde. Parafraseando António Guterres, não apenas há jobs for the boys, como também abundam os boys for the jobs. Se o chefe do manda quem pode, obedece quem deve, ainda é simbolizado pelo S de um cinto, o discurso de justificação continua a proclamar que a mesma letra representa o serviço, sacrifício, porque o imolado é o mesmo de sempre, um tal de .

O rotativismo monárquico era mais austero. O chefe do governo costumava ser o antigo presidente do Crédito Predial, lugar para onde ia o dissolvido, feito chefe da oposição e nos mais recônditos lugares do reino até havia dois carteiros-funcionários que se substituíam conforme a dança do cimo: um regenerador e outro progressista. Nalguns casos até se subsidiavam mutuamente, segundo o ritmo da velha fraternidade dos subsidiados pela cunha e pela partidocracia. Aqui, nem todos comiam tudo. Ficavam uns restos para a caridadezinha dentro do sistema do spoil.


PS: O discurso é de 1832, mas de um senador nova-ioquino. Cá no reino, na mesma época, eram conhecidos como os devoristas. Eis o texto e o contexto: When they are contending for victory, they avow the intention of enjoying the fruits of it. If they are defeated, they expect to retire from office. If they are sucessful, they claim, as a matter of right the advantages of sucess. They see nothing wron in the rule, that to the victor belongs the spoils of the enemy.



27.10.09

As quybyryadas, os dicionaristas e a empregadagem


Quem me dera ter, todas as semanas, motivo para temas como os de Deus e dos Homens, brasas que avivem o belo dos combate das e pelas ideias. Infelizmente, como não sou dilecto membro de um qualquer rebanho eclesiástico, nem disponho da mobilizada revolta de certos ateus e agnósticos, fico, muitas vezes, sem representante no ringue maniqueísta onde Jeová e Marx se insultam, puxando as barbas ao argumento. Infelizmente, prefiro ter a nostalgia do panteísmo estóico, bem como a energia semeadora daquele humanismo renascentista e iluminista que, no século XIX, se assumiu como liberal e, ainda hoje, não cedeu aos passos ditos em frente dos regressos ao socialismo, ao marxismo e aos milenarismos gnósticos, sempre com a desculpa da revolução por fazer, a caminho do abismo.


Porque quando o sol outonal nos aquece a tarde, apetece mesmo que o tempo não passe e que os raios da vida nos façam chegar à eternidade, mesmo quando sofremos a agrura de aturar certos emplastros que, na gaiola dourada dos seus prémios de carreira pelo servilismo, chegaram a eurodeputados e, de vez em quando, nos mandam sentenças empacotadas pelo correspondente da televisão pública. Ainda por estes dias, dois deles, depois de assistirem a um qualquer colóquio, nos queriam ensinar o que devia ser a universidade. Um, que, toda a vida, foi empregado e doutorado em empregomania, depois de ser ministro e ter voltado a presidente de um dos nossos institutos públicos de formação de empregados, dizia ter ouvido de um qualquer húngaro, que o destino da universidade era deixar de formar empregados e tratar de formar empresários, enquanto a outra, também despedida por má ministra, dizia que devia haver mais verbas para ela e os camaradas que com ela engenheirizam. Desliguei o aparelho pelo indecente e pelas más figuras.


Preferi recordar que ainda há dias, em dia dito de mudança da hora, houve uma hora que não foi tempo e, nesse intervalo, senti que podia voltar a ser eternidade. Pelo menos, ganhei coragem para reler a fundo um dos mais desconhecidos criadores literários portugueses da segunda metade do século vinte, o visiense pintor de Moçambique, António Quadros de baptismo e João Pedro Grabato Dias de pseudónimo, autor desse provocante texto dito "Quybyryadas", de 1972, que, nem por ser da esquerda anticolonial, conseguiu varar as fronteiras do pensamento oficial dominante dos programas oficiais que nos proíbem o ser. Leiam a dissertação de doutorado de Murilo da Costa Ferreira, de há dois anos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e releiam estes versos sobre quem, na verdade, sou: Meu bisonho maltez, pobre ganhão/ bruto pastor igual às alimanhas/ que nem falar humano a ocasião/ te ajudou a apurar.


Quase lhe acontece o mesmo que ao arquitecto Pancho Guedes, tal como a muitos outros ditos malditos, só porque os topógrafos desta detecção de qualidade têm as máquinas avariadas e não conseguem ver um boi à frente dos óculos embaciados. Porque continuamos a repetir as análises daquele esterco feito deputado da primeira Assembleia Nacional que, do alto de São Bento, qualificava Fernando Pessoa como um falhado da literatura. Continuamos a ser embalados pelos discursos de música celestial dos cadáveres adiados, procriadores de tachos e bajulação, que os dicionaristas do regime elevam às alturas comemorativas das alianças de conveniência com o ministerialismo que toma posse.

26.10.09

Como se matam vários coelhos com um só sofisma...


Todos eles são posse e cerimoniais de estadão, no paço real da Ajuda. Eu estarei o dia todo, no cimo do mesmo monte, em aulas até às tantas. A manhã começa enevoada, cheira muito a interregno.


Sócrates II irá reinar no cair da folha e na invernia que, certamente, chegará de súbito, ao virar da esquina de um tempo que até o decreto teve a pretensão de mudar. Os Gatos voltam aos anúncios da PT, Manela já não tem que aturar a verdade de comentadores, ou comentadeiros, e até o debate teológico saramagueiro voltará aos clubes de reservado direito de admissão, como seminários e sacristias.

Os que, desajeitadamente, se assumiram como mensageiros fundamentalistas do rebanho foram naturalmente desautorizados pelos pastores. A propaganda populista, herdeira do caceteirismo e dos salazarentos, em ritmo de coloquialismo rasca, não se coaduna com a media via eclesiástica que, apesar de beneficiar do impulso, prefere fingir que não é extremista.


Entre Saramago e os teólogos sucederam-se espectaculares empates. Nenhum venceu nem perdeu, porque ambos não queriam senão um pretexto para o reforço da fé que cada um dos espectadores, auditores e leitores tinha antes dos jogos verbais. Até porque cada um dos contendores iria naturalmente proclamar que não tinha fé na própria fé do outro, assim eliminando espaço para outras concepções do mundo e da vida.

Destaco a malandrice argumentativa do padre Carreira das Neves contra o velho marxista, quando este deixou que o teólogo lhe espetasse a etiqueta de estoicista, assim matando vários coelhos com um só sofisma, conforme a técnica de enredo da velhice dos padres eternos.

A subliminar inserção do marxismo saramaguiano numa corrente do humanismo clássico, a que vai do estoicismo ao iluminismo, com o processo a Damião de Góis pelo meio, é tão escolástica quanto o reconhecimento, pelo romancista, de estar encharcado de valores cristãos. Tão sincreticamente confusas quanto a posterior confissão do revisionismo católico. Serve para misturar marxismo e cristianismo e para demonizar estóicos, renascentistas e iluministas. Mas como todo o mundo é mudança, reconheçam-se as mudanças de todos.

Porque o Padre Carreira confessou o óbvio: Roma, e ainda bem, alterou a posição sobre a Bíblia há menos de cem anos, e só por estes dias é que começou a ser editado um texto ecuménico, mas ainda sem a plenitude dos cristãos, nomeadamente dos ortodoxos. Roma continua a deixar dizer que os estóicos ainda são de antes do ano zero, que os humanistas ficaram todos tridentinos e que o iluminismo não passa da caricatura jacobina, vestida de Combes e Afonso Costa. Os pequenos aprendizes de Torquemada, de ambos os lados da barricada, até poderão exercitar-se com os inúmeros traços heréticos e processualizáveis que escondo neste exercício textual, cheio de calhaus que atiro às bestas do costume.

Mas quando uma questão de transcendente, em torno do Livro, do volume da lei sagrada, como supremo livro da tradição, independente de qualquer religião revelada, se torna paixão da opinião pública, há que louvar os desencadeadores de uma polémica que subiu às alturas do largo da praça e impregnou os profanos que todos somos, mesmo com intervalos de sagrado. Os afectos e os intelectos, assim eriçados pela autenticidade, deixam boa nostalgia, contra os cinzentismos oportunistas destes dias que nos encarquilham em niilismo.

Não esqueço a ficha saneadora de Saramago nos tempos em que era inquisidor e muralha de aço do companheiro Vasco, mas subscrevo simbolicamente o respectivo programa de direito à dissidência e à heresia, emocionando-me em adesão aquela confissão patriótica, esse lugar comum entre adversários que me salgou a face, pelo telúrico de uma comunidade de coisas que se amam que talvez seja uma religião secular, herdada do romantismo.

23.10.09

Depois da vindima e das uvas pisadas, saiu aguapé prás castanhas por provar


Ainda ontem, a quente, mas sem castanhas, enquanto o Benfica marcava aqueles golaços, foi-se sabendo a lista dos escolhidos de Sócrates e pediram-me um comentário. A nova equipa velha tem alguma gente minha amiga e companheira de geração em quem confio, até antigos alunos, mas é minha adversária na opção política global, embora muitos comungam de valores essenciais que perfilho. Como Portugal tem necessidade que eles não falhem, tenho algumas expectativas, mas pouca fé. Até porque votei claramente na ruptura face a essa opção socrática


Quando o Benfica marcava o primeiro golo, anunciava-se governo novo, com as velhas aduelas do núcleo duro socrático cedendo ao dinamismo da democracia de opinião, pelo afastamento daquelas ministerialidades que mais tinham sido malhadas pelas forças vivas sectoriais, à excepção da derrota do grupo de pressão do Conselho de Reitores das universidades, da inevitável surpresa dos militares e do potencial milagre da pacificação da justiça, com o ex-ministro guterrista da reforma do Estado.


Por outras palavras, as vozes comunitárias chegaram ao Largo do Rato, que logo respondeu com o reforço do feminino e o destaque para pessoas tituladas nas áreas humanísticas da literatura, filosofia e música e aposta de doutorados em gestão na agricultura e no nó górdio dos grandes projectos. Porque tem de acabar a era da “imagem, sondagem e sacanagem”, com mais sociedade em autonomia e mais sadia institucionalização dos conflitos.


Por outras palavras, Sócrates II espera que as corporações dos contestários sociais lhe dêem um tempo de expectativa, enquanto estas devem receber boa fé, sem propaganda nem manha. Isto é, vamos viver um interregno, para o urgente armistício orçamental e para o próximo regresso da alta política, com o PSD a restaurar-se e Cavaco Silva a repensar-se, recuperando a plenitude da confiança pública.


Porque o PSD não pode continuar mero repetidor dos gritos reivindicativos da sociedade, da comunicação social e das minas e armadilhas de algumas parangonas judiciárias. Logo, dada a inelasticidade ideologista do PCP e do BE, o PSD tanto não pode ser mera voz tribunícia de “clusters” oposicionistas, função típica do CDS, como tentar-se pelo bloco central de interesses de um rotativismo que, por vezes, se confundiu com a nostalgia do cavaquismo sem Cavaco.

22.10.09

Arcontes, areópago e democracia, neste tempo em que os senadores passam a gerontes


O Ilustre Conselheiro, mas de Estado e de Cavaco, Marcelo Rebelo de Sousa, na véspera do Conselho Nacional do PSD, foi aos "gatos" dizer que não gosta de ringue nem de boxe. Diz preferir um conselho de gerontes a um conselho nacional. Todos reconheceram que ele sabe como poucos conquistar e manter o poder, sobretudo num tempo onde quem tem o poder concentracionariamente é quem tem o monopólio da palavra. Porque o chefe é o único que fala e ele é chefe integral se puder dizer, do vassalo, mentiras descaradas, negando-lhe o direito de audiência prévia e propalando, com má fé, registos truncados e indecorosos. E quem lhe diz que sim assume colectivamente a infâmia. Não é assim que o povo pode ser quem mais ordena.


Talvez importe recordar os tempos pré-democráticos de Atenas. Quando a aristocracia ateniense dos eupátridas substituiu a realeza e se instituiu um magistrado eleito, o arconte, de nomeação vitalícia, que tinha a anterior autoridade do rei, mas que era responsável perante os respectivos eleitores.


Aliás, durante a fase monárquica, entre os magistrados, para além do rei (basileus) que preside aos sacrifícios, há o polemarca, que dirige as operações militares, e o arconte propriamente dito, o que administra a justiça. Os três eram conhecidos como arcontes.


Passam, depois, a ser escolhidos por dez anos, sendo ajudados por seis outros magistrados, constituindo estes nove o colégio dos arcontes. Numa primeira fase são apenas sorteados, mas, apartir de 487-486 a.C. são formalmente eleitos.


Cabe a Sólon instituir o areópago para substituir o colégio dos arcontes. Com Clístenes, é instituído um segundo conselho, a boulè dos Quinhentos que, a partir de 461 a.C., retira muitas funções ao areópago, o qual fica reduzido a mera missão religiosa e de salvaguarda das instituições. Os adversários da democracia defendem de tal maneira o revigoramento da instituição que passam a ser conhecido comos os areopagitas. Voltarmos ao tempo de há vinte e cinco séculos é mau culto que se presta aos fundadores e mera antropologia ultrapassada, em torno dos chamados primitivos actuais.

21.10.09

Embebedei-me de metafísica e descobri muitas semelhanças entre Saramago e a Irmã Lúcia...não é ironia, mas justeza meritocrática


Ontem não escrevi aqui. Embebedei-me de metafísica, saramaguizei-me e andei semeando provocações no Facebook, até reli o singelo apocalíptico de uma pastorinha de Fátima, com o seu infinito poema do mistério humano. Comecei por malhar no Mário David, eram 18 h e 29 min.:

Alguém pode ter vergonha de ter algum outro como compatriota. E até aceitar que, a coberto da liberdade de expressão, se emitam palavras que a mesma liberdade de expressão permite qualificar como imbecilidades e impropérios. Mas nunca um excelente eurodeputado sobre outro cidadão europeu, por acaso, um dos nossos mais excelentes escritores, que até vai ser imortalizado na Casa dos Bicos.


Acrescentei, depois:


Uma das consequências da liberdade religiosa é o direito à manifestação do ateísmo. Isto é, não deve ser proíbido, ou condicionado, o discutir Deus, tal como deve haver estímulo à procura do infinito e logo de Deus e dos deuses. O progresso é crescer para cima e para dentro. O homem é o único animal que sabe que vai morrer e que pode escolher entre Deus e o Diabo...


Concluindo, hoje:



Há uma pequena bíblia da religião secular de Portugal emitida no século XX, a "Mensagem" de Fernando Pessoa. Tal como os outros livros sagrados, há que ter altura simbólica para a interpretar. Desmistificar nunca foi de-mitificar. Até Saramago não consegue ser interpretado por ele próprio. É a outra face da moeda do segredo da irmã Lúcia. E estão os dois na mesma altura do metafísico...


Nos intervalos, de polémicas amigas, fui acrescentando:


Diabo, do grego diabolos, isto é, aquele que separa. Etimologicamente, aquele que separa um homem face a outro homem e aquele que o separa de Deus. Não é o diabo-papão dos catecismos, mas aquela escolha que a nossa liberdade permite fazer, ao contrário do que acontece aos restantes animais. Só os homens têm Deus e o Diabo. E às vezes, quem quer ser anjo é que mais depressa se torna diabo, porque escolhe organizadamente o mal pelo mal, através de uma decisão moral. Pobre Lobo, nunca praticou genocídio e democídio...



E mais digo: o PSD costuma cair sempre nas rasteiras dialécticas de Saramago. O Padre Manuel Morujão, em nome da Igreja Católica, foi mais sublime. Ainda funciona bem a "ratio studiorum" e já não estamos no tempo das inquisições de católicos, anticatólicos, protestantes, judeus e ortodoxos...

19.10.09

E Deus, com todos os deuses, se desataram a rir!


Cavaco quebrou o silêncio e falou em "sistemas de educação e formação". A quase extinta ministra da educação falou em "qualidade das aprendizagens". Disse tudo o que era o respectivo programa: extinção do ministério da educação e sua substituição pelo ministério da aprendizagem. Humanismo precisa-se! Já chega de gastarmos o nosso dinheiro, não em mal-educados, mas, pior que isso, em deseducação!

Moçambique: FRELIMO vai obter retumbante vitória. Angola: MPLA foi esmagador. Por cá, onde Sampaio não se recandidata e donde emigram cem licenciados por mês, há 80% das contrapartidas dos fabricantes de armas que são pólvora seca, para o vivório e foguetório dos que percebem o negócio e sabem discursar. O Zé paga. Os comissionistas certamente receberam e não protestam.

Por mim, voltava ao serviço militar obrigatório, numas forças armadas à maneira helvética, conforme chegou a ser a proposta do governo provisório da República. Agora já deve ficar mais barato, face às chamadas contrapartidas por cobrar. E vertebraria civicamente esta fuga à espinha dorsal da desertificação do país e de desmilitarização da tropa...

Vida velha, governo novo. Espero que os jornais não saibam antes de Cavaco. Porque todos os ministeriáveis já devem ter recebido o convite. Apenas desejo que não se trate de uma simples remodelação.

O comendador Marques de Correia, um heterónimo de que todos conhecem o ortónimo, acaba de elaborar o projecto de dissertação sobre grupos de pressão da actual encruzilhada, anunciando o governo efectivo de Portugal. Revista Única do Expresso, p. 114. Ei-los, sem indicação de pasta:

BES, BCP, eduquês inteligente (onde já não há Veiga Simão), BSSantos, Mota-Engil, Lena, Visabeira, PT/BES, António Costa, Joe Berardo, EDP, António Costa, Grupo Caixa, Grupo Mello, Jaime Gama, ou o vazio de diplomatas, generais e almirantes, com José Sócrates a mandar na federação.

Sarkosy propõe a castração química para certos crimes. Um milhão de pessoas nas ruas de Madrid contra uma causa fracturante. Bloco liderado por um apregoado católico apresenta sinal de lei pouco católica. Bento XVI prepara-se para visitar Fátima. A cerimónia não deve integrar-se no programa comemorativo do centenário do 5 de Outubro, mas no de sete anos depois, do 13 de Maio, se ainda houver lugar, nesse tempo de apocalipse. E um português emigrante ficou morto na poltrona da multidão solitária, durante dois anos. Cometia o erro de pagar a renda através de transferência bancária..

Deste vencer que é ser vencido se faz o quarto de hora que antecede a emergência do coveiro, quando muitos jogam às escondidas, na compra e venda do poder pelas imensas chefaturas que se ensarilham nos próprios mecanismos com que nos quiseram tramar...

Saramago vem dizer o que muitos, há muito, pensam. Para quem não é ateu nem agnóstico, como este receptor das palavras do Nobel, apenas importa reconhecer que tais punhais corrosivos não deixam de ser metafísicos. Vou já reler as "Confissões de ...um Homem Religioso" de Régio, porque reparei no riso de Deus, e dos deuses, que o autor de "Caim" provocou
PS: Continuo sem responder às provocações dos ilustres cães e cadelitas que me acusam de "avençado" do situacionismo. Sugiro que façam essa denúncia junto da Direcção-Geral dos Impostos e verão que recebo tanto pelas intervenções públicas quanto pelas palavras que semeio neste blogue. Porque todas elas são uma extensão da actividade de professor também público. Agradecia aos donos dos ditos, que até blogues em cadeia emitem, algum cuidado com tais matilhas, pois o feitiço costuma voltar-se contra o feiticeiro e poderão ser vossas próprias canelas as próximas vítimas.

16.10.09

Novas cenas do processo de madailização em curso


A chamada casa da democracia reabriu ontem. Tudo como dantes sem ser palha de Abrantes, mas com muitas escleroses de brigadas do "yes minister". No Portugal Contemporâneo, é o 76º parlamento, para o 126º governo, depois de cerca de 200 golpes de Estado, 5 revoluções, 8 reis e 8 presidentes eleitos pelo povo, em cima de 13 233 dias de salazarquia.


Os cinco partidões parlamentares entraram ontem em São Bento como se estivessem na fila para a inspecção militar numa direcção-geral que os funcionaliza em soldados rasos. E não repararam como a cerimónia de unidimensionalização estava quase a ser transmitida em directo...


Poucos observaram que já não há esquerda nem direita no hemiciclo, mas um partido dito de esquerda que é do centro e vai governar à direita e que dominam os chamados bonzos, acicatados por endireitas e canhotos, transformados em simples satélites do centrão. O socratismo acabou, o gamismo continua.


Raros notaram que as decadências em Portugal duram que se fartam. Têm o tempo do estertor do rotativismo, ou da nova república velha depois do sidonismo, ou do salazarismo depois das eleições Delgado. Porque todos os partidos pós-revolucionários são meras federações de grupos de interesse e de pressão em equilíbrio instável. Só o sentimento predador face ao poder os unidimensionaliza...


Todos os grandes partidos são pilha-tudo, entre o unipessoal dos comandos e a ilusão das mobilizantes candidaturas presidenciais, perdendo a funcionalidade, onde, quanto menos maiorias absolutas, maior será a hierarquização face aos directórios partidários...


Qualquer cidadão que sofra as agruras de qualquer um dos microcosmos da mesa do orçamento sabe de experiência sofrida que a crise de mobilização para bem comum nos encarquilha. Qualquer dos que ainda vivem encantados percebe que a falta de organização do trabalho nacional é provocada pela tradicional ditadura da incompetência que se apoderou dos organigramas e das chefias das ferocidades reformadoras da nossa decadência. Acontece a São Bento o que está a suceder em autarquias, direcções-gerais, escolas e quartéis. Todos vivem entre a renúncia e a greve de zelo, como antes do 25 de Abril de 1974, quando também dominava o ambiente de estado a que chegámos... Prefiro o Salgueiro Maia!

15.10.09

A veneranda figura da nossa decadência


Crise? Qual crise? A veneranda figura foi esmagadoramente reeleita pelo colégio. O governo vai governar melhor do que quando tinha maioria absoluta. Carlos Queirós vai levar-nos ao Mundial. O mundo gira, o situacionismo roda! Temos o parlamento, o governo, os magistrados e o presidente que queremos e merecemos. Por mim, prefiro continuar contra o processo de madailização em curso.

O regime de presidencialismo de primeiro-ministro que agora se encena

Há sinais de regresso do regime ao presidencialismo de Primeiro-Ministro, face ao vazio intervencionista do actual vértice de Estado, dado que Belém parece estar condenado a poder usar a bomba atómica da dissolução, como Sampaio, ou a servir de pretexto para os cenários marceleiros das candidaturas presidenciais.


Portas deve sentir-se tentado a curtocircuitar o cavaquismo, com ou sem Cavaco, mas Sócrates apenas deve querer comprar um orçamento "zapatero". Os prazos são curtos em demasia, porque o líder do PS, há tempos, ainda poderia leiloar o anterior lugar de Jaime Gama. Seria uma boa saída tanto para Portas como para Manuela Ferreira Leite, face ao abandono precoce de Alegre...



Lá ouvi os "dez mandamentos" do caderno de encargos de Portas. Tivemos mais uma peça de um complexo teatro de Estado, cujo guião ainda está em processamento compromissório, com proibição de palavras como coligação ou acordo parlamentar. Porque o género consenso tem muitas espécies de balança de poderes, com os inevitáveis travões e aceleradores da arte do tecelão...



Harmonia é concórdia dos cânones discordantes e até pode produzir sinfonia. Nem é necessário retomar a memória do segundo governo de Mário Soares, o do FMI, que apenas tinha ministros de Freitas do Amaral, a título individual. Hoje a música é outra, mas a vontade de poder o mesmo de justificar o nome dos meios em nome de celestiais fins.



Portas não tem autarcas nem sindicalistas. Mas tem palavra. Usou-a. E bem. Cercou o PSD ao centro, sem sobremesa "vichyssoise". E pôs Cavaco a ter que utilizar todas as técnicas de "poker" em que foi e será mestre. A procissão ainda não saiu do adro do Pátio dos Bichos. Está em São Bento, no átrio oculto dos passos perdidos.

14.10.09

Mostrando o 3 com a esquerda no lugar da direita


Sócrates II já não é o feroz reformador, mas um animal de diálogo que estende as mãos aos adversários. Manuela Ferreira Leite diz que vai cumprir o mandato, mas que não se vai recandidatar. Um tenta renascer das cinzas, outra, prolongar a agonia. Os dois vão começar hoje a negociar nosso futuro que é tão radioso e sorridente quanto o esmiuçar de Jaime Gama pelo Gato Fedorento, ou os sinais de esperança que nos vêm das jogadas do Belenense que até é derrotado, no seu próprio campo, pelo Nacional... da Madeira.


Como as chicotadas psicológicas não são possíveis em certos campeonatos, importa recorrer a novos treinadores, tipo Scolari, para que o Madaíl continue na crista. Sugiro que se recorra a uma tal de Maitê, proença e tudo, a que nos cuspiu em cima, com ignorância e intolerância. Segundo a lei cá da paróquia, haveria crime para esse fanatismo, mas logo descobri que o tal de video foi mera encomenda de certa força política, posta em circulação por um desses espiões desempregados. O tal de video, realizado por um dos assessores de uma certa figura do estadão, era fragmento de um dos tempos de antena de certa campanha autárquica, onde se ensinava a uma candidata como mostrar o 3 com a esquerda no lugar da direita, onde, usando de anticabalismo, o Pai deixava de ser princípio, o Verbo perdia o pensamento, e a Virgem-Mãe já não concebia.


Outras explicações esotéricas já circulam na net. Para os mais sábios: O número 3 invertido passa a ser um "E", e é chamado de "poder do 3". Esta letra representa um olho (de Hórus). Simboliza Marte. Representa talento. Representa guerra. Representa também a Estrela de David. Além do significado esotérico, o 3 invertido é ligado ao aliviar de stress e ansiedade. Uma técnica de oratória para controlo dos ouvintes muito usada pela Maçonaria é usar este poder do 3 invertido ou olho, dividindo a oratória em 3 tópicos, pois o cérebro de quem ouve assimila melhor do que se for em 2 ou 4. Aquela placa de 3 invertido poderá unicamente representar uma moradia Judaica, uma forma de dizê-lo ao mundo sem que a maioria das pessoas entendam.


De forma mais prosaica, há quem tenha observado: Como cá na terra não somos muito esoteoricos, ou isso, perguntei ao sr professor Eustáquio qual a sua opinião do significado da placa ao que respondeu "pelo que me parece a única resposta possivel é que foi colocada por um engenheiro (e não por um trabalhador), usando as mais afinadas técnicas e, provavelmente, um espelho, daí ter ficado ao contrário. Uma questão de óptica ao fim ao cabo.


Por outras palavras, no fim do encontro de hoje entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates, vai sair uma proposta de comunicado, a emitir por Cavaco, Jaime Gama e Cunha Rodrigues, onde os três denunciam a asfixia democrática, a campanha negra e a permanência das escutas, propondo um protesto simbólico no dia dos fiéis defuntos, onde, às três da madrugada, cada português mandará uma revoltada cuspidela para o ar, dado que, segundo todos os regulamentos municipais, é proibido cuspir para o chão e para os lagos de água parada, especialmente em tempo de H1N1. Convém, contudo, desinfectar as manápulas depois da emissão dessa fluidez. E assim todos nos inverteremos em glória. Amen!

13.10.09

Apenas temos que juntar o bem que anda por aí disperso em facciosismo

Quem assistiu ao debate de ontem entre os directores do Expresso, do Público, do DN e da TSF, apenas tem que louvar a corajosa conclusão do Provedor da RTP, o Professor Paquete de Oliveira. Entre os quatro, acabou a falsa hierarquia de um deles ser o mais referencial de todos e todos serão obrigados a levar a história até ao fim. O presidente Cavaco continuou a desprestigiar-se. O governo e o PS, até agora, conseguiram escapar aos pingos da chuva.

O velho paradigma do país urbano e capitaleiro que considerava a província como paisagem a colonizar com emissões de semanários e telejornais emitidos pelas fontes geralmente bem informadas da sociedade da corte foi quebrado. Foi nas profundezas de Entre-Douro-e-Minho que, depois de ser a população mais jovem de Portugal, se deu a mais corajosa das mudanças, enquanto nos arredores da cabeça da república se instalaram pequenos jardins de subsidio-dependência e de instalados, onde até Otelo Saraiva de Carvalho apoiou Isaltino, tal como Seara correu numa lista onde sobressai a sombra de Ângelo Correia.

A maior parte dos autarcas eleitos nas muitas dimensões do país das realidades, ao ser insultada como corrupta, deve promover a necessária revolta, em nome dos muitos povos da nossa complexidade. Por mim, estava disposto a recebê-los no Cais das Colunas, com vivório e foguetório, obrigando o Paço a escolher Passos Manuel para a necessária moralidade da revolução de Setembro. Lisboa precisa de ser cercada por instituições republicanas.

Os factos demonstram como os aprendizes de feiticeiro que colonizaram o PSD, esses endireitas do presidencialismo, do santanismo e do jardinismo, foram os melhores aliados do situacionismo socrático e não parecem dignos dos povos que ainda confiaram nalguns dos principais autarcas do partido. Continuem a rezar missas por alma do Salazar e terão todos um bom enterro!


Isto precisa de uma coisa evidente: de coragem de homens livres que acabem com este maniqueísmo absurdo. O tal que não reconhece que o lado bom tem enormes pedaços de mal e o lado mau, pedações de bem. Apenas temos que juntar o que anda disperso.

12.10.09

Sem andorinhas nem tsunamis, ganharam os que estão no poder

O BE perdeu. A CDU resistiu. O CDS foi excelente muleta do PSD. O PSD não passou para a segunda divisão. O PS manteve a liderança do sistema. O povo é quem mais ordena. Temos os autarcas, os deputados e os governantes que merecemos. A política continua. A democracia é a institucionalização dos conflitos.

António Costa, Fernando Seara, Luís Filipe de Meneses, Mata Cáceres, Moita Flores, Isaltino de Morais, Rui Rio, Raul de Castro, Pulido Valente, Macário Correia são os grandes vencedores da noite. Tal como Sócrates. Mas não Manuela Ferreira Leite. Também não Paulo Portas. Porque Jerónimo é um colectivo e Louçã não compreendeu que atingiu certo princípio de Peter, embora não tenha desaparecido e possa frutificar.

Costa ganhou Lisboa com maioria absoluta, em grande coligação com os alegristas, Sá Fernandes e o Gonçalo Ribeiro Teles. O líder é politicamente superior, bem como pessoalmente coerente. Conheço-o desde os bancos da faculdade e merece-o. Mas não votei nele, nem em nenhuma das alternativas oposicionistas que disputaram as alturas municipais. Nem aqui sou situacionista!

Elisa Ferreira merecia melhor companhia, mas Rui Rio esmagou. Isto é, tanto em Lisboa como no Porto venceram os que estavam no poder e o efeito semeou-se por quase todo o território, acabando, de vez, com essa falsa ideia de, nas zonas urbanas, estar o progresso e nas rurais, o tal Portugal profundo dos reaccionários e manipuláveis. Os grandes caciques estão nas zonas da litoralização pretensamente desenvolvida

Certos sinais de esperança aconteceram com a liquidação de algumas caricaturas politiqueiras como as de Barcelos e Felgueiras. À moda do Minho e com pronúncia do Norte, certa renovação democrática pode voltar a ser o paradigma, se o PS e o PSD entenderem os sinais do tempo.

As andorinhas enlatas e importadas como as de Ana Gomes e Isabel Meireles não enganam os ditos saloios que continuam a julgar que o Tejo não é o rio que passa na minha aldeia e que bastam uns passeios à província para que o povinho se renda. As vitórias alcançadas resultam quase todas de um sério investimento político!

Os deputados ao Parlamento Europeu que, nas suas descidas semanais às berças, pensavam que seriam elevados ao Hossana, acabaram chamuscados, mesmo no feminino.

9.10.09

Hoje há eleições para os sucos



Hoje estão a decorrer as eleições para os sucos em Timor Lorosae. A sábia lei que as conforma impede os partidos de apresentação de candidaturas e só admite listas completas, procurando integrar a legitimidade tradicional na legitimidade do Estado racional-normativo. Por cá, queimam-se os últimos cartuchos das autárquicas, não há liurais nem sobas, mas abundam os caciques, os influentes, os patos bravos e os mediáticos...e até as sondagens já apresentam os resultados.


Se em muitos casos se segue o desespero de serem reeleitos os que poderiam ter como lema o "roubo, mas faço", seria insultuoso não notarmos que as autárquicas são o momento mais mobilizante da democracia, onde a esmagadora maioria dos candidatos mostra querer servir a comunidade e não o servir-se.



O número dos candidatos autárquicos é bem superior ao número dos militantes activos de todos os partidos, assim se demonstrando como a democracia está viva e presente, através de uma energia comunitária que todos deveriam respeitar. Infelizmente, a máquina das obras e a engenharia das redes de influência acaba por inutilizar grande parte destas boas intenções...




O quadro da divisão autárquica existente é totalmente infuncional, assente em divisões e modelos administrativos arcaicos. Desde a falta de grandes autarquias regionais nas principais zonas urbanas, à ausência de uma luta contra a desertificação, tudo revela um imobilismo inadmissível, que tanto protege a corrupção como fomenta o indiferentismo...



Este conservadorismo do que está apenas pode ser explicado pelos processos predadores dos vários aparelhos de poder dos principais partidos, quase retalhados pelo esquema de divisão dos velhos códigos administrativos de Costa Cabral, Fontes Pereira de Melo e Marcello Caetano, quando a democracia do cavaquistão proibiu, numa flagrante inconstitucionalidade por omissão, o lançamento das regiões.



Se o anti-regionalismo de Cavaco é o principal culpado pela presente infuncionalidade, já as divisões propostas pelo PS que foram a referendo eram o típico da mentalidade do jacobinismo de alcatifa ministerial, não admitindo que algumas regiões inequivocamente consensualizadas se pudessem libertar do espartilho.



O movimento autárquico e a criação das regiões autónomas não constavam como bandeiras do programa inicial do MFA e nada têm a ver com heranças da I República e da monarquia liberal. São belas novidades da presente democracia e não deveriam continuar condicionadas pela herança absolutista, centralista e concentracionária de um estadão que continua a temer a libertação dos povos da república dos portugueses!



Mais democracia, hoje, implica o reforço dos poderes autárquicos e regionais, através de uma ousada reforma que liquide a memória dos governadores civis do ministerialismo e dos seus modelos mentais, entre o pombalismo e o cabralismo, entre o jacobinismo e o cavaquismo. Prefiro o meu presidente de junta, o meu presidente de câmara e gostaria até de ter o meu parlamento regional.



Julgo que a solução está em eliminarmos os fantasmas estadualistas e os preconceitos antifederalistas. Não chega, hoje, o velho municipalismo, a mera deconcentração e a ilusória descentralização. Espalharmos núcleos de centralização por um país que é cada vez mais deserto, cheio de mato e de betão, é cobardia cultural. Veltemos a conjugar a seiva do federalismo interno!

8.10.09

Discurso de quem quer partir daqui, deste sítio de cobardia, e tenta a arte de ser português à solta



Foi um dia de sol entremeado por breves bátegas de um Outono lavado, para que se esquecessem as canseiras demagógicas de três campanhas, onde, no final, o povão vai ter os deputados, os governantes e os autarcas que merece, para poder continuar a lamuriar-se e a lavar as mãos como o Pôncio, entre o dobrar da espinha e a canalhocracia, nesta inquisitorial hipocrisia, "onde ninguém a ningém admira e todos a determinados idolatram".


As sondagens dão Isaltino com maioria absoluta. As imagens dão Alberto João a mandar abrir cartazes contra os "fascistas da Madeira velha", só porque o meu antigo aluno Baltazar lhe deu a volta à mioleira. As notícias internacionais da sacanagem dão Berlusconi como o efeito da pós-partidocracia, a gangrenada pela mafia e pela sacristia. E há 97 deputados deputados do PS contra 102 do PSD+CDS, 16 do BE e 15 do Jerónimo.


Há um povo dobrado à imagem e semelhança da servidão voluntária com que se deleita, um povo que reproduziu, em servilismo e caciquismo, um irmão-inimigo, o estadão, com quem se vai bipolarizando, como Janus que não é começo, mas continuidade, onde uma das faces é o passado fradesco e malhador e outra, um "fake" de pó de arroz que se finge progresso. Mas ambos têm a mesma putrefacta origem: o fanatismo, a ignorância e a intolerância.



O Carvalho (Silva) foi tomar café à Brasileira, o Costa estava apenas a entrar para o metro, ambos disseram esquerda, para, depois, Jerónimo, devidamente autorizado, confirmar que Silva (Carvalho) apoia, por escrito, a CDU. Santana não é candidato a líder daquela direita que ameaça ter a sobremesa mais estúpida do mundo, ao delamber-se em "vichyssoise"...



E lá vamos cantando e jogando à bordoada, entre o "radical chic" e o reaças vestido de lente, com um pé na anca das grandes patroas dos palácios e outro nas cónegas vilafrancadas. E, de congreganismo em congreganismo, nos vamos definhando em diluentes cadaverizações. Que vão todos tomar chá das cinco aos salões decadentistas das fidalgas burguesias que nos endireitam em traições de aristocretinos!


Luís Represas, Nicolau Breyner, Rui Veloso, Zé Castelo Branco... Talvez o Luís Filipe Vieira apoie a Ana Gomes. Felizmente que, do lado Norte de São Julião, já é outro concelho e, apesar de morar na freguesia da Carvoeira grande parte do ano, tenho voto belenense se for mesmo votar...


E muitos elevam em hossanas salvíficos certos adiantados da verbosidade populista, para que o pirómano que o fez, o prometa bombeiralmente desfazer. O problema não está nos paradigmas ditos novos da mobilidade, mas na própria imobilidade de discursos que nos afastam da política e da cidadania, quando os ministros passam a ser mandados pelos directores-gerais, para quem a modernidade é a pirataria de falsas ideias roubadas às centrais dos eternos imperialismos que nos desfazem a autonomia de pensarmos pelas nossas próprias cabeças.


Lisboa, uma cidade que foi criada por subscrição nacional, continua em leilão de saldos eleiçoeiros. A esmagadora maioria dos lisboetas não tem acesso aos manuais tecnocráticos dos planeamantismos e aos dicionários de patos bravos que nos proíbem a cidadania! Será que o debate na RTP serviu a campanha pela abstenção generalizada? Aliás, fiquei a saber que todos os problemas da Frente Tejo e das obras do Terreiro do Paço são mera consequência do enquadramento do plano director no pogrom...a do Centenário da República, onde quase metade do tempo a comemorar foi ditadura salazarenta...

7.10.09

Autárquicas ou agências de promoção imobiliária? E a Eslováquia já está à nossa frente!



Ontem, fui, de fugida, a um dos palácios da cabeça de um reino que já não há, mas que ainda pensa ser capital e corte. Todos discutiam, nos seus passos perdidos, que o ministros seriam Luís ou Jaquim, devido à doença secreta do Trajano. Confirma-se que o poder continua a ser conspiração de avós, nascidos na I República, e netos, que brotaram na era dos jotas. A Eslováquia já está à nossa frente!


Gostei dos cartazes autárquicos. Estão cada vez mais parecidos com os das agências de mediação imobiliária, onde o candidato a presidente se veste de promotor da dita, para que os patos bravos continuem a instrumentalizar a política.


Abri o "mail", talvez contaminado, e notei como, por falta de tratamento de resíduos mentais, estávamos todos a ser transformados em cloacas de campanhas negras. Um candidato, agora, é dado como neto do assassino político de um presidente, só porque tem terminação homónima, embora não se importem, e bem, de certa duquesa ser descendente de um dos conspiradores do regicídio.


Como devemos ser todos descendentes de quem fundou o reino há oito séculos e mais de meio, cheguei à conclusão que o mal da endogamia nos transformou em manicómio em autogestão, onde até entregam o microfone da análise a figuras que não reparam que há mais de uma década andam todas a fazer setenta anos todos os dias.


Tenho pena de não poder votar aqui na freguesia da Carvoeira, dado que quase todos os dias encontro candidatos em campanha nas mesmas tascas onde vamos tomar o café da manhã, o café do almoço e o café da tardinha, esquecendo-me dos cartazes onde todos usam as mesmas gravatas do senhor presidente e onde se encontram relações familiares bem próximas de um dos candidatos do concelho com outro mandão do concelho vizinho, confirmando-se como a hierarquia das consultadorias é uma rede que ultrapassa a política do fontanário, neste neofontismo e neoconservadorismo onde até se mantém, de forma inconstitucional, o cargo de governador-civil que um tal Rodrigo da Fonseca implementou para gerir a chamada mesa do orçamento.

6.10.09

O que é de todos não é de nenhum


O discurso presidencial sobre a ética republicana foi o máximo unificador comum. Equivale a uma linha politicamente correcta que vai da associação das famílias numerosas aos alternativos do Bloco, que hoje faziam sessão campanheira de do-in na praça central da Ericeira. Preferi, categoricamente, voltar ao imperativo do monárquico Kant, o real fundador da ética republicana...


"O que é de todos não é de nenhum...". Era o lema das nossas tradicionais repúblicas comunitárias, as que não eram instauradas a tiro, manteúdas em ditaduras ou restauradas em folclore, porque viviam no consenso, no velho QOT como foi assumido pelas Cortes de 1385. "O que a todos diz respeito, por todos deve ser decidido" é a tradução correcta do princípio.

"O que é de todos, não é de nenhum"... é o exacto contrário desta noção de "público", oriunda do absolutismo, segundo a qual só é "república" o quem vem de cima para baixo, ondo o que é de todos passa a ser só de alguns. Por mim, quero é restaurar a verdadeira república...

O situacionismo é aquele sistema onde a Europa é deles e a democracia é deles e onde o Estado é "c'est lui" que, não sendo de todos, é só de alguns, dos que entendem o poder como coisa que pode conquistar-se como se fosse um objecto que paira acima da comunidade. Preferia que a Europa fosse nossa e que o Estado fosse o "nós", onde a república fosse superior ao aparelhismo...

O que é de todos deve ser mesmo de todos e não apenas de alguns. Preferia que o Machado Santos se tivesse aliado ao Paiva Couceiro e que nunca tivesse havido João Franco, quando já estava tudo esquizofrénico com tanta "canalhocracia" (expre...ssão de D. Pedro V, quando despachou as sementes de fontismo e do cabralismo que voltavam a asfixiar a "regeneração")...


Claro que estou a reflectir sobre a própria essência da política e não sobre a metapolítica, a que, de vez em quando, regressamos no 5 de Outubro, quando invocamos mitos, essas coisas que nos aquecem quando voltamos a ter adequada temperatura espiritual. Por mim, continuo a sonhar que poderemos restaurar a república, para, com base em instituições republicanas, se eleger o rei, retomando a tradição de 1385, 1640 e 1820, retomando a bandeira da liberdade que a regência dos Açores nos trouxe para o Mindelo. Viva D. Maria II, que era mãe de D. Pedro V, avó de D. Carlos I e bisavó de D. Manuel II!
PS: Uma imagem do nosso comunitário, lá para os lados do Atlântico Sul, onde os mitos ainda não estão mortos!

4.10.09

Para os devidos efeitos, quando, debaixo do sol que se olha de frente, há novos sinais do tempo

"Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las" (Alexandre Herculano). Pode ler-se na coluna lateral deste blogue, desde há muito tempo.

1.10.09

Assinando o livro do ponto de exclamação


Estou por cá, mas não tenho andado por aqui. As frases sobre Cavaco já foram todas as escritas. Eu próprio, aqui, as tinha escrito. Mas Portugal continua por salvar. Deixai que os bobos da Corte e os gatos pingados tenham o respectivo tempo de antena. Confirmai como os cavaqueiros, os cavaquistas e os cavaquistanenses lavam as mãos como Pilatos. O homem não é Deus, não é o Diabo e, muito menos, um anjinho. Engana-se, erra e comete erros. E se pecou, também pode arrepender-se. Mas também não é Nixon. Nem François Mitterrand. Apenas se enredou e teve o seu momento de catarse. A panela de pressão quase podia explodir. A tampa podia saltar. Apenas de abriu a válvula de segurança, com algum controlo. E, depois da penitência, pode voltar a ser político. Para nosso bem. E para que possa cumprir a respectiva missão. Falarei na altura própria. Hoje é apenas assinar este livro do ponto.